E rn um vno ra~antc que o fir maria como pensador de primeira ordem, Virilio nãn deixa pedra sobre pedra e mostra cnnlll. de Esparta ao Vietnã, da Rev0lu· ção Fra nccsa à era da ciberné ica. I passando pelos 1eóriwç e pro1agu nh1as do conrnw e da iuc>rr;i 51111 Tsu, Maquiavd. Napoleão, Clausewitz, Hirler, Stalin, Mao. a História perde espa1,o, 11 humann fica subJugadn à vertigem da aceleração, e a veloodadc ..: o movimento des1 roem <>Tempo:(, o que ele chamJ tk "E~1ado 1k urgência·. onde ·parar ,1,\n1fica morrer". Velocidade e Política Nesra cativantt· reflexãn sotire a imµlu~ã11 da H1sto11a, V1rili() 1110, tra como o homcrn a~~ume primeiro a rua. para depu1~ pc>rce ber ylll' o t'~paço cJue conta é J estrada, o 111ovinH·n1n. Esparra sucumbiu p.,rque nàu navt'gou. A Inglaterra se íirnrnu l'•Jrno potC:·n cía porque comrolou os lllêlft'S - a~ au10-e~1radas da C-poca - dei xando as 0111r as p1)t c!-n e1 a, européia~ ~e diglad1art·m e,11 guerras pelo u,ntrole da mas~a cont11wmal quando li que con1a va era ,, movimento. a~ via~ de C<>rnunita,ào, o aces~1) raprdo :is Lolt'1n1as. a Vl'iticitbdl' de de,101 a llll'lllO. A e,se respeito. l'lll 11111~0 Jepoimu1l1) a Fran.;01, Ewald 11,1 Maqaz111e L1t/l'rt1íre de 1wve111brn dl' 1995, Virili1J nos l't'VdJ cc1nw loi s111pret'ndid(• ltdo pl·lo impat- 10 dJ v1·loc1dade conjugacia L1>lll es~a l,>rma cun,agrada de IMl'í poltrica yue C, a gue1r a "U111 (lia. t·rn 1940, es1am,), almoçando O rádio .111uncia yue m alemães c,t,'io t·111 01k ;Jns. Pouc1) tempo depllb, ouvinrn, um barulho l'Stranho na rua. Cllmn iodo, os menino~. me prec1pno para ver. Em um vôo rasan1e que o fir· maria como pemador de pnmeira ordem. Viril10 não deixa pcdra sobre pedra e 1110,1r a cnnw. de E~pana ao Vietnã, da Revolu ção France~a à ern da cit'iernéuca. passando pelos tcúricos e pnilaJ,h'· nbia, du confl110 t' da guerrJ Su11 Tsu. Maquiavel, Napoleão. Clausewítz. Hi1ler. S1alin. Man. a Hís1óna perdl· c.;~paç,). n humano lica ~uh111gado à Vl·rtig<'m da aceleração. e a ~elocidadc l o m,lvime11t1) dc<;twern o Tempo é o que ek chama de ·Estado de urgt'>ncia" ondl' ·pa1Jr ,ignilka mo I rt· r" Velocidade e Política Ncst,1 c;1tivan1e rdlcxàn sobrC' a ,a. implo,ão da lTl~1ú1 Vmliu tmi, rra como ,> h,rn11:~m a,sume primeiro a rua. para depnb perçe ber que espaço (Jllt' con1a í: a l) estrada. o m,>vimcnt,>. Espana ,11cumb1u por<.Jue nãt1 naveg1)L1 A lngbtrrra se f1rmm1 oim(l pnt{·n cia porque controlou o, niares - a, au10-es1rada~ da epoca - dei \'.ando as m11ra, p,Hência, européias Sl' digladiarem em !!lll'tras pelo c,H1trolc dc1 mds,a con1111e111al quando l) 'lllt' n1n1;:i. va era o movill1t'!llo. a-; vias de comunicação, o ace~~" rápido ~1s colô111as. a , l'lnudade de dcslo<a mento A <'S,e rt·spcitl•. cm longo depoimento J Fi;rnç,Hs l::wald no Magaz111c Littérane de novembro de l 995. Virilio nus r,~, t·la como foi surpreendido ctdü pelo imp;:ic tn da veloddade umiugadJ con1 e~~a l<m11a con~agrada de fazer polítka que é a guerra· "Um dia. em 1940. l'~tamos almoçando O rádio anuncia quc os alc:m5es estão nn Orléans Puucu 1e111po depois, ouvim0<; um (,arulhn estranho na rua, Como todos os menino\, me prec,pitn para ver· l Paul Virilio Velocidade e Política J Tradução de Celso Mauro Paciornik Prefiício de Laymert Garcia dos Santos Estação Liberdade l CM-00100231-5 Publicado originalmente em 1977 sob o rí.culo Vitesse et politiquepoc :-•--: -- -,~ Edicions Galilée, 9, rue Linné, 75005, Paris. Índice © Prefácio: Laymerr Garcia dos Santos, 1996 G Tmduçiio: Cdso Mauro Paciorn1k t. - 3.2..o ·1 -~ Revisão de Trtldttçilo: Angel Bojadsen PRÉFACIO 9 ..V 8 ! "1 "'- Revúã11 de Texto. Marise Leal e Heloisa Macario PRIMEIRA PARTE J2?1/_4f C(lptr. Nuno 81ttencoui:1 / Letra & Imagem A REVOLUÇÃO DROMOCRÁTICA 17 •e- ~ .. /.. (lustrt1ção dtl Cap.(I· Ay:10 Okamoco, sem título, r, _:_-·· ·· · .f / ........... 