UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA HUMANA TESE DOUTORADO EM GEOGRAFIA HUMANA USO DO TERRITÓRIO E JUSTIÇA: A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO E OS LIMITES À GARANTIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE DEFESA. WILLIAN MAGALHÃES DE ALCÂNTARA Orientador: Prof. Dr. Ricardo Mendes Antas Júnior São Paulo 2015 WILLIAN MAGALHÃES DE ALCÂNTARA USO DO TERRITÓRIO E JUSTIÇA: A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO E OS LIMITES À GARANTIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE DEFESA. Tese apresentada ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo como requisito para a obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de Concentração: Geografia Humana Orientador: Prof. Dr. Ricardo Mendes Antas Júnior São Paulo 2015 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Alcântara, Willian Magalhães de A347u Uso do território e justiça: a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e os limites à garantia constitucional do direito de defesa. / Willian Magalhães de Alcântara ; orientador Ricardo Mendes Antas Júnior. - São Paulo, 2015. 552 f. Tese (Doutorado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de Geografia. Área de concentração: Geografia Humana. 1. Geografia Humana. 2. Direito. 3. Justiça social. 4. Desigualdades sociais. 5. Assistência judiciária. I. Antas Júnior, Ricardo Mendes, orient. II. Título. Nome: ALCÂNTARA, Willian Magalhães de. Título: USO DO TERRITÓRIO E JUSTIÇA: A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO E OS LIMITES À GARANTIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE DEFESA. Tese apresentada ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo como requisito para a obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de concentração: Geografia Humana. Aprovado em: Banca Examinadora Prof. Dr. Ricardo Mendes Antas Jr. Instituição: Universidade de São Paulo. Julgamento: Assinatura:__________________________________ Prof. Dr. Davi de Paiva Costa Instituição: Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Julgamento: Assinatura:__________________________________ Prof. Dr. Márcio Antonio Cataia Instituição: Universidade Estadual de Campinas. Julgamento: Assinatura:__________________________________ Prof. Dr. Fábio Betioli Contel Instituição: Universidade de São Paulo. Julgamento: Assinatura: _________________________________ Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa Instituição: Universidade de São Paulo. Julgamento: Assinatura:_________________________________ II A todos que sonham com um mundo melhor. III AGRADECIMENTOS Todo trabalho acadêmico é uma obra coletiva. Embora a redação do texto e a orientação ideológica sejam de responsabilidade do autor, ele nunca poderia realizar sua pesquisa sem a contribuição direta e indireta de inúmeras pessoas. A lista de colaboradores nunca é curta. Por essa razão, agradecer a todos os que tornaram uma tese possível torna-se uma tarefa ingrata. Não há originalidade no que farei: não sou o primeiro, tampouco serei o último, a pedir desculpas antecipadas pelos nomes involuntariamente não mencionados na seção de agradecimentos. Em primeiro lugar, devo agradecer à minha família, cujo apoio irrestrito e incondicional me permitiu trilhar meu caminho até aqui. À Geraldina, ao Fernando, ao Raul e à Fernanda, agradeço pelo ambiente fraterno no qual pude viver durante importantes anos de minha vida. À minha amada esposa, Lívia Maschio Fioravanti, agradeço pelo amor e pelo carinho constantes. Sem ela, não haveria a alegria necessária para seguir adiante. À Regina e ao Carlos, pais da Lívia, agradeço por carinhosamente terem me aceito como membro de sua família e, desde então, oferecido seu apoio em nossas diversas empreitadas. Academicamente, devo agradecer à professora Maria Adélia de Souza, que generosamente me acolheu como seu orientando e me deu suporte até onde lhe foi possível seguir ao meu lado. Guardarei com carinho seus ensinamentos. Agradeço também ao professor Ricardo Mendes por seu gesto generoso e fraterno de se dispor a me ajudar em duas oportunidades distintas. A primeira em que atuei como estagiário do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE) e pude aprender bastante com suas aulas. E a segunda em circunstâncias mais difíceis, quando aceitou a delicada tarefa de me orientar nos últimos meses da tese. Só tenho a agradecer-lhe. Agradeço à Universidade de São Paulo pela acolhida e pelos diversos aprendizados que me proporcionou. Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana (PPGGH), agradeço aos funcionários da secretaria, que sempre me receberam com atenção e cuidaram para que minhas demandas fossem atendidas. Às duas professoras que passaram pela coordenação do PPGGH durante minha estadia na USP, Rita de Cássia Ariza da Cruz e Marta Inez Medeiros Marques, agradeço pela atenção com que cuidaram dos meus problemas sempre que a elas recorri. Valiosíssimo foi o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A bolsa de estudos oferecida de julho de 2013 a agosto de 2015 foi de grande valia para que me dedicasse exclusivamente à tese durante este período. IV À Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPESP) devo agradecer pela gentileza no fornecimento de dados necessários à pesquisa. Mais especificamente, agradeço ao Denis Carlos de Paula Arteaga, ao Abdiel Luciano Lobo de Oliveira e ao Gilson Fernando Laforga, que gentilmente cederam algumas das informações de que necessitava. Não posso me esquecer do defensor público Gustavo Augusto Soares dos Reis, que generosamente me convidou a participar de diversos eventos realizados pela Escola da Defensoria Pública, assim como forneceu fontes bibliográficas e importantes informações por meio de conversas informais. Agradeço muito ao Gustavo. A Ouvidoria da Defensoria Pública também ofereceu importante contribuição a esta pesquisa. Agradeço pelos dados fornecidos pela então Ouvidora-geral, Luciana Zaffalon Leme Cardoso, que foram de grande relevância para a argumentação desenvolvida na tese. Ao amigo Dhiego Medeiros, agradeço pela solidariedade nos momentos difíceis, pela ajuda acadêmica, pelo doce de leite e pelas risadas que demos juntos. Ao amigo Bruno Mastrocola, agradeço pelas reflexões geográficas e filosóficas, pelo apoio nas horas difíceis e também pelas risadas. Ao colega James Zomighani, devo agradecer pelas oportunidades profissionais e de aprendizado em cartografia e na pesquisa geográfica. Aprendi muito com ele. A Carmem Alves, agradeço por compartilhar reflexões sobre as dificuldades enfrentadas na elaboração de uma tese. À Jane Barbosa, ao Denis Carloto, ao Fábio Tozzi, à Jacqueline e à Carin Carrer, agradeço pela agradável companhia que representaram durante o período em que estivemos juntos. Agradeço ao Instituto Qualidade no Ensino (IQE) pela oportunidade de trabalho que me possibilitou aprender muitas coisas e, sem dúvidas, estes novos conhecimentos foram incorporados à tese. Agradeço também pelas novas amizades cativadas durante o tempo em que lá trabalhei. Ao professor Davi Tangerino, agradeço por ter me colocado em contato com os importantes trabalhos dos pesquisadores da Criminologia Crítica. Ao professor Cláudio Castilho, agradeço pela amizade e por ter me orientado nas primeiras pesquisas geográficas sobre os serviços da Justiça. Agradeço ao amigo Anselmo Bezerra pelo incentivo a iniciar uma carreira acadêmica. Por fim, agradeço a todos os pesquisadores, vivos ou mortos, cujos trabalhos e ideias muito me ensinaram, influenciaram e subsidiaram a redação desta tese. A lista com seus nomes está nas referências bibliográficas. Muito obrigado a todos! V RESUMO ALCÂNTARA, W. M. USO DO TERRITÓRIO E JUSTIÇA: A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO E OS LIMITES À GARANTIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE DEFESA. Tese (doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Este trabalho investiga os limites à garantia constitucional do direito de defesa no Brasil, partindo de uma análise do uso do território paulista pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPESP), criada em 2006. Uma vez que as defensorias públicas oferecem assistência jurídica gratuita quase que exclusivamente aos pobres, o estudo de seus objetos e ações muito contribui para a compreensão destes limites. Assim, a pesquisa tem como objetivo testar a hipótese de que o uso do território paulista pela DPESP é expressão de como o sistema de justiça brasileiro não tem como prioridade a garantia constitucional do direito de defesa. Partindo de uma discussão teórica sobre a relação entre o território e o setor terciário, além da análise de uma série de mapas, o trabalho mostra como a localização das 41 unidades