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Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista PDF

193 Pages·2009·0.84 MB·Portuguese
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FFCLRP - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista Fábio Ricardo Leme Prof. Dr. José Francisco Miguel Henriques Bairrão Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Ciências. Área: Psicologia. RIBEIRÃO PRETO - SP 2006 1 FICHA CATALOGRÁFICA Leme, Fábio R. Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista./ Fábio Ricardo Leme; Orientador: José Francisco Miguel Henriques Bairrão. Ribeirão Preto, 2006. 164 p. : il. ; 30 cm Dissertação, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto / USP – Dep. de Psicologia e Educação. 1. Afro-brasileiro. 2. Umbanda. 3. Psicologia analítica. 4. Vidência. 5. Etnopsicologia. 2 DEDICATÓRIA Aos meus pais, José e Azize, pela paciência, carinho e incondicional apoio a este trabalho. À Flávia pela colaboração e dedicação, fundamentais, na etapa final deste trabalho e pela presença e afeto indispensáveis em minha vida. Ao filho (a) que vai chegar. A todo povo de santo e às comunidades de terreiro que me receberam e participaram desta jornada. A todos os membros e colaboradores do Laboratório de Etnopsicologia da Faculdade de Psicologia da USP-RP e em especial ao professor Miguel Bairrão. 3 AGRADECIMENTOS Aos amigos, incentivadores e mais importantes interlocutores junguianos: Raul e Magda. Aos amigos que estiveram ao meu lado durante todo este percurso: Alexandre, Sabrina, Anderson, Watarai, Rafael, Mauro, Dário, Zilma e Fernando. A todos os membros da banca de defesa, pela colaboração na consecução deste trabalho e pela contribuição para o meu amadurecimento intelectual. A todos os funcionários e professores da faculdade de psicologia da USP-RP, em especial ao professor Lino e à professora Regina. Ao CNPq pela concessão da bolsa de financiamento desta pesquisa. 4 HINO DA UMBANDA Refletiu a luz divina com todo seu esplendor é do reino de Oxalá Onde há paz e amor Luz que refletiu na terra Luz que refletiu no mar Luz que veio, de Aruanda Para todos iluminar A Umbanda é paz e amor É um mundo cheio de luz É a força que nos dá vida e a grandeza nos conduz. Avante filhos de fé, Como a nossa lei não há, Levando ao mundo inteiro A Bandeira de Oxalá ! Levando ao mundo inteiro A Bandeira de Oxalá ! 5 RESUMO LEME, F. R. Usos do imaginário nos estudos afro-brasileiros e no culto umbandista. 164 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2006. A psicologia analítica de Jung é umas das principais vertentes psicológicas de estudo das religiões afro-brasileiras, contribuindo na compreensão desse universo. Os pesquisadores desta tradição são atraídos por estas religiões por serem povoadas por fenômenos, como a vidência, o transe, a incorporação, entre outros, que têm importância vital na existência de seus praticantes, e que são classificados como da ordem do imaginário por algumas correntes acadêmicas, e, as vezes, tratados como uma falsa percepção da realidade, ao serem tomados como subprodutos da imaginação. Nunca se averiguou em que medida os trabalhos junguianos refletem esta posição ou não, e, em que medida têm conseguido refletir a cosmovisão do campo. O objetivo desta pesquisa é o de: 1- Proceder a uma explicitação da concepção umbandista sobre este imaginário; 2- Contrastar esta concepção com um dos principais modelos teóricos aplicados aos estudos afro- brasileiros, a psicologia analítica; 3-Contribuir para um diálogo entre a psicologia científica e a cosmovisão desenvolvida no âmbito da religiosidade afro-brasileira. Os colaboradores (médiuns videntes) foram selecionados a partir do contato com terreiros de umbanda em Ribeirão Preto e Piracicaba. Devido a seus “talentos imaginativos”, foram acompanhados caso a caso, relatando suas experiências, sendo observados em performances rituais, nas quais se presta especial atenção aos processos da imaginação (estados de transe, previsões, sonhos, vidências, lembranças do passado, etc.). Para além da observação participante utilizaram-se, na coleta de dados, gravações em áudio das narrativas obtidas a partir de entrevistas semi-estruturadas e anotações em caderno de campo de dados e impressões. Em paralelo, foi feita uma análise sobre os estudos junguianos a respeito da religiosidade afro-brasileira. Sobre o material, de campo e acadêmico, foi feita a sistematização das suas respostas para uma tripla pergunta: Qual o estatuto ontológico, epistemológico e psicológico do