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Variação sazonal de macronutrientes em uma espécie arbórea de cerrado, na Reserva Biológica e Estação Experimental de Mogi-Guaçu, estado de São Paulo, Brasil PDF

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Variação sazonal de macronutrientes em uma espécie arbórea de cerrado, na Reserva Biológica e Estação Experimental de Mogi-Guaçu, estado de São Paulo, Brasil Adriana Carrhá Leitão' OsvaldoAulinodaSilva2 RESUMO O presente estudo visou avaliar mensalmente a compartimentação mineral em Ourotea spectabilis (Mart.) Engl. nas diferentes fenofases, no período de agosto de 1995 ajulho de 1996, em área de cerrado, na Reserva Biológica e Estação Experimental de Mogi-Guaçu, localizado no municípiodeMogi-Guaçu,emSãoPaulo. Foramanalisadostodososmacronutrientes(N,P, K,Ca, Mge S) noscompartimentos folha,em3 estádios dedesenvolvimentofoliar, ramo, flore fruto.As observações fenológicas foram realizadas mensalmente em 20espécimens distribuídos naáreade A cerrado,sendoconsideradasasfenofasesbrotação,quedafoliar,floraçãoefrutificação. distribuição dos elementos minerais nos compartimentos e nos diferentes estádios de desenvolvimento foliar reveloudiferençassignificativasepadrõessazonaisbemdefinidos,permitindoidentificaraimportância de cada nutriente nasdiferentes fases dodesenvolvimentoda planta, e sugerirsobre a capacidade de retranslocação destes elementos e manutenção do balanço nutricional. Face a essas análises, a espécieO. spectabiliscomporta-sedemaneiraaltamenteeficientenautilizaçãodeáguaenutrientes, refletindopadrões fenológicoededistribuiçãoquegarantemasuasobrevivênciaemambientesde cerrado. Palavras-chave: nutrição mineral, macronutrientes, fenologia, cerrado ABSTRACT Thepresentstudyaimstoevaluatemonthly the mineralnutritionpresentedby thepopulation of Ouratea spectabilis (Mart.) Engl. in different phenophases, from August of 1995 to July of 1996, in acerradoarea ofthe Reserva Biológicae EstaçãoExperimental de Mogi-Guaçu, located atMogi-Guaçu City, São Paulo.All the macroelements (N, P, K, Ca, MgandS) wereanalyzed on leaves, branches, fiowers and fruits compartments, and in 3 leafdevelopment stages. The pheno- logical studiesweremademonthlyin20specimensdistributed inthecerradoareaandphenophases variation (leafflushing, leaffali, fioweringandfruiting)wereanalyzedquantitatively.Thedistribu- tion ofthe mineral elements among the sampled vegetative parts revealed significamdifferences and a well defined seasonal pattem, which allows to identify the importance ofeach nutrient in differentdevelopmental phaseoftheplant, and it suggestaboutthe mineral translocationcapacity and its nutritional status. In faceofthese facts, O. spectabilisshows significamefficiency in water and nutrient utilization, reflecting in distribution and phenological pattemsthatguarantees its sur- vival incerrado’senvironments. Keywords: mineral nutrition, macronutrient,phenology,cerrado 1 DepartamentodeBotânica.EcologiaeZoologia,UniversidadeFederaldoRioGrandedoNorte,Natal,RN,Brasil.Rua Dr. ManoelAugusto BezerradeAraújo, 180/09, PontaNegra,CEP59.090-430, Natal/RN, Brasil. :Departamentode Botânica, UniversidadeEstadual Paulista, RioClaro,SP, Brasil. Apoiofinanceiro:CNPq SciELO/JBRJ 13 14 15 16 17 18 19 » 128 Leitão,A. C. & Silva, O.A. INTRODUÇÃO do estado nutricional, tais como a Ocomportamentonutricionaldeárvores retranslocação de elementos minerais de florestaispodevariarapreciavelmentedurante órgãos senescentes. Tumer(1977) e Vitousek seu ciclo, como resultado de mudanças no (1982 e 1984) ressaltaram as diferenças metabolismo, transporte interno e lavagem existentes entre os ecossistemas e entre as causada pela água da chuva (Davy & Taylor, espécies vegetais, quanto à eficiência na 1975; Emst, 1975; Guha & Mitchell, 1966). utilização dos nutrientes para a produção de Espécies vegetais podem desenvolver compostos orgânicos, dependendo da