Publicado pela primeira em 1942, esta obra de José Régio não é uma história infantil mas sim um romance de fantasia para adolescentes e adultos, repletas de analogias sobre questões filosóficas, sociais e até políticas – uma tendência literária que surgiu nos anos de 1940, um pouco por toda a Europa, de passar a incluir elementos de magia e fantasia em obras literárias dirigidas adultos e não apenas em histórias para crianças, muitas das vezes esmiuçando, reformulando ou decompondo velhos contos de fadas. Foi este tipo de gosto pela introdução do “imaginário fantástico” nas obras literárias consideradas “sérias”, que deu origem à chamada “Literatura Fantástica” nas décadas seguintes, iniciada por Tolkien; e depois ao “Realismo Mágico”, nascido na América do Sul, em que autores como Gabriel García Márquez ou Jorge Amado foram percursores.
A história do “Príncipe com Orelhas de Burro” parte de um velho conto de fadas com o mesmo nome, que se encontra no folclore popular, um pouco por todo o mundo, mas que têm especial incidência na península ibérica pois é daí que provém a maior parte dos elementos que definem e compõe a história, tal como ela se conhece hoje. Portugal até tem a particularidade de ter várias versões do mesmo conto que não se encontram em mais lado nenhum.