Poucos intelectuais, estudiosos ou professores, voltados para estudos da língua em seus diversos aspectos, ou em algum aspecto particular, têm conseguido praticamente o reconhecimento unâ nime de seu talento e da importância de seu tra balho como o Prof. Manuel Said Ali. Ao lado de títulos conhecidos como os das obras gramaticais, das Dificuldades da Língua Portu guesa, dos Meios de Expressão e Alterações Se mânticas, outros há que não tiveram a mesma sorte e merecem, no entanto, a mesma atenção, como este Versificação Portuguesa, que, mais di vulgado agora com esta edição da Edusp, poderá também prestar serviço, como os demais. Seus trabalhos sempre tiveram preocupação didática, buscaram a simplicidade de expressão, a clare za. Esse cuidado não lhe tirou nenhum mérito, não lhe roubou nenhum elogio. Tornou-o, seguramen te, mais admirado. A leitura desta obra com certeza aumentará o número dos que estudam suas obras e ainda mais o dos que as aproveitam. O. H. L. C. ISBN 85·314·0498·3 911fü1]t'~t1111mrn111t11 à reflexão. Há ali propostas e conceitos que insti gam o pensamento, que o surpreendem e provocam. Na verdade, Versificação Portuguesa traz mui tas propostas que envolvem aspectos variados de natureza lingüística, poética ou literária, propria mente, e estilística. Não trata apenas da métrica ou de modelos de versos. As análises e os comentá rios apostos a cada exemplo ou fato selecionado, a cada tópico composto por Said Ali, "um dos maio res sintaticistas da língua", na opinião de Paiva Boléo, enriquecem de informação o leitor e des pertam seu gosto por um tipo de conhecimento, im portante e necessário aos que se dedicam aos estu dos literários e lingüísticos, mas nem sempre devi damente cultivado. Esta publicação da Edusp, com os cuidados e a qualidade que distinguem suas edições, por certo cumpre uma inestimável missão com êxito previsí vel, a de oferecer aos especialistas em estudos lite rários e lingüísticos, aos estudantes, ao leitor de poesia, aos admiradores de Manuel Said Ali e aos que amam a cultura de língua portuguesa a opor tunidade de ter em mãos um dos menos conhecidos livros do grande gramático, lingüista, filólogo, pro fessor e humanista brasileiro, um precioso fruto de sua longa vida de trabalho. Que a Versificação Por tuguesa receba uma acolhida digna de sua origem, da matéria que contém, premiando assim o afetuo so esforço de sua publicação. OSVALDO H uM BERTO L. CESCHIN Prof. do Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH -LISP VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA M. SAID ALI Prefácio de MANUEL BANDEIRA Reitor Jacques Marcovitch Vice-reitor Adolpho José Melfi EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Presidente Sergio Miceli Pessôa de Barros Diretor Editorial Plínio Martins Filho Editores-as:i·istentes Heitor Ferraz Rodrigo Lacerda Comissão Editorial Sergio Miceli Pessôa de Barros (Presidente) Davi Arrigucci Jr. Oswaldo Paulo Forattini Tupã Gomes Corrêa Copyright © 1999 by M. Said Ali SUMÁRIO Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ali, Manoel Said Versificação Portuguesa/ M. Said Ali ; prefácio de Manuel Bandei ra. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999. ISBN 85-314-0498-3 1. Poesia 2. Poética 3. Português - Versificação 4. Versifica ção 1. Bandeira, Manuel, 1886-1968. II. Título. 99-0293 CDD-808.1 lodices para catálogo sistemático: 1. Versificação : Retórica : Literatura 811.09 Prefácio - Manuel Bandeira................................................. 9 VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA ................................................. 15 Classificação dos Versos .. .. .. . .. . .. . .. .. . . .. .. . .. . .. .. . .. .. .. .. . . .. . .. .. .. .. 17 Contagem das Sílabas......................................................... 23 Ritmo ··················································································· 29 Direitos reservados à Sílabas Fortes e Sílabas Fracas .......................................... . 35 Edusp - Editora da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 Cesura ·················································································· 41 6º andar~ Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Universitária Cavalgamento (Enjambement) ......................................... . 45 05508-000-São Paulo-SP-Brasil Fax (011) 818-4151 Tel. (011) 818-4008 ou 818-4150 Umites do Verso ................................... ·~ ........................... . 49 www.usp.br/edusp - e-mail: [email protected] Verso de Três Sílabas .......................................................... 51 Printed in Brazil 1999 :V erso de Quatro Sílabas .................................................... . 53 'Verso de Cinco Sílabas ······················································· 55 Foi feito o depósito legal M. SAIO Ali Verso de Seis Sílabas ........................................................ ·· 59 Verso de Sete Sílabas .......................................................... 63 Verso de Oito Sílabas . . . . .. . .. .. .. . . . .. . . . . . . .. . . . .. . . .. . . . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. 67 Verso de Nove Sílabas ... . ... ... ....... .. . ..... .... .. . ... ............. ........ 77 PREFÁCIO Verso de Dez Sílabas . ..... ......... ........ ... . ...... ..... ... . .... ..... ....... 81 Verso de Onze Sílabas ........................................................ 85 Dodecassílabo ................................................................... 101 Verso Alexandrino . .. . .. . . . . .. .. . . . . . .. . .. . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . .. . .. . . .. . .. 