UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA - PPGA TTHHIIAAGGOO AANNGGEELLIINN LLEEMMOOSS BBIIAANNCCHHEETTTTII EEnnttiiddaaddeess ee RRiittuuaaiiss eemm TTrrâânnssiittoo SSiimmbbóólliiccoo:: UUmmaa AAnnáálliissee ddooss EExxuuss nnoo CCoonntteexxttoo AAffrroo--bbrraassiilleeiirroo ee nnaass SSeessssõõeess ddee DDeessccaarrrreeggoo ddaa IIUURRDD.. RREECCIIFFEE--PPEE,, 22001111 1 Entidades e Rituais em Trânsito Simbólico: Uma Análise dos Exus no Contexto Afro-brasileiro e nas Sessões de Descarrego da IURD. Thiago Angelin Lemos Bianchetti Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Antropologia. Sob a orientação do Prof. Dr. Roberto Mauro Cortez Motta (UFPE) e a Co-orientação da Profª Drª. Rachel Rocha de Almeida Barros (UFAL). RECIFE-PE, 2011 2 Catalogação na fonte Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva CRB-4 1291. B577e Bianchetti, Thiago Angelin Lemos. Entidades e rituais em trânsito simbólico : uma análise dos exus no contexto afro-brasileiro e nas sessões de descarrego da IURD / Thiago Angelin Lemos Bianchetti. - Recife: O autor, 2011. 219 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Roberto Mauro Cortez Motta. Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Rachel Rocha de Almeida Barros. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Programa de Pós-Graduação em Antropologia, 2011. Inclui bibliografia. 1. Antropologia. 2. Cultos afro-brasileiros – Maceió (AL). 3. Exu (Orixá). 4. Pentecostalismo. 5. Igrejas pentecostais. 6. Igreja Universal do Reino de Deus. I. Motta, Roberto Mauro Cortez (Orientador). II. Barros, Rachel Rocha de Almeida (Co-orientadora). III. Titulo. 301 CDD (22.ed.) UFPE (CFCH2011-81) Exu Iná1 Iná, mo juba Iná, eu lhe apresento meus humildes respeitos Iná, mo júbá àiyé Iná, Iná lhe apresento os respeitos do mundo Iná, mo juba Eu lhe apresento os meus humildes respeitos Iná, Iná mo juba àiyé Iná, Iná lhe apresento os respeitos do mundo Iná, Kòròkà Iná não venha com pensamentos cruéis Iná, Iná Koròkà àiyé Iná não venha com pensamentos cruéis para o mundo Iná, Kòròkà Iná não venha com pensamentos cruéis Iná, Iná kòròkà àiyé Iná não venha com pensamentos cruéis para o mundo Iná, kó o wá gba Iná venha e proteja Iná, Iná, kó o wá gba àiyé Iná venha e proteja o mundo Iná, kó o wá gba Iná venha e proteja Iná, Iná, kó o wá gba àiyé Iná venha e proteja o mundo Zé2 Ô! Zé quando for pra Zalagoas Toma cuidado com o balanço da canoa Faça tudo que quiser Só não maltrate o coração dessa mulher 1 - A belíssima toada de invocação ao Èsù Iná foi etnografada no livro “Os Nàgô e a morte: Pàde, Àsèsè e o culto Égun na Bahia” de Juana Elbein dos Santos (1986). 2 - Música interpretada pela Orquestra de Tambores de Alagoas (Álbum: Bantus e Caetés). A canção de domínio público é comumente entoada nos terreiros de Umbanda da capital para homenagear Seu Zé Pilintra. Há outra versão cantada que diz: “Seu Zé Pilintra quando vem de Alagoas toma cuidado com o balanço da canoa (...)” (versão disponível em: http://www.4shared.com/audio/hSFAjtbW/06_- _Seu_Z_Pilintra_qdo_vem_de.html). 5 Agradecimentos Exu, Laróyè! Omokùnrin Ìdólófin, (O homem forte de ìdólófin) lé sónsó sí orí esè elésè (Exu, que senta no pé dos outros). Ogun, Ògún ieé!! Ògún alada méjì (Ogum, dono de dois facões) O fi òkan sán oko (Usou um deles para preparar a horta) O fi òkan ye ona (e o outro para abrir caminho). Agradecido sempre as energias e divindades que fazem do universo humano uma peça ainda mais viável e agradável para se estar bem no mundo. Agradeço com intenso respeito a minha família que é a maior segurança que possuo na vida. Especialmente a Rose Meire Lemos Bianchetti, Denevaldo José Bianchetti e Maria Clara Lemos. Também a minha irmã