mecanismos eficientes de manutenção do disponibilidadedaquelesnosolo. O metabolismo, paragarantir sua sobrevivência conhecimentodosteoresde nutrientes em ambientes adversos. A retranslocação de em vários órgãos do vegetal permite inferir minerais é uma forma de diminuir a perda de sobreasexigênciasmetabólicasdesenvolvidas nutrientes pelas plantas e permitir a emcadacompartimento, fornecendobasepara manutenção das atividades metabólicas, o entendimento dessas variações e suas principalmenteemperíodossujeitosaoestresse implicações nas respostas dos vegetais no nutricional. Rathcke & Lacey (1985) ecossistema(Mendes, 1996). Existempoucos comentam que a floração, frutificação e trabalhosquerelacionamvariaçõesnoestoque germinaçãorequerem umaentradadeenergia de nutrientes nas diferentes fenofases enutrientesespecíficasequeadisponibilidade apresentadas pelas espécies vegetais. Tais de recursos e a capacidade da planta na estudos permitem conhecer sobre as alocaçãoeassimilaçãodestesrecursospodem adaptações específicas de plantas quanto à influenciar os padrões fenológicos das alocaçãode recursos nas diferentes fenofases espécies. e em diferentes biomas. Em um estudo da nutrição mineral O presente estudo avaliou o realizado em três espécies de leguminosas comportamento nutricional em uma espécie frequentes numa área de cerrado, representante do cerrado paulista, através de Anadenanthera falcata Dalbergia análisesdosteoresdemineraisemtrêsestádios , miscolobium Benth. (D. violacea, sin.) e de expansão foliar, além de ramos, flores e Stryphnodendron adstringens, foram frutos. observadas diferenças nutricionais entre os compartimentose, ainda, foi verificado haver MATERIAL E MÉTODOS uma grande variabilidade naconcentração de O estudo foi realizado na Reserva um mesmo nutriente para as diferentes Biológica e Estação Experimental de Mogi- espécies (Pagano et ai, 1982). Villela & Guaçu (22°15 16' S e 47°08’-12’ W). A Lacerda (1992) mencionam que a variação análise dos dados de precipitação e sazonal na concentração dos elementos temperatura do período de 1987 a 1996 minerais nas folhas parece estar fortemente permitiu confirmar que o clima local relacionadaaos mecanismosdeabsorçãoede corresponde ao Cw’a de Kõppen (1963), ou retranslocação destes nutrientes. Estudos B3 rB’3 a’ deThomthwaite(1948), inCunha mostram que em florestas tropicais os (1992), caracterizado como mesotérmico, mecanismos adaptativos de sobrevivência e úmido,deinvernoseco,compoucoounenhum manutençãodoequilíbriomudamqualitativae déficit hídricoecom excessono verão, sendo quantitativamente ao longo de gradientes de as condições hídricas da área afetadas mais fertilidade do solo, temperatura, altitude e peladistribuiçãodas chuvasdoque pelo total umidade. Florestas sobre solos mais pobres, anual de precipitação. O clima para o ano de altamenteintemperizados,teriamdesenvolvido estudo foi analisado a partir do diagrama mecanismos mais eficientes de conservação ombrotérmicoconstruído paraa área (Fig. 1), Rodriguéxia 54 (84): 127-136. 2003 SciELO/ JBRJ cm 13 14 15 .. Variaçãosazonaldemacronutrientesem umaespéciearbórea decerrado, naResen-a Biológicae EstaçãoExperimentaldeMogi-Guaçu,estadodeSãoPaulo,Brasil 129 meses analisados. Os materiais coletados foram secos em estufa a 70°C, até peso constante, cm seguida moidos para posterior análisede nutrientes minerais. As determinações dos macronutrientes nitrogênio, fósforo,potássio,cálcioemagnésio seguiram a metodologia proposta por Malavolta et al. (1989); enquanto que para o enxofrefoiutilizadoométodopropostoporVitti (1988). Para cada amostra foram feitas três Figura I -Diagramaombroténnico(P=2T)paraaárea repetições, para obtenção de uma média. daReservaBiológicacEstaçãoExperimentaldeMogi- As informações fenológicas foram Guaçu/SP,referenteaoperíododeagosto/1995 ajulho/ avaliadasquantitativamente,utilizando-seuma 1996. nota dentro de uma escala que variaentre 0 e 4, segundo