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Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas PDF

188 Pages·2015·1.06 MB·Portuguese
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Sumário Capa Folha de rosto Dedicatória Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? Auckland 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 Sobre o autor Notas de rodapé Créditos e copyright Para Maren Augusta Bergrud (10 de agosto de 1923 – 14 de junho de 1967) E eu ainda sonho que ele pisa o gramado, caminhando, espectral, pelo orvalho, pelo meu canto alegre transpassado. Yeats Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? Auckland Uma tartaruga presenteada ao rei de Tonga pelo explorador capitão Cook em 1777 morreu ontem. Tinha quase 200 anos de idade. O animal, chamado Tu’imalila, morreu nos jardins do palácio real, em Nuku, ilha de Alofa, capital de Tonga. O povo tonganês considerava-o um chefe, e guardadores especiais foram nomeados para cuidar dele. O animal ficara cego num incêndio florestal, alguns anos antes. A rádio de Tonga informou que os restos mortais de Tu’imalila seriam enviados para o museu de Auckland, na Nova Zelândia. Reuters, 1966 1 Uma curta e gostosa onda elétrica lançada pelo alarme automático do sintetizador de ânimo ao lado da cama acordou Rick Deckard. Surpreso – sempre se surpreendia ao achar-se desperto sem ter sido avisado –, levantou-se; ficou em pé de pijama multicolorido e se espreguiçou. Então, em sua própria cama, Iran, sua esposa, abriu os olhos cinzentos e pesados, piscou, gemeu e fechou-os novamente. – Você regulou seu Penfield fraco demais – disse a ela. – Vou reajustar isso aí, e você vai acordar e... – Não mexe na minha programação. – Sua voz se elevou aguda e amarga. – Eu não quero acordar. Ele se sentou ao seu lado, se inclinou sobre ela e explicou com doçura. – Se você regular a onda num nível alto, vai ficar feliz quando acordar; é só isso. Quando você programa em Dó, ele ultrapassa a barreira do limiar da consciência, é assim que acontece comigo. – De modo carinhoso, até porque se sentia de bem com a vida (afinal, a sua programação tinha sido em Ré), ele tocou o ombro nu e pálido da esposa. – Tira essa mão suja de policial de cima de mim – disse Iran. – Não sou um policial. – Ele se irritou, embora não tivesse escolhido esse sentimento. – É pior – ela disse, os olhos ainda fechados. – É um assassino contratado por policiais. – Nunca matei um ser humano na minha vida. – Sua irritação cresceu; de fato, já tinha se transformado em hostilidade. – Só aqueles pobres andys – Iran disse. – Engraçado, você nunca hesitou em pegar o dinheiro das recompensas que trago pra casa e comprar o que quer que chame a sua atenção de imediato. – Ele se levantou e se aproximou do console de seu sintetizador de ânimo. – Isso em vez de economizar, e assim a gente poderia comprar uma ovelha de verdade, pra colocar no lugar daquela falsa e elétrica lá em cima. Um mero animal elétrico... e eu ganhando todo dinheiro que posso, trabalhando cada vez mais, ano a ano. – Junto ao aparelho, ele hesitava entre escolher um supressor talâmico (em que poderia anular seu sentimento de raiva) ou um estimulador talâmico (que o deixaria irritado o suficiente para vencer a discussão). – Se você escolher – disse Iran, agora de olhos abertos e atentos – ficar mais agressivo, vou fazer a mesma coisa. Vou regular isso no máximo e você vai ter uma discussão que fará cada briguinha que tivemos até agora parecer coisa de criança. Vai, escolhe isso pra ver; tenta. – Ela se levantou rapidamente, saltando sobre o console de seu próprio sintetizador de ânimo e parou, encarando-o, esperando. Ele suspirou, vencido pela ameaça. – Vou escolher o que estiver na minha agenda de hoje. – Examinando a programação para 3 de janeiro de 1992, viu que o mais adequado seria manter uma atitude profissional. – Se eu escolher o programa de hoje – perguntou com cautela –, você concorda em fazer o mesmo? – Ele aguardou, astuciosamente, para que ele mesmo não se decidisse até que sua esposa concordasse em seguir a sua escolha. – Minha programação de hoje aponta uma depressão