VOCABULÁRIO TÉCN ICO E CRÍTICO DA FILOSOFIA André Lalande Martins Fontes São Paulo — 1993 Titulo original: VOCABULAIRE TECHNIQUE ET CRITIQUE DE LA PHILOSOPHIE Copyright © Presses Universitaires de France, 1926 Copyright © Livraria Martins Fontes Editora Ltda., São Paulo, 1990, para a presente edição 1? edição brasileira: abril de 1993 Tradução: Fátima Sá Correia, Maria Emília V. Aguiar, José Eduardo Torres e Maria Gorete de Souza Revisão da tradução: Roberto Leal Ferreira Preparação do original: Maurício Balthazar Leal Revisão tipográfica: Silvana Cobucci Leite, Laila Dawa, Tereza Cecília de O. Ramos, Maria Cecília K.. Caliendo e Luís Carlos Borges Produção gráfica: Geraldo Alves Composição: Antonio Cruz e Renato C. Carbone Capa — Projeto: Alexandre Martins Fontes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lalande, André, 1867-1963. Vocabulário técnico e crítico da filosofia / André Lalande ; [tradução Fátima Sá Correia... et al.J. — São Pauio : Martins Fontes, 1993. ISBN 85-336-0178-6 1. Filosofia - Dicionários 1. Título. 93-0707 ___________________________ CDD-103 índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia - Dicionários 103 Todos os direitos para o Brasil reservados à LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 — Tel.: 239-3677 01325-000 — São Paulo — SP — Brasil NOTA À PRIMEIRA EDIÇÃO BRASILEIRA Os comentários dos membros e correspondentes da Sociedade Francesa de Filosofia sobre os verbetes do Vocabulário foram colocados ao pé das páginas; para referência a eles foi usada a designação “ observações” . INTRODUÇÃO À DÉCIM A EDIÇÃO Poder-se-ia pensar que, ao fim de meio século, o Vocabulário filosófico de AndréLalande e da Sociedade Francesa de Filosofia teria perdido a sua audiên cia. Não é isso que acontece e as edições esgotam-se cada vez mais rapidamente, numa época em que todavia as revistas filosóficas decaem por falta de público. Antes de mais nada, isto tem a ver com o fato de as definições e os exemplos terem sido durante muito tempo maduramente debatidos por filósofos conscientes e resolvidos a trabalhar metódica e pacientemente em comum, empreendimento único ao qual André Lalande e os seus amigos consagraram muito tempo das suas vidas. Tem a ver, depois, com o fato de termos nas notas e nas discussões apenas um notável modelo dessa análise da linguagem, exercício que não se pen sava então que fosse um dia para alguns o essencial da filosofia. À volta de cada termo, os matizes, as oposições de sentidos evocam os das doutrinas, dos pro blemas, das experiências, e essa discussão constitui um primeiro exame clínico do pensamento filosófico. Isso significa que o Vocabulário poderia ser indefinidamente reimpresso sem alterações? É claro que não, e cada nova edição comportava retificações e so bretudo complementos. É assim que figurava já, no fim da obra, um Suplemen to contendo termos novos ou acepções novas de termos antigos e um Apêndice constituído por comentários suplementares, completando aqueles que se encon travam nas notas do antigo Vocabulário. Contudo, é necessário sem dúvida en carar o fato de um dia ser preciso refundi-lo mais completamente. Conviria, por um lado, retificar certos artigos, por exemplo de lógica, de psicologia, etc., que correspondem a noções cujo conteúdo se diferenciou, transformou, renovou, e acrescentar novos — por outro lado, introduzir, numa certa medida, os ter mos da linguagem filosófica contemporânea, assim como certos termos de ori gem escolástica que passam hoje por vezes da teologia para a filosofia. Acrescente- se que nas notas e nas discussões se suprimiria de bom grado aquilo que se refere ' * · / VIH INTRODUÇÃO à obra de filósofos menores ou que se refere a um contexto caduco, a referên cias f ora de uso, principalmente quando se trata de filosofía ligada às ciências ou às técnicas. De que serve remeter para