Bruna, minhas tias: Terezinha, Vera, Sônia e Rosiane. Grato também pela família Trilha do Mar, adquirida no rumo da vida. Agradeço em especial ao meu primo e desenhista Kemesson Lemos por ter feito as ilustrações que abrem como capa cada capítulo dessa dissertação. A minha companheira Juliana Barretto, por todo amor e força dirigidos a mim; também pelas críticas e sugestões teóricas e metodológicas dedicadas a esse projeto. A quem devo minha gratidão por ter me direcionado a força da Hoasca (Daime) que muito contribui para meu auto-entendimento nesse período. Sou extremamente grato ao meu orientador Roberto Motta, pela dedicação ao projeto, pelo comprometimento e, principalmente, pela figura sábia e perspicaz que é. Seu olhar antropológico (seja através dos seus textos publicados ou nos direcionamentos sugeridos ao campo teórico) juntamente com suas críticas foram cruciais para o bom andamento do trabalho. Grato à Profª. Rachel Rocha de Almeida Barros, pela co-orientação desse trabalho, figura que tem acompanhado e feito sugestões a esse projeto desde a Graduação em Ciências Sociais pela UFAL, também pelo exemplo de profissional, de dedicação ao ensino público e de pesquisadora que tem sido a mim. Academicamente falando, minha passagem pelo PPGA/UFPE, posso afirmar, foi facilitada por encontrar pessoas de competência e profissionalismo exemplar. Agradeço a todos os professores e especificamente aqueles que eu tive a oportunidade de um 6 contato mais direto nas disciplinas e cursos ministrados. Agradeço em especial ao Prof. Peter Schröder, pelas sugestões metodológicas discutidas na disciplina Metodologia e Técnica de Pesquisa Antropológica e pela parceria desenvolvida durante o estágio supervisionado; à Prof.ª Roberta Campos pelas discussões em sala de aula que certamente trouxeram aberturas de leituras ao projeto dissertativo; à Prof.ª Vânia Fialho pelo curso de Laudos Antropológicos e a pessoa gentil que é; à Profª. Maria do Carmo Brandão pelas contribuições em sala de aula e pelas sugestões dadas a esse estudo ainda quando se tratava do projeto inicial; à Profª Sylvana Brandão por ter participado da pré- banca dessa dissertação com suas importantes contribuições; ao Prof. Luis Felipe Rios por ter participado de todas as etapas avaliativas deste trabalho, mas, sobretudo, pelo comprometimento e pelo seu rico olhar antropológico, sem o qual, vários insights ficariam pelo caminho. Agradeço ao Prof. Siloé Amorin (UFPB) pela sua amizade e por ter aberto os arquivos do filme documentário 1912, O quebra de Xangô; também à Profª Sílvia Martins (UFAL) pela sua amizade e sua incessante disposição em colaborar, grato! A turma do mestrado de 2009 (e aos que se agregaram a ela no caminho) que sem dúvida fez valer a parceria, as críticas e as descontrações. Aos amigos, aquele forte abraço! Agradeço a Ana Laura e Môroni Laurindo, com os quais convivi em Recife dividindo casa e amizade. Em especial a duas amigas queridíssimas, primeiramente, a Núbia Michella, alagoana de firmeza, que tenho o grato prazer de tê-la como referência de inúmeras coisas há alguns anos e a Flávia, pernambucana do grau, que conheci ao longo do percurso no mestrado, grato por tudo! Ao importantíssimo projeto de concessão de bolsas da CAPES que permite com que novos pesquisadores sejam formados sem que precisem dividir suas tarefas acadêmicas em busca de uma atividade profissional remunerada. A manutenção e a criação de novas iniciativas como essa devem ser incentivadas sempre. Sou extremamente grato a todos os membros do Palácio de Iemanjá que abriram suas vidas religiosas; em especial ao babalorixá Zeca, que muito generosamente abriu as portas da sua casa de axé; também pela permissão dos registros