UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA SILVANA ZUSE Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no Alto rio Madeira, Rondônia São Paulo 2014 SILVANA ZUSE Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no Alto rio Madeira, Rondônia Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Arqueologia Área de Concentração: Arqueologia Orientadora: Profª. Drª. Márcia Angelina Alves Linha de Pesquisa: Cultura material e representações simbólicas em arqueologia Versão corrigida* (*) A versão original encontra-se disponível no MAE/USP São Paulo 2014 2 Dedico este trabalho aos meus pais, Adão e Renati, ao Fernando e ao Fabrício, com quem adquiri e compartilho os valores e princípios que possuo. Ao Eduardo, que reflete muitos deles. . 3 AGRADECIMENTOS A necessária mudança de Santa Maria/RS e a escolha que contemplou Rondônia para o desenvolvimento desta tese gerou o afastamento inevitável e muita saudade de pessoas queridas, gostos e paisagens. Entretanto proporcionou muitos aprendizados no âmbito pessoal e profissional, ao conhecer um pouco a região do Alto rio Madeira e sua arqueologia e as pessoas que sempre foram receptivas e acolhedoras, muitas das quais tornaram-se grandes amigos (as). A finalização deste trabalho só foi possível graças à ajuda e apoio de muitos, que estiveram mais próximos ou distantes, aos quais agradeço. Agradeço ao CNPq pelo apoio à pesquisa com a concessão de uma bolsa de doutorado. À Profa. Dra. Márcia Angelina Alves pela orientação deste trabalho, confiança e apoio nas mudanças de rumo (projeto). Ao Dr. Renato Kipnis pelo apoio e incentivo nesta trajetória de quase cinco anos em Porto Velho, e juntamente à Scientia Consultoria Científica, pela disponibilização de toda a estrutura do laboratório, materiais arqueológicos, dados de campo e datações. Ao Prof. Dr. Eduardo Neves pelas orientações na qualificação e a cada ida a Porto Velho, que foram fundamentais para a conclusão desta tese. A Profa. Dra. Fabíola Silva pelas sugestões e indagações na qualificação de doutorado. A Helena Lima, pelos diálogos sobre a variabilidade cerâmica, nas visitas ao laboratório em Porto Velho, e por compor a banca de defesa. Ao Arkley Bandeira por compor a banca de defesa e pela leitura cuidadosa da tese. A Universidade de São Paulo e ao Museu de Arqueologia e Etnologia pelo acolhimento nestes oito anos na pós-graduação, e a todos os funcionários do MAE, especialmente da biblioteca e da Secretaria Acadêmica, que sempre estiveram prontos para ajudar. Ao IPHAN Porto Velho e ao Ms. Danilo Curado pelo apoio. Aos meus amigos e companheiros de pesquisa Cliverson Pessoa e Angislaine Costa, que desde 2010 me acompanham na triagem e análise do material cerâmico, bem como ao Francisco Chagas e Edileno Duram que posteriormente agregaram a equipe, assim como a 4 Karleny Costa que chegou a tempo. Agradeço pelo apoio e parceria nesse período, e continuarei torcendo pelo envolvimento cada vez maior de vocês na Arqueologia de Rondônia e da Amazônia. Agradeço a Angislaine F. Costa pela organização das figuras com as fotos da cerâmica no corel draw. A Mirtes, Adriana, Nazaré, Darci, Gelcinei, Júlio e Carlinhos que se dedicaram na curadoria de tantos fragmentos cerâmicos e líticos, pela recepção a Porto Velho e parceria durante esses anos. Também aos que me acompanharam em campo, em especial ao Geová pela sabedoria, ao Vanderlei, Ezequiel, Índio, Dedé, Teixeira, Pantanal, Adriano, Willian, Weliton, Lourival e muitos outros que não me recordo nesse instante. A todos que participaram das escavações dos sítios abordados nesta tese e fizeram o registro cuidadoso das informações. Entre eles, convivi com Gil Bueno, Flávio Bonfim, Diogo Quirino, Diogo Borges, Fernando Cantelle, André Voto, Leonardo Napp, que lembro agora. Um agradecimento especial a Michelle Tizuka, que me recebeu no laboratório em Porto Velho, me acompanhou na primeira vez que subi o rio Madeira de voadeira e relatou incansavelmente os sítios arqueológicos e as escavações. Por toda a ajuda na elaboração desta tese com os mapas, croquis e leituras, e principalmente pela amizade. A Juliana Santi, parceira de pesquisa desde 2006, incialmente nos sítios Guarani da Depressão Central Gaúcha, e que motivada por objetivos semelhantes me acompanha nestes cinco anos de arqueologia no Madeira, atualmente colega do DARQ/UNIR. Obrigada pelo companheirismo nas escavações, pelas leituras da tese e elaboração dos croquis, pela tua amizade e chimarrões compartilhados em rodas pequenas e com gosto de saudade. Ao Carlos Zimpel que reencontrei em Porto Velho, pelos tantos outros mates, churrascos e conversas sobre a Arqueologia de Rondônia, para a qual contribuiu muito