obras que m o são nem dissertações originais, nem exposições atualmente válidas? Foi isso que se tentou fazer já, em pequenas doses, nesta nova edição, mas a tarefa é menos simples do que se poderia supor. Com efeito, se é difícil redu zir o Vocabulário ao da filosofia “clássica”, também o é integrar aí o conjunto de termos técnicos aparentados com a filosofia atual, na variedade e por vezes na ambigüidade das suas acepções. Um Vocabulário tornar-se-ia então um tra tado de filosofia por ordem alfabética, com as escolhas mais ou menos legíti mas que isso impõe. O que se pode fazer é indicar prolongamentos atuais das noções clássicas, dar definições fundamentais, e para o restante remeter aos Vo cabulários especiais, como já existem para a psicologia, a psiquiatria, etc., e breve, esperemo-lo, para a lógica formal. Efetivamente, existem dois tipos de leitores para obras deste gênero. Uns, a propósito de uma doutrina ou de um problema, procuram situá-los no con junto do pensamento filosófico e captar-lhes os diversos aspectos, através da análise da linguagem. São estes, em particular, estudantes a quem se pede que reflitam sobre uma idéia ou uma questão. Os outros são pessoas que têm nas mãos uma obra filosófica, clássica ou contemporânea, e não compreendem certas palavras ou certas expressões. Não podemos remetê-los a um dicionário da linguagem contemporânea, que não exis te, segundo creio, nem aos dicionários de teologia, por exemplo, demasiado gran des e que não se têm facilmente à mão. Os primeiros procuram sobretudo a parte estável do Vocabulário, aquela sobre a qual os nossos antecessores conseguiram quase pôr-se de acordo, e que consti tuiria um “Bom uso”, uma “Norma” da linguagem filosófica que permite o acordo entre os espíritos. Os segundos, pelo contrário, estão atentos àquilo que existe de variável e de sempre renovado, incodificado e até incodificável na sig nificação das palavras. Gostaríamos sem dúvida de seguir os rastros da evolução dos sentidos ou do aparecimento de expressões em torno das quais se cristaliza pouco a pouco um pensamento que, retrospectivamente, parecerá ter preexistido e procurado a sua fórmula, ao passo que, na realidade, foi a fórmula que se enraizou no sentido e germinou e suscitou um modo de pensar, categorias novas. Natural mente, a maior parte das expressões novas produzem apenas madeira morta e INTRODUÇÃO IX inútil, mas como saber antecipadamente se uma mudança de vocabulário reno vará verdadeira e utilmente os nossos conceitos? De resto, a extensão dos conceitos não ê homogênea e não acontece no mes mo plano, de modo que não é suficiente justapor sentidos. Na lógica, por exem plo, não é fácil situar, umas em relação às outras, as noções que dimanam quer do cálculo formal, quer do pensamento natural e intuitivo: por exemplo, as de silogismo, de demonstração, etc. Existem contextos diferentes e todavia solidá rios, mais ainda, reconhecemos o equívoco do contexto "clássico”. No que diz respeito à linguagem filosófica contemporânea, o embaraço não é menor, tendo cada autor a sua terminologia, ou o seu jargão, que aliás nem sempre são perfeitamente coerentes. Em muitos casos, não existe utilização co mum dos termos. Ora, não se pode fazer razoavelmente o Vocabulário de al guns dos escritores mais conhecidos hoje, não sabendo nós até que ponto eles se imporão. Frequentemente, perante a ambigüidade dos textos, mesmo os es pecialistas tendem, quando consultados, a não se comprometer com uma defi nição franca, que suporia aliás o conhecimento de um contexto geral, e a pro por simplesmente uma ou várias frases em que o termo figura. Mas é justamen te para os compreender que se pretendia uma definição! Deste ponto de vista, o Dicionário da linguagem filosófica de Foulquié e Saint- Jean trouxe um excelente complemento ao de André Lalande, e as citações que reúne esclarecem