de suas imagens. Agradecido a todos, mas em especial aos líderes e entrevistados: além de Seu Zeca, temos a ialorixá Noca e seu esposo Quixabeira, madrinha Ciça, Dona Carminha, Dona 7 Geruza, Seu Temperinho, Jaraguá, Tiago, ao ogã Jorge, Maria, Eduardo, Júnior, Léo, Marcos, Samuel, Gilmar. Também com muito respeito e admiração agradeço as outras casas de axé que abriram suas portas a esse projeto. Faço menção aqui aos nomes dos líderes das casas de axé por onde passei para prestigiar, na figura dos respectivos, cada terreiro e também para ser sucinto, agradeço aos babalorixás: Célio Rodrigues, Seu Ferreira, Manoel Xoroquê, às Ialorixás Mirian, Veronildes (mãe Vera), Maria de Lourdes, Dona Celina, Dona Jurema, Dona Zuleide, ao babalorixá Elias e ao filho-de-santo Robson T Odé da cidade de São Paulo (amigo on-line). Também agradeço muitíssimo aos líderes, aos obreiros e membros da IURD que concederam entrevista ou contribuíram de alguma forma para esse estudo. Agradeço em especial ao pastor titular e auxiliar do templo da IURD no Jacintinho. 8 RESUMO Esta dissertação tem como objetivo etnografar o trânsito simbólico de entidades conhecidas do panteão afro-brasileiro que sincreticamente alçam-se no contexto litúrgico da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Para tanto, pretende-se ao longo do trabalho compreender como os arquétipos de Exus e Pombas-gira são identificados no contexto das religiões de matriz africana (Umbanda, Candomblé e Xangôs) e, a partir de então, observar sua inserção ritual na sessão de descarrego daquela denominação. O estudo empreende uma jornada etnográfica em alguns terreiros da cidade a fim de levantar dados específicos a respeito dos arquétipos dos Exus (também conhecidos como Bará e Legba em algumas casas). O aprofundamento da etnografia se dá na Rua São Jorge, no bairro do Jacintinho em Maceió-AL, onde na mesma localidade (a menos de 50 metros) se encontram o terreiro Palácio de Iemanjá, que, todas as segundas-feiras, realiza seus toques em homenagem aos Exus, e uma sede da IURD, onde a mesma empreende um ritual de expurgo dos Exus e Pombas-gira em seus fieis. Nesses dois segmentos religiosos pretende-se compreender as identificações dadas aos Exus e Pombas-gira e a dinâmica simbólica que as mesmas adquirem entre os rituais afro- brasileiros e as sessões de descarrego da IURD. Palavras chaves: Religiões Afro-brasileiras, Neopentecostalismo, IURD, Exus. 9 ABSTRACT This study has the purpose of presenting an ethnographic description on how entities recognized from African-Brazialian religions are liturgically and through synchretism attached to the religion Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Therefore, the objective is to understand how archetypes of Exus and Pombas-gira are identified within African-Brazilian religions (such as, Umbanda, Candomblé and Xangôs) and to observe their inception within the descarrego ritual from IURD. An ethnographic journey is conducted into the terreiros from Maceió in order to gather specific data about the archetypes of Exus (also known as Bará and Legba in some houses). The ethnography is more detailed on São Jorge Street in the Jacintinho neighborhood, which is close to Palácio de Iemanjá, where every Mondays, they play drums (toques) praising Exus, while a IURD church is also close, where rituals purging Exus and Pombas-gira from their followers are undertaken. Thus, the aim is to understand how Exus and Pombas-gira are identified and which are their symbolic dynamics within African-Brazilian religions and also among the descarrego IURD rituals. Keywords: African-Brazilian religions, Neopentcostalism, IURD, Exus. 10
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