A Vida de uma grande família portuguesa em 1975, quando, em Portugal, «a época das cerimónias morreu». Um casal e o irmão do marido viajam até Reguengos de Monsaraz porque o patriarca (o avô) está moribundo. Em Monsaraz vive o resto do clã, que inclui um filho e uma filha, ambos casados, e uma terceira filha, solteira e mongolóide. O velho morre durante as festas da vila, que terminam com a morte do touro. Não há herança, há dívidas. A família foge do país.
Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores, Auto dos Danados (1985) firma, na evolução da novelística de António Lobo Antunes, o amadurecimento de técnicas e processos narrativos, visível na própria estruturação do romance, cujas "partes" correspondem a pontos de vista díspares dos vários elementos de uma família que, em Setembro de 1975, luta encarniçada pela herança hipotecada de um latifundiário moribundo. O intertexto vicentino evocado pelo título do romance anuncia, ao mesmo tempo, a continuidade com a descida aos infernos encetada desde o seu primeiro romance, pela corrosiva análise psicológica de um leque de personagens sem qualquer possibilidade de redenção, num país pós-revolucionário onde as pulsões de sobrevivência se sobrepõem à razão e à moral.