1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VERONICA DE JESUS GOMES VÍCIO DOS CLÉRIGOS: A SODOMIA NAS MALHAS DO TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO DE LISBOA NITERÓI 2010 2 VERONICA DE JESUS GOMES VÍCIO DOS CLÉRIGOS: A SODOMIA NAS MALHAS DO TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO DE LISBOA Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em História. Área de Concentração: História Social. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Georgina Silva dos Santos NITERÓI 2010 3 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá G633 Gomes, Veronica de Jesus. Vício dos clérigos: a sodomia nas malhas do Tribunal do Santo Ofício de Lisboa / Veronica de Jesus Gomes. – 2010. 225 f. ; il. Orientador: Georgina Silva dos Santos. Dissertação (Mestrado em História Moderna) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2010. Bibliografia: f. 190-204. 1. Portugal - Brasil – História – Período colonial. 2. Bahia – História eclesiástica. 3. Inquisição. I. Santos Georgina Silva dos. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. III. Título. CDD 981.03 4 VERONICA DE JESUS GOMES VÍCIO DOS CLÉRIGOS: A SODOMIA NAS MALHAS DO TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO DE LISBOA Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em História. Área de Concentração: História Social. Aprovada em 27 maio de 2010 BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Georgina Silva dos Santos – Orientadora Universidade Federal Fluminense __________________________________________________ Prof. Drª. Daniela Buono Calainho Universidade do Estado do Rio de Janeiro __________________________________________________ Prof. Dr. Ronaldo Vainfas Universidade Federal Fluminense NITERÓI 2010 5 Para Nair, minha mãe, pelo Amor e pela Atenção de sempre. Ao Sr. Amilton, meu padrasto, pelo carinho. 6 AGRADECIMENTOS Uma pesquisa nunca é realizada sem a colaboração de muitas pessoas. E já dizia o poeta que não devemos – nunca – nos esquecer do favor prestado e, muito menos, de nosso benfeitor. É nesse sentido que tenho que agradecer a muitas pessoas que, direta ou indiretamente, participaram da preparação deste trabalho. Desse modo, meu especial agradecimento se dirige aos professores Dr.ª Georgina Silva dos Santos, minha orientadora, por aceitar acompanhar-me nesta instigante pesquisa; Dr. José Pedro Paiva, da Universidade de Coimbra, a quem devo o envio de textos e a pronta atenção nas respostas a algumas de minhas dúvidas sobre a Inquisição portuguesa; Dr. Luiz Mott, da Universidade Federal da Bahia, que, além de me incentivar a prosseguir com a investigação sobre os sodomitas, muito gentilmente, me encaminhou livros e inúmeros artigos e algumas de suas anotações realizadas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa; Dr. José Eduardo Franco, que me enviou um exemplar de seu livro Metamorfoses de um Polvo; Dr. Jose Javier Ruiz Ibáñez, da Universidade de Murcia, na Espanha, que me encaminhou, digitalizado, um texto sobre as culturas dos sodomitas de Sevilha, Espanha; Dr. Rogério de Oliveira Ribas, que, além de me indicar uma variada bibliografia sobre o Santo Ofício lusitano, me emprestou alguns de seus livros, indicou alguns caminhos para o trabalho e aceitou participar de meu Exame de Qualificação; Dra. Daniela Calainho, que também aceitou fazer parte da mesma banca. Também sou grata aos professores Dr.ª Maria Fernanda Bicalho, Dr. Carlos Ziller, Dr.ª Maria Regina Celestino e Dr.ª Ana Mauad, cujos cursos freqüentados, ainda que de diferentes temáticas, foram muito importantes para que eu refletisse sobre minha pesquisa; Dr.ª Célia Tavares, que, antes e durante a minha apresentação no II Seminário de Pós- Graduandos, na UFF, me ajudou a delinear, de maneira mais acurada, o contexto das hierarquias nas relações homoeróticas dos sodomitas. Estendo meus agradecimentos à Professora Mestre Angela Vieira Maia, que, além me presentear com seu livro À Sombra do Medo, resultado de sua dissertação de mestrado, me 7 recebeu muito gentilmente no VI Congresso de Historiadores da Região dos Lagos, realizado na Universidade Veiga de Almeida, campus Cabo Frio. Devo minha participação no evento ao amigo e colega, Professor Doutorando João Gilberto da Silva Carvalho, que me convidou para dividir a mesa com ele, com a Prof.ª Angela Maia e com a Prof.ª Fernanda Bicalho, a quem agradeço novamente, uma vez que me deu imenso apoio durante o seminário. João Gilberto também muito me ajudou com a formatação deste trabalho e o agradeço enormemente. Às professoras: Dr.ª Andréia Frazão, do Departamento de História Medieval, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e à Dr.