de atendimento da DPESP constitui um primeiro obstáculo ao acesso: na maior parte dos municípios atendidos, as unidades localizam-se nas áreas centrais enquanto os pobres habitam as periferias urbanas. Os deslocamentos representam um custo maior justamente para aqueles que mais necessitam dos serviços. A investigação em cada um dos municípios revela também a insuficiência no número de defensores. Ultrapassando a questão das localizações, a pesquisa analisa ainda os problemas estruturais, evidenciando que o sistema capitalista produz pobreza e concentração de renda, o Estado atende prioritariamente aos interesses empresariais e a justiça concentra seus esforços na garantia da ordem necessária aos negócios. Neste sentido, além de uma abordagem teórica a respeito do capitalismo, do Estado e da justiça, o trabalho recorre a dados empíricos do estado de São Paulo para evidenciar a produção estrutural de pobreza e a seletividade das ações estatais. Para teste da hipótese, são analisados igualmente os aspectos históricos da estruturação do direito na sociedade capitalista, destacando sua importância específica para a garantia dos interesses comerciais. Além disso, fundamentando- se em pesquisa bibliográfica, a investigação sobre as origens dos serviços de assistência jurídica gratuita e da criação das defensorias públicas revela como estes são o resultado de difíceis embates políticos e que sua existência não é uma consequência natural do sistema legal pensado pelos ideólogos iluministas. A principal conclusão deste trabalho é que as dificuldades hoje enfrentadas pelas defensorias são, em grande medida, a expressão de uma estrutura social produtora de desigualdades e seletiva na aplicação da justiça. Neste sentido, a solução do problema do acesso à justiça aos mais pobres não se esgota na expansão dos serviços das defensorias. Este é apenas o começo, a partir do qual as desigualdades podem se tornar mais evidentes e as pessoas mais conscientes e exigentes de transformações sociais profundas. Palavras-chaves: Defensoria Pública, estado de São Paulo, uso do território, acesso à justiça, Direito, desigualdades espaciais. VI ABSTRACT ALCÂNTARA, W. M. USE OF TERRITORY AND JUSTICE: THE PUBLIC DEFENDER'S OFFICE IN THE STATE OF SÃO PAULO AND THE LIMITS TO THE CONSTITUTIONAL GUARANTEE OF THE RIGHT OF DEFENCE. Thesis (PhD). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. This paper investigates the limits to the constitutional guarantee of the right of defence in Brazil, starting from an analysis of the use of territory by the Public Defender's Office from São Paulo (DPESP), established in 2006, in the state of São Paulo. Once the public defenders provide free legal assistance almost exclusively to the poor, the study of their objects and actions could contribute to the understanding of these limits. The research will test the hypothesis that the use of territory in the state of São Paulo by DPESP expresses that the constitutional guarantee of the right of defence is not a priority of the Brazilian justice system. Based on a theoretical discussion on the relationship between the territory and the tertiary sector, as well as analysis of maps, the paper will demonstrate that the location of 41 units of DPESP is an initial barrier to access to their services: in most municipalities, the units are located in central areas while the poor inhabit the urban peripheries. To overcome such distance represents a higher cost precisely to those groups who most need of public services. An exam in each municipality reveals that the quantity of defenders is not enough to meet demand. The research will also analyse structural problems, suggesting that the capitalist system produces poverty and income concentration, the State caters primarily to business interests and justice focuses its efforts on ensuring the order necessary to business. Beyond a theoretical approach about capitalism, the State and justice, the paper draws on empirical data of the state of São Paulo to highlight the structural production of poverty and selectivity of state actions. To test the hypothesis, also are analysed the historical aspects of structuring the law in capitalist society, highlighting its importance to the guarantee of commercial interests. Also, based on literature, the research reveals that the free legal assistance services and the creation of