a metodologia proposta por ondecpossível observarumperíodochuvoso Foumier(1974).Foramrealizadasobservações bem marcado, com índices pluviométricos mensais dos estádios brotação, queda foliar, acimade 100mmdeoutubro/1995afevereiro/ floração e frutificação (frutos verdes e frutos 1996,cumdéficithídriconosmesesdeagosto/ maduros) em vinte espécimens de O. 1995,junho cjulho/l996. O período de seca speclabilis. concentrado entre junho c agosto é As coletas para o estudo da característico paraesta região (Leitão, 1998). compartimcntaçãomineral foramrealizadasde Para a escolha da espécie foram agosto de 1995 a julho de 1996; c as consideradas características como frcqüência observaçõesfenológicas, de agosto de 1995 a dezembro de 996. c importância fitossociológica (Gibbs et ai, 1 1983; Silbcrbauer-Gottsbcrger& Eiten, 1983; Paraaanálisedosresultados foirealizada O Batista & Couto, 1992) cm ambientes de estatística não-paramétrica. Teste Kruskal- cerrado. A espécie em estudo, Ouratea Wallis,seguidodoTesteJonckheere(Campos, speclabilis (Mart.) Engl., também conhecida 1983), foi utilizado para verificar possiveis popularmentecomoMurici-bravoouBatiputá, diferenças nos teores de nutrientes minerais é pertencente à Família Ochnaccae. entreoscompartimentos(folhaeramo)eentre A Mcnsalmcntc foram sorteados, entre os estádios foliares. possível sazonalidade vinteespécimenspreviamenteescolhidos,três nos teores de nutrientes minerais foi avaliada indivíduos de O. spectabilis, onde foram estatisticamente, comparando-se as médias amostradososcompartimentosfolhas, ramos, obtidas dos valores de cada nutriente nos floresc frutos. Osmateriaiscoletadosdostrês meses doperíodo seco (deabrila setembro) e indivíduosforamreunidosnumaúnicaamostra do período chuvoso (de outubro a março). A por compartimento. No compartimento folha CorrelaçãodeSpcarman(R) foiutilizadapara foram amostradas folhas da base (estádio correlacionar as fenofases apresentadas pela 1), espécie com as variações nos teores de região mediana (estádio 2) e extremidade do ramo (estádio 3), obtendo-se material cm nutrientes nas folhas e ramos. diferentesestádiosdedesenvolvimento.Neste RESULTADOS E DISCUSSÃO caso, sendo feitas análises sazonais, nem sempre foi possível detectar as variações A espécie O. spectabilis não apresentou esperadas nos teores de nutrientes nas folhas comportamento sazonal significativo para os jovenscadultas,excetoquandoestesestádios nutrientes analisados. Muitas plantas de tiveram presençasignificativanamaioriados cerrado adquiriram características Rodriguèsia 54 (84): 127-136. 2003 SciELO/JBRJ, 13 14 130 Leilão,A. C. <£ Silvá, O.A. podendo-seretranslocardasfolhasmaisvelhas paraserreutilizadoemfolhasmaisnovas(Raij, 1991),comofoi observadotambémporToslma etal. (1987)em folhasde espécies ocorrentes em savana. Este nutriente tem papel importantenaformaçãoedesenvolvimentodas gemas floríferas e frutíferas (Coelho & Verlengia, 1973), bem como no crescimento vegetativo e formação de sementes (Ferreira et al. 1993). Apesar da aparente eficiência naabsorçãodonitrogênio,estatisticamentenão foi observadanenhumadiferençasignificativa entre folhas e ramos, bem como não foi observado nenhum destaque nos valores dos compartimentos flore fruto (Fig. 3b). O fósforo é essencial para a formação Figura2-FenogramadeO.spectabilisemporcentagens de frutos e sementes (Raij, 1991; Camargo & defloração(Fl),frutosverdes(FV),frutosmaduros(FM), Silva, 1975). Neste estudo, ficou evidenciada brotação (Br) e queda foliar (Qu) e, valores mensais de umacorrelaçãopositivaentreafenofasefruto precipitação (mm) e temperatura (°C), com base em maduroeaconcentraçãodefósforonasfolhas observações realizadas na Reserva Biológica e Estação e ramos (R= 0,72, p<0,01), mostrando uma ExperimentaldeMogi-Guaçu,deagosto/l995adezembro/ 1996. eficiêncianademandaearmazenamentodeste elemento pela planta, no período de escleromórficas, que podem atuar no