Uso de Fluidos Naturais em Sistemas de Refrigeração e Ar-condicionado Artigos Técnicos s temas aqui abordados foram apresentados durante o Seminário “Uso de Refrigerantes Naturais O em Sistemas de Refrigeração e Ar-condicionado”, realizado em São Paulo, no período de 21 e 22 de novembro de 2007. Tanto o Seminário quanto esta publicação está inserida no Plano Nacional de Eliminação de CFCs, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD e pela Agência Alemã de Cooperação Técnica – GTZ. 1111 Ministério do Meio Ambiente – MMA Uso de Fluidos Naturais em Sistemas de Refrigeração e Ar- condicionado – Publicação Técnica. 2008. 348 p. 1. Desenvolvimento urbano – Brasil. 2. Espaço metropolitano – Brasil. 3. Políticas Públicas. CDI Sumário 1 Aplicações de co como fluido refrigerante no setor de refrigeração industrial 2 LEONILTON TOMAZ CLETO Aplicações de amônia como fluido refrigerante no setor de ar condicionado e 17 refrigeração industrial LEONILTON TOMAZ CLETO 35 co (R-744) em equipamentos de refrigeração comercial 2 CLáudIO MELO | ChrIsTIAN J. L. hErMEs 45 Novas soluções para fluidos secundários em refrigeração FrANK ChAVIANO PruZAEsKY | EPIFANIO MAMANI TICONA | sErGIO LEAL BrAGA | JOsÉ ALBErTO r. PArIsE 63 Uso de fluidos refrigerantes hidrocarbonetos – Estado atual e tendências rOBErTO dE AGuIAr PEIxOTO 79 Uso de hidrocarbonetos refrigerantes em aplicações residenciais JOÃO M. d. PIMENTA 103 Aplicações do co no setor automotivo 2 ENIO PEdONE BANdArrA FILhO 115 Experiência da União Européia em Refrigerantes Naturais – Status e Tendências BErNd KALTENBruNNEr 121 Instalações de frio alimentar em supermercados com a utilização de amônia ALExANdrE PrEsOTTO Jr. | CArLOs GuILhErME süFFErT 129 Aplicações do co no setor de refrigeração comercial para supermercados 2 ALEssANdrO dA sILVA 155 Pesquisa e desenvolvimento para uso de refrigerantes naturais P. hrNJAK Prefácio presente publicação reflete os resultados de um seminário pioneiro, que abriu uma discussão A técnica com os principais atores do Setor de Refrigeração e Ar Condicionado, sobre o uso dos fluidos naturais como alternativa aos CFCs e HCFCs. Tal discussão é especialmente oportuna no momento em que vivemos, onde o uso dos CFCs está em seus momentos finais e o abandono acelerado dos HCFCs é uma realidade. Em setembro de 2007, quando se comemorava os 20 anos de sucessos do Protocolo de Montreal, uma nova decisão histórica foi tomada pelo conjunto de países signatários. Com o fim dos CFCs, previsto para 2010, decidiu-se pelo início do processo de substituição dos HCFCs já em 2013, antecipando em dez anos o prazo previsto pelo Protocolo de Montreal para o abandono destes gases. Além dos benefícios para a recomposição da Camada de Ozônio, objeto do Protocolo, a medida traz também um enorme benefício para o regime climático, dado o acentuado Potencial de Aquecimento Global (GWP) dos HCFCs. Esta intenção está explícita na Decisão XIX/6, quando em seu Ponto 6 encoraja as Partes a “promover a seleção de alternativas aos HCFCs que minimizem os impactos ambientais, em particular os impactos no clima, bem, como considerem os aspectos de saúde, segurança e viabilidade econômica”. Também em seu Ponto 11 orienta o Comitê Executivo, ao examinar o financiamento de projetos por parte dos países, a priorizar “Substitutos e alternativas que minimizem os impactos no meio ambiente, incluindo ao clima, levando em consideração o Potencial de Aquecimento Global, consumo de energia e outros fatores relevantes.” O ganho para o regime climático, explicitado com tanta ênfase se justifica pela contribuição dada pelo Protocolo de Montreal para a mitigação da emissão dos gases de efeito estufa. Ao longo de seus 20 anos, a eliminação dos CFCs contribuiu significativamente para oque se evitasse a emissão de bilhões de toneladas de CO2 equivalente e pode continuar a fazê-lo com uma relação custo-benefício das mais favoráveis. Somente no Brasil, a antecipação do prazo de eliminação dos CFCs determinada pela Resolução 267/00 do Conama