frequentemente pela sua aproximação. O mesmo ocorre com o que se refere aos termos de origem escolástica que utilizam por vezes autores não teólogos, e por vezes em sentidos não tradicionais. Quanto às supressões, o problema é delicado. Exceto em raros casos, e no geral tardíamente, todos os comentários ou notas têm o seu interesse e compe tência, e é muito difícil, por outro lado, separar as observações mais célebres, como as de Lachelier, de Bergson, de Blondel, etc., das outras com as quais se articulam e são o eco, mesmo quando estas são assinadas por nomes que justa ou injustamente foram algo esquecidos. Finalmente, o conjunto destas discus sões, num grupo de pensadores que no conjunto é de um valor excepcional, cons titui uma espécie de testemunho histórico, de imagem de uma sociedade de espí ritos que não é fácil, nem talvez desejável, cortar ou mutilar. A coisa seria mais fácil e mais justificada para certas intervenções mais recentes, mas coloca um pequeno problema de suscetibilidades individuais e sobretudo, em muitos ca sos, esses comentários, acompanhados de referências evidentemente episódicas, são instrutivos e sugestivos, mesmo se tornam um pouco mais pesado e desequi librado o conjunto da obra. X INTRODUÇÃO Épor isso que esta nova edição se contenta com pequenas supressões, arran jos, precisões de pormenor. O Suplemento e o Apêndice foram reunidos e enri quecidos com um certo número de termos novos1, anunciados por uma remissão para o corpo da obra, na qual serão ulteriormente integrados. No novo suplemento assim constituído, eliminaram-se certos comentários inúteis ou caducos, corrigiu-se um certo número de artigos. Talvez estes aperfeiçoamentos progressivos sejam pre feríveis à renovação completa de uma obra que já demonstrou o seu valor e possui uma significação histórica e como que orgânica. Problemas menores surgiram. Dever-se-ia, por exemplo, mencionar para os no vos termos a tradução em Ido, numa época em que a língua artificial internacional não conquistou muitos féis; dever-se-ia inversamente suprimir a indicação corres pondente ali onde já estava dada? Tratava-se simultaneamente de uma questão de oportunidade objetiva e de fidelidade ao pensamento dos iniciadores. Limitamo-nos a deixar feito aquilo que estava feito. Resta-nos agradecer calorosamente a Roger Martin, professor da Sorbonne, e a J. Largeaut, pesquisador do CNRS, a quem é devida a maior parte dos melhoramen tos feitos ao texto. Assim se encontra algo rejuvenescida a obra à qual se devotou o nosso velho mestre André Latande, que não poderiamos separar da admirável equipe que, em torno dele e de Xavier Léon, nos deu o exemplo de um esforço comum, paciente e desinteressado, com vista à dupla exatidão da linguagem e do pensamento. EÇé Pë2 «E2 (cid:2) Membro do Instituto, Professor na Sorbonne 1. Eisa lista: Anamnese, antepredicativo, apofático, catégorial, cogita tiva, conatural, construti- vidade, contuição, dóxico, dulia, ek-stase, elícito, emptria, em si-para si, englobantes, ente-existente, entilativo, epoché, estimativa, estocástico, existencial, extríncesismo, feedback, formalizar, funcio nalismo, futurível, gnosia, hormê, hylê, idiologia, idoneísmo, informação, insight, isomorfismo, ke- rigma, latría, monismo, material, narcisismo, noema, pattern, performativo, poligénese, praxia, pra xis, pré-reflexivo, processo, projetivo, simetría, stress, tipología, tuliorísmo, válido (num segundo sentido). PREFÁCIO ÀS EDIÇÕES PRECEDENTES O Vocabulário da Sociedade Francesa de Filosofia é um curioso exemplo da quilo a que se pode chamar a heterogonia dos fins. O objetivo original deste trabalho estava muito estritamente determinado, como se pode ver pelo artigo “A linguagem filosófica e a unidade da filosofia” , na Revue de métaphysique et de morale de setembro de 1898, pelas “ Proposições sobre o uso de certos ter