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Morte no Nilo PDF

272 Pages·2015·2.14 MB·Portuguese
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Para a minha velha amiga Sybil Bennett, que também adora perambular pelo mundo. P RÓLOGO DA AUTORA Morte no Nilo foi escrito depois que voltei de um inverno no Egito. Lendo-o agora, vejo-me de volta no vapor, indo de Assuã a Wadi Halfa. Havia muitos passageiros a bordo, mas os deste livro viajaram em minha mente e tornaram-se cada vez mais reais para mim – no contexto de um vapor navegando pelo Nilo. O livro tem muitos personagens e uma trama bastante elaborada. Considero a situação central fascinante, com muitas possibilidades dramáticas, e os três personagens, Simon, Linnet e Jacqueline, parecem vivos para mim. Meu amigo Francis L. Sullivan gostou tanto do livro que vivia me pedindo para transformá-lo em peça de teatro, o que acabei fazendo. A meu ver, este livro é um de meus melhores livros sobre “viagens internacionais”, e se as histórias policiais são “literatura de entretenimento” (e por que não deveriam ser?), o leitor pode entreter-se com céus ensolarados e águas cristalinas, assim como com crimes, no conforto de uma poltrona. C 1 APÍTULO I – Linnet Ridgeway! – É ela! – exclamou o sr. Burnaby, proprietário do Three Crowns, cutucando o companheiro. Os dois homens ficaram boquiabertos, com os olhos arregalados. Um enorme Rolls-Royce vermelho tinha acabado de parar em frente à agência de correio local. Uma jovem desceu do carro, sem chapéu, trajando um vestido que parecia (só parecia) simples. Uma moça de cabelos dourados e feições autoritárias, muito bonita, como raramente se via em Malton-under-Wode. Com passos rápidos e decididos, ela entrou no correio. – É ela! – repetiu o sr. Burnaby. E continuou, em tom mais baixo e respeitoso: – Ela tem milhões... Gastará um dinheirão no lugar. Piscinas, jardins italianos, salão de bailes... Metade da casa virá abaixo para ser reformada... – Trará dinheiro para a cidade – ponderou o amigo, um sujeito magro e débil. Falava com um tom de inveja e rancor. – Sim, será ótimo para Malton-under-Wode. Ótimo mesmo – concordou o sr. Burnaby, complacente. E acrescentou: – Despertará o interesse de todos. – Um pouco diferente de sir George – disse o outro. – Ah, foram os cavalos – disse o sr. Burnaby de maneira indulgente. – Ele nunca teve sorte. – Quanto ele recebeu pela propriedade? – Sessenta mil, pelo que ouvi dizer. O sujeito magro assoviou. – E dizem que ela pretende gastar mais sessenta mil até terminar! – continuou o sr. Burnaby com ar triunfante. – Nossa! – exclamou o sujeito magro. – Onde ela arranjou tanto dinheiro? – Na América, pelo que eu soube. A mãe era filha única de um desses milionários. Como nos filmes, não? A jovem saiu do correio e entrou no carro. – Parece errado para mim – sussurrou o sujeito magro acompanhando a partida da moça. – Essa aparência. Dinheiro e beleza... é demais! Uma jovem rica assim não tem direito de ser bonita. E ela é bonita... tem tudo. Não acho justo... II Trecho da coluna social do Daily Blague. Entre as pessoas que jantavam no Chez Ma Tante, reparei na bela Linnet Ridgeway. Ela estava em companhia da honorável Joanna Southwood, de lorde Windlesham e do sr. Toby Bryce. A srta. Ridgeway, como todos sabem, é filha de Melhuish Ridgeway, casado com Anna Hartz. Herdou do avô, Leopold Hartz, uma enorme fortuna. A adorável Linnet é a sensação do momento. Corre o boato de que seu noivado será anunciado em breve. Lorde Windlesham parecia realmente épris![1] III – Querida, vai ficar uma maravilha! – disse a honorável Joanna Southwood. Ela estava no quarto de Linnet Ridgeway, em Wode Hall. Olhava pela janela para os jardins e o descampado com traços azuis formados pelos bosques. – É perfeito, não acha? – disse Linnet, apoiando-se no parapeito da janela. A expressão de seu rosto era animada, viva, dinâmica. A seu lado, Joanna Southwood parecia um pouco apagada. Era uma jovem alta e magra, de 27 anos, rosto inteligente e sobrancelhas feitas. – E você conseguiu tanto em tão pouco tempo! Contratou muitos arquitetos? – Três. – Como eles são? Acho que nunca conheci um. – São legais. Pareceram-me pouco práticos, às vezes. – Isso não é problema para você, querida. É a pessoa mais prática que conheço. Joanna pegou um colar de pérolas da penteadeira. – Imagino que sejam verdadeiras, não, Linnet? – Claro. – Sei que é “claro” para você, minha querida, mas não seria para a maioria das pessoas. Geralmente, elas não são naturais. Chegam a vender imitações baratas. Querida, suas pérolas são incríveis, tão bem combinadas. Devem valer uma fortuna. – Um pouco vulgares, não acha? – Não, de modo algum. Uma beleza. Quanto valem? – Cerca de cinquenta mil. – Quanto dinheiro! Não tem medo de ser roubada? – Não, estou sempre com esse colar. E, de qualquer maneira, as pérolas estão no seguro. – Você me deixaria usá-lo até a hora do jantar? Seria tão emocionante. – Claro. Como quiser – disse Linnet, achando graça. – Sabe, Linnet, eu realmente a invejo. Você simplesmente tem tudo. É jovem, bonita, rica, saudável, até inteligente! Quando faz 21 anos? – Em junho. Darei uma grande festa em Londres, para comemorar a maioridade. – E depois se casará com Charles Windlesham? Os terríveis jornalistas fofoqueiros estão empolgadíssimos. E Charles parece bastante afeiçoado. – Não sei – disse Linnet, encolhendo os ombros. – Não quero me casar com ninguém ainda. – Faz muito bem, querida! Depois do casamento, muita coisa muda, não? O telefone tocou e Linnet foi atender. – Alô? Sim? Respondeu-lhe a voz do mordomo: – A srta. de Bellefort está na linha. Posso passar a ligação? – Bellefort? Sim, claro. Pode passar. Ouviu-se um clique e depois uma voz ansiosa, suave, ligeiramente ofegante: – Alô, é a srta. Ridgeway? Linnet! – Jackie querida! Há séculos que não tenho nenhuma notícia sua. – Eu sei. Um horror. Linnet, quero muito vê-la. – Você não pode vir aqui? Adoraria lhe mostrar minha nova aquisição. – É justamente isso o que desejo fazer. – Pegue um trem, então, ou venha de carro. – Combinado. Vou no meu velho carrinho de dois lugares. Comprei-o por quinze libras, e às vezes funciona muito bem. Mas é um veículo temperamental. Se eu não chegar até a hora do chá, você já sabe que ele enguiçou. Até mais, querida. Linnet desligou e voltou para onde estava Joanna. – Minha amiga mais antiga, Jacqueline de Bellefort. Estivemos juntas num convento em Paris. Ela teve uma vida bastante azarada. O pai era um conde francês, a mãe era americana, do sul. O pai fugiu com outra mulher, e a mãe perdeu todo o dinheiro na crise de Wall Street. Jackie ficou totalmente quebrada. Não sei como ela conseguiu se sustentar nos últimos dois anos. Joanna polia as unhas vermelhas com o lencinho da amiga. Inclinou a cabeça para ver o efeito. – Querida – disse, de maneira arrastada –, não será cansativo? Quando acontece uma infelicidade com meus amigos, abandono-os imediatamente! Parece crueldade, mas evitamos muitos aborrecimentos mais tarde! Eles sempre pedem dinheiro emprestado, ou então abrem uma loja de roupa, e temos que comprar os vestidos mais horríveis do mundo. Alguns decidem pintar abajures ou echarpes. – Quer dizer que se eu perdesse todo o meu dinheiro, me abandonaria? – Sim, querida, abandonaria. Você não pode dizer que não sou sincera! Só gosto de pessoas bem-sucedidas. E descobrirá que quase todos são assim, só que a maioria das pessoas não admite. Dizem apenas que não aturam mais fulana ou beltrana! “Ela ficou tão amargurada e esquisita depois do que aconteceu, coitada!” – Como você é má, Joanna! – Só estou fazendo minha parte, como todo mundo. – Eu não. – Por motivos óbvios! Você não precisa ser sórdida, com todo o dinheiro que recebe trimestralmente. – E você está enganada sobre Jacqueline – disse Linnet. – Ela não é uma parasita. Já tentei ajudá-la, mas ela não aceitou. É orgulhosa à beça. – Por que tanta pressa para vir aqui? Aposto que quer alguma coisa! Espere e verá. – Ela parecia empolgada com algo – admitiu Linnet. – Jackie é sempre muito emotiva. Uma vez, ela chegou a enfiar um canivete em alguém! – Nossa, que emocionante! – Um menino estava maltratando um cachorro. Jackie tentou fazer com que parasse, mas ele não parou. Como ele era mais forte do que Jackie, eles se debateram, até que ela puxou um canivete e enfiou nele. Você não imagina a confusão! – Imagino. Deve ter sido horrível! A criada de Linnet entrou no quarto. Pediu licença baixinho, pegou um vestido no armário e retirou-se. – O que houve com Marie? – perguntou Joanna. – Parece que esteve chorando. – Coitada! Lembra que lhe contei que ela queria se casar com um homem que trabalhava no Egito? Como não o conhecia muito bem, resolvi investigar um pouco e descobri que ele tem mulher e três filhos. – Você deve ter vários inimigos, Linnet. – Inimigos? – perguntou Linnet, surpresa. Joanna assentiu com a cabeça e pegou um cigarro. – Inimigos, minha querida. Você é assustadoramente eficiente e sabe muito bem o que deve ser feito. Linnet riu.

Description:
Morte no Nilo é um dos mais célebres romances de Agatha Christie e um dos mais famosos mistérios protagonizados por Hercule Poirot. A própria autora afirma no prólogo: "é um de meus melhores livros sobre 'viagens internacionais'". Inspirado em uma de suas estadias no Egito, conta a história d
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