public defender are the result of difficult political clashes and their existence is not a natural consequence of legal system thought by Enlightenment ideologues. The main conclusion of this study is that the difficulties faced by defenders are, to a large extent, the expression of a social structure producing inequalities and selective in the application of justice. The solution to the problem of access to justice for the poor does not end in the expansion of the services of defenders. This should be just the beginning, from which inequality may become more evident and people more aware and demanding of deeper social changes. Key words: Public defender’s office, state of São Paulo, use of territory, access to justice, law, spatial inequalities. VII RESUMÉ ALCÂNTARA, W. M. L’UTILISATION DU TERRITOIRE ET LA JUSTICE: LES DEFENSEURS DE DROITS DE L’ÉTAT DE SÃO PAULO ET LES LIMITES A LA GARANTIE CONSTITUTIONNELLE DU DROIT DE DEFENSE. Thèse (doctorat). Faculté de Philosophie, Lettres et Sciences Humaines, Université de São Paulo, São Paulo, 2015. Ce travail examine les limites aux garanties constitutionnelles du droit de défense au Brésil, en partant d’une analyse de l’utilisation du territoire paulista par les défenseurs publics de droits de l’État de São Paulo (DPESP), créée en 2006. Une fois que les défenseurs de droit public offrent l’assistance juridique gratuite presque exclusivement aux pauvres, l’étude de ses objets et ses actions contribue beaucoup pour la compréhension de ces limites. De cette manière, la recherche vise à tester l’hypothèse de l’utilisation du territoire paulista, par la DPESP, exprimant comment le système brésilien de la justice n’a pas comme priorité la garantie constitutionnelle du droit de défense. À partir d’une discussion théorique par rapport la relation entre le territoire et le secteur tertiaire, ainsi que l’analyse de plusieurs cartes, le travail présente comment la localisation des 41 unités de service de la DPESP constitue une première barrière pour son accès : dans la majorité des municipalités assistée, les unités sont situées dans les régions centrales tandis que la population pauvre habite les périphéries urbaines. Les déplacements représentent un coût élevé principalement à ceux qui ont besoin des services. La recherche faite dans chacune des municipalités révèle aussi l’insuffisance du nombre de défenseurs. Au-delà de la question des localisations, l'étude analyse aussi les problèmes structurels, mettant en relief le système capitaliste qui engendre la pauvreté et la concentration de revenus, l'état sert principalement aux intérêts des entreprises et la justice concentre ses efforts dans la garantie de l’ordre nécessaire dans les affaires. Dans ce fait, au- delà d’une approche théorique par rapport au capitalisme, à l'État et à la justice, le travail repose aussi sur les données empiriques de l’état de São Paulo pour remarquer la production structurelle de la pauvreté et la sélectivité des actions de l'État. Pour analyser l'hypothèse proposée, ils sont également examinés les aspects historiques de la structuration du droit dans la société capitaliste, en soulignant son importance particulière à la garantie des intérêts commerciaux. En outre, en se basant sur la recherche bibliographique, l’investigation sur les origines de services d'aide juridique gratuite et de la création des défenseurs de droit publics révèle comment ceux-ci sont le résultat d'affrontements politiques difficiles et elle révèle que son existence n’est pas une conséquence naturelle du système légal pensé par les idéologues des Lumières. La principale conclusion de cette recherche est les problèmes actuels auxquels sont confrontés par les défenseurs en étant, en grande partie, l'expression d'une structure sociale productrice d’inégalités et sélective dans l'application de la justice. En somme, la solution au problème de l'accès à la justice pour les plus pauvres ne se limite pas à l’expansion des services des défenseurs. Ceci est seulement le début, à partir duquel les inégalités peuvent devenir plus évidentes et les citoyens plus conscients et exigeants par des transformations sociales profondes. Mots-clés: les défenseurs de droit publics, l’état de São Paulo, l’utilisation du territoire, l’accès à la justice, le droit, les inégalités spatiales. VIII
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