mos filosóficos” (Bulletin de la Société, sessão de 23 de maio de 1901) e pela discussão na sessão de 29 de maio de 1902. Tratava-se de pôr os filósofos de acordo — tanto quanto possível — acerca daquilo que entendiam pelas palavras que utilizavam, pelo menos os filósofos de profissão: primeiramente, porque to do verdadeiro acordo — quer dizer, aquele que não é o efeito de uma sugestão, de uma maquinação ou de um constrangimento autoritário — é melhor em si do que as discordâncias ou os equívocos; depois, porque as suas contradições, tema tradicional de brincadeiras, são em grande parte verbais e freqüentemente podem ser resolvidas desde que nos empenhemos nisso. Era essa a opinião de Descartes: “Si de verborum significatione inter Philosophos semper conveniret” , dizia, “ fere omnes illorum controversiae tollentur.” 1 “O mais das vezes é so bre as palavras que os filósofos disputam” , escrevia na sua esteira Gassendi, “ quanto ao fundo das coisas, há, pelo contrário, uma grande harmonia entre as teses mais importantes e mais célebres.”1 2 “Sinto-me tentado a crer” , dizia Locke, resumido por Leibniz, “que, se examinássemos a fundo as imperfeições da linguagem, a maior parte das disputas cairiam por si mesmas e que o cami nho do conhecimento, e talvez o da paz, ficaria mais aberto para os homens.” “ Creio até” , acrescentava Teófilo, “ que isso poderia ser alcançado se a partir deste momento nas discussões por escrito os homens quisessem concordar so- 1. “Sc sempre se pusessem de acorda, os Filósofos entre si, acerca do sentido das palavras, quase todas as suas controvérsias se desvaneceriam.” Regulae, XII, 5. 2. Carta a Golius, 1630. XII PREFÁCIO bre certas regras, e as executassem com cuidado.” 1 Seria fácil multiplicar os testemunhos desta experiência e mesmo nos nossos dias temos disso muitos exemplos1 2. Mas a natureza humana também é feita de uma certa impaciência relativa à ordem e à similitude — impaciência muito legítima, corajosa até, quando se trata de nos defendermos contra um conformismo imposto, ou contra a aceita ção passiva do que se repete sem crítica — ; desastrosa quando se trata de um gosto pela contradição e de amor-próprio, mesmo até de im perialism o.4‘O es tado da m oralidade científica” , escrevia Renouvier, “não me parece suficiente mente avançado entre os filósofos para que eles possam utilmente deliberar em comum, a fim de fixar a nomenclatura mais própria de modo a impedir que os seus debates descambem e de modo a tornar as suas doutrinas mutuamente co municáveis... Os termos mais importantes são de domínio público e cada um reivindica o seu benefício com o direito de lhe dar o seu ‘verdadeiro’ sentido, que outros estimarão falso... Ninguém está disposto a fazer os sacrifícios exigi dos pela imparcialidade da linguagem.” Nós fizemos alguns progressos. Reuni mos Congressos de Filosofia considerados irrealizáveis: mas não poderemos di zer que esta “moralidade” tenha nitidamente despertado. É tão tentador atri buir às palavras, com tenacidade, o sentido que lhes atribuímos primeiramente por algum engano acidental, ou mesmo que nos tenhamos comprazido em lhes conferir por autoridade, sob pretexto de que “somos efetivamente livres de adotar as definições que quisermos!” . Podemos mesmo perguntar-nos se a existência de um esforço comum para fixar e adotar um uso bem definido dos termos não estimulará certos espíritos e não excitará neles o gosto de lhes dar maliciosamente um outro sentido, de defendê-lo e até de divulgá-lo, O excelente lógico Ch. L. Dodgson (mais conhe cido sob o pseudônimo de Lewis Carroll, e como autor de Alice no País das Maravilhas) imagina numa das suas obras uma conversa entre a sua heroína e o irascível Humpty Dumpty; “ Quando utilizo uma palavra” , diz o gnomo num tom muito altivo, “ela significa precisamente aquilo que eu quero que ela signi fique. Nada mais, nada m enos.” “O problema” , responde Alice, “está em sa ber se é possível fazer que uma palavra signifique montes de coisas diferentes.” “O problema” , replica Humpty Dumpty, “está em saber quem é que manda. Ponto final, é tudo.”3 Adler captou muito provavelmente uma visão muito mais penetrante dos complexos humanos do que Freud. Recordo-me que um cientista de grande mérito, e muito parisiense, me dizia há uns quarenta anos: “ Eu, quando vejo em algum lugar Proibida a entrada, 1. Ensaio e Novos ensaios, III, IX, 19. 