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Untitled - Repositório da Universidade de Lisboa PDF

356 Pages·2011·1.31 MB·Portuguese
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Estudos de Literatura e Cultura Inglesas João Manuel de Sousa Nunes ESTUDOS DE LITERATURA E CULTURA INGLESAS AUTOR João Manuel de Sousa Nunes REVISÃO J. Carlos Viana Ferreira CAPA, PAGINAÇÃO E ARTE FINAL Inês Mateus - [email protected] EDIÇÃO Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa IMPRESSÃO E ACABAMENTO Várzea da Rainha Impressores ISBN 978-972-8886-12-7 DEPÓSITO LEGAL 314 390 / 10 PUBLICAÇÃO APOIADA PELA FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA Índice Nota de Apresentação I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Línguas e Literaturas: Uma proposta 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ensino da Literatura: para quê? 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modo distópico e modo satírico: Algumas confluências tipológicas essenciais 30 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens animais na tradição da sátira inglesa, com especial referência ao período augustano 39 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sob o signo de Marte: um tópico distópico na Utopiade More? 82 . . . . . . Hubrisideológica e linguagem batética em A Tale of a Tub, de Swift 92 . . . Comédia satírica e fábula distópica em Gulliver’s Travels 106 . . . . . . . . . . . . . Para uma contextualização do romance britânico do séc. XVIII: sensibilidade, benevolência e algumas implicações reformistas 139 . . . . . Sentimentoe Sensibilidadeno romance britânico setencista: uma reflexão 151 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Richardson e benevolentismo ou as motivações do homem de sentimento 156 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Henry Fielding, de Simon Varey: Uma recensão crítica 164 . . . . . . . . . . . . . . Leituras induzidas: o prefácio de Joseph Andrews 167 . . . . . . . . . . . . . . . . . . Síntese crítica sobre Jonathan Wild 181 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No Segundo centenário da morte de Samuel Johnson: (re)encontro com Rasselase o seu melhor dos mundos impossíveis 206 . . . . . . . . . . . . A Obra de William Beckford perante a mentalidade e a cultura do tempo 227 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Viagem – imagem e mito na literatura inglesa, sécs. XVI a XVIII: uma breve abordagem 236 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 ESTUDOS DE LITERATURA E CULTURA INGLESAS Imagens de insularidade na literatura: I – D. H. Lawrence (1885-1930), The Man Who Loved Islands 252 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens de insularidade na literatura: II – Aldous Huxley (1894-1963), Island 259 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens de insularidade na literatura: III – Daniel Defoe (1660-1731), Robinson Crusoe 271 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens de insularidade na literatura: IV – William Golding (1911-1993), Lord Of The Flies 291 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens de insularidade na literatura: V – Muriel Spark (1918-), Robinson 311 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens de insularidade na literatura: VI – David Lodge (1935-), Paradise News 323 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . As Fortunas das Letras e a Universidade do Futuro 337 . . . . . . . . . . . . . . . . . Nota de Apresentação Os escritos aqui reunidos, basicamente por ordem cronológica das obras estudadas, foram sendo publicados ao longo de trinta anos, entre 1972 e 2002, em que desempenhei funções docentes no Departamento de Estudos Anglísti - cos da Faculdade de Letras de Lisboa. Mantinham-se eles, entretanto, dispersos em vários livros e revistas; e constituem, segundo penso, uma amostra signi - ficativa do trabalho por mim realizado no âmbito da Literatura e da Cultura Inglesas, quer de licenciatura quer de mestrado, e em função das necessidades de investigação inerentes à carreira académica, designadamente durante a minha participação numa Linha de Acção do Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa. Não é difícil reconhecer, no conjunto destes escritos, três campos predo - minantes ou preferenciais – nomeadamente a sátira, o surto setecentista do romance moderno e o desenvolvimento de componentes utópicas e distópicas. Referidos, sobretudo, ao contexto histórico-cultural dos séculos XVII e XVIII, esses campos revelam nexos ou confluências assinaláveis que permitem perceber melhor, por exemplo, como o modo satírico foi instrumental na transição para um romance moderno realista, especialmente o praticado por Henry Fielding, em nítida contraposição, de inicial matriz cervantina, às longas narrativas palacianas anteriormente em voga na Europa. É precisamente a percepção de tais nexos e confluências que constitui, ao que creio, o principal factor de orien - tação e unidade da pesquisa, na maioria dos estudos agora coligidos. A eles se junta um conjunto de ensaios sobre imagens de uma insularidade ocasional - mente não alheia à tradição utópica, eventualmente com alguns antecedentes no romance setecentista Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, e presentes em narrativas de ficção britânicas do século XX, além de um ou dois artigos relacionados com os Estudos Anglísticos em contexto didáctico, embora não directamente centrados nas áreas preferenciais indicadas. Ao proceder à presente edição conjunta mas não exaustiva, resta-me exprimir um voto e um agradecimento. O voto é de que ela possa, assim global mente, tornar-se mais útil do que os artigos dispersos, contribuindo, não apenas na sua II ESTUDOS DE LITERATURA E CULTURA INGLESAS esfera pedagógica própria, para uma função alargada de conheci mento dos temas tratados, e de reconhecimento, entre nós, da literatura inglesa das épocas consideradas. O agradecimento vai para o Centro de Estudos Anglís ticos e é em particular dirigido aos Professores João de Almeida Flor, Maria Helena de Paiva Correia e Isabel Fernandes, seus directores recentes ou actuais, a quem se fica a dever a publicação do volume, e ainda ao Professor Júlio Carlos Viana Ferreira, que, com a habitual competência, a supervisou. Línguas e Literaturas: Uma proposta* Como escola de línguas que não deixa de ser, uma Faculdade de Letras depende geralmente mais do que queria e deveria de um ensino funcional e informativo, de extensão liceal. Os seus cursos de Línguas e Literaturas não se dirigem a estudantes ideais e idealmente preparados mas, na quase totalidade dos casos, a alunos de competência linguística menos que boa e, não raro, sem vocação específica muito definida. Apesar dos objectivos contidos no próprio título da licenciatura, a urgência em suprimir lacunas, consolidar bases e rever conhecimentos da língua tende a relegar para segundo plano ou a adiar sine die a pressuposta ligação língua-literatura. Na focagem aprofundada desta ligação reside, afinal, uma das cruciais diferenças entre o que se esperaria de uma escola univer sitária e outras escolas de línguas com fins profissionalizantes mais imediat amente utilitários. Ao afastarem-se dessa focagem aprofundada, as Faculdades de Letras arriscam-se a perder a sua própria razão de ser. Embora o ensino das línguas seja hoje tarefa altamente exigente de perícias e qualificações, nem sempre é como tal reconhecido. Em geral, a sociedade tem- se afeito a padrões culturais de matriz predominantemente tecnológica, mais propícios a objectivos comerciais, de sobrevivência e progresso material. O valor económico e o prestígio profissional das línguas foram quase sempre relativa - mente escassos, embora actualmente o próprio desenvolvimento das indústrias cibernéticas e as necessidades históricas de integração em comunidades interna- cionais de grande dimensão política e económica tendam a alterar a situação. Cada vez mais a justificação do investimento em projectos de cooperação científica ou cultural apontam a aprendizagem das línguas como necessidade vital. Hoje, todos se aperceberão disso. Paradoxalmente, algumas pessoas, incluindo alunos de Letras, vêem as línguas como disciplina secundária, embora nem toda a responsabilidade dessa visão lhes caiba exclusivamente. De facto, o * Publicado como Introdução, no volume Língua Inglesa: Problemas, Perspectivas, Propostas, Departamento de Estudos Anglo-Americanos, Faculdade de Letras de Lisboa, 1989, pp. 1-9. 8 ESTUDOS DE LITERATURA E CULTURA INGLESAS paradoxo, facilmente resvalando para o círculo vicioso, é explicável pela cir - cuns tância, acima referida, de o ensino das línguas na Universidade não ser, por vezes, verdadeiramente universitário e antes acorrer demasiadamente a carências elementares. A frustração de alguns estudantes (e não só os mais preparados ou mais dotados) facilmente os leva ao aborrecimento e à desva lo rização das cadeiras de línguas. A importância da ligação língua-literatura nessas cadei ras, por outro lado, deriva em parte de poder constituir uma resposta para obviar tal pro blema, cumprindo aliás o carácter e o objectivo que se perfilam no título binomi nal dos cursos. A aplicação de nexos linguísticos à interpretação de textos literários encontra, portanto, plena justificação. Ela pode e deve ser um contributo, entre outros, para valorizar o próprio ensino das línguas e preencher, na prática, legítimas expectativas em relação à sua decisiva relevância. A estratégia valorizadora do ensino das línguas através da exploração, nas aulas, da ligação língua-literatura, encontrará aptidões particulares na área da contemporaneidade. Uma Faculdade que disponha, como actualmente a de Lisboa, de um lote de leitores de apreciável formação e experiência, poderá ter algo a ganhar com o contributo que podem dar para a elucidação recíproca da língua que hoje se fala e da literatura que com ela se escreve. Eles estarão decerto interessados nessa exploração. Neste sentido, as suas disciplinas não competem com as de literatura (a sua ênfase maior continuará a ser a língua em todas as suas funções e não apenas as literárias), mas poderão ser delas complemento. Assim tomarão uma dimensão integradora que tornará mais reais e dará mais interesse às aulas. A este respeito, algo se tem vindo a fazer no âmbito da coordenação do ensino de Inglês. Aos respectivos leitores tem cabido parte decisiva na estratégia apontada, e alguns deles têm ultimamente dedicado especial atenção ao uso da literatura na sua leccionação, propondo reflexões e experiências sobre o assunto em reuniões, relatórios e estudos. O conceito de practical criticism ou de close reading foi oportunamente exposto e exemplificado, entre outros, por C. B. Cox e A. D. Dyson (Modern Poetry: Studies in Practical Criticism e The Practical Criticism of Poetry, Edward Arnold, Londres, 1962 e 1965 respectivamente). Assenta este conceito no prin - cípio da estilística segundo o qual o alvo da iluminação crítica é essencialmente o conjunto de nexos e padrões de linguagem através dos quais o texto literário se constitui objecto em si. Essa iluminação crítica não se satisfaz com uma mera associação livre e impressionista de processos e efeitos, antes procura objectivá- -los no movimento das estruturas de linguagem usadas, salientando-se a inter - de pendência do que se diz e do como se diz, do expresso e do intuído. Deste modo se afirma justamente a literariedade como dimensão essencial, não sendo

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