com a atuação no DARQ/UNIR, onde atualmente somos colegas. A Valéria Silva, que conheci em Porto Velho, colega no DARQ/UNIR, por compartilhar as experiências no ensino e os mais diversos sentimentos surgidos nesse meio e pelo apoio na finalização deste trabalho. Ao colega André Penin (in memorian), com o qual infelizmente pude conviver pouco tempo, suficiente para aprender muito na UNIR. 5 A Elisangela Oliveira, colega no DARQ/UNIR, companheira na maratona de provas do concurso. Ao Klaus Hilbert pela visita ao laboratório em Porto Velho e discussão sobre a cerâmica policrômica antiga na Amazônia. A Denise Schann pela leitura da qualificação e sugestões. Ao Daniel Cruz, a Lilian Panachuck e a Lorena Garcia pela discussão da ficha de análise. A Silvia Cunha Lima pelos ensinamentos sobre curadoria e conservação do material arqueológico. Aos amigos de Porto Velho pela recepção na cidade e por me acompanharem nesse período, entre eles a Ednair Nascimento, querida amiga portovelhense, ao Ney Gomes, pelo convívio e parceria nestes anos, na república ‘Panamá 2185’ e no Marechal Rondon; ao Fernando Cantelle, Cássio Souza, Flávio Bomfim, Diogo Quirino, a Adriana Santos, Valzelice Souza, Daiane Hammes, Pepo, Luiz, Marconi, Iagê, Domingos, Marcondes, e tantos outros, que de uma forma ou de outra me ajudaram a prosseguir até o fim. A Dona Neli e ao Caminho de Casa, que nos recebeu e ouviu nestes anos, com músicas de gostos variados na jukebox. Aos colegas do MAE, especialmente aqueles com quem compartilhei experiências de campo em Rondônia, entre eles Fernando Almeida, Guilherme Mongeló, Rodrigo Suner, Thiago Trindade, Maurício Silva, e aqueles que compartilham as experiências da Arqueologia na Amazônia: Eduardo Kazuo, Márjorie Lima, Erêndida Oliveira, Jaqueline Beletti, Felippo Bassi, Marta Cavalline, Chico Pugliese, Anne Py-Daniel, Claide Moraes, Camila Jácome, Melian Gaspar, Chico Stuchi. Aos que me hospedaram em São Paulo, especialmente ao Piero Tessaro e a Angela Artur, amigos de longa data, ao Bernardo Lacale, Jaqueline Gomes, a Dani, Francine, Guilherme Minoti, Carol, Júlia, Danilo, Luana. A Grasiela Toledo pelo otimismo e companhia no fechamento da tese. Ao mestre Marcelo Tenório e aos colegas da Elite Taekwondo, espaço de convivências e aprendizados fundamentais para perseverar nesta meta. 6 Aos estudantes de arqueologia da Universidade Federal de Rondônia, por me fazerem continuar acreditando e me dedicando à pesquisa e ensino da arqueologia, entre eles a Cleiciane, Manu, Laura, Alyne, Odair, Brena, Eclésia, Renato, Igor, Robson, Ana. A minha família pelo apoio a todas às decisões, pelo incentivo nas horas mais difíceis, pelos abraços calorosos nos reencontros e pela contenção das lágrimas nas despedidas. Obrigada aos meus pais, aos meus irmãos, a Tatiane e ao Miguel, e a todos os familiares que me apoiaram, pelas recepções ou despedidas nas rodoviárias e caronas após ou antecedendo as muitas horas de viagem. A todos os amigos de longe pelo apoio a cada reencontro, especialmente a Taiara que veio me visitar em Porto Velho. Ao Eduardo Bespalez por compartilhar comigo todos os sentimentos envolvidos na finalização de uma tese. E a todos os que não foram contemplados nestas páginas, porém contribuíram para o andamento e conclusão do trabalho. Muito Obrigada! 7 RESUMO Variabilidade cerâmica e diversidade cultural no Alto rio Madeira, Rondônia Este trabalho aborda o estudo dos significados históricos e culturais da variabilidade artefatual no Alto rio Madeira, estado de Rondônia, sudoeste Amazônico, através da análise da cerâmica e dos contextos evidenciados em quatorze sítios arqueológicos localizados entre a cachoeira de Santo Antônio, nas proximidades da cidade de Porto Velho, até a foz do rio Jaciparaná, próxima a cachoeira Caldeirão do Inferno. A caracterização das escolhas adotadas por ceramistas em todas as etapas de confecção dos artefatos cerâmicos, bem como em relação aos seus usos e descarte, permitiu identificar as ocupações em cada sítio, ao passo que a análise comparativa possibilitou diferenciar cinco conjuntos tecnológicos que representam, por um lado, diferentes identidades sociais e culturais e, por outro, a diversidade cultural existente na região em termos temporais, espaciais e tecnológicos. O diálogo com outros contextos da Amazônia e com os modelos para a ocupação da região, elaborados com dados da arqueologia, linguística histórica e história indígena, é salutar na construção de cenários da história cultural da região. PALAVRAS-CHAVE: variabilidade artefatual; alto rio Madeira; história indígena; diversidade cultural. 