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Antigos Cafés do Rio de Janeiro PDF

153 Pages·1989·0.66 MB·Portuguese
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Antigos Cafés do Rio de Janeiro Danilo Gomes Livraria Kosmos Editora, 1989 Gênero: Memória, Rio Antigo Contracapa Antes que a memória dos velhos cafés cariocas, já dispersa e diluída em tantos trechos de diferentes obras, vá ficando cada vez mais esquecida e perdida; antes que cada vez mais se esvaneça como nuvens esgarçadas, tentei recompô-la neste volume. Um volume contra o esquecimento. Danilo Gomes Antigos Cafés do Rio de Janeiro "São migalhas da História, mas as migalhas devem ser recolhidas" (Machado de Assis, em crônica de 11-08-1895 — "A Semana") O Autor Danilo Gomes nasceu em Mariana, Minas Gerais, em 30/12/1942, filho de Daniel Carlos Gomes e Maria das Dores Motta Gomes. Casado com Maria Jeanete Carneiro Gomes, tem dois filhos, Rodrigo e Juliana. Formado em Direito pela UFMG (1974) e em Comunicação Social (Jornalismo) pelo CEUB (Brasília, 1985). Desde 1961 colabora em diversos jornais e revistas, com crônicas, entrevistas com escritures, artigos sobre livros e reportagens culturais. Publicou os seguintes livros: "Escritores Brasileiros ao Vivo" (em dois volumes, 1979 e 1980, Editora Comunicação/INL), "Uma Rua Chamada Ouvidor" (Fundação Rio, 1980) e "Água do Catete" (Editora Cátedra/INL, 1984). Participa da obra "Crônicas Mineiras" (Editora Ática, 1984). Está elaborando um pequeno dicionário de pseudônimos. Depois de morar em Belo Horizonte por vários anos, mudou-se para Brasília, em 1975. Pertence às seguintes entidades: Academia de Letras do Brasil (com sede em Brasília), Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, Academia Marianense de Letras, Academia Divinopolitana de Letras, Grêmio Literário Tristão de Athayde (com sede em Ouro Preto), Casa do Escritor (com sede em São Roque, SP), Associação Nacional dos Escritores (com sede em Brasília) e Associação dos Amigos do Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro. Desde maio de 1985 trabalha na Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Danilo Gomes Antigos Cafés do Rio de Janeiro Livraria Kosmos Editora Cpyright (c) 1989 by Danilo Gomes Projeto gráfico: Leon Algamis Foto da Capa: "Café na Rua do Passeio", Malta. Foto da última capa: Copyright (c) 1989 Agência JB Fotógrafo Adauto da Costa Silveira "Flanar nas ruas do Rio é prazer refinado. Exige amor e conhecimento. Não apenas o conhecimento local e o das conexões urbanas. É preciso um gênero de erudição." PEDRO NAVA, “Galo-das-Trevas”. "O Rio ainda é o maior e o melhor assunto, além de ser o melhor ponto de vista, o melhor terraço para se divisar qualquer assunto. Uma Rainha Sherazade que se dispusesse a contar belas histórias cariocas iria muito além de mil e uma noites, e nenhum ouvinte dormiria." CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, crônica “Primeira Vez”. "Os restaurantes à francesa, que os Cariocas não deixavam de chamar "casas de pasto", os cafés (botequins) eram bem montados e procuravam, com louvável emulação, primar no serviço dos fregueses." ERNESTO SENNA, “O Velho Commercio do Rio de Janeiro”, s./d. "Fomos tomar cerveja em um café de noctívagos. (...) E, calmamente, sorvemos longos goles de cerveja até espertar o corpo." LIMA BARRETO, “Vida e Morte de M.J.Gonzaga de Sá”. "Há um século nascia Villa-Lobos, que começou tocando violoncelo, menino ainda, em teatros, cafés e bailes." PAULO MENDES CAMPOS, crônica “1987, o Ano da Convergência” — Jornal do Brasil; 18/011/1987. "E vou andando, tomo um café, sinto uma grande ternura pela cidade grande onde outrora te amei tanto, tanto, oh! para sempre perdida Lenora." RUBEM BRAGA, crônica “O Homem e a Cidade”, Rio, janeiro, 1960. Como uma conversa num velho Café (sentado) O gosto pelo estudo da História da Cidade do Rio de Janeiro transformou-se, para mim, em verdadeira paixão. E dando vazão a esse sentimento, através de leituras, verifiquei a falta de um livro que contivesse, mesmo sucintamente, a crônica dos cafés da cidade que foi, de 1763 a 1960, a Capital do Brasil. O que havia eram referências esparsas, algumas curtas, outras mais longas, especialmente em volumes de memórias. Luiz Edmundo evocou alguns dos velhos cafés da sua terra natal. Diversos outros autores referenciaram cafés que conheceram no Rio de sua juventude e cuja lembrança se tornara saudade. Foi tão que, no primeiro dia do ano de 1983, comecei a reunir dados para compor um livro destinado, mesmo de forma incompleta, mesmo com lacunas, a contar um pouco da história dos velhos cafés cariocas (ou fluminenses, como outrora se dizia). A pesquisa tomou-me três anos: trabalho feito, entretanto, com prazer. Na crônica que publicou em 3 de março de 1886, na "Gazeta de Notícias", do Rio, sob o pseudônimo de Lélio, Machado de Assis indagava: "(. ..) ... mas o que é que dura neste mundo, a não serem as pirâmides do Egito e a boa fé da minha comadre?" Pois é, também os velhos cafés não durariam. Na linha do melancólico pensamento do Bruxo do Cosme Velho, é este trecho do poeta Augusto Frederico Schmidt, em seu livro de memórias "As Florestas": "Estranha coisa é o mundo. Dentro de alguns anos, tudo estará esquecido e perdido." Uma frase taciturna, em que a tristeza não cede espaço ao gracejo machadiano. Antes que a memória dos velhos cafés cariocas, já dispersa e diluída em tantos trechos de diferentes obras, vá ficando cada vez mais esquecida e perdida; antes que cada vez mais se esvaneça como nuvens esgarçadas, tentei recompô-la neste volume. Um volume contra o esquecimento. Peço aos leitores que não apenas me perdoem as falhas e deficiências, como também me ajudem a aumentar e corrigir. Infelizmente, não poderei dizer, como Hans Staden, o pobre artilheiro alemão que, prisioneiro dos índios tupinambás por cerca de um ano e quase por eles devorado em forma de churrasco, escreveu em seu "Viagem ao Brasil", de 1557: "Tudo isto eu vi e presenciei." Não, não vi nem presenciei, nem muito menos freqüentei qualquer dos cafés arrolados, com exceção do Amarelinho, que é hoje, aliás, mais bar-restaurante que propriamente café. Tudo o que está neste livro advém de fontes várias, que fui reunindo, ordenando e "costurando", enquanto tomava cafezinhos às dezenas, é verdade, mas em minha própria casa. O levantamento abrange cerca de cem anos: de meados do século passado a meados deste, passando, obviamente, pela época áurea, que situo entre 1880 e 1940. Nessa época áurea, realmente brilhante e gloriosa, os cafés se tornaram centro da vida cultural, literária, política e social do Rio, Capital do Império e da República. Neles se conspirava. Neles se compunham sonetos. Neles os políticos deliberavam e os namorados tramavam donjuanices. Tempo de Olavo Bilac e seu buliçoso grupo. Depois, tempo do sofrido Lima Barreto. Depois, a época agitada do Café Nice, a que Nestor de Holanda dedicou todo um livro — "Memórias do Café Nice". Pode-se dizer que o ato da proclamação da República começou, praticamente, no Café de Java, no Largo de São Francisco, esquina de Rua do Ouvidor, como se verá no capítulo dedicado a esse tradicional estabelecimento. Era o tempo em que, nos cafés, se tomava uma cerveja popular, barata, de uma pataca, com direito a um lusitano pires de tremoços, como conta Leôncio Correia. Nem sempre, entretanto, essas casas comerciais foram locais de prosa amena e sossegada, com senhores de gravata, polainas e bengala a discutir os versos dos poetas franceses em voga ou comentar as quedas dos Gabinetes. Muitas vezes os freqüentadores, às mesas ou às portas, entregavam-se a bulhas, chufas, facécias, chistes, debiques e chalaças (palavras correntes à época), a respeito de seus desafetos. Lá estava Emílio de.Menezes fazendo picantes trocadilhos (ou calembours). E não raro ocorriam patuscadas e assuadas, como nos turbulentos tempos do Encilhamento, a loucura da Bolsa no fim do século passado. E havia uma tal façanha