CLÁUDIA FERNANDA RODRIGUEZ FALANDO DE MORTE NA ESCOLA: O QUE OS EDUCADORES TÊM A DIZER? Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Psicologia Orientador: Profa. Dra. Maria Julia Kovács Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano 2010 1 CLÁUDIA FERNANDA RODRIGUEZ FALANDO DE MORTE NA ESCOLA: O QUE OS EDUCADORES TÊM A DIZER? Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Psicologia Orientador: Profa. Dra. Maria Julia Kovács Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano 2010 2 FALANDO DE MORTE NA ESCOLA: O QUE OS EDUCADORES TÊM A DIZER? CLÁUDIA FERNANDA RODRIGUEZ BANCA EXAMINADORA Profª Dra Maria Julia Kovács (orientadora) Profª Dra Elaine Gomes dos Reis Alves Profª Dra Gabriela Casellato Profª Dra Marilene Proença Rebello de Souza Profª Dra Solange Aparecida Emílio Tese defendida em ____/____/______ 3 Dedico este trabalho para: Minha querida mãe Maria de Lourdes Rodriguez. Presença amorosa em todos os dias da minha vida. Suas palavras e seu carinho me dão coragem e alimentam os meus sonhos. Admiro sua força e disponibilidade para ajudar todos a sua volta. Obrigada por compartilhar tantas conversas sobre o tema da morte, sempre me indicando novas leituras e valorizando a atuação nesta área. Meu querido pai Jair Rodriguez. Sempre disposto a transmitir seu conhecimento e experiência de vida como forma de apoio e orientação. Minha fonte de segurança, exemplo de integridade e sucesso profissional. Obrigada pela sua presença carinhosa e incentivadora em todos as fases desta tese. Meu grande amor Bruno Dulce Weinberg. Apaixonei-me por ele no primeiro ano de doutorado e sinto que estaremos juntos em todas as fases de nossas vidas. Cozinheiro maravilhoso, companheiro e paciente nos momentos de angústias e realizações. Sua escuta atenta, sua calma e seu amor foram fundamentais na conclusão deste trabalho. 4 AGRADECIMENTOS Minha querida orientadora Maria Julia Kovács, disponibilidade e presença constante nos momentos profissionais e pessoais em que a morte esteve presente na minha vida. Estivemos juntas por 10 anos, desde a graduação, e foi com a sua ajuda e o seu incentivo que me lancei nos primeiros desafios como psicóloga. Tenho certeza que seus ensinamentos me acompanharão em toda a minha trajetória e espero que continuemos compartilhando novas conquistas e realizações. Muito obrigada pelo seu carinho e por transmitir tanto conhecimento. A morte com certeza mudou minha vida para muito melhor! Banca do Exame de Qualificação: Elaine Gomes dos Reis Alves e Solange Aparecida Emílio, pelas ricas contribuições e valorização da presença da morte nas escolas. Em muitos momentos, lembrar da fala de vocês me transmitiu força para seguir na escrita desta tese. Banca de Defesa: Gabriela Casellato e Marilene Proença Rebello de Souza, por aceitarem meu convite tão prontamente. Admiro muito a contribuição do conhecimento de vocês para a sociedade. Professores: Marie Claire Sekkel, Rachel Sztajn e Reinaldo Ayer de Oliveira, pelos ensinamentos no campo da Psicologia, do Direito e da Medicina. Suas disciplinas me influenciaram na escrita desta tese. Eduardo Ottoni, meu primeiro orientador durante a graduação e sempre disposto a ajudar na minha trajetória profissional como pesquisadora. Nestes 10 anos, tive o privilégio de conhecer muitos orientandos. Cada um de vocês tem um significado importante neste caminho: Ana Beatriz Brandão dos Santos, Ana Paula Fujisaka, Aurélio Fabrício Torres Melo, Cândido Flauzino, Carolina Guimarães Araújo, Clodine Janny Teixeira, Elaine Alves, Ingrid Esslinger, Janaína Corazza Barreto Silva, Juliana Peixoto Salgueiro, Karina Fukumitsu, Lineu Norio Kohatsu, Maria Carolina Scoz, Maria Hercília 5 Rodrigues Junqueira, Silvana Parisi, Solange Aparecida Emílio, Vanessa Rodrigues de Lima. Foram muitos os momentos em que pude aprender com vocês, compartilhar ansiedades e comemorar afinidades. Obrigada pelo apoio e pelos olhares carinhosos nos períodos difíceis. Desejo muito sucesso para todos vocês! Janaína Corazza Barreto Silva e Ana Paula Fujisaka, amigas queridas e companheiras na trajetória da tanatologia. Vocês me ajudaram muito durante o caminho da construção desta tese. Nossos encontros e sintonia são sempre muito especiais. Obrigada também pelas ricas contribuições teóricas. Ao LEM, Laboratório de Estudos sobre a Morte, Maria Julia Kovács, Nancy