ª Lana Lage da Gama Lima, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, agradeço, respectivamente, o envio de seus textos e capítulo de tese de doutorado. Meus agradecimentos ao professor Dr. Ronaldo Vainfas, que sempre respondeu a minhas mensagens relativas à bibliografia sobre os sodomitas. Sou especialmente grata à Nancy Faria, que “conheci” durante a correção do texto para a coletânea da Companhia das Índias e quem, durante esse percurso, além de se tornar amiga, carinhosamente e pacientemente, leu, corrigiu, formatou e comentou os capítulos da dissertação. Minha gratidão para com os funcionários da Biblioteca Central do Gragoatá e da antiga Biblioteca da Pós-Graduação em História, especialmente aos que se tornaram amigos: Julia Calvelli, Rieth Quaresma, Lúcia Thomé, Ana Cristina, Wilson, Yuri, Jaqueline, Claudiana e Ana Maia. Morando em Saquarema, nem sempre podia entregar os livros nas datas marcadas e essas pessoas sempre me ajudaram, evitando que recebesse suspensão ou dando-me um prazo maior para a entrega das obras. Agradeço também à Sra. Maria Izabel Bueno Matta de Andrade, bibliotecária, que, muito gentilmente, preparou a ficha catalográfica da dissertação. Sou grata também aos funcionários da Pós-Graduação em História, especialmente a Inês e a Silvana. Às amigas Graça e Dayse, do Liceu Literário Português, agradeço o empréstimo de livros e a gentileza com os prazos. Agradeço ainda a importante ajuda dos funcionários da Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, especialmente a do André, a atenção dos funcionários do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, principalmente a do senhor Nuno, com quem resolvi questões referentes à digitalização dos processos inquisitoriais e a postagem para o Brasil. Não poderia deixar de agradecer aos funcionários das copiadoras do Bloco N da Universidade Federal Fluminense, de quem, muitas vezes precisei da ajuda para que tirassem cópias em pouco tempo. Um agradecimento especial aos funcionários da Digital BAM, copiadora do Largo de São Francisco que, infelizmente, foi atingida e destruída por um 8 incêndio em março deste ano. A equipe sempre aprontou minhas cópias no mesmo dia com muita gentileza e atenção. À minha mãe, ficam todo o meu carinho e gratidão. Seu Amor, cuidado e paciência permanecerão para sempre. Certamente sem sua atenção e inteira dedicação, não teria conseguido concluir e, nem sequer começado, o mestrado. Agradeço também ao meu padrasto, Sr. Amilton, que sempre torceu muito por mim. Sou igualmente grata aos amigos: professor Dr. Orlando de Barros, pelo incentivo; Alex Silva Monteiro, colega da UFF, que, além de trazer um dos meus processos da Inquisição de Lisboa, me ajudou a entrar em contato com a Torre do Tombo; Prof. Ms. José Luiz Bello, pelo empréstimo de alguns livros; Valter Fernandes e Victor Abril, ambos da UNIRIO, que me encorajaram a apresentar meu trabalho no simpósio ocorrido naquela instituição; Helena Moura, pelo empréstimo do livro Trópico dos Pecados; Rafael, colega da UFF, pela cópia de um texto sobre os sodomitas; Irenilda Cavalcanti, também colega da UFF, pelo envio de textos de Luiz Mott; Zeb Tortoricci, colega doutorando na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e Jaime Gouveia, doutorando na Universidade de Florença, na Itália, pelo encaminhamento de textos; Vivian Barbosa, que, além de sempre perguntar pela pesquisa, me ajudou com a tradução de algumas palavras das sessões do Concílio de Trento, dentre outras questões; Ivan Alves Filho, jornalista e também historiador, pelo incentivo; Nick Edwards, Gratia Cynthia, Pablo e Haniya Bel-Hayat, agradeço outras colaborações sobre a língua inglesa; Mário Anacleto, tenor e escritor português, pelo gentil envio de alguns livros de Portugal. Por último, mas não menos importante, um especial agradecimento à CAPES, que, através da bolsa REPESQ, muito contribuiu para o prosseguimento da pesquisa. 9 Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas], por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça. (March Bloch) 10 RESUMO Não obstante as determinações dos concílios, especialmente as do de Trento, quanto à moral sexual dos eclesiásticos, a alcunha medieval vício dos clérigos caracterizou muito bem o contexto de Portugal e do Brasil da Época Moderna, quando um expressivo número de homens da Igreja se envolveu com o crime da sodomia e caiu nas malhas da Inquisição portuguesa. Através dos documentos gerados pelo Santo Ofício lusitano, especialmente os oriundos das Visitações à Bahia colonial, o trabalho analisa as relações sodomíticas entre os eclesiásticos e os seus parceiros sem, contudo, se esquecer daqueles que sofreram o que atualmente designamos de “abusos sexuais” perpetrados pelos homens da Igreja. Tal contexto demonstra que, ainda que tenha existido um conjunto de regras que regulavam os comportamentos dos membros da Igreja, objetivando constituí-los exemplos para a sociedade, não foi possível exercer um total controle sobre suas atitudes que, muitas vezes, pareceram desafiar os códigos católicos de conduta. A perspectiva reforça a idéia de que os sodomitas da Igreja, mesmo com um estilo de vida que se propunha diferente do dos leigos, não foram presas passivas de um discurso de submissão e austeridade. Palavras-chave: eclesiásticos; sodomia; Inquisição; Portugal; Bahia
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