sentido amadurecimento dos frutos e dos embriões de impedirou dificultara perda de nutrientes (Figs. 2 e 4b). Em outubro, o suprimento dos via cutícula foliar através da lavagem pelas águas das chuvas; além disto, a eficiência na 25' eaádio1 Oestádio2 estádio3 retranslocaçãodenutrientesparececontribuir para a manutenção do estado nutricional da b 2" n planta. Em setembro, a espécie em estudo apresentou o maior índice de intensidade no brotamentodefolhas(Fig. 2),épocaemquea planta atinge seu piòb ‘na concentração de ai» set out nov dez jan-fev.imr abr mai jun iul nitrogênio nas folhas da ponta do ramo (Fig. 3a). Também foram observadas folha ramo Sflor fruto 2t estatisticamenteconcentraçõesmaiselevadas S 15 qdeueneisttreosgêtneoiroesnadsimfoilnhuaesmmàaimsedjiovdeanqs,ueseesntdaos —8tr .i 1 li í 1 folhas ficam mais próximas ao estado de E 0,5 lí u senescência (p<0,01). Do mesmo modo, 0- II Medeiros & Haridasan (1985) verificaram ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul para espécies de cerrado que em novembro, íigura 3 - Variação mensal dmoessetseores de nitrogênio na quando as folhasestavam recém-expandidas, espécie O. spectabilis em área de cerrado da Reserva , os teores de nitrogênio foram mais elevados BiológicaeEstaçãoExperimentaldeMogi-Guaçu,SI’.A. que nos estádios mais desenvolvidos. Isto Concentração nas folhas da ponta (estádio 1), região mediana (estádio 2) e base do ramo (estádio 3). B. justifica a boa mobilidade do nitrogênio, Concentraçãonoscompartimentosfolha,ramo,florefruto. Rodriguésia 54 (84): 127-136. 2003 SciELO/JBRJ cm 13 14 .. Variaçãosazonaldemacronutríentesem umaespéciearbóreadecerrado, naReservaBiológica e EstaçãoExperimentaldeMogi-Guaçu,estadodeSãoPaulo, Brasil 131 frutos com relação a este nutriente atinge redistribuído a partir de órgãos mais velhos quase quatro vezes os teores encontrados nas para órgãos em expansão (Larcher, 2000; folhas e ramos (Fig. 4b). Os altos níveis de Malavolta, 1980). No presente estudo não fósforo assimilados pela planta, nos períodos foramencontradosdiferençassignificativasna seco e chuvoso, podem significar um concentraçãodesteelementoentreosestádios importante mecanismo de manutenção do foliaresanalisados,eentreoscompartimentos estado nutricional e, consequentemente, folhaseramos. Entretanto! ficou evidenciado metabólicodaplanta,nomomentoemqueesta umaumentopontualnosteoresde fósforonas está investindo sua energia na produção de folhas da ponta do ramo em setembro (Fig. folhas, ramos, ou mesmo, preparando-separa 4a),períodoemqueaplantaatingeseumáximo a fase reprodutiva. É de conhecimento geral na produção de novas folhas (Fig. 2). Visto queosníveisdesteelementonosolodecerrado que os níveis de fósforo em solos de cerrado são baixos e, portanto, a demanda de sãocomprometidospelos.baixosvaloresdepH, abastecimentopodeestarrelacionadaãoferta e altas concentrações de alumínio, o que proporcionada pela matéria orgânica, diminui a disponibilidade deste mineral & enriquecidapeladeposiçãodematerial vegetal (Malavolta Kliemann, 1985; Lopes, 1983; (fitomassa),especialmenteporquedadefolhas Kamprath, 1977; Volkweiss & Raij, 1976; nos meses anteriores à estação chuvosa Goodland, 1971), sugere-se que aespécie O. (Mendes, 1996). Neste caso, esta espécie spectabilisesteja adaptadaaestas condições, parece apresentar-se adaptada a situações de apresentando um importante mecanismo de baixo suprimento de fósforo no solo e, manutenção do estado nutricional e, provavelmente, dispõe de certas adaptações consequentemente,metabólico,quepermitea que permitem a sobrevivência em tais sobrevivência da planta em tais ambientes. ambientes. A maior parte do potássio é absorvida Além disso, o fósforo é considerado um pelas plantas durante a fase de crescimento nutrientedeboamobilidade,sendofacilmente vegetativo (Raij, 1991), pois este tem papel fundamental na fotossíntese e síntese de estádio 1 Ccstádio2 estádio 3 carboidratos (Yamada, 1987). Para a espécie em estudo, foram encontradas diferenças significativas nos teores de potássio entre os trêsestádiosfoliaresanalisados(Fig.5a),sendo evidenciadasconcentraçõesmaiselevadasem & folhasmaisjovens(p<0,01). Villela Lacerda (1992) estudando as espécies de cerrado Vochysia rufa e Curatella americana, folha Oramo SSSflor fruto também encontraram durante o pico de brotamento foliar, os níveis maiselevados de potássio nas folhas jovens, sugerindo a reabsorção do elemento antes da abscisão. Uma vez que o potássio é um elemento altamente móvel no floema, sua utilização é eficiente no sentido de ser prontamente Figura4-Variaçãomensaldosteoresdefósforonaespécie redistribuídodasfolhasparaórgãosmaisnovos O.spectabilis,emáreadecerradodaReservaBiológicae (Larcher, 2000;Malavolta, 1980). EstaçãoExperimentaldeMogi-Guaçu,SP.A.Concentração No presente trabalho, ficaram nasfolhasdaponta(estádio1),regiãomediana(estádio2) evidenciadas concentrações elevadas de e base do ramo (estádio 3). B. Concentração nos potássio nas flores e nos frutos (Fig. 5b). As compartimentosfolha,ramo,florefruto. Rodriguisia 54 (84): 127-136. 2003 SciELO/ JBRJ 13 14 15 16 17 18 132 Leilão,A. C. & Silva, O.A. análisesestatísticasrevelaramumacorrelação pelo floema com facilidade, ele é encontrado negativa (R= -0,64, p<0,05) entre a fenofase em maior concentração em folhas maduras e floração e a concentração de potássio em senescentes (Larcher, 2000). Depois de sua folhas e ramos (Figs. 2 e 5b). Assim, visto localizaçãonestessítios,toma-semuitoimóvel que o potássioé redistribuído paraórgãosem sofrendo a influência de outros cátions (Mg, crescimento e se concentra em grande parte MneZn),quepodemcomprometerasuatroca nosfrutosverdes(Raij, 1991),ésugeridohaver (Malavolta, 1980). Sobrado&Medina(1980) umagrande translocação deste elemento, das encontraramosmaioresvaloresdecálciopara folhas e ramos, para as flores; e uma as folhas mais velhas de espécies preparaçãodaplantaparaa fase subseqiiente, escleromórficas da Amazônia. a produção dos frutos. Embora tenha sido Além da importante relação com a encontrado teores mais elevados nas folhas resistência mecânica dos tecidos, o cálcio é do que nos ramos (p<0,01), em dezembro é indispensável paraagerminaçãodopólen e o notado um pico na concentração de potássio crescimentodotubopolínico,sendoimportante nos ramos, chegando a quase três vezes os para a floração (Epstein, 1975). Em O. valoresencontradosnasfolhas(Fig. 5b),oque spectabilis, nos meses de maio e junho foi pode representar uma reposição e observadoumaumentonaconcentraçãodeste armazenamento deste nutriente no final das nutrientenocompartimentoramo,seguidode fenofases reprodutivas. uma notável redução no mês dejulho, agosto A espécie em estudo apresentou esetembro; oquepodeestarrelacionadocom diferenças significativas (p<0,01) nas um aumento nademandadesteelementopela concentrações de cálcio entre os estádios de planta, em primeira instância, seguido por desenvolvimento foliar, sendo mais elevados utilizaçãoempotencial noperíododefloração osvaloresdecálcioemfolhasmaisvelhas(Fig. (Fig. 6b). Segundo Chapin et al. (1980) e 6a), pois sendo um elemento de baixa Camargo & Silva (1975), a diminuição dos mobilidadenasplantas,nãosendotransportado teores desse elemento no caule, durante a estádio 1 estádio 2 estádio3 B 15 folha Dramo SSflor fruto 1,2 - n ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul meses meses Figura 5 - Variação mensal dos teores de potássio na Figura6-Variaçãomensaldosteoresdecálcionaespécie espécie O. spectabilis, em área de cerrado da Reserva O.spectabilis,cmáreadecerradodaReservaBiológicae Biológicae EstaçãoExperimental de Mogi-Guaçu, SP. Estação Experimental de Mogi-Guaçu, SP. A. A.Concentraçãonasfolhasdaponta(estádio 1),região Concentração nas folhas da ponta (estádio 1), região mediana (estádio 2) c base do ramo (estádio 3). B. mediana (estádio 2) e base do ramo (estádio 3). B. Concentraçãonoscompartimentosfolha,ramo,florefruto. Concentraçãonoscompartimentosfolha,ramo,florefruto. Kodriguésia 54 (84): 127-136. 