de "virar mesa no Lamas", prova de virilidade, a que se refere o neta Manuel Bandeira em crônica sobre aquele extinto café no Largo do Machado. No princípio deste século, sendo Prefeito o célebre Pereira Passos, o Rio modificou-se, modernizou-se, com a abertura da Avenida Central (atual Rio Branco) e outras vias. "O Rio civiliza-se", proclamava Figueiredo Pimentel do alto de sua coluna de jornal (e essa frase foi repetida ad nauseam). E os cafés acompanhavam os ventos do progresso, com mesas e cadeiras novas e elegantes espelhos: Por um tostão, o cavalheiro podia tomar — sentado!!! — o seu bom café, no Paris. Tomemos o Rio do ano de 1903, com a remodelação em marcha e o fotógrafo Malta registrando tudo para a Prefeitura (feliz idéia). Difundiam-se os bondes elétricos. O carnaval foi estrondoso. Os banhos de mar eram ainda, receitados como remédio. O Rio era então, segundo Gondin da Fonseca em seu livro "Santos Dumont", "alegre, bonacheirão, acolhedor." E acrescenta o biógrafo do Pai da Aviação: "Note-se que em 1903 já os novíssimos, como João do Rio, se insurgiam contra Bilac e os freqüentadores líricos da Colombo e do Café Papagaio, pregando Frederico Nietzsche com suprema ignorância e audácia, não compreendendo arte que não fosse nietzscheana e jurando pela Bíblia: o "Zaratustra"." Nesse Rio de 1903, onde nos cafés se consumia bastante a cerveja Ypiranga, Lauro Miller — diz Gondin da Fonseca — "inventa a nacionalidade divina proclamando que "Deus é brasileiro"." Eu me darei por muito satisfeito se este livro puder contribuir, modestamente embora, para preservar a memorialística dos velhos cafés cariocas. Não ousei perpretar um estudo sociológico. Apenas alinhavei, com a ajuda de penas. alheias, algumas informações e casos a respeito do tema fascinante, como um pequeno repositório sentimental, calcado em documentos literários e históricos, de que dá notícia a bibliografia. Não ordenei os estabelecimentos tratados, por ordem cronológica, mesmo porque alguns deles ostentam apenas um ano ou elástica data como referência do tempo em que funcionavam. O leitor ficará muito à vontade para circular entre essas casas marcadas pelo aroma da planta que Francisco Palheta nos trouxe da Guiana Francesa. Alguns cafés contam, neste livro, com "biografias" muito curtas. Na verdade, seus nomes, alguns deles franceses, como o Cercle du Commerce, o Café de la Belle Hélène, o Café de la Bourse, constam apenas de um ou outro raro livro, que quase ninguém lê, e caíram em praticamente total esquecimento. Mas aqui estão registrados, como fantasmas de um tempo alegre, influenciado pela cultura francesa que despontou já no reinado do muito mal compreendido D. João VI. Referindo-se ao fim do século passado (duas últimas décadas), C. Carlos J. Wehrs diz que os melhores hotéis, confeitarias e cafés do Rio eram de franceses ("O Rio Antigo — Pitoresco e Musical", pág. 91). Agradeço a todos os que me estimularam a levar adiante a empreitada, concluindo e publicando este livro. Dedico este livro a todos os que amam a cidade do Rio de Janeiro e procuram preservar-lhe não apenas a beleza natural como a arquitetônica e artística em geral. Mas dedico este livro, especialmente, à minha querida amiga e tia Elza Machado Motta, carioca de nascimento e devoção, que me ensinou as primeiras lições de amor ao Rio de Janeiro, viúva do meu saudoso tio Auto Celio Motta, mineiro que por tantos anos morou na sempre Cidade Maravilhosa, onde deixou o coração. Rendo aqui minhas homenagens, também, à memória de dois mineiros que amaram, como poucos, a cidade do Rio de Janeiro, que habitaram por longos anos, meus mestres e amigos Pedro Nava e Carlos Drummond de Andrade. No mais, como escreveu o carioca Machado de Assis (freqüentador do Café do Braguinha), em sua crônica de 2 de junho de 1878, no jornal "O Cruzeiro", "resta que me torne digno, não direi do aplauso, mas da tolerância dos leitores." Danilo Gomes Brasília, 1988

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