evitou o consumo de 36,5 mil toneladas PDO de CFCs, o que equivale, quanto ao seu efeito para o aquecimento global, a 360 milhões de toneladas de CO2. A título de comparação, o Proálcool, o mais bem sucedido programa de combustíveis renováveis do mundo, evitou de 1975 a 2005 a emissão de 650 milhões de toneladas de CO2. Antecipar os prazos de abandono dos HCFCs significará novos ganhos. Ainda no caso do Brasil, pode-se estimar que a Decisão XIX/6 evitará, em relação ao cronograma anterior do Protocolo de Montreal, o consumo de cerca de 750 mil toneladas de HCFCs. Ponderando-se consumo proporcional de cada uma das substâncias e seu respectivo GWP, isso equivale a cerca de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente. Vale lembrar que a substituição dos HCFCs se dará com a introdução de outros gases. Caso o HCFC-22 venha a ser substituído predominantemente pelo HFC-134a, uma das alternativas mais consolidadas no mercado, grande parte deste ganho seria anulada, já que o GWP das duas substâncias são similares. Vem daí a importância desta publicação, que aponta aspectos relevantes do uso dos chamados fluidos naturais, que poderão ser adotados em substituição dos HCFCs preservando os ganhos ensejados pela Decisão XIX/6, PLANO NACIONAL DE ELIMINAÇÃO DE CFCs ou dos CFCs, por meio da substituição de equipamentos ou retrofit. A pouca discussão que predominou até o momento sobre o tema colaborou para o surgimento de preocupações, por vezes infundadas, sobre a segurança, eficácia ou economicidade dos fluidos naturais. São aspectos a serem tratados com a devida seriedade e fundamentação. Nisso, a experiência internacional, a fundamentação científica e a experiência prática, devem ser levadas em consideração e são abordadas nos diversos artigos desta publicação. Como resultado do seminário, fica clara a tendência ao crescimento do uso dos fluidos naturais, alavancado por medidas de incentivo adotadas em alguns países e pelos avanços produzidos por novas tecnologias já disponíveis no mercado. Nos próximos anos, diversas empresas terão que tomar decisões quanto a novos equipamentos a serem produzidos ou comprados. Estes equipamentos por vezes permanecem em atividade por décadas e as opções a serem adotadas terão que levar em consideração as tendências para o futuro. O debate sobre novas tecnologias e produtos será intenso nos próximos anos, mas a aposta que deve ser feita é na adoção de gases que além de não afetar a Camada de Ozônio, tenham também um baixo potencial de aquecimento global. Compete ao Ministério do Meio Ambiente, como coordenador do Prozon, o Comitê Executivo Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio, a formulação do Programa Nacional de Eliminação dos HCFCs - PNH – que internalizará o novo cronograma no Brasil. Este será elaborado nos próximos meses, em consonância com as decisões a serem adotadas pelas Partes do Protocolo. Apesar de não estar ainda formulado, pode- se afirmar que parte da missão do PNH será criar as condições para que a adoção de opções por parte das empresas propicie ganhos tecnológicos, competitividade e, cumprimento das obrigações internacionais do Brasil perante o Protocolo, com os benefícios ambientais daí advindos. Para isso, a difusão de informações é fundamental. Esperamos que esta publicação cumpra parte deste papel. Finalmente, gostaríamos de agradecer ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, a Agência de Cooperação Técnica-GTZ, Associação Nacional dos Profissionais de Refrigeração e Ar condicionado – ANPRAC – e a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar condicionado, Ventilação e Aquecimento - ABRAVA, pela parceria na organização do evento e à Universidade Mauá, que nos hospedou gentilmente durante estes dias. Ruy de Góes Leite de Barros Diretor do Departamento de Mudanças climáticas Secretaria de Mudanças climáticas e Qualidade Ambiental Ministério do Meio Ambiente Aplicações de co como fluido 2 refrigerante no setor de refrigeração industrial LEoNILToN ToMAZ cLETo Yawatz Engenharia Ltda. Rua Agostinho Teixeira de Lima, 215 – São Paulo – SP – 04826-230 – Brasil 1 RESUMO Com o ressurgimento do CO (dióxido de carbono) como fluido refrigerante em sistemas de refrigeração, foram 2 desenvolvidas novas tecnologias e aplicações nos vários setores do mercado de refrigeração para tornar o seu uso viável. Sendo um refrigerante natural, o CO se apresenta como alternativa promissora aos refrigerantes 2 sintéticos em várias aplicações de sistemas de refrigeração. O presente artigo explora as aplicações de CO 2 no setor de refrigeração industrial, que surge também como uma alternativa para a Amônia. A Amônia, apesar de ser um outro refrigerante natural, possui um índice de toxicidade mais elevado e normalmente, em aplicações de baixa temperatura, requer uma carga muito grande. Nos sistemas aqui apresentados, com a introdução de ciclos em cascata, utilizando CO e Amônia, a redução de carga de Amônia pode chegar em até 2 97%, comparando com sistemas convencionais. Além da redução de carga de Amônia, são analisados outros aspectos dos sistemas com CO que incluem a eficiência energética, a redução dos diâmetros das linhas, 2 alguns cuidados operacionais a as tendências da sua utilização no setor nos próximos anos. PLANO NACIONAL DE ELIMINAÇÃO DE CFCs 1 Introdução O CO (dióxido de carbono – R-744) foi um dos primeiros fluidos refrigerantes aplicados para 2 sistemas de refrigeração e foi amplamente utilizado até os meados da década de 30 do século XX. Com o surgimento dos fluidos CFCs e HCFCs, o CO foi perdendo mercado até ser praticamente 2 extinto no início dos anos 60. Com os problemas ambientais e o estabelecimento dos Protocolos de Montreal e de Kyoto, o CO ressurge como uma alternativa promissora a ser utilizada em muitas 2 aplicações, nos vários setores de refrigeração. No início dos anos 90, os livros antigos sobre tecnologia de refrigeração, com várias aplicações utilizando CO, foram reabertos. Com o desenvolvimento tecnológico dos últimos anos, 2 novos conceitos surgiram propiciando assim o renascimento do CO como fluido refrigerante natural. 2 Um dos principais responsáveis pelo “reavivamento” do CO foi o Prof. Gustav Lorentzen (1915- 2 1995) do Instituto de Tecnologia da Noruega (NTH), em Trondheim, que propôs e desenvolveu com sua equipe várias aplicações e sistemas utilizando CO como fluido refrigerante [1]. Já no final dos 2 anos 90, surgem nos mais variados setores da refrigeração, várias aplicações comerciais utilizando 2 CO como fluido refrigerante, seja em sistemas com ciclos sub-críticos, para baixas temperaturas 2 (abaixo de -30 ºC e até -55 ºC), em cascata com outro fluido refrigerante, seja em sistemas com ciclos transcríticos para médias temperaturas (acima de -15 ºC), sistemas de ar condicionado (principalmente no setor automotivo) e bombas de calor. O setor de refrigeração industrial abrange os grandes sistemas e normalmente se refere às aplicações na indústria alimentícia e na indústria de bebidas, onde o principal fluido refrigerante é a Amônia (R-717). Aqui são ainda incluídas as aplicações nas indústrias químicas e petroquímicas, que utilizam principalmente os fluidos halogenados (HFCs e, no Brasil, ainda o HCFC R-22), além de Amônia e alguns hidrocarbonetos (R-1270, R-290 e misturas) e as aplicações de ar condicionado industrial (principalmente nas indústrias farmacêuticas, têxtis e automotivas), que utilizam principalmente os HFCs. Apesar da Amônia e dos hidrocarbonetos serem parte do grupo de fluidos refrigerantes naturais (assim chamados por serem encontrados nos ciclos naturais na terra), ambos possuem algumas restrições que limitam o seu uso. A Amônia, com suas excelentes características para o uso em sistemas de refrigeração, sofre muitas restrições de sua aplicação por ser um refrigerante com maior índice de toxicidade que a maioria dos HFCs. Em vários países, inclusive o Brasil, há legislações que requerem uma série de cuidados desde o projeto até a operação de um sistema de refrigeração que,
Description: