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Utopias da Frivolidade PDF

134 Pages·2014·2.813 MB·Portuguese
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UTOPIAS DA FRIVOLIDADE ANGELA PRYSTHON Edição de texto: Schneider Carpeggiani _ Edição de arte: Jaíne Cintra www.cesarea.com.br Imagem da capa: Chico Lacerda/Divulgação Recife, 2014 ANGELA PRYSTHON UTOPIAS DA FRIVOLIDADE ENSAIOS SOBRE CULTURA POP E CINEMA 1a edição ORGANIZAÇÃO: ANDRÉ ANTÔNIO FOTOS: CHICO LACERDA recife 2014 SUMÁRIO NOTA DO ORGANIZADOR - 4 PREFÁCIO, por Denilson Lopes - 7 NOSTALGIA A imaginação nostálgica como utopia - 14 Martírio juvenil, rock e cinema - 18 Derivas do olhar - 28 MÚSICA Sensibilidades culturais urbanas - 35 Afeto de transposições pós-coloniais - 47 FRIVOLIDADE Odes anoréxicas e a vingança dos travestis - 52 Entretenimento como utopia - 56 Uma política do frívolo - 68 SIMULACRO Baudrillard e os modos e modas da teoria - 78 A experiência da mediação - 81 Transformações da crítica diante da cibercinefilia - 86 CINEMA O mundo de Satyajit Ray - 99 Figuras do dissenso em Joseph Losey - 103 Nostalgia e vanguarda nos vídeos musicais de Derek Jarman - 111 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -116 POSFÁCIO, por Fábio Ramalho - 125 SOBRE A AUTORA E OS COLABORADORES - 131 NOTA DO ORGANIZADOR Enquanto editava e organizava estes ensaios de Angela Prysthon, fui pes- quisar imagens que correspondessem a cada um deles para ilustrar a ver- são final d3o5 Dlivorsoe.s Pdeer Rceubmi, no meio do processo – colocando, por exemplo, uma foto de Ian Curtis depois do ensaio sobre rock e martírio juvenil ou um frame de depois do texto sobre o uso da música nos filmes de Claire Denis – que estava insatisfeito com essa forma um tanto óbvia de relacionar texto e imagem, e que o projeto gráfico do livro não estava cor- respondendo à forma sofisticada com que o pensamento de Angela aborda a questão da imagem. Entrei no facebook para dar uma pausa e me deparei com várias fotografias postadas por Cchaimcop Lacerda, amigo (e orientando de Angela) que havia acabado de voltar do doutorado sanduíche no Canadá. Num estalo, pensei em como o olhar com o qual Chico, em suas fotos, captura objetos, paisagens e pessoas dialoga com o olhar de Angela. Experi- mentei, então, selecionar fotos de Chico – analógicas ou digitais, do período em que morou no exterior ou anteriores a isso – para distribuí-las ao longo do livro. Uma depois de cada ensaio, criando conexões um tanto arbitrárias mas divertidas entre o tema de cada texto e sua fotografia respectiva. Nes- sas imagens de cores saturadas e texturas nostálgicas, Chico pesquisa um olhar pessoal que também pode ser visto nos filmes do coletivo Surto & Des- lumbramento (para a maioria dos quais Chico fez a direção de fotografia). Para mim, o diálogo entre texto e imagem foi extremamente feliz e, além de tudo, prazeroso como a própria escrita de Angela (cuja elegância não fugirá à percepção do leitor). Ou prazeroso como uma noite de conversa e vinho na companhia dos dois, Angela e Chico (também convidei Denilson Lopes e Fábio Ramalho para sentarem à mesa, escrevendo respectivamente o prefá- cio e o posfácio). Destacar a elegância dos textos de Angelac éo reasgseemncial, mas também não posso deixar de mencionar outra das características que mais saltam aos olhos, para mim, nos ensaios que seguem: a . Porque, se as discus- sões sobre arte e, principalmente sobre cinema, no Brasil, são via de regra marcadas por um tom muito “pesado” de seriedade, o pensamento de An- gela tem a coragem de não repetir essa fórmula confortável e estabelecida. Contra o pensamento que ainda se pauta pela temporalidade teleológica de certo modernismo, Angela propõe uma revisão nova e instigante da ideia de nostalgia. Contra aqueles que impõem à arte um dever moral, heroico e político auto-importante demais, ou àqueles que querem defender uma suposta pureza transcendente do cinema contra a cultura pop, Angela tem a coragem de tecer conexões inusitadas, como aquela entre o conceito de utopia e a noção de frivolidade, que achei adequada para o título do livro. Este livro é uma homenagem a Angela, a pesquisadora e professora que, durante minha graduação, me apresentou os cinemas de Jean Cocteau, Max Ophüls, Powell e Pressburger, Douglas Sirk, Jacques Demy, Ken Russel, De- rek Jarman e Todd Haynes. Que me orientou no mestrado e com quem con- tinuo a nutrir uma preciosa amizade. Os textos foram divididos em quatro seções cujos temas, porém, permeiam todos os escritos do livro: nostalgia, música, frivolidade, simulacro e cine- ma.D Perriemk eJairrams avnersões de cada um destes ensaios foram publicados ante- riormente: “Nostalgia e vanguarda nos vídeos musicais de Derek Jarman”. In: : cinema é liberdade. Rio de Janeiro: Jurubeba Produções, 2014 p. 88-93; “Artifício e utopia: uma política do frívolo”. La Furia Umana, v. 15, p. 196-206, 2013; “El mundo de Satyajit Ray”. La Furia Umana, v. 16, p. 189-191, 2013; “Intrusos, deslocados, estranhos: figuras do dissenso em Jo- seph Losey”. La Furia Umana, v. 3, p. 181-189, 2013; “Música, afecto y trans- posiciones postcoloniales”. La Furia Umana, v. 14, p. 1-4, 2012; “Transfor- mações da crítica diante da cibercinefilia”. Celeuma, Maria Antonia, USP, São Paulo, p. 1 - 12, 08 maio 2013; “Persistência da memória, derivas do olhar”. La Furia Umana, v. 13, p. 1-7, 2012; “Entretenimento como uEtcoopsi ua”r.b Aalncoesu (PUCRJ), v. 10, p. 126-136, 2010; “Cidades e música: Sensibilidades cultu- rais urbanas”. In: Angela Prysthon; Paulo Cunha Filho. (Org.). : a cidade e suas articulações midiáticas. 1ed. PortCou lAtulergarse j:u Svuelninisa n, o2 0s0éc8u, lvo. 1XX, pI.. 185-199; “Martírio juvenil, música e nostalgia no cinema contemporâ- neo”. In: Silvia Borelli; João Freire Filho. (Orgs.). 1ed. São Paulo: EDUC, 2008, v. 1, p. 79-92; “Baudrillard: modos e modas da teoria”. Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado de Pernambuco, Recife, p. 4 - 5, 10 abr. 2007; “Anoréxicas e travestis”. Continente Multicultu- ral, Recife, , v. 43, p. 70 - 72, 01 jul. 2004; “A experiência da mediação”. Suple- mento Cultural do Diário Oficial do Estado de Pernambuco, Recife, p. 3 - 4, 10 ago. 2002. Recife, setembro de 2014. André Antônio PREFÁCIO 9 ANGELA PRYSTHON Utopias da Frivolidade Angela, Ao receber esse seu fiquei contente de ler textos seus que não conhecia ou não lembrava e reler outros que conhecia. Ven- do-os reunidos pela sensibilidade de André Antônio me fez pensar que há tempos que deveria ter feito uma reunião de seus trabalhos. Mas enfim tudo tem seu tempo... Começo a ler e fico com vontade ouvir The Cure. Há muito não ouço e os fios se desdobram para além dos textos. Fios que me levam ao congresso da Brazilian Studies Society Association (BRAZA), em Recife, em 2000, do qual não me lembro de muita coisa, mas me lembro de nosso encontro. Então, nós dois, havíamos começado a dar aulas na universidade há pouco tem- po, você, na Universidade Federal de Pernambuco, e eu, na Universidade de Brasília. Encontro anunciado, menos pela formação comum em literatura e por trabalhar em escolas de comunicação, como vários colegas então, mas sobretudo pela aproximação com os estudos culturais que para você (como para mim) foi menos uma cartilha do que um espaço de liberdade para po- der pensar e transitar pelos desafios do contemporâneo. Nos quase quinze anos (me surpreendo!) que se seguiram, mantivemos uma amizade, com os intervalos comuns dos que não moram na mesma ci- dade. Amizade nutrida não necessariamente pelos objetos qCuoes emsotupdoálivtiasmmooss eP emriaféisr ipcoors um certo olhar. As referências iniciais vindas de um formação em literatura e em estudos culturais resultaram