imaginário? A partir das respostas obtidas levantou-se subsídios para a discussão dos pontos de divergências e semelhanças entre os dois modelos que, não obstante as suas diferenças, permitiu mostrar intersecções, relacionar incompatibilidades e, principalmente, resgatar nuances do fenômeno que escapem ao modelo acadêmico. Os resultados mostram que termos como “individuação”, “inconsciente coletivo”, “arquétipo”, “tipos psicológicos”, nem sempre são utilizados como conceitos efetivamente junguianos, o que parece indicar que adquiriram um valor heurístico que ultrapassa as fronteiras da psicologia analítica. Os trabalhos junguianos analisados superam a postura patologizante freqüentemente atribuída aos fenômenos do imaginário por pesquisadores clássicos como Nina Rodrigues, Arthur Ramos e o próprio Jung, porém não escapam a vieses psicologizantes, que, muitas vezes, distorcem, à cosmovisão do campo, o que contribui para a redução dos fenômenos a conceitos cunhados a partir de modelos etnocêntricos (CNPq). Palavras-chave: Afro-brasileiro / Umbanda / Psicologia analítica / Vidência / Etnopsicologia 6 ABSTRACT LEME, F. R. Usages from the imaginary in the african-brazilian studies and in the umbanda cult. 164 p. Dissertation (Masters Degree) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2006. Jung‟s analytical psychology is one of the main psychological approaches in the study of the African-Brazilian religions, contributing with the understanding of this universe. This tradition‟s researchers are attracted by these religions for being them crowded with phenomena, like the clairvoyance, trance, impersonation, among others, which have vital importance in the existence of their followers, and that are classified as belonging to the imaginary by some academic currents and, sometimes, they are treated as a false perception of the reality, at being considered as imagination subproducts. People have never checked whether the Jungian works reflect this position or not and how they have been able to reflect the field‟s cosmovision. The goal of this research is: 1) gather an explicitation on the umbanda conception about this imaginary; 2) contrast this conception with one of the main theoretical models applied to the African-Brazilian studies, the analytical psychology; 3) contribute for a dialogue between the scientific psychology and the cosmovision developed in the scope of the African-Brazilian religiosity. The contributors (clairvoyant mediums) have been selected from the contact with umbanda yards in Ribeirao Preto and Piracicaba. Due to their “imaginative talents”, they have been followed individually, reporting their experiences, being observed in ritual performances, in which we pay attention to the imagination processes (trance state, previsions, dreams, clairvoyance, past memories etc). For reaching beyond the participant observation, audio recordings from the narratives, obtained from semi-structured interviews, notes on a field data notebook, as well as impressions were used. In parallel, an analysis about the Jungian studies regarding the African-Brazilian religiosity was made. About the field and academic material, the systemization of their replies was made on a triple question: Which is the ontological, epistemological and psychological statute from the imaginary? From the obtained replies, subsides were raised for discussing divergence points and similarities between both models which, despite their differences, allowed us to show intersections, to relate incompatibilities and, mainly, to rescue nuances from the phenomenon which escape the academic model. The results show that terms like “individuation”, “group unconsciousness”, “archetype”, and “psychological types” are not always used as effective Jungian concepts, which seems to indicate that they have acquired a heuristic value which trespasses the borders of the analytical psychology. The Jungian works under analysis overcome the pathologizing posture frequently attributed to the phenomena of the imaginary by classic researchers like Nina Rodrigues, Arthur Ramos and Jung himself, but they do not escape psychologizing biases which, mostly distort the field‟s cosmovision, contributing to the reduction of phenomena enhanced from ethnocentric models (CNPq). Key-words: African-Brazilian / Umbanda / Analytical Psychology / Clairvoyance / Ethnopsychology 7 1 INTRODUÇÃO 1.1 A umbanda A umbanda, religião nascida em solo brasileiro, é marcada pelo sincretismo oriundo de matrizes religiosas européias (catolicismo popular e kardecismo), africanas (crenças e rituais trazidos pelos escravos da África) e ameríndias (cultos e crenças dos índios nativos do Brasil). Contemporaneamente, podemos constatar a inserção de elementos religiosos orientais em alguns terreiros, como os do hinduismo e budismo, e de movimentos espiritualistas da “nova era”, o que demonstra a fluidez e permeabilidade desta religião em sua constituição e constante reformulação. Tradicionalmente, há a predominância dos três eixos religiosos citados acima, os quais dão a marca característica dos terreiros com os quais se trabalha nesta pesquisa. Outra importante característica da umbanda é que esta se constitui como uma prática religiosa que estrutura vínculos entre a vida terrena e o “mundo espiritual” . Toda estrutura do culto, que é chamado de “gira” pelos praticantes, os rituais inicíaticos e o desenvolvimento dos médiuns, é organizada em função da crença na possibilidade de atuação das entidades espirituais no plano terreno, a partir da incorporação, destas, pelos 8 médiuns. Com isto acreditam que médiuns e entidades poderão, por um lado fornecer ajuda àqueles que os procuram, e, por outro se beneficiarem desta prática para sua evolução no plano espiritual. Esta crença, a da incessante meta da evolução espiritual, é o eixo fundamental do sentido da vida para esta religião. Em consonância com estas crenças, os consulentes procuram os guias e entidades devido a problemas cotidianos como: a busca de emprego, a resolução para problemas financeiros, amorosos, doença, ajuda para se livrar ou livrar alguém do uso de drogas, bebida, vão em busca de conselhos, de uma palavra de conforto em momentos de dificuldades, em busca de obter respostas para as crises existenciais sobre a morte, para saber de parentes que já se foram, como e onde estão. Assim alicerçados na esperança e na crença de que os médiuns têm o poder de promover a re-ligação entre o plano terrestre e o espiritual, onde tudo se sabe e onde há sempre a possibilidade de se obter ajuda e repostas. Para além destes aspectos a umbanda também organiza e reflete relações sociais e as condições de existência de seus praticantes, tornando-se extremamente importante na formação da identidade destes, sendo um fator de preservação cultural e social das suas comunidades. A partir dos estudos de Negrão (1996) pode-se comprovar a importância do que foi dito acima no que se refere aos aspectos culturais, sociais e históricos desta religião. O autor mostra que a umbanda, em seu processo de constituição, foi profundamente influenciada pelas condições histórico-sociais de inserção do negro na sociedade 9 brasileira após o fim da escravidão. Este processo se deu em meio a uma complexa relação político-social que se estende até os dias de hoje. Segundo sua análise, pode-se deduzir que o imaginário umbandista é, ainda, o produto de outra relação complexa: o conflito cultural entre práticas religiosas de origem africana em um de seus pólos e práticas religiosas européias no outro (tais como o “catolicismo popular” e o kardecismo). Dentro da mesma temática, porém, a partir de um enfoque diferente de Negrão, Ortiz (1978) reforça aspectos da relação social do negro liberto em sua busca pela inserção na nova sociedade de classes brasileira, ressaltando a característica da umbanda ser uma “síntese” religiosa, entendida por ele não como predomínio de elementos religiosos de uma cultura sobre outra, mas como algo novo, diferente de suas supostas matrizes africana e européia. Destacam-se também na literatura sobre a umbanda os trabalhos de Trindade (2000). A autora promove uma ampla discussão a respeito das influências étnicas congo e angola na constituição das práticas umbandistas, a partir da análise de seus elementos rituais, que tem como objetivo central: “[...] demonstrar que o rito, como forma de ação social, permite a passagem do universo mítico para o ingresso e a participação dos homens na história, como também por meio dos ritos os negros fazem a sua história” (TRINDADE, 2000, p.21-22). Igualmente importante é o trabalho de Brumana e Martinez (1991) que, em estudo sobre terreiros de São Paulo, enfocam a relação destes com as federações umbandistas e o que chama de “elaboração da subalternidade”, isto é, o surgimento de um código de 10

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Palavras-chave: Afro-brasileiro / Umbanda / Psicologia analítica / Vidência / Etnopsicologia dos terreiros com os quais se trabalha nesta pesquisa.
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