Vaiciunas, Ana Beatriz Brandão dos Santos, Jussara Nathale e Elaine Gomes dos Reis Alves. Obrigada pelo rico aprendizado e oportunidade de crescer pessoal e profissionalmente com os desafios propostos. Esta experiência me acompanha fortemente. Ricardo Mauro Rodriguez e Larissa Bruno Pliuschchik, meu querido irmão sempre muito presente e feliz pelas minhas conquistas. Em breve, vou poder chamá-lo de “mestre”. Minha cunhada sempre interessada em poder aprender mais sobre o tema e também incentivadora nos vários momentos. Vovó Mathilde Ortega Lomboglia. Despedir-se dela no final desta tese foi muito doloroso, mas sempre guardarei no meu coração o seu amor, fé e bondade. Sei o quanto ficaria feliz com mais esta conquista importante. Obrigada pela avó maravilhosa que você foi na minha vida! Antônio e Ruth Lomboglia (e primos Marcos, Gabriela e Daniela), sei que posso contar com o apoio de vocês. Presença carinhosa em todos os momentos importantes da minha vida. 6 Victor, Vivien e Rafael Weinberg, Agnes Harmat e as fofíssimas Tiffany e Joy, família querida que me recebeu tão carinhosamente desde o primeiro dia. Todos (de perto ou de longe) incentivaram-me no caminho desta tese dizendo como “ser doutora” é especial e admirável. Todos os momentos compartilhados são muito importantes para mim. Adoro sentir-me parte desta família. Marianna e Leila Schöntag, pelos almoços tão prazerosos, conversas descontraídas e interesse constante nesta tese. Simone Severo Batista Nercessian e Eva Harmat Severo Batista, pelo carinho, apoio e valiosas experiências nos momentos de alegria e dor. Suzi e Tomas Venetianer, Tuca e Marcelo Abramczyk e os lindíssimos Julia, Gabriel e Téo. Celebrar com vocês as importantes datas judaicas passou a ser um ensinamento importante na minha vida, influenciando parte desta tese. A companhia de vocês sempre me transmite alegria, diversão e afeto. José Roberto Barreto Silva, obrigada pela leitura cuidadosa e disponibilidade na revisão do meu texto. Patrícia Ogochi, minha “irmã japonesa” desde os 12 anos. Juntas, já vivemos muitas etapas. O doutorado foi mais uma fase especial na minha vida em que pudemos compartilhar dúvidas, alegrias e expectativas. Obrigada pela sua amizade e pelo crescimento que ela me proporciona. Kate (Kátia Ackermann) e Guilherme Gibran Pogibin, fiéis escudeiros e amigos para toda a vida. Foram muitos os momentos compartilhados nestes 4 anos de doutorado. Nossas viagens, festas e jantares tão especiais, muitas vezes, renovaram minha energia e amenizaram os períodos difíceis. Kate, sua escuta atenta e seu carinho me transmitem calma, esperança e paciência. Obrigada, Gui, pela contribuição no Abstract desta tese. O sorvete de caipirinha estava bom, né? 7 Naty Noguchi, desde a graduação sempre compartilhando seus aprendizados e experiências profissionais. Obrigada pela amizade e apoio de toda a Família Noguchi também nos momentos difíceis. Karina Leite e Vanessa Chiachirini, amizades mais do que especiais da minha adolescência. Fico muito feliz por sentir vocês tão perto mesmo com tantas mudanças nas nossas vidas. Mais amigos: Bruno Médici, Danilo Ide, Luis Henrique Silva, Luís Antônio Gil, Daniela Nobre, Clis e Juliana Pogibin, Fernanda Dayan, Rodolfo Scaletsky, Fernanda Santini Franco, Carol Scheuer, Noemi Oga. Cada um de vocês teve um significado especial durante a minha trajetória no doutorado. Zezé, sempre pronta para me oferecer um chocolate para ajudar na escrita desta tese e dizendo que meu esforço será recompensado. Sua fé, muitas vezes, me trouxe acolhimento. Minhas “friends runners”: Mariana Mencio, Melina Cunha e Fátima Bezerra. Quantas vezes corremos juntas no Parque do Ibirapuera e falamos sobre as várias fases desta tese. Valmir de Souza e Solange Tozo, meus treinadores que me ajudam a superar meus limites. Obrigada por tornar a corrida tão prazerosa e terapêutica na minha vida. Esther Carrenho, psicóloga sensível e acolhedora. Obrigada por me transmitir parte do seu conhecimento teórico e pelo crescimento pessoal que nossos encontros me proporcionou. Colegas queridas e super divertidas: Mary Morrell, Sônia Nogueira e Suzana Cristófalo, sempre dispostas a aprender com esta tese e incentivadoras na minha trajetória profissional. Aos entrevistados Luisa, Fernanda, Andréa, Camila, Telma, Armando, Maria (nomes fictícios) que me deram permissão para propagar suas histórias e seus sentimentos mais profundos. Ofereceram-me sugestões, críticas, novos caminhos e 8 preciosas reflexões. Como eu aprendi com suas experiências! Foi muito bom ouvi- los! A equipe da pós-graduação do Instituto de Psicologia da USP. Capes, pelo financiamento desta pesquisa. 