em seu livro (2002) e te levaram a um trânsito fecundo entre linguagens, pro- dutos culturais e obras artísticas em que a quebra de hierarquias entre cul- tura erudita, cultura popular e cultura massiva, defendida por Canclini, se traduziu concretamente como pode ser visto neste seu livro. Sem populis- mo paternalista nem perder um olhar estético, a cultura midiática foi ponto de partida para uma política do pequeno, do frívolo. Não há uma tese, o que não quer dizer que não haja diálogos entre os textos de natureza dispersa aqui reunidos, desde os mais acadêmicos até notas, fragmentos, intervenções, sobretudo ensaios que se pretendem me- nos avaliar e mais ressaltar e acompanhar o que te fascina. São cartografias mais do que análises, são sugestões e convites à leitura mais do que críticas detalhadas. Ao contrário dos diagnósticos que viam no cenário, uma vez chamado pós- -moderno, um uso conservador do afeto, como os de Jameson e Grossberg, sua aposta foi de outra ordem, mais acolhedora mas não menos crítica para as possibilidades pelas quais a cultura midiática se transformou em coti- 10 UTOPIAS DA FRIVOLIDADE diano, memória e subjetividade. Você parte da nostalgia, prima pobre da melancolia na história das mentalidades, e com delicadeza, vislumbra pro- messas de beleza que são também anseios de outros mundos onde talvez menos pudéssemos esperá-los. A partir de uma nostalgia dos pós-modernos anos 80 do século passado, você resgata nossos fascínios juvenis pelos santos pop que morreram cedo; fala talvez de uma geração, se é disso que se trata, talvez uma sensibilidade de após a contracultura e as guerrilhas, perdida e encontrada nos labirin- tos simulacrais e cinéfilos da imagem e do som. A música atravessa a leitu- ra da imagem talvez por termos sido formados pelo videoclipe, seja talvez por bandas que encenavam a si mesmos no palco e fora dele, como emer- gem dos santos mortos por que você nos leva em peregrinação. Talvez te- nha faltado falar daqueles que, por não terem morrido, sobrevivem por aí, sem nenhuma aura, Morrissey, Robert Smith, pessoas de meia-idade. Mas não se trata de um gosto mórbido pela morte, herdeira de uma sensibilida- de punk gótica (ainda que ela lá esteja no fundo do baú. Quem quiser ver lerá). Ela volta sem tragicida dfleâ. nEesrtiae sh agiografia não revela nada, apenas nos fala de nossa fragilidade e precariedade. Recife, Seattle, Manchester e Londres se misturam nestas por imagens, tempos e canções. Se há uma cibercinefilia como aponta no fim, há também um cosmopolitismo midiático, não para fugir do lugar mas para pensar o local no mundo e o mundo como um local. De filmes sobre músicos e cenas musicais em cidades você não tem receio em colocar ao lado deles os filmes de Guerín, nem de ver neste não o lugar da seriedade do real como testemunho e denúncia, mas a beleza, sempre criticada como formalismo despolitizante. Jacques Demy aparece aqui res- gatado por um outro olhar que não seja o de uma figura menor da Nouvelle Vague e do Modernismo cinematográfico. Sua leitura não tem medo da be- leza, repito, como se toda beleza fosse padronização, escapismo, alienação, disfarce. A busca da aparência se traduz mesmo numa crítica que não busca a interpretação, a exegese e que longe de uma postura distanciada, encanta- -se com este mundo de imagens, cenários, ruínas. Aqui estamos diante de uma estética do artifício no contemporâneo, que passa pelo pop e resgata o próprio simulacro, ultima encarnação da teatralidade gestada com o Barro- co. Derek Jarman aparece menos como herdeiro do cinema experimental e mais por seus diálogos com o videoclipe. Claire Denis é menos a herdeira do cinema moderno, da imagem-tempo, de estética do fluxo ou qualquer outro conceito-fetiche que insiste em ver o contemporâneo apenas nas suas con-

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