autoacusatória de seis horas – disse Iran. – Quê? Pra que você vai escolher isso? – Aquilo desafiava todo o propósito do sintetizador de ânimo. – Nem sabia que você podia escolher algo assim – disse, sorumbático. – Uma tarde, eu estava sentada aqui e naturalmente liguei no Buster Gente Fina e Seus Amigos Gente Boa, e ele estava falando sobre uma notícia importante que estava prestes a divulgar, só que aí veio uma propaganda horrível, que eu odeio; você sabe qual é, aquela do Protetor Genital de Chumbo Mountibank. Daí, por um minuto eu desliguei o som. Então ouvi o prédio, este prédio; aquele som de... – e ela fez um gesto vago. – Apartamentos vazios – disse Rick. Às vezes ele os ouvia à noite, quando deveria estar dormindo. Nessa época, um prédio de condaptos ocupado só pela metade podia ganhar uma alta classificação no sistema de densidade demográfica; lá onde, antes da guerra, ficavam os condomínios residenciais, era possível encontrar prédios totalmente vazios... pelo menos, era o que ele tinha ouvido falar. Ele havia se mantido alheio à informação; como a maioria das pessoas, não se interessou em ir lá conferir por conta própria. – Nessa hora – Iran disse –, quando tirei o som da TV, eu estava no estado de espírito 382; tinha acabado de escolher. Assim, embora ouvisse o vazio intelectualmente, não conseguia senti-lo. Minha primeira reação foi de gratidão por nós termos podido comprar um sintetizador Penfield. Só que aí senti como isso era doentio, perceber a ausência de vida, não só no prédio, mas em tudo, e não reagir a nada, percebe? Não, acho que você não entende. É que isso passou a ser considerado uma indicação de doença mental; chamam-na de “ausência de afeto adequado”. Então, deixei o som desligado e fiquei testando o sintetizador de ânimo até que finalmente descobri um ajuste para desilusão. – Seu rosto grave e petulante se mostrou satisfeito, como se ela tivesse descoberto algo importante. – Por isso eu programo esse sentimento duas vezes por mês; acho que é um tempo razoável pra me sentir desiludida em relação a tudo, em relação a ter ficado na Terra depois que todo mundo, a ralé, emigrou. Concorda? – Mas um estado de espírito desses – disse Rick – pode fazer com que você fique nele, em vez de selecionar outro. Uma desilusão como essa, a respeito da realidade total, se autoperpetua. – Programo um reajuste automático para três horas depois – sua mulher disse, insinuante. – Um 481. Percepção das múltiplas possibilidades abertas pra mim no futuro; uma nova esperança que... – Conheço bem o 481 – ele interrompeu. Tinha escolhido essa combinação várias vezes; confiava bastante nela. – Escuta – disse, se sentando em sua cama e puxando as mãos dela para que ficasse ao seu lado: – Mesmo com uma interrupção automática, é perigoso mergulhar numa depressão, de qualquer tipo. Esquece o que você programou e eu vou esquecer o que eu programei; vamos os dois digitar um 104 e ter essa experiência juntos, e aí você continua nesse estado de espírito enquanto eu troco o meu por minha atitude profissional de costume. Assim eu vou querer dar um pulo no terraço, checar a ovelha e depois ir pro escritório; nesse meio-tempo, vou saber que você não ficou aqui mofando com a TV desligada. – Ele soltou os dedos finos e longos dela, passeou pelo espaçoso apartamento até a sala de estar, que ainda exalava um cheiro suave dos cigarros da noite anterior. Então ligou a TV. Ouviu a voz de Iran vir lá de sua cama. – Não suporto TV antes do café da manhã. – Escolhe o 888 – disse Rick enquanto a válvula da TV esquentava. – Vontade de assistir TV, não importa o que esteja passando. – Não sinto vontade de escolher nada agora – disse Iran. – Então escolhe o 3 – ele disse. – Não vou escolher algo que estimule meu córtex cerebral a ter vontade de escolher! Se eu não quero escolher, não vou escolher nada, porque daí eu vou querer escolher, e querer escolher alguma coisa agora é o impulso mais estranho que eu consigo imaginar; só quero ficar aqui sentada na cama e olhar pro chão. – Sua voz ficou cortante, com nuances de desolação, como se sua alma tivesse

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