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Os Jesuítas PDF

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C José Cáries Sebe OS JESUÍTAS .«'H centenário de monteiro lobato Ciopyrzk#r(ê)José Carlos Sebe Capa e ilustrações: 123 (antigo 27) Artistas Gráficos Revisão: Jane S. Coelho \ ÍNDICE Introdução O contexto da reforma religiosa 10 A Companhiad eJesus 33 O império da fé e os loiolanos 46 Indicações para leitura 85 '8a editora brasiliense s.a. 01223 -- r. general jardim. 160 são paulo -- brasil INTRODUÇÃO A Companhia de Jesus tem sido através da His- tória um dos clássicos temas apaixonantes. Quase sempre o que acontece é a opção, a prforí, ou pró ou contra os jesuítas. X' Historiograficamente pode-se afirmar que exis- tem correntes favoráveis -- que lutam desbragada- mente pela defesa dos jesuítas -- e outras que expli- cam os problemas da sociedade pela atuação dos je- suítas. Assim, existem linhas interpretativas anti- jesuíticas que se contrapõem às que fazem a lau- dação. A discussão do papel desta ordem tem apresen- tado dois pontos de estrangulamento. Além do parti- darismo, deve-sec onsiderar também o isolamento do tema de sua dependênciac ontextual. Neste trabalho procurou-se analisar a Companhia dentro de um quadro histórico mais amplo. A inscrição.da:.crise.da Sabia Apparecida biqueira. unidade européial çompromeãããlnglusive pela-ank. 8 rosé Curtos Sebe Os Jesuítas 9 } pliaçã9...dos espaços geogrâfic9s, nos.propósitos .da. armada do Ç919i:nad9E'geral,.Tomo-deSouza, puse- büiiguesianascente, ex;placa o esfOrçQ..da IgrejaÇatG ram-se imediatamente a trabalhar nos alicerces da lica no sentido de.pma redefiniçãi2.interna. Ê aí que cidade de Salvadp{. Em 1553, Nóbrega fundou a se.enquadra a.papel.daÇgmpanhia de Jesuszordem aldeia de Piratininga, no ano seguintee stabeleceuo atrelada aos princípios..da.burguesia expansionista, Colégio de São Paulo e em 1565 tomou parte na fun- pois comprometida.cone.ac olonizaçãcL-em issiona- dação do Rio de Janeiro. O atavismo e a participação nsmo. }..IÜ boÃ.x'c.o junto aos governantese ram marcos do prometod e :r- A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa dominação dos loiolanos. fundada por Início de Loiola. A aprovação do Insti- A preocupação preponderante dos jesuítas, con- tuto dos Jesuítas foi feita por Paulo 111n a bula tudo, foi a..ÇQnyegsãg..dos .índios- Neste sentido ela- Regímíní Mz'/Ifazzfis. Ecc/esiae em 1540. Também beraaam ]im sistema-de..aldeamento. para facilitar a conhecidos por inacianos ou loiolanos, esta ordem é políliçg4a vida cristã e lutas contra a antropofagia:. regular, ou Soja, os filiados pertencem a uma comu- Foi longa a convivência dos jesuítas com o sistema nidade com propósitos estruturados, de ação comum. goyçrnament4Llpsitano. O momento da virada se >( Os jesuítas prestaram grandes serviços à Igreja e deu quando a Companhia representou ':um.Estado. aos Estados Ibéricos, na Modernidade. Afinados dentro de outro Estado = « com os propósitos religiosos reformados, os padres Qs jesuítas foram expulsos de Portugal em 1759 da Companhia participaram do processo de coloni- e saíram l=!gB rasi] no ano seguinte. Entre os fatores zação, particularmente da portuguesa. que explicam a mudança.da:política em geraLcontra Foram dois os principais campos de ação dos os padres da Companhia é.de.se.considerar ouega- inacianos no processo .colonial. NQ.É2tiente, .de...ma- !iiUP, ou sqa, a política.di!.fortalecimento do poder nei[4..D.4is.obÜetjva na Ãsia...e..Banca;paí'ticu- .!