8 ABSTRACT Ceramic variability and cultural diversity in the Upper Madeira river, Rondônia This work approaches the study of historical and cultural significance of artfactual variability in the Upper Madeira river, Rondonia state, southwestern Amazon, through the analysis of ceramics and contexts highlightedin fourteen archaeological sites located between the Santo Antonio’s falls, nearPorto Velho city, to the mouth of Jaciparanáriver, next to Caldeirão do Inferno waterfall. The characterization of the choices adopted by potters in all stages of manufacture of ceramic artifacts as well as in relation to their use and disposal, identified the occupations at each site, while the comparative analysis allowed differentiating five sets of technologies that represent, for first, social and cultural identities and, secondly, the cultural diversity of the region in temporal, spatial and technological terms. Dialogue with other contexts of Amazon and models for the occupation of the region, made with data from archeology, historical linguistics and indigenous history, is beneficial in building scenarios of cultural history of the region. KEY-WORDS: artifactual variability; upper Madeira river; indigenous history; cultural diversity. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: esquema cronológico dos horizontes cerâmicos (MEGGERS e EVANS, 1961). .... 29 Figura 2: vasilhas da tradição Tupi-guarani em Rondônia (MILLER, 2009a, p. 125 e 127). .. 69 Figura 3: cerâmica da Subtradição Jatuarana (MILLER, 2013, p. 367). .................................. 71 Figuras 4 e 5: cerâmicas escavadas na área de intervenção da UHE Jirau ............................... 75 Figuras 6 e 7: cerâmicas pintadas da área de intervenção da UHE Jirau. ................................ 75 Figura 8: pesca na cachoeira do Teotônio, rio Madeira (Gouldin, Smith & Mahal, 2000). ..... 87 Figura 9: modelo elaborado por Tizuka (2013) para o Alto rio Madeira. ................................ 90 Figura 10: sítios arqueológicos nas proximidades da cachoeira de Santo Antônio. ................ 96 Figura 11: croqui do sítio Ilha de Santo Antônio (Michelle Tizuka, 2012). ............................ 97 Figura 12: perfil da unidade – Ilha de Santo Antônio N990 E849 . ......................................... 99 Figura 13: Recipiente R1e feições F13, F14 E F15- Ilha de Santo Antônio .......................... 100 Figura 14: croqui esquemático das feições do setor do R1- Ilha de Santo Antônio ............... 100 Figura 15: feições no perfil Oeste (N986 E848 a N993 E848)- Ilha de Santo Antônio ......... 101 Figura 16: perfil da unidade N979 E880 – Ilha de Santo Antônio. ........................................ 102 Figura 17: Perfil transversal da cachoeira de Santo Antônio (TIZUKA, 2013, p. 90). .......... 104 Figura 18: croqui com densidades da cerâmica e lítico - sítio do Brejo. ................................ 105 Figura 19: Croqui do sítio do Brejo (SCIENTIA, 2010). ....................................................... 105 Figura 20: perfil da unidade N1040/1041 E957, sítio do Brejo. ............................................ 108 Figura 21: perfil da unidade N1021 E1059 e N1022 E1059 – sítio do Brejo. ....................... 110 Figura 22: estratigrafia do setor 1 do Brejo (TIZUKA, 2013: 101 e 102). ............................ 110 Figura 23: croqui do sítio Veneza (SCIENTIA, 2012). .......................................................... 112 Figura 24: densidade cerâmica e lítica – sítio Veneza............................................................ 112 Figura 25: perfil da unidade N980 E937 –sítio Veneza. ........................................................ 114 Figura 26: feição F2 (N 1020 E 865) e F1 (N1020 E866)- sítio Veneza. .............................. 114 Figura 27: densidade cerâmica e posição dos montículos–Novo Engenho Velho ................. 118 Figura 28: perfil das unidades N960 E980, N960 E981, N960 E982/ sítio Garbin .............. 119 Figura 29:perfil da unidade N1000 E952- sítio Novo Engenho Velho .................................. 119 Figura 30: localização dos sítios arqueológicos junto à cachoeira do Teotônio. ................... 120 Figura 31: croquis esquemáticos do sítio Boa Vista............................................................... 122 Figura 32: perfil norte da Unidade E0392900/N9022302- sítio Boa Vista ............................ 123 Figura 33: croqui do sítio Vista Alegre (Michelle Tizuka, 2013). ......................................... 126 Figura 34: perfil da unidade E387190 N9020490 – Vista Alegre (Michelle Tizuka, 2012) .. 127 Figura 35: escavação das unidades N387190 E9020490 I, II, III e IV................................... 128
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