1 técnica mista s/rcla, 80xl 00cm, 1995 1. Do direito à rua ao direito ao Estado 19 ~ ... Â y- Projeto Grdfico: Luiz Antonio P. Souza 1 2. Do direito à estrada ao direito ao Estado 37 TA......... . .. ..... -Jomposzção: Magda Azevedo e Ysayama Estúdio CPD ______ .- . . ..-.. -· Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (C âmara Brasaeira do Livro, SP, Brasil) SEGUNDA PARTE Virilio, Paul O PROGRESSO DROMOLÓGICO 47 Velocidade e política/ Paul Virilio ; tradução Celso Mauro Paciornik. - São Paulo : Estação Liberdade, 1996. 1. Do direito ao espaço ao direito ao Estado 49 Tírulo original: Viresse ec policique. 2. A guerra prática 59 l . Mudança social 2. Revoluções - Hisró ri a 3. Velocidade I. Tímlo. 96-1626 CDD-306.2 TERCEIRA PARTE Índices para catálogo sistemático A SOCIEDADE DROMOCRÁTICA 65 1. Velocidade e pol!cica: Sociologia política 306.2 1. Corpos incapazes 67 ISBN 85-85865-12-l 2. Assalto aos veículos merab6licos 79 1996 3. O fim do proletariado 95 FOTOCOPrAR ESTE LIVRO É ILEGAL E VIOLA OS DIREITOS 00 AUTOR 4. Uma segurança consumada 113 Todos os direitos para a Hngua portuguesa reservados à EDITORA ESTAÇÃO LIBERDADE Av. Dr. Arnaldo, 1155 QUARTA PARTE 01255-000 São Paulo -SP O ESTADO DE EMERGÊNCIA 121 Td/Fax (011) 872-9515 "Eu não queria ser um sobrevivente" Jean Mermoz Prefácio Velocidade e Política é um livro de 1977, o terceiro de Paul Virilio, depois de Bunker Archéologie e de L'insécurité du territoire, dois textos dedicados às relações entre a guerra t 0 espaço. Ao escrever seu segundo texto, o autor desembocara num capítulo intitulado "Veicular", no qual tentou responder a uma questão que se impunha: "Onde estamos quan do viajamos? Qual é esse 'país da velocidade' que nunca se confunde exatamente com o meio atravessado?" Seguindo suas intuições e associ ações, Virilio percebeu que ocorre uma mudança de estado, um trans porte, pois passamos a habitar um não-lugar - e se pôs a buscar o sentido dessa mudança. Deslocarnenco, trajeto, transporte, projeção, transmissão, veículo - em "Veicular" todas essas noções começaram a se precipitar para configurar a descoberta desse não-lugar como um novo país ou continente, o da velocidade; mais ainda: p;ira determinar como uma "aristocracia da velocidade" nele se consricuía visando dominar 0 espaço. Em "Veicular" despontava o sentido da velocidade. O próprio Virilio, numa longa entrevista a Sylvere Lotringer, narra ª gênese de Velocidade e Políticl1.'. "Em 'Veicular' comecei a adivinhar cenas coisas. Dei-me conca de que a questão da guerra resumia-se na que5tã0 da velocidade, de sua organização e produção, enfim, em tudo ª 0 que circunda. Assim, depois de l'insécurité du territoire, publiquei um texto que era menos rico em desenvolvimento, ,mas mais rico do 9 ponto de vista teórico. ( ... ) .É um livro rápido, mas um livro-chave. velocidade e política. É essa articulação que o autor tenta cons- 1 cu ar "A 1 - Não é o número de páginas que conta: eu nunca escrevo coisas longas. ir _ daí a elaboração do livro em quatro partes: revo uçao cru 1 . " " . d d d . ' . " Meu grande ponto de referência não é Clausewitz mas Sun Tsu. Sua dromocrácica", "O progresso dromo óg1co , A soc1e a e romocratica Arte da Guerra tem apenas 120 páginas. Velocidade e Política é um pequeno "O estado de emergência". Livro importante porque foi o primeiro a levantar a questão da velocidade. . e Na primeira, Virilio procura mostrar como a dm' a' m1·c a d ,1s revolu - É uma introdução a um mundo totalmente novo que nunca havia sido óes modernas se alimenta da enorme energia desencadeada pela mostrado ances. Não foram muitos os autores que tocaram na velocida ;ransformação do proletário-operário em proletário-soldado e do prole de. É claro que existe Paul Morand, algum Kerouac, mas isso é literatura. tário-soldado em proletário-operário; isto é, como nas revoluções as massas Para uma visao mais política da