107 Rima··················································································· 121 Versos sem Rima. Versos Soltos....................................... 125 Estrofes.............................................................................. 129 Poesia e Prosa................................................................... 145 o compêndio VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA, ora editado pelo Instituto do Livro, parece-me, não obstante a sua brevidade e concisão, o mais inteligente e incisivo que sobre a matéria já se escreveu no Brasil, senão também em Portugal. O eminente Prof. Said Ali, de quem tive a honra de ser aluno de alemão no Colégio Pedro II, me díocre aluno de uma turma cujos ases eram Sousa da Sil veira, Antenor Nascentes, Artur Moses e Lopes da Costa, o Prof. Said Ali, a quem devemos tantas contribuições ma- 8ͧl;ais ao estudo do nosso idioma, não é um poeta. Mas (ili~µ .intimo conhecimento da poesia latina e da: poesia ~,grandes literaturas ocidentais dá~lhe competência .-jl:,1,fe.{sar o assunto com um,a autoridade .que não terá ~~r~tuajmente nenhum poeta de língua portuguesa. M. SAIO ALI VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA No Brasil os compêndios anteriores a este não passa tos, que vão até a sílaba quinta (anfíbraco completo + vam de um decalque, com pequenas variantes, do Trata anfíbraco inacabado). Não se pode imaginar maior apuro do de Metrificação Portuguesa, de A. F. de Castilho. A sis em compor versos tão formosos. Só de propósito delibe tematização de Castilho, como a de Malherbe na França, rado usaria o poeta a pausa em lugar de uma sílaba". se por um lado prestou grandes serviços no sentido de Ao verso citado de Gonçalves Dias chama Said Ali policiar a técnica poética, por outro lado teve como con dodecassílabo. É uma das novidades deste precioso livri seqüência um empobrecimento da expressão. Os nossos nho voltar ao uso antigo de tomar o verso grave como parnasianos ainda agravaram o defeito. No caso dos hia critério para a especificação e denominação dos versos. tos, por exemplo. Atidos com demasiado rigor ao concei Castilho abandonou pela tradição francesa a das outras to escultural da forma, renunciaram a um elemento musi línguas românicas. Assim o verso que era chamado hen cal que estava tão dentro da tradição portuguesa e do qual decassílabo passou a denominar-se decassílabo. A lição os grandes poetas da nossa língua tiraram tantas vezes efei do mestre português foi aceita pelos parnasianos e pelas tos admiráveis. Ainda que não apresentasse outros altos escolas que lhes sucederam. Haverá vantagem no retro méritos, teria o presente trabalho este de defender o hia cesso? É um caso por discutir e naturalmente provocará to, sacrificado durante várias décadas pela "usual e meca debates. Pessoalmente prefiro o critério de Castilho, isto nizada contagem das sílabas". O mestre vai mais longe e é, a contagem até a última sílaba tônica. As sílabas átonas admite, fundado nos exemplos de Shakespeare e Milton, dos versos graves e esdrúxulos não influem na estrutura as pausas intencionais, independentes de vogais em con dos mesmos: podem influir na do verso seguinte. Assim tato e preenchendo o lugar de uma sílaba. Há vários ca na poesia "Valsa", de Casimiro de Abreu: sos desta espécie no nosso Gonçalves Dias. Para os que não sentem na estrutura do verso o valor do silêncio in Pensavas, tencional está errado aquele da poesia "Seus Olhos": Cismavas, E estavas Às vezes, oh, sim, derramam tão fraco Tão pálida Então; Comenta o Prof. Said Ali: "Consta a poesia de 49 ver Qual pálida sos dodecassílabos, sendo o segundo e o último de cada Rosa estrofe reduzido a um só hemistíquio: o ritmo é rigorosa Mimosa, mente formado com o metro anfíbraco, quadruplicado No vale, em cada verso completo. O mesmo metro nos versos cur- ·-Do vento M. SAIO ALI VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA nela as formas fixas, estudando o verso livre moderno, Cruento e a este respeito tomamos a liberdade de lhe chamar a Batida ... atenção para o notável ensaio de Pedro Henrique-Urefía, No sexto verso a. última sílaba de "pálida" pertence En Busca dei Ver.so Puro. Deus conceda ao provecto mes na realidade ao verso seguinte "Rosa", que tem uma síla tre bastante vida e saúde para contemplar este e outros ba a menos, como era de necessidade, sem o que se que trabalhos. braria o ritmo uniforme do poema. Ba·sta esse único exemplo para mostrar que o nú MANUEL BANDEIRA mero de sílabas, como a rima, a aliteração, o paralelis mo, o encadeamento, etc., não são mais do que elemen tos organizadores do ritmo, finalidade soberana na es trutura formal do poema. O ritmo como o entende mui to justamente o Prof. Said Ali, observado tanto na sua forma positiva como na negativa - silêncio, pausas, in terrupções. Qualquer dos elementos acima mencionados pode faltar no poema sem prejuízo do ritmo. É por isso que ousamos discordar do sábio mestre quando afirma que o ouvido moderno "reclama a rima como beleza natural e essencial da poesia". Natural, sim; essencial, de modo nenhum. O próprio mestre dissera dois parágra fos atrás que "a poesia não rimada requer elevação de idéias, vigor de expressão, inversões e outros artifícios que permitam realçar bem certas sílabas acentuadas, sem o que os versos mal se distinguirão da prosa chata". Logo, a rima não é essencial. A especificação e exemplificação dos metros é feita neste compêndio com evidente superioridade sobre os demais já escritos em língua portuguesa. A Edusp agradece a Antonio Manuel Bandeira Cardoso, responsável É de desejar que em futura edição dê o Prof. Said pelos direitos autorais da obra de Manuel Bandeira, a permissão de publi Ali maior desenvolvimento à sua obra, contemplando cação deste Prefácio. 12 VERSIFICAÇÃO PORTUGUESA