2003 ISciELO/JBRJ 13 14 15 16 17 18 19 . Variaçãosazonaldemacronulrientesem umaespéciearbóreadecerrado, naReservaBiológica e EstaçãoExperimentaIdeMogi-Guaçu,estadodeSãoPaulo, Brasil 133 estaçãode crescimento, sugere sereste órgão ramos, oquepareceestarrelacionadoamaior armazenador de cálcio. Ou ainda, pode-se utilização deste elemento paraarealização de inferir haver um maior direcionamento do suas funções reprodutivas, principalmente da nutrienteabsorvidodosolo,paraasflores,uma floraçãoedaprodução de frutos verdes. Uma vez que este elemento tem baixa mobilidade das funções importantes do magnésio, como na planta. elementocentral damoléculadeclorofila, é a O magnésio é um elemento móvel na sua participação na fotossíntese. E também planta (RAIJ, 1991). Entretanto, é comum consideradoespecíficonaativaçãodediversos encontrarmaiorconcentraçãodemagnésioem sistemas enzimáticos das plantas, tais como folhas mais velhas, do que em folhasjovens ativação de enzimas relacionadas com o (Malavolta, 1980). A espécie em estudo metabolismo dos carboidratos (Camargo & apresentou diferenças significativas entre os Silva, 1975). estádiosfoliares(p<0,01),sendomaiselevados O enxofre tem papel fundamental na os teores em folhas mais velhas (Fig. 7a). síntesedegorduras,óleose proteínas,estando Também, ficou evidenciado que o relacionadocomocrescimentovegetal, sendo compartimento ramoéumarmazenadordeste muitoimportanteparaafrutificação(Camargo nutriente, apresentando teores bem mais & Silva, 975).Abaixamobilidadenofloema 1 elevadosdoque nas folhas, na maiorpartedo é característica deste mineral. Embora, de ano(p<0,01),oquepodeserumacaracterística acordo com Larcher (2000), o sítio de de O. spectabilis (Fig. 7b). acumulação do enxofre seja nas folhas e Apesar de, estatisticamente, não ser sementes, sendo encontrado em maior detectado uma relação entre a concentração concentração em folhas maduras, para O. de magnésionosdiferentescompartimentose spectabilis não foram obtidas diferenças as fenofases analisadas, observa-se uma significativasnaconcentraçãodesteelemento, redução deste nutriente nos meses de agosto entre os estádios foliares (Fig. 8a), nementre e setembro nos compartimentos folhas e os compartimentos folhae ramo (Fig. 8b). estádio I estádio2 Iestádio 3 0,25 0.2 £ £ 0.15 IC 0.1 iuiiidiiifi 0.05 ' ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul folha Gramo £3flor fruto ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul meses meses Figura 7 - Variação mensal dos teores de magnésio na Figura8-Variaçãomensaldosteoresdeenxofrenaespécie espécie O. spectabilis, em área de cerrado da Reserva O.spectabilis,emáreadecerradodaReservaBiológicae BiológicaeEstaçãoExperimentaldeMogi-Guaçu,SP.A. EstaçãoExperimentaldeMogi-Guaçu,SP.A.Concentração Concentração nas folhas da ponta (estádio 1), região nasfolhasdaponta(estádio 1),regiãomediana(estádio2) mediana (estádio 2) c base do ramo (estádio 3). B. e base do ramo (estádio 3). B. Concentração nos Concentraçãonoscompartimentosfolha,ramo,florefruto. compartimentosfolha,ramo,florefmto. Rodriguésia 54 (84): 127-136. 2003 ISciELO/JBRJ cm 13 14 15 16 17 18 19 .. 134 Leilão,A. C. <& Silva, O./t. Os solos sob cerrado apresentam Reserva Biológica de Mogi-Guaçu, SP. características químicas e físicas muito Revista do Instituto Florestal 4(1): particulares, como a sua elevada acidez. 324-329. ParticularmentenaáreadaReservaopHpode Camargo, P. N. & Silva, O. 1975. Manual variarentre3,0e5,5até50cmdeprofundidade de adubaçãofoliar. São Paulo, Herba, (Leitão, 1998). Esta forte acidezé devida em 258 p. boaparteaosaltosníveisdealumíniopresentes Campos, H. 1983. Estatística experimental nestes solos, uma condição característica não-paramétrica. 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