@l O marquês de Pombal, no caso português,é o larmenten o Brasil. Apesar de terem atuado na Amé- representantdeo esforçod o governod e D. José l rica espanhola;ãii'abalho missionário teve mais con- (1750-1775)n o sentido de ceifar as forças capazes de sequência aqui. oposição. As tarefas da Companhia variaram bastante de A história loiolana tem uma dinâmica interes- lugar para lugar, mas podem ser agrupadas em duas sante que se explica dentro da crise gerada pela áreas básicas. Na Europa, o cuidado pedagógico, nos necessidaded e redefinição do mundo, crise esta colégios, ensinando. Nas colónias, o missionarismo acontecida desde os fins do século XV. era o objetivo principal. { ;+No Brasil, os jesuítas, chegados em 1549, na à Os Jesuitas 11 glosae ra, para o mundo do séculoX VI, um impe- rativo individual e do grupo. As explicações para o tipo de comportamento da Modernidade têm suas raízes distantes no tempo. A dinâmica social no caso da Idade Média promoveu mudanças assentadas no comportamento religioso dos diversos grupos europeus. A religião modificava- se com a vida. Os movimentos criados por grupos progressis- O CON'TEXTO tas, como Gerard Groot e Florente Radewynd- - os DA REFORMA RELIGIOSA irmãos da vida comum e os cónegos regrantes de Windesheim --, multiplicam-se em toda a Europa. As formas do viver religioso ganharam novas dimen- sões. Os seguidores de Groot empenham-se em divul- As tendências da historiografia contemporânea gar a Bíblia e a premênciae m renovar o estadod o têm levado os estudiosos a uma valorização quase clero e dos fiéis. Tais atitudes eram sintomas da que exclusiva dos aspectos económicos da moderni- superação da crise religiosa do século XV. Tal crise dade. Via de regra, ficam ausentes as interpretações envolvia todos os acontecimentos, gerando uma ne- gerais sobre o comportamento psicológico e o ajuste cessidaded e reformas. A fé estava viva e manifes- às novas condições de vida. tava-sen as atitudesd a sociedade. Indivíduose gru- )é O início da modernidade socialmente foi mar- pos tomaram consciência de que seus pecados eram bâdo por uma camada social nova que influía em causas das grandes desgraças que caíam sobre o todos os setoresd a vida coletivae individual. Um mundo: Guerra dos Cem Anos, Peste Negra, fome mundo que se alicerçava em fundamentos burgueses frequente, o Cisma do Ocidente, o fracasso do Es- #' não anulava outros aspectos da personalidade social tado de Borgonha, a morte de Carlos, o Temerário, que eram também significativos. A religião, por a Guerra das Duas Rosas, a ameaça turca, etc. l.Jm exemplo. certo derrotismo, um sentimento de culpa marcavam Ao homem que saía da Idade Média para uma o homem no seu relacionamento diário, gerando uma época de incontáveis acontecimentos novos, e de pro- visão de mundo negativista e dependente do perdão fundas transformações, certamente os valores éticos, divino. A me]horia da situação estava em jogo e li- morais e teológicos teriam importância. A opção reli- gava-se ao reconhecimento dos pecados. 12 rosé Certos Sebe Os Jesuítas 13 O clero mostrava-sei ndisciplinado e distante homem, mais do que nunca, continuava a crer. Foi esta um4 época de santos e confrarias que tinham dos propósitos ideais para a vida religiosa. Esta con- progressivamente seus adeptos multiplicados. duta abusiva da Igreja gerava insatisfações e refletia Cedo a influência de alguns pensadores de Ox- grandemente nas comunidades laicas ampliando a ford, desde Robert de Grosseteste (1168-1253), Re- angústia coletiva. Dilatando o problema, nota-se que ger Bacon (1124-1294), John Duns Scot (1270-1308), a ausência de alguns teóricos, exemplos e pilares da até William de Ockham (1290-1349e) outros, havia conduta ética da Igreja, se fazia sentir. Depois de começado a minar os alicerces da Escolástica. Santo Tomas e São Boaventura, faltavam elementos Grosseteste tentou explicar os fenómenos natu- de referência para o sustentáculo da moral religiosa. rais com linguagemm atemática. Bacon defendia o A Escolástica, corrente aristotélico-tomista, teo- primado da experiência, inclusive no campo reli- ria que demonstrava racionalmente as verdades teo- gioso. Ambos repeliam a abstração .e a silogística lógicas, entrava progressivamente num processo de decadência. escolástica, que pretendiam uma ordenação esque- A sociedadef altava uma estrutura básica. A mática dos conhecimentos que servisse â refutação crise da lgrda foi uma das razões do profundo dese- das divergências teórico-religiosas. O racionalismo de quilíbrio que se manifestava no comportamento con- Santo Tomas foi reconhecendo-se incapaz e incom- traditório dos grupos sociais. Era uma época de con- pleto para explicar os mecanismos da sociedade e da traste e oposições. religião. Ainda fazendo parte desta linha de contes- Tudo pareciac aminharp ara um fim trágico. tação à Escolástica, com motivos fundamentalmente Esperava-se a vinda do Anticristo e o fim do mundo. religiosos, Duns Scot afirmava que a fé, o amor e a ação eram mais importantes para a salvação do que a Todos deixavamt ransparecer nas conversas, nas ati- ciência. A Bíblia seria, segundo Scot, a fonte primor- tudes, grande angústia e dramas íntimos. O essencial dial para todas as dúvidas religiosas; assim sendo, estava sendo testadoc rucialmente: o valor espiritual y estava apontado outro caminho, oposto ao da Esco- como base do equilíbrio psicológico . Nesta fase, quando pareciam aceleradas as lástica, que afirmava as relações entre a razão e a fé. Propagador e continuador das idéias de seu modificações que carãcterizariam um novo período mestre Scot, Ockham, franciscano, foi também anti- da História, o homem externava uma fé angustiante. tomista e defensor da heterodoxiap apal. O ocami- Dominado por uma aversãoà morte, era comum a busca de indulgênciase relíquias, as visitas a con- nismo foi a expressãod a dissolução do espírito me- dieval. ventos e igrejas célebreso u mesmo a crença deses- A crítica que se insinuava nas discussões teoló- perada de que se poderia comprar a salvação. O 14 Josê Cartas Sebe Os Jesuíta 15 gicas e filosóficas afetava também o crente ignorante. conceitos e pelas novas interpretações dos valores Assim, a ardente piedade do religioso desta época era gerais que nortearam o homem desafiavam os com- insegura, normalmente contaminada por supersti- portamentos e atitudes, mudando bruscamente a ções. O comportamento cristão refletia a angústia e o conduta humana. O teatro, antes simbólico, tornou- desequilíbrio religioso. se ''retrato da vida real''. A ciência experimental As heresias, frutos deste ambiente, apareciam ganhou novas dimensões quando fugiu às exacerba- agravando o inquietante clima. Todos procuravam das explicaçõest eológicasm edievais. Em todos os novas respostas. Wicleff e Huss pregavam reformas campos a experiência se impunha, transformando, marcando a quebra da estrutura religiosa medieval, visceralmente, a concepção de mundo. O Renasci- propondo soluções revolucionárias . mento em si compreendeu uma valorização do ho- Uma nova síntese ideológica se fazia necessária, mem e de suas possibilidades. A Reforma foi a di- porém, dado o rápido processo de transformações e a mensão religiosa do Renascimento. multiplicidade de campos abrangidos pela crítica aos antigos valores, era preciso tempo para se conseguir uma nova harmonia social. O significado do Renascimento Uma revisão do património cultural herdado estava sendo processada paralelamente a uma in- tensa criação cultural. Crítica, revüão e Inovação, O Renascimento significava uma revitalização estas as três características do Renascimento, que se da capacidade do homem, revitalizaçãoq ue se ex- fizeram presentes por todo período, co-existindo às pressou em vários acontecimentos: a volta ao mundo vezes, outras conflitantes, mas sempre exigindo cons- por Magalhães, a criação do comércio intercontinen- tantes adaptações e mudanças no pensamentos na tal, a imprensa, a revolta religiosa que dividiu a velha vida sócio-económica, política e religiosa. cristandade ocidental, toda obra dos artistas da épo- A modernidade na Europa Ocidental, em ter- ca, o sistema de Copémico, as experiências de Gali- mos de História da Cultura, foi caracterizada pelo leu, etc. Contudo, estes fatos exteriorese ram apenas RenascimentoO. s reflexosd a crítica, da revisãod e os sinais visíveis de uma grande força motivadora valores espirituais, sociais e culturais, bem como as interior. Era a natureza que se reafirmava contra o novas concepções ideológicas projetadas pelo am- ascetismo. Era grande a ânsia de conhecimentos que biente que se definia, contrastavam com a apatia justificassem a condição humana. Afinal, a lógica decadente dos grupos conservadores. aristotélica e a alquimia já estavam desacreditadas e A anarquia e a confusão que foram criadas pelos os próprios homens ão Renascimento tomavam cons- ló rosé Curtos Sebe Os Jesuítas 17 ciência das peculiaridades de sua época como reno- vadora do mundo antigo. Para facilitar o contato com os clássicos, chegou-sea definir um ciclo de disciplinas conhecidas como sfzzdla #zzmanffafiç, que concentrava os estudos em Gramática, Retórica, His- tória, Poesia e Filosofia Moral; as fontes seriam os textos latinos e gregos. Os humanistas empenharam- se em buscar novas bases e novos métodosp ara a filosofia e para as ciências. Basicamente, o Humanismo dava ao homem sua individualidade. A característica específica do Hu- manismo da Renascença foi a valorização do homem- indivíduo. O homem transformava-see m centro das atenções e ponto de referência para tudo. Em qual- quer direção projetava-se o homem-indivíduo como unidade isolada, livre de leis ou normas. Ao ''novo'' homem impunham-se perguntas e exigiam-se respos- tas pessoais. ''Que vida vives tu?'', já indagava Pe- trarca em sua Cbrla .Ihaginárfa a Vfrgí7fo . A valorização das biografias, dos célebres retra- tos, o gosto pela cultura física, a utilização do corpo como elemento de afirmação, o costume de assinar os trabalhos artísticos, a afetação, o exibicionismo, as violentas disputas pessoais, o uso de venenos, pu- nhais, etc., tudo fica a provar o individualismoq ue se impunha como valor da época: marcas de uma burguesia nascente. A ânsia de lucro que caracterizavao Huma- nismo como criação burguesa atestava a individuali- dade. A concorrência, a disputa pelo ganho maior, Em qualquer direção projetava-se o homem-indivíduo era responsabilidade individual: ninguém lucrava em como unidade isolada, livre de leis e Honras. 18 Josê Cáries Sebe Os Jesuítas 19 grupo ou enfeudado. Campanella, na Cidade do .So/, sado. quando escreveu ''sobre a comunidade dos bens ex- Simbolizando a liberdade e o otimismo que se- ternos'', reputavaA ristóteles com varias objeções. A riam elementos de ostentação humanística, Rabelais terceira, por exemplo, dizia: ''A comunidade destrói a retratou o príncipe Gargântua, a criança gigante liberdadee a faculdaded e praticar a hospitalidade, nascida ao ar livre, em meio a grandes festas, vinho de socorrer os pobres, porque, quem ríada possui de e luz, falando e pedindo para beber. O Gargântua seu, de nada pode dispor''. Este sentimentod e posse, significava a liberdade e, mais do que isto, a quebra satisfação e ufania, produto do individualismo, ge- das antigas imposições, o otimismo e a vitória sobre o rava um orgulho da condição humana e contrastava negativismo dos fins da Idade Média. Contudo, deve- com o pessimismo da época. se lembrar que a liberdade proposta, bem como o Os humanistas cultuavam o saber apesar de otimismo, seriam privilégio de poucos, pois consis- coexistir um forte gosto pela erudição. Os persona- tiam tais valores em fazer o que quisesses em obe- gens deste grupo expressivo foram quase sempre con- decer a regras ou leis, o que excluía a grande maioria traditórios. Se, por um lado, apregoavama ''Virtú'', da sociedade, pobre e inculta. o gozo da natureza e a liberdade, o individualismo, a Não houve durante o Renascimento apenas luz, etc. , de outra forma o conhecimentoe xigia uma grandes obras artísticas nem puramente avanços téc- introspecção grande, a reflexão sobre o pensamento nicos que se refletiam nas navegações e nas ciências medieval, a freqüência às bibliotecas, o contato com em geral. Nem existiam apenas homens geniais como os manuscritos clássicos. Leonardo da Vinci, que sonhava com o vâo do mais O viajar era fator importantep ara a época. O pesado que o ar. Concomitantemente persistia o tra- humanista percorria terras em busca de novos textos