velocidade, há Marinetti e os futuristas são produtoras da velocidade necessária para tomar de assalto o ~oder. italianos, e depois Marshall McLuhan, que deu um passo nesta direção - No entanto, embora produtoras, as massas não controlam essa velocidade, e isso é tudo. Velocidade e Política não é tão importante pelo que diz, e são antes massas de manobra nas m:.i.os de uma classe industrial-militar !10 como pela questão que levanta."' que, esta sim, capitaliza o movimento, e investe~o na ocupação e O depoimento de Virilio diz o essencial sobre a relevância de seu controle dos territórios e de tudo o que neles c1 rcula. As revoluçoes pequeno livro, e como ele chegou a concebê-lo. Velocidade e Política, modernas instauram a ditadura do movimento, põem em prática a idéia que tinha como subtítulo na primeira edição francesa Ensaio sobre poücica de nações em marcha. Dromologia'\ é uma introdução à lógica da corrida, à lógica que coma Na segunda parte, "O progresso dromológico", Virilio irá analisar como referência absoluta, como equivalente geral, não mais a riqueza e como a velocidade do assalto, que antes se exercia sobre o espaço territorial, sim a velocidade. A "questão que levanta" é, precisamente, a d a se transforma ao abandonar a terra, e seus obstáculos, e desaparecer no pertinência dessa mudança de perspectiva, e da releicura da história do horizonte. Em vez de visar-se um ponto no espaço e no tempo, agora Ocidente que ela implica. pretende-se dominar não através do confronto mas de uma estratégia Tal releitura, porém, só se justifica se a própria evolução histórica indireta, na qual um constante deslocamento de forças gera uma ameaça estabelecer o primado da velocidade. Assim como Marx concebera a permanente. É o domínio dos ingleses sobre os mares, criando uma zona riqueza como equivalente geral a partir do advento do capitalismo, de insegurança global que permite prolongar indefinidamente as hostili Virilio Yai considerar a velocidade como valor a partir do advento da dades. A lógica da corrida se transfigura. muda de plano, enquanto a revolução técnica e de sua conexão com a revolução política. Nesse velocidade começa a se desterricorializar, e a atenção se desloca do pró sentido, se a lógica da riqueza se expressa numa economia política, a prio elemento (terra, mar) para o dinamismo dos corpos aucomocivos. lógica da corrida se explicitaria numa concepção teónca capaz de arei- Esboça-se, a partir daí, toda uma evolução, na qual a velocidade vai se afirmando como idéia pura e sem conteúdo. como puro valor, que ame aça ultrapassar até mesmo o valor do capital. No m~r, com os ingleses, 1 Paul Virilio/Sylvcrc Lotringcr. l'urt: \Vrlr, New York, Sem1orexr(e), 1983. opera-se a transferência da vitalidade natural para a vitalidade tecnológica, Na edição brasileira, Guerra P1ir,t - A militarizaçiio do cotidiano, São Paulo, Brasiliense, 1984. Tradução de Elza Miné e Laymerr G. dos Santos. Apresentação no mar a velocidade deixa de ser metabólica. passando a referir-se a si de Laymerr G. dos Santos. mesma. Como escreve Virilio: "!: precisamente no momento em que o * N. T. - Tanto esta palavra (drornologia) como ourras que aparecem no decorrer esquema do evolucionismo tecnológico ocidental sai do mar que a subs da obra Çdromocrátíco, dromocracia, dromocrata) são neologismos empregados pelo r_ânci~ da riqueza começa a desmoronar ( ... ) Tal como na origem da fleet auror como variantes da palavra grega "dromos" que exprime a idéia de "corrida", "cur m_ bezng, a manutenção do monopólio exige que a todo novo engenho so", "marcha". A única palavra dicionarizada em português com esrc prefixo é seJa logo contraposto um engenho mais rápido. Mas com o limiar das "dromornania", que significa "mania de vaguear; pendor mórbido para a vida erranre", conforme o Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa (MlRAOOR). velocidades