2. Ver constatações semelhantes em BE23EÂEà , Hylas e Filonous, Diálogo II; em D’AÂEOζ E2I , Discurso preliminar, § 50; ST7ÃúEÇ7τ ZE2 , Kritik der kantischen Philosophic, Orisebach, 659; Ros- MiNi, “Lettera sulla lingua filosófica”, em Introduzione alia filosofia, 404; etc. 3. Through the Looking Glass, Collin’s Classics, 246. PREFÁCIO XIII é precisamente por ali que entro,” É verdade que se trata de pequenas coisas da vida; ele tinha o cuidado de não aplicar esta máxima à ciência que professava e na qual era um mestre: um dos seus estudantes seria muito mal recebido se dissesse “ peso” em vez de “densidade” ou “ força” em vez de “ energia” . Os filósofos com a mesma feição de espírito são freqüentemente menos prudentes: e não em proveito da sua boa reputação no círculo dos trabalhadores intelectuais. M as, quando se pensa de uma maneira original, será também necessário fa zer para si um a linguagem? Nada mais contestável. “Entre muitos de nós” , di zia W . James, “a originalidade é tão profícua que já ninguém nos pode com preender. Ver as coisas de um modo terrivelmente particular não é uma grande raridade. O que é raro é que a esta visão individual se some uma grande lucidez de espírito e uma posse excepcional de todos os meios clássicos de exprimir o pensamento. Os recursos de Bergson em matéria de erudição são notáveis e, em matéria de expressão, simplesmente maravilhosos.” 1 Quando se diz de um espírito que ele é original, entendemos, conforme os casos, duas coisas totalmente diferentes: uma é uma qualidade próxima do gê nio; a outra, um defeito de espírito que toca as raias da tolice. Pela primeira inventam-se formas de arte ou de ação novas, percebemos em primeiro lugar as verdades ainda desconhecidas, mas que encontrarão mais cedo ou mais tarde um eco, sem interesse individual e sem violência, através de várias gerações, ou mesmo que permanecerão adquiridas enquanto houver herança social. Foi des se tipo a originalidade de Sócrates ao descobrir a análise dos conceitos morais; de Newton ao formular a lei da gravitação; de W agner ampliando as regras da harmonia. Pela segunda, diferenciamo-nos da mesma forma da massa no meio da qual vivemos; mas por divergências sem valor, ou mesmo de valor negativo. Singularizamo-nos, fazemo-nos notar, mas não trazemos nada ao desenvolvi mento dos conhecimentos, da riqueza estética ou da personalidade humana. Fre qüentemente até é em seu detrimento que nos tom am os vedetes. Deste tipo de originalidade é mais difícil citar grandes exemplos: porque em geral desaparece sem deixar rastro. Precisamos pensar em indivíduos que nós mesmos conhece mos. Podemos, contudo, recordar um Eróstato, um Calígula; poderíamos jun tar aí a originalidade dos conquistadores gloriosos ou a dos criminosos célebres; na literatura, os obscuristas da decadência latina, ou o gongorismo; em moral, a doutrina de Górgias, ou a dos Irmãos do Livre-Espírito. Elevar-se acima da razão constituída, tal como ela existe no meio e na época em que vivemos, modificá-la em nome e no sentido da razão constituinte; ou, pelo contrário, descer abaixo das normas ac^uiridas, afastar-se por perversão ou por esnobismo, é igual mente diferenciar-se. Mas uns separam-se como luminárias para abrir caminho; os outros perdem-se ou voltam para trás. 1. A Pluralistic Universe, 226-227.