9 RODRIGUEZ, C.F. (2010). Falando de morte na escola: o que os educadores têm a dizer? Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. RESUMO No contexto atual a morte é, ao mesmo tempo, interdita e escancarada. A educação para a morte abre novos horizontes para a abordagem desta questão no contexto escolar. Esta discussão é relevante uma vez que adolescentes expressam a importância e a necessidade de falar sobre o tema da morte na escola. Apontam a possibilidade de troca de opiniões, dificuldades, medos e experiências entre eles, ampliando também o diálogo com educadores e familiares. Além disso, as sensações de acolhimento e segurança podem se refletir em melhor rendimento escolar. A partir disso, esta pesquisa investigou: a) quais temas relacionados à morte e à adolescência estão presentes no contexto escolar pelo olhar do educador; b) como estes temas são abordados nas escolas; c) os sentimentos e o preparo dos educadores; d) quais são as possíveis formas de intervenção, entre educadores e alunos adolescentes. O processo da adolescência e a sua relação com o tema da morte no contexto escolar foram abordados a partir de três esferas: mortes concretas, simbólicas e escancaradas. Foi utilizada a abordagem qualitativa na coleta e na compreensão dos dados. Participaram desta pesquisa sete profissionais da área da educação que atuam com adolescentes. Foram realizadas entrevistas individuais e categorias temáticas foram destacadas com o intuito de formar os eixos de análise. Os educadores falaram sobre o papel da educação e sua relação com o tema da morte, uma vez que a escola é vista por eles como instituição sócio-educativa e voltada ao desenvolvimento integral do aluno. As possibilidades de atuação com adolescentes ainda não são claramente percebidas, pois o tema da morte é pouco abordado nas escolas. Os educadores mencionaram dificuldades e falta de tempo para preparo, necessidade de reforma curricular, além da sobrecarga de tarefas já assumidas. As várias mortes são vistas como temáticas pertinentes à escola, mas eles consideram que esta tarefa deve ocorrer em parceria com outras instituições, como universidades, secretarias de educação, clínicas-escola e com a família dos alunos. Foram citadas situações já vivenciadas pelos educadores: alunos enlutados pela perda de pessoas significativas, ídolos, animais de estimação; mortes de alunos por adoecimento ou acidentes; bullying escolar; violência física e verbal; situações de exclusão e humilhação; alunos ou familiares hospitalizados; afastamento da escola; separação ou distanciamento de familiares; ausência de diálogo; perdas amorosas; automutilação; expectativas diante da saída da escola; mortes abordadas pelos meios de comunicação; crítica à mídia; banalização da morte, entre outras. Estas situações provocam nos alunos e profissionais choque, impotência, medo, indignação, insegurança e desilusão com a vida. Os educadores também enfrentam limites pessoais, do contexto escolar ou impostos pelos familiares dos alunos. Algumas possibilidades de atuação foram destacadas: trabalho preventivo às várias mortes, sensibilização, escuta, acolhimento de necessidades, reflexão, discussão em grupo, esclarecimento, legitimação dos sentimentos e ideias dos jovens, compartilhamento de vivências dos educadores, participação nos rituais, vinculação com o dia de Finados, apoio aos familiares e, em algumas situações, encaminhamento dos alunos para profissionais especializados. As disciplinas escolares, poemas, músicas, filmes, pinturas, desenhos, notícias da mídia, apostilas didáticas e livros são vistos como instrumentos facilitadores para a sensibilização ao tema da morte com adolescentes. Assim, a escola pode propiciar espaços para o aluno se fortalecer, proteger-se, valorizar a vida e lidar melhor com situações de perdas e riscos. É importante que os educadores explorem os vários canais de comunicação, a postura crítica, a expressão de dúvidas, opiniões e sentimentos dos jovens. 10
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