se eStre1· ran d o sem parar, en ca cada vez mai·s dI'UªC L'! conce b er o 11 10 engenho rápido. Ele freqüentemente se torna obsoleto antes mesmo de e milicares, a desordem urbana, a desestabilização do Estado-nação, ser aproveitado; o produto está licernlmente gasco antes de ser usado, foram criando um clima de insegurança que os analistas políticos hoje ultrapassando, assim, na "velocidade'', rodo o sistema de lucro da denominam "a nova (des)ordem mundial" e que Virilio já antecipara. obsolescência industrial!" Com efeito, VeftJcidade e Política aponta até mesmo para a transformação Tornando-se a medida, a velocidade passa então a dividir a huma da segurança numa das principais commodities do capitalismo con nidade em povos esperançosos (os que a capitalizam o suficiente para temporâneo, e para a correlata promoçao do gangsterismo (que cem na continuarem projetando-a infinitamente) e povos desesperançosos (imo chantagem, na venda de proteção, a sua principal atividade) ao estatuto bilizados pela inferioridade de seus veículos técnicos, vivendo e subsis de política oficial. Mais ainda: o livro já rematiza como a segurança tindo num mundo finito). Tornando-se a medida, a velocidade deve passar pela imobilização dos corpos, pela supressão das vontades e transforma-se na "esperança do Ocidente" - esperança de supremacia, dos gestos. evidencemence, consubscanc1ada no veículo, isto é, no vetor tecnológico. Depois de anunciar que a revolução dromocrática institui a dita Na terceira parce, "A sociedade dromocrática", Virílio se volta para dura do movimento, que o progresso dromológico estabelece a os efeitos que o investimento na velocidade tecnol6gica provoca nos velocidade desterritorializada como valor supremo, e que a sociedade corpos. O objetivo é mostrar como a lógica da corrida, desinvestindo dromocrática instaura um regime de dominação exercido através do da terra e do mundo, e investindo progressivamente no vecor, promove controle do movimento, Virilio conclui seu rápido imight sobre a lógica um verdadeiro assalto à natureza do homem. De um lado, há as elites da corrida com algumas considerações sobre o estado no qual passamos dromocráticas, que prezam a mobilidade acima de tudo, porque sabem a viver - estado de emergência. E escreve: "A manobra que consistia que dominar significa poder-invadir e ocupar uma posição dominante, ontem em ceder terreno para ganhar tempo perde rodo sentido; o que as leva a buscar próteses cada vez mais sofisticadas. De outro, há atualmente, o ganho de tempo é questão exclusivamente de vetores, e o os proletários-soldados e os proletários-operários, rnjos corpos serão território perdeu seu significado ante o projétil. De fato, o valor despotenciados, induzidos a uma morre lenta. E se a progressiva estratégico do não-lugar da velocidade suplantou definitivamente o do desterritorialização significa para as elires uma intensificação do domí lugar, e a questão da posse do tempo renovou a da posse territorial."2 nio, para as massas, significa desenrai-zamenro, destruição do habitat, Assim, a guerra e a política não são mais travadas pelo controle e ocupação privação de identidade, exclusão, perda da anima, do movimento. Nesse do espaço, mas pelo domínio do e no tempo. A dissuasão e a automação contexto, enquanto a guerra moderna vai prescindindo cada vez mais expressam, nos campos militar e civil, esse avanço da lógica da corrida do proletário-soldado, a automação da produção vai tornando obsoleto que troca a estratégia pela logística, desloca o conflito do estágio da o proletário-operário, prenunciando o fim do proletariado. ação para o da concepção e ancecipa o confronto, gerando um A esse respeito, é interessante notar como a leitura de Virilio, antes permanente estado de tensão. mesmo que os anos 80 começassem a tornar evidente a progressiva Ve/,ocidade e Política é, portanto, como