UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO MUSEUS DE CIÊNCIA E ESCOLAS UM DIÁLOGO POSSÍVEL? Cláudia Barreiros Macedo de Faria Doutoramento em Educação Especialidade em Didática das Ciências LISBOA 2013 UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO MUSEUS DE CIÊNCIA E ESCOLAS UM DIÁLOGO POSSÍVEL? Cláudia Barreiros Macedo de Faria Tese orientada pelas Professora Doutora Isabel Chagas Professora Doutora Cecília Galvão Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de Doutor Doutoramento em Educação Especialidade em Didática das Ciências LISBOA 2013 This notion that “science” is something that belongs in a separate compartment of its own, apart from everyday life, is one that I should like to challenge. We live in a scientific age; yet we assume that knowledge is the prerogative of only a small number of human beings . . . . This is not true. The materials of science are the materials of life itself. Science is the reality of living, it is the what, the how, and the why in everything in our experience1. Rachel Carson, no discurso de aceitação do National Book Award, 1952, pela obra “The Sea Around Us” 1 Esta visão da “ciência” como algo que existe num compartimento próprio, isolado da vida do dia-a-dia, é algo que gostaria de desafiar. Nós vivemos numa era científica; no entanto, assumimos que o conhecimento é uma prerrogativa de apenas alguns seres humanos…o que não é verdade. Os materiais da ciência são os materiais da própria vida. A ciência é a realidade da vida, é o quê, o como, e o porquê de tudo na nossa vivência (tradução da responsabilidade da autora da presente tese). AGRADECIMENTOS Este trabalho simboliza um novo percurso de aprendizagens que se iniciou em 2008. No decorrer destes últimos anos alterei profundamente o meu rumo profissional, entrando numa área até então um pouco desconhecida para mim, a investigação em educação, mais propriamente em educação em ciência. No decorrer desta minha incursão nesta área de pesquisa fui-me apercebendo dos paralelismos que existem com a investigação em Biologia e provavelmente com qualquer outra área de investigação. Investigar é ter uma vontade insaciável de conhecer e compreender o mundo, seja este povoado de animais ou plantas, seja povoado de pessoas (na qualidade de alunos, de professores, de…). Esta viagem tem sido realizada com a ajuda de algumas pessoas que me acolheram nesta nova área profissional com uma enorme paciência, uma total disponibilidade e acima de tudo com uma completa ausência de preconceitos, apesar da minha origem “inteiramente bióloga”. Diferentes pessoas, diferentes visões, diferentes razões… Isabel Chagas, com uma visão sempre diferente de todas as outras… como quem não quer a coisa faz-me questionar muitas das minhas certezas e faz-me sempre ver novas formas e novas cores… Cecília Galvão, com um enorme otimismo e uma crença (quase) indestrutível nas pessoas e na educação em ciência… as nossas intermináveis conversas dão-me vontade de saber sempre mais…e não desistir nunca… Mónica Baptista, a nossa “pitinha de serviço”… com uma enorme disponibilidade “para o que der e vier” e, tão ou mais importante, com um sorriso sempre na mão…sem ela, os dias no Instituto não seriam a mesma coisa… E finalmente, Sofia Freire, com uma profunda vontade de conhecer, de perceber, de compreender…nunca encontrei alguém que tivesse uma forma de pensar tão diferente da minha… o que torna as nossas intermináveis e duras discussões uma incrível fonte de novas possibilidades. Tenho a certeza que sem a sua presença (no nosso “túnel dos investigadores”) esta viagem não teria qualquer graça! É a estas pessoas que este trabalho é dedicado. __________________________________________________________________________________ RESUMO Este estudo teve como finalidade contribuir para uma maior compreensão da relação possível entre os museus de ciência e as escolas, nomeadamente pela reflexão acerca do papel a desempenhar pelos diferentes atores envolvidos nesta complexa relação educativa, no sentido de potenciar um esforço conjunto pela educação em ciência. Com esse objetivo foram efetuados quatro estudos empíricos: nos dois primeiros obteve-se uma visão geral da forma como as visitas escolares decorrem; no terceiro foram avaliados os impactes dum curso de formação, oferecido por um Centro de Ciência, na organização de visitas escolares; no quarto estudo, foi implementada e testada uma atividade que promoveu a complementaridade entre a escola e o museu, pela exploração da história da ciência. Estes estudos assentaram na observação como método principal de recolha de dados, sendo utilizados de forma complementar a entrevista, o questionário e a análise de documentos. Destes estudos ressaltaram três aspetos: i) os museus de ciência apresentam recursos únicