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o que podemos aprender com os psicopatas kevin dutton PDF

36 Pages·2014·0.27 MB·Portuguese
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S NIO O Q U E P O D E M O S Ó R U E N A P R E N D E R C O M O S P S I C O PATA S O que os santos, espiões e serial killers nos podem ensinar acerca do sucesso K E V I N D U T T O N INVESTIGADOR DA UNIVERSIDADE DE OXFORD Conteúdos Prefácio 9 > Capítulo 1 :: A Pulsão do Escorpião 19 > Capítulo 2 :: O Verdadeiro Psicopata, É Favor Dar Um Passo em Frente 51 > Capítulo 3 :: Carpe Noctem 89 > Capítulo 4 :: A Sabedoria dos Psicopatas 115 > Capítulo 5 :: Faz de Mim Um Psicopata 147 > Capítulo 6 :: As Sete Vitórias Mortais 181 > Capítulo 7 :: Supersanidade 209 Notas 247 Agradecimentos 275 Nota do Autor 279 CAPÍTULO 1 A Pulsão do Escorpião Grande e Bom raramente são o mesmo homem. WINSTON CHURCHILL Um escorpião e uma rã encontram-se na margem de um rio. Ambos precisam de atravessar para o outro lado. “Viva, Sr.a Rã!”, chama o escorpião por entre os caniços. “Não fazia a fineza de me dar uma boleia às suas costas para atravessar o rio? Tenho questões importantíssimas a resolver na outra margem e não consigo nadar com uma corrente tão forte.” A rã desconfia de imediato. “Bem, Sr. Escorpião”, responde ela, “eu percebo que tenha coisas impor- tantes a tratar do outro lado do rio. Mas pense lá só um momento no pedido que acaba de me fazer. O senhor é um escorpião. Tem um grande aguilhão na ponta da cauda. Assim que eu o deixar subir para as minhas costas, é absolutamente da sua natureza picar-me.” O escorpião, que já esperava estas objeções, contrapõe: “Minha cara Sr.a Rã, as reservas que me expõe são perfeitamente razoá- veis. Mas não é, claramente, do meu interesse picá-la. Preciso mesmo de passar para a outra margem. E dou-lhe a minha palavra de honra de que não lhe farei mal algum.” A rã concorda, com alguma relutância, com o argumento do escorpião. Permite então ao loquaz artrópode trepar-lhe para as costas. E, sem mais, salta para a água. De início, tudo corre bem, exatamente de acordo com o planeado. Mas, a meio caminho, a rã sente subitamente uma dor aguda no dorso – e ainda tem tempo de ver pelo canto do olho o escorpião retirar-lhe o ferrão da pele. Um entorpecimento mortífero começa a subir-lhe pelos membros. “Insensato!”, coaxa a rã. “Disse que precisava de atravessar o rio para tratar dos seus negócios. Agora vamos morrer!” 19 O QUE PODEMOS APRENDER COM OS PSICOPATAS O escorpião encolhe os ombros e esboça uns passos de dança sobre o dorso da rã, que se afoga. “Sr.a Rã”, replica com displicência, “a senhora mesma o disse. Eu sou um escorpião. Está na minha natureza picá-la.” E, com isso, escorpião e rã desaparecem nas águas escuras e lamacentas da torrente. E nunca mais nenhum foi visto. Ideia a Reter No seu julgamento, em 1980, John Wayne Gacy declarou, com um suspiro, que a única coisa de que era verdadeiramente culpado era de “gerir um cemitério sem licença municipal”. E que cemitério. Entre 1972 e 1978, Gacy tinha violado e assassi- nado pelo menos trinta e três homens jovens e rapazes (com uma média de idades de cerca de dezoito anos), antes de os enfiar na cave da sua casa. Uma das suas vítimas, Robert Donnelly, sobreviveu às atenções de Gacy, mas foi torturado de forma de tal modo cruel pelo seu captor que, em diversos momentos da sua provação, lhe suplicou que “acabasse com tudo” e o matasse. Gacy achou graça. “Estou a tratar disso”, replicou. Já segurei nas mãos o cérebro de John Wayne Gacy. A seguir à sua execução, em 1994, por meio de injeção letal, a Dr.a Helen Morrison – testemunha de defesa no seu julgamento e uma das especialistas mundiais em assassinos em série – participou na sua autópsia num hospital de Chicago, regressando a casa com o cérebro de Gacy a salti- tar num vulgar frasco de vidro, ao seu lado, no assento do seu Buick. Era sua intenção averiguar se haveria algo nele – lesões, tumores, outro tipo de doenças – que o tornasse diferente dos cérebros das pessoas normais. Os testes não revelaram nada fora do comum. Anos mais tarde, tomando café no seu gabinete de Chicago, tive oportunidade de conversar com a Dr.a Morrison acerca das suas des- cobertas. Ou, antes, acerca do facto de não ter descoberto... nada. “Significa isso”, perguntei-lhe, “que no fundo somos todos psico- patas? Que cada um de nós abriga a propensão para violar, matar e 20 A PULSÃO DO ESCORPIÃO torturar? Se não há diferença nenhuma entre o meu cérebro e o cére- bro do John Wayne Gacy, então, onde reside exatamente a diferença?” A Dr.a Morrison hesitou antes de formular uma das verdades mais fundamentais da Neurociência. “Um cérebro morto é muito diferente de um cérebro vivo”, expli- cou-me ela. “Por fora, podem ser muito parecidos, mas funcio- nam de modo totalmente diferente. Aquilo que altera o equílibrio é o que acontece quando as luzes estão ligadas e não desligadas. Gacy era um caso tão extremo que me perguntei se não haveria mais alguma coisa a contribuir para os seus atos – algum dano, alguma lesão do cérebro, ou talvez uma anomalia anatómica. Mas não havia nada. Era perfeitamente normal. O que só serve para demonstrar como o cérebro pode por vezes ser complexo e impe- netrável, relutante em revelar os seus segredos. Como diferenças de educação, por exemplo, ou outras experiências aleatórias podem provocar mudanças subtis na programação interna e na química do cérebro, sendo depois responsáveis por mudanças colossais de comportamento.” As referências de Morrison a luzes e a mudanças colossais de com- portamento recordaram-me um rumor que ouvi um dia acerca de Robert Hare, professor de Psicologia na Universidade da Columbia Britânica e um dos maiores especialistas mundiais em psicopatia. Na década de 1990, Hare apresentou um artigo a um jornal acadé- mico. Nele, incluiu os eletroencefalogramas realizados tanto em psi- copatas como em não psicopatas enquanto realizavam aquilo que no meio se designa por tarefa de decisão lexical. Hare e a sua equipa de coautores do artigo apresentaram aos participantes uma série de sequências de letras. De seguida, pediram-lhes que decidissem, no mais curto espaço de tempo possível, se essas sequências formavam ou não uma palavra. Aquilo que descobriram foi extraordinário. Enquanto os partici- pantes normais identificavam palavras dotadas de carga emocional, como “c-a-n-c-r-o” ou “v-i-o-l-a-r” mais depressa do que palavras neu- tras como “á-r-v-o-r-e” ou “p-r-a-t-o”, outra coisa se passava com os psicopatas. Para estes, a emoção era totalmente irrelevante. O jornal rejeitou o artigo. Ao que parece, não por causa das conclusões, mas antes por causa de algo ainda mais extraordinário. É que alguns dos 21 O QUE PODEMOS APRENDER COM OS PSICOPATAS padrões dos eletroencefalogramas, alegaram os revisores científicos, eram tão anormais, que seria impossível pertencerem a pessoas reais. Mas, evidentemente, pertenciam. Intrigado com a minha conversa com a Dr.a Morrison em Chicago, relativamente aos mistérios e enigmas da mente psicopática – ou melhor, à recalcitrância neural em geral –, visitei Hare em Vancou- ver. Perguntei-lhe se o rumor era verdadeiro. O seu artigo fora real- mente rejeitado? E, caso fosse verdade, qual era o problema? “Há quatro tipos diferentes de ondas cerebrais”, disse-me ele, “desde as ondas beta, que ocorrem durante períodos de vigília pro- nunciada, até às ondas delta, que acompanham o sono profundo, passando pelas ondas alfa e teta. Estas ondas refletem os níveis flutu- antes de atividade elétrica no cérebro, em diferentes momentos. Nas pessoas normais, as ondas teta estão associadas a estados de sonolên- cia, meditação ou sono. Nos psicopatas, porém, ocorrem durante os estados normais de vigília – e até mesmo, por vezes, no decurso de estados de excitação elevada... “A linguagem, para os psicopatas, só tem a profundidade das pala- vras. Não tem nenhum contorno emocional. Um psicopata pode dizer algo como ‘Amo-te’, mas, na realidade, para ele, isso equivale a dizer ‘Vou beber café’... Esta é uma das razões pelas quais os psi- copatas permanecem tão contidos, calmos e frios em condições de extremo perigo, explicando igualmente a sua propensão para agir em função de recompensas e para correr riscos. Os seus cérebros, de forma bastante literal, estão menos ‘ligados’ do que os cérebros das outras pessoas.” Lembrei-me novamente de Gacy e daquilo que aprendi com a Dr.a Morrison. De aspeto exterior normal (Gacy era um pilar da comunidade onde vivia, tendo chegado a ser fotografado com a Primeira Dama Rosalynn Carter), camuflava o seu escorpião interior sob um manto de ternura e encanto. Mas estava-lhe totalmente na natureza picar. Mesmo quando estava prestes a partir deste mundo. “Kiss my ass” foram as suas últimas palavras à entrada da câmara da morte. 22 A PULSÃO DO ESCORPIÃO Ver para Crer Fabrizio Rossi tem trinta e cinco anos de idade e trabalhou, em tem- pos, a lavar janelas. Mas a sua predileção pelo assassínio acabou por levar a melhor. E agora, imaginem, vive disso. Juntos, numa amena manhã de primavera, espiolhando com algum constrangimento o quarto de dormir de John Wayne Gacy, pergunto-lhe de que se trata. O que têm os psicopatas que nos parece tão irresistível? Porque nos fascinam tanto? Não foi, definitivamente, a primeira vez que lhe fizeram tal per- gunta. “Acho que a questão principal em relação aos psicopatas”, disse- -me Rossi, “é o facto de, por um lado, serem tão normais, tão pareci- dos com o resto das pessoas, mas, por outro lado, tão diferentes. Por exemplo, o Gacy até se vestia de palhaço para atuar em festas infan- tis... É isso que têm os psicopatas. Por fora, parecem tão banais. Mas raspamos um bocadinho a superfície, espreitamos para a cave, por assim dizer, e nunca sabemos o que podemos encontrar.” Não estamos, evidentemente, no verdadeiro quarto de dormir de Gacy, mas numa versão simulada, integrada numa exposição do museu que é um sério candidato ao título de mais horrendo do mundo: o Museu dos Assassinos em Série, em Florença. Está locali- zado na Via Cavour, uma próspera artéria situada nas proximidades do Duomo. Fabrizio Rossi é o conservador. O museu tem muitas visitas. E porque não haveria de ter? Estão todos lá, para quem se interessa pelo tema. Todos mesmo, de Jack, o Estripador, a Jeffrey Dahmer. De Charles Manson a Ted Bundy. O caso de Bundy é bastante interessante, comento com Rossi. Um portento sinistro que ilustra os poderes ocultos do psico- pata. Um sinal fascinante da possibilidade de haver nas caves dos psicopatas, quando se procura bem, mais do que apenas segredos macabros. Ele mostra-se surpreendido, para não dizer mais. “Mas o Bundy é um dos mais famosos assassinos em série de toda a história”, diz-me. “É uma das maiores atrações do museu. Que mais podia haver senão segredos macabros?” 23 O QUE PODEMOS APRENDER COM OS PSICOPATAS Muita coisa. Em 2009, vinte anos após a sua execução na Prisão Estadual da Florida (no preciso momento em que Bundy era condu- zido à cadeira elétrica, as rádios locais instaram os ouvintes a desli- gar os eletrodomésticos, para maximizar a intensidade da corrente elétrica), a psicóloga Angela Book e os seus colegas da Universidade Brock, no Canadá, decidiram levar à letra o assassino em série ame- ricano. Durante a entrevista que lhe fizeram, Bundy, que tinha esma- gado os crânios de trinta e cinco mulheres ao longo de um período de quatro anos, em meados da década de 1970, afirmou, com aquele sorriso pueril tipicamente americano que o caracterizava, que era capaz de distinguir uma “boa” vítima unicamente pela sua forma de caminhar. “Eu sou o filho da mãe mais frio que vocês alguma vez hão de conhecer”, disse Bundy. E ninguém o contestará. Mas seria também, interrogou-se Book, um dos mais astutos? A fim de descobrir, preparou uma experiência simples. Primeiro, entregou a quarenta e sete estudantes universitários do sexo mas- culino a Escala de Psicopatia Autoaplicável – um questionário espe- cificamente concebido para avaliar traços psicopáticos na população em geral, por oposição a ambientes prisionais ou hospitalares. De seguida, dividiu o grupo segundo as pontuações altas ou baixas. Registou então em vídeo a forma de caminhar de doze novos partici- pantes, ao longo de um corredor, entre uma primeira sala e outra em que preencheram um questionário demográfico. Este incluía duas perguntas: (1) Alguma vez se encontrou na situação de vítima? (sim ou não) (2) Em caso afirmativo, quantas vezes isso ocorreu? Finalmente, Book apresentou os doze registos em vídeo aos pri- meiros quarenta e sete participantes, lançando-lhes um desafio: classificar numa escala de 1 a 10 quão vulnerável era cada um dos participantes a ser assaltado. A sustentação racional era simples. Se a afirmação de Bundy se comprovasse, e ele realmente tivesse sido capaz de detetar a fraqueza a partir da forma de caminhar das suas vítimas, então, inferiu Book, seria de esperar que os participantes que registassem pontuações mais elevadas na Escala de Psicopatia Autoa- plicável avaliassem melhor a vulnerabilidade do que os que tivessem obtido pontuações mais baixas. Foi exatamente isso que os resulta- dos vieram demonstrar. E quando Book repetiu a experiência com 24

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