que uma espécie de captação, superfluidade do proletariado, já previa: "( ... ) foram-se os cempos em numa vertigem, das implicações político-militares da desvalorização que a energia cinética do proletariado dominava a vida política ap6s cer do mundo enquanto teatro de operações e campo da liberdade de ação dominado o campo de baralha ( ... ). Doravante, o corpo animal do humana.3 O livro é o registro de uma descoberta íecunda - a supremacia proletariado está desvalorizado como acontecera, antes dele, com os do não-lugar sobre o lugar - cujos diversos aspectos e implicações Virilio corpos das outras espécies domésricas." A análise crua, chocante, revelava urna tendência que os faros posteriores só vieram confirmar. A progressiva L Grifo do auror. obsolescência do proletariado, mas também a crescente latino-ameri em ~;~~rra! acabou o concat0 com a rerra imunda!" - exclama o futurista Marinecci, canização dos países industrializados, a fusão dos interesses industriais 12 13 passará a explorar em codos os seus textos subseqüentes. É significacivo uma realidade segunda; como as próprias noções de relevo ou de volume que, quase vinte anos depois de seu lançamento, em 1995, o aucor não afetam mais apenas a matéria e sua terceira dimensão, mas também publique Vitesse de libération4, meditação sobre as transformações ope a própria realidade da quarta dimensão, provocam então uma 'catástrofe radas em nossa percepção desde que os astronautas da Apollo 11 se temporal', esse acidente do tempo real que hoje vem sobrepor-se à emanciparam da força da gravidade terrestre a 28.000 km/hora, e "caí antiga 'catástrofe material', cuja marca o tempo profundo de nossa ram para cima". Ali, Virilio escreve: "Na Terra, a velocidade de Liberação 'geologia' ainda conserva." é de 11.200 km por segundo. Abaixo dessa aceleração, todas as velo cidades estão condicionadas pela atração terrestre, inclusive a de nossa Layrnert Garcia dos Santos, abril de 1996. visão das coisas. Força centrífuga e centrípeta, de um lado, resistência ao avanço, de outro, todo movimento de deslocamento físico, horizon tal ou vertical, depende portanto da força de gravitação na superfície do globo. Como então não tentar estimar a interação dessa gravidade com nossa percepção da paisagem mundana?" Vitesse de Libération é um ensaio sobre o que acontece quando a atração terrestre é superada. Assim, em virtude de seu próprio tema, pode-se dizer que esse livro é a continuação ou a retomada de Vewcidade e Política. Muitas e enormes mudanças sociais, econômicas e tecnológicas ocorreram no intervalo que separa os dois volumes, e seria até supérfluo enumerá-las. Mas se há uma que se tornou patente para todos, é a que se refere ao encolhimento do mundo, a essa estranha contração que foi aproximando tanto todos os lugares, todas as suas faces, a ponto de fazer dele uma interface. Virilio pressentiu que a revolução da informação e o movimento de globalização conduziriam taJ processo. Por isso mes mo, é tentador deixar-lhe a última palavra, como urn convite para que o leitor descubra também o que se anuncia em seu último texto: "Já fundamentalmente depreciado pela poluição material das subs tâncias (atmosfera, hidrosfera, litosfera ... ), nosso planeta também o é, embora mais discretamente, pela poluição imaterial das distâncias (estas, dromosféricas) que nos leva a nos emanciparmos do "solo de referência'' da experiência sensível da geografia - graças principalmeme à aquisição de urna velocidade dita de liberação -, mas que também nos obriga a perder as referências, o contato com as superfícies da matéria, para inscrever nossa ação interativa no excra-campo de um espaço sem gravi- dade, para teleagi r instancaneamen te na trajetória cibernética de 4 Paul Virilio, Vitesse de l:bération, Coll. I.:Espace critique, Paris, Gal1lée, 1995. 15 14 Primeira parte A revolução dromocrática