UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA ANA LUÍSA LISBOA NOBRE PEREIRA LUTANDO PELA TERRA E FAZENDO O MORADOR: Identidade e território em uma Vila Pesqueira São Cristóvão Agosto de 2017 ANA LUÍSA LISBOA NOBRE PEREIRA LUTANDO PELA TERRA E FAZENDO O MORADOR: Identidade e território em uma vila pesqueira Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia, linha de pesquisa em Cultura, Identidades e Patrimônio, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Antropologia, sob orientação do Prof. Dr. Hippolyte Brice Sogbossi e Coorientação do Prof. Dr. Frank Marcon. São Cristóvão Agosto de 2017 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Pereira, Ana Luísa Lisboa Nobre P436l Lutando pela terra e fazendo o morador : identidade e território em uma Vila Pesqueira / Ana Luísa Lisboa Nobre Pereira ; orientador Hippolyte Brice Sogbossi. – São Cristóvão, 2017. 177 f. : il. Dissertação (mestrado em Antropologia) – Universidade Federal de Sergipe, 2017. 1. Antropologia. 2. Etnologia. 3. Identidade social. 4. Territorialidade humana. 5. Comunidade – Aspectos políticos. I. Sogbossi, Hippolyte Brice, orient. II. Título. CDU 572.028(813.1) ANA LUÍSA LISBOA NOBRE PEREIRA LUTANDO PELA TERRA E FAZENDO O MORADOR: Identidade e território em uma vila pesqueira Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia, linha de pesquisa em Cultura, Identidades e Patrimônio, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Antropologia, sob orientação do Prof. Dr. Hippolyte Brice Sogbossi e Coorientação do Prof. Dr. Frank Marcon. _____________________________________________________________ Prof. Dr. Hippolyte Brice Sogbossi (UFS) Orientador _____________________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Firmo (UFBA) ______________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Neves (UFS) São Cristóvão Agosto de 2017 Para meus pais e irmãos, pela rede de olhar que manteve unido o mundo. Para Gustavo, pelo amor fati em todos os mares. Pela casa. Para Tiago José (in memoriam), pela ternura. AGRADECIMENTOS Aos moradores da Vila do Estevão de Canoa Quebrada, pela imensa generosidade em partilharem comigo por tantos anos seus modos de existir, pensar o mundo e reivindicá-lo. Pela pronta disponibilidade em colaborar com este trabalho. Pelos banhos de mar, moquecas e conversas nos alpendres. Aos meus pais, pelo sentimento fundador e pelo lugar no mundo. Aos meus irmãos, por serem a gota de sangue auto-entornada do poema de Ondjaki. A Gustavo, pela imensa serenidade, parceria e paciência nos momentos de imersão empreendidos durante os longos meses de escrita. Pela memória do cuidado que carrego desse tempo. Pelo riso nos dias em que ficamos sem luz quando esqueci de pagar as contas. Agradeço também a família Pereira de Souza Correia pela acolhida carinhosa e exemplo de força. Aos Lisboa Nobre, em nome dos meus avós Evandro e Lourdinha (in memoriam). Pelo afeto verdadeiro que alimenta minha ideia de origem. A Matheus Lisboa, pela ajuda na elaboração dos mapas. A Tânia e Valdirene, por todo cuidado e amparo. A toda comunidade do Ilê Asé Opô Osogunladê, em nome do babalorixá Ogum Torikpê. Pela conexão fundamentada no tempo estendido e co-substancialidade. Pelos bons ventos que fazem bater as asas e ajeitar o rumo. A todos os meus professores e professoras da graduação na UFC e da pós- graduação na UFS. Por todos os aprendizados e dedicação. Ao meu orientador Hippolyte Brice Sogbossi. Ao meu coorientador Frank Marcon, pela leitura preciosa e instigante, pela confiança depositada e pela rara sensibilidade no acompanhamento do delicado processo de escrita. Sou muito grata pelo aceite da coorientação e pela acolhida no Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas (GERTS). Aos professores Fernando Firmo, Paulo Neves e Ugo Maia, pelas ricas considerações nas bancas. A Regiane, pela disponibilidade, pronta ajuda e torcida durante todo o período em que cursei o mestrado. Ao Ceará, pelos quinze anos de amigos, amores, estudos e mares. Pela saudade. RESUMO O objetivo desta pesquisa é a análise do processo de emergência identitária e da construção do território de uma comunidade de pescadores localizada na costa leste do estado do Ceará, a Vila do Estevão. Nesse sentido, focalizo o campo de relações prático-discursivas sobre as diferenças no centro do qual agentes situados se apropriam simbolicamente de discursos e categorias normativas, criando um campo político autônomo que funciona como instância intermediária onde a coletividade politicamente organizada instrumentaliza seus revides. Após sucessivas intervenções estatais através de atos administrativos relativos ao território, a Associação local teve parte do território titulado definitivamente. Porém, a existência de cláusulas resolutivas e a forma como o órgão público conduziu a titulação fizeram com que os moradores interpretassem que o título teria vigência por dez anos, podendo ser renovado caso fossem cumpridas as condições contratuais. Durante uma década, a Associação buscou criar reputação com o órgão pela demonstração de comprometimento. Assim, normatizou a atribuição do direito à um lote de moradia como um processo administrativo interno e selecionou dentre os modos de constituir relação familiar e as modalidades de praticar o território aqueles que pudessem servir à formação de uma política de reconhecimento nativa. Uma “cláusula” passou a ser aplicada aos próprios moradores, que devem participar das mobilizações associativas por um ano, ao fim do qual espera-se que a burocracia possa ter contribuído para instituir novas modalidades de pertencimento e produzir territorialidades específicas voltadas à luta pela terra. Palavras-chave: Território; Identidade; Política. ABSTRACT This research aims to analyze the identity emergence process and the construction of the territory of a fishermen community located at the east coast of the State do Ceará, the Vila do Estevão. For that matter, I have focused in the field of practical-discursive relations on the differences in the center of which situated agents symbolically appropriate themselves of speeches and normative categories, creating an autonomous political field that works as an intermediate instance where the politically organized community organizes their responses. After successive interventions from the State through administrative acts related to the territory, the local residents association had a part of the territory permanently titled. However, the existence of a clause and the way that the public agency conducted the titling led the residents to understand that the title would be valid for ten years and might be renewed if the contractual conditions were fulfilled. For one decade, the local residents association sought to build a good reputation with the public agency through the demonstration of commitment. Thus, has regulated the attribution of the right to a land lot as an internal administrative process and selected among the ways of constituting familiar relationships and the manners of managing the territory those that could serve to the formation of a native recognizing policy. A clause has became applied to residents their own, who should participate in the local residents association’s mobilizations for one year, after which it is hoped that the bureaucracy could have contributed to institute new modes of belonging and produced specific territorialities oriented to the fight for land. Keywords: Territory; Identity; Policy. LISTA DE SIGLAS ABCQ - Associação de Buggeiros de Canoa Quebrada ACS – Agente Comunitário de Saúde ADCT - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias AMECQ - Associação de Moradores do Estevão de Canoa Quebrada APA-CQ - Área de Proteção Ambiental de Canoa Quebrada APPs- Áreas de Proteção Permanente ARIE- Estevão - Área de Relevante Interesse Ecológico do Estevão ASDECQ - Associação de Empreendedores de Canoa Quebrada BB - Banco do Brasil BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BNB - Banco do Nordeste do Brasil BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAGECE - Companhia de Água e Esgoto do Ceará CCCQ - Conselho Comunitário de Canoa Quebrada CCE - Centro Comunitário do Estevão CCU - Contrato de Concessão de Uso CEPEMA - Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente CEPESCA - Conselho Estadual de Pesca CERQUICE - Coordenação Estadual dos Quilombos Rurais do Ceará COEMA - Conselho Estadual do Meio Ambiente CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente COMAM - Conselho Municipal do Meio Ambiente CNPT - Centro Nacional de Populações Tradicionais CPP - Comissão da Pastoral dos Pescadores DEM - Partido Democrata EMBRATUR - Empresa Brasileira de Turismo FPC - Fundação Cultural Palmares FINOR - Fundo de Investimento do Nordeste FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
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