dicional, o que justificava, por exemplo, Savonarola do período clássico, procurando novas emoções, ob- com sua mensagemt errível de recriminaçãod o ho- servando a natureza e testando a sua experiência e mem pelos seus pecados. Este período tão claro da erudição. Falar corretamente o latim, o grego, e se História jogou também suas luzes sobre os grandes possível o hebraico era obrigação que se impunha crimes que marcaram a época, sobre disputas pes- aos letrados. O buscar esclarecimentosn as fontes soais que não mediam meios, sobre Maquiavéis e era outra tendência constante. Papas que, mais políticos que religiosos, afirmavam Era cultuado o saber superficial e extenso. As as contradições indissociáveis do período. O dua- imitações dos antigos, evidentemente, não eram fiéis. lismo, os extremos, justificam a fertilidade da época. Buscavam na Antiguidade apenas o que lhes interes- Os dramas que se refletiam nos atos externos da sava, semp reocupação de uma análise global do pas- sociedade eram transparências dos conflitos íntimos 20 rosé Curtos Sebe Os Jesuítas 21 da sociedade. quer. O Humanismo, alias, foi um movimentor es- A fermentaçãod o ambientee xigiad o homem trito a poucos homens de letras, que não chegaram a um novo conceitod e mundo e uma consciênciad a formar um grupo coeso. Mesmo afetada, a Igreja -- condição humana. A relatividade dos valores morais, o Cristianismo -- continuava como base do mundo económicos, sociais, culturais e religiosos, que ha- ocidental. Dele todos participavam consciente ou viam sido impostosp ela crítica, acabara por abalar o inconscientemente. sentido da vida, colocando o psiquismo coletivo cons- Em termos de grupo social, o elemento novo -- tantemente em questão. o burguês -- mantinha profundas vinculações com a Diante desta situação confusa e insegura, qual sociedade tradicional, principalmente através de sua seria o papel da Igreja? Manter-se-ia tradicional ou religiosidade e de sua integração na Igreja. se inovariã? Haveria condição de se achar um cami- Desde o ''homem simples'' até os soberanos, nho seguro neste mundo ambíguo? Seria possível todos procuravam a proteção da Igreja, daquela uma definição da Igreja entre tantas contradições? mesma Igreja que estava sendo testada. Não se cria- Igreja una ou repartida? vam novas bases para o Cristianismo. As críticas, os Difíceis soluçõesp ara tais problemas, porém ataques eram dirigidos contra os erros e as falsas ou uma coisa é absolutamentec erta: o homem do Re- superadas interpretações das verdades divinas. nascimento não poderia desvincular-se da Igreja. Modificadas as condições sócio-económicas, for- Esta o cercava em todos os fitos da vida e em todos os talecia-se o poder real. Eram dois processos conco- momentosd a existência. O Cristianismo no século mitantes: um, o do Papa perdendo o prestígiojunto à XVI ''era uma atmosferae m que o homem vivia a autoridade que sempre o distinguiu; outro, o dos sua vida -- toda a existência -- e não só a sua vida soberanos que se impunham com o apoio dos bur- intelectual, mas a sua vida privada nos seus múlti- gueses que transformavam o Estado em grande em- plos aspectos;a sua vida pública nas suas diversas presa capitalista. ocupações; a sua vida profissional, qualquer que ela A autoridade do rei também era fundamentada fosse. Tudo, automaticamente, por assim dizer, inde- na origem divina do poder. Era pela vontade de Deus pendente de toda a vontade expressa de ser crente, de que ele iria governare a lgrda já legitimavas eu ser católico, de aceitar ou de praticar a sua reli- poder. Gradativamente desligava-seo poder tempo- gião'' -- afirma Rops. ral do poder espiritual. Evidências? Dante jâ escre- O Humanismo com toda sua força, apesar de vera naMoPzarqu/a onde, no livro terceiro, anunciava: tentar minimizar a autoridade da Igreja, não conse- ''No Encargo da Monarquia e o Império Provém Ime- guia substituí-la, nem troca-la por outro valor qual- diatamente de Deus''

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