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Notas II PDF

140 Pages·1.513 MB·Portuguese
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lucianoduarte.com Notas II Luciano Duarte Notas II Luciano Duarte Luciano Duarte lucianoduarte.com Copyright © Luciano Duarte, 2021 Todos os direitos reservados. Texto em conformidade com o Acordo Ortográfi- co da Língua Portuguesa (1990) em vigor desde 1 de janeiro de 2009. Dados de Catalogação D812 Duarte, Luciano Notas II / Luciano Duarte. Belo Hori- zonte, 2021 (1ª edição). 140 p. ISBN: 979-87-891-0629-7 1. Não ficção. S umário O “eu” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 O ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 O meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 A arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Esta página foi intencionalmente deixada em branco. o “ ” eu Esta página foi intencionalmente deixada em branco. Expansões em choque. — Miro-me os trinta e seis poemas. Saíram, isso é certo. Meses de traba- lho árduo, mas saíram. Então reparo o imenso con- traste entre as rajadas que, simplesmente, permiti se manifestassem. O moralismo que desgosto é-me nas linhas componente obrigatório — jamais o ca- larei, jamais neutralizarei uma dimensão de mim mesmo… Depois, a psicologia do desespero, os rompantes da mente inserida em corpo contrário à ação, perplexo da própria existência. E, finalmente, o cinismo, o escárnio, a expressão de alguém inca- paz de se não atirar conscientemente no ridículo. Sigamos com o derradeiro… Essencialmente covarde. — Sempre que me de- paro com a agressão em massa contra um indiví- duo noto, em primeira instância, a desigualdade do Notas II 7 combate. Foi-se o tempo dos duelos; foi-se a noção de que a honra, mesmo aviltada, exige o combate leal. A multidão é essencialmente covarde por va- ler-se da opressão numérica. Constato que, ainda que o indivíduo tenha feito qualquer coisa de con- denável, eu jamais serei capaz de urrar vendo-lhe a cabeça a rolar. Rechaço, sempre e obrigatoriamen- te, o berro repugnante da multidão. Nunca estarei ao lado da turba impessoalizada, do somatório de covardes que se escondem sob a máscara de uma “causa comum” para agredir. Mero exercício de transcrição. — A sensação de ser capaz de escrever infinitas páginas, somen- te transcrevendo a guerra psicológica permanente e seus capítulos intermináveis. Conflito implacá- vel, aflição contínua, tranquilidade que raramente vem… Palavras do mestre oportunamente relem- bradas: “Toda a minha vida falei calando-me e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra”. Gritando diante de uma tela. — Tento concen- trar-me numa leitura difícil e o vizinho, gritando diante de uma tela, esmurrando as paredes, pisando forte de um lado para o outro, não quer deixar. O texto é cristão, mística cristã. E ao invés de lê-lo, absorvê-lo, reflito se devo ou não perdoar o ani- mal que berra sem parar. Irado, ele quebrará al- guma coisa, tenho certeza. Pronunciou, em cinco minutos, todos os palavrões que conheço. Parece o lateral-direito do time ter feito qualquer bobagem. 8 Luciano Duarte Gol do adversário. Socos, berros, novos palavrões. E o meu abafador de ruído somente abafa a porca- ria do ruído. Devo perdoá-lo? Tento pensar e um insulto invade-me a mente. O animal arrisca uma parada cardíaca por nada, e o espetáculo perde a graça porque coloca meu quarto a tremer. Perco completamente o fio da narrativa e a paciência. Ati- ro o livro a qualquer canto e deixo que o juízo me convença: o “próximo” inviabiliza o cristianismo. Não à trapaça linguística! — Leio cem páginas de Heidegger e atiro o volume ao espaço. Insupor- tável! Cem páginas estéreis envoltas na linguagem mais abstrata do universo, cem páginas de retórica que aparenta profunda, mas turva o pensamento, engana fingindo versar sobre as últimas verdades não sendo senão oca e evasiva. Terrível, terrível… Mas como foi prazeroso interromper a trapaça lin- guística! dizer não à falsificação da filosofia! Des- culpem-me os idólatras, mas só enxergo valor na filosofia útil a alguém que, desesperado, encosta o cano de um revólver numa têmpora. Se bem que, em verdade, uma página de Heidegger basta para que qualquer um puxe o gatilho… O infame é agradável diante do ardiloso. — Len- do Heidegger, senti vontade de sair à rua e dar uma paulada no primeiro ser humano que encontrasse. Exasperante! E engraçadíssima a reação, em espe- cial por minha enorme tolerância diante do que me desagrada. Pouco antes de Heidegger, havia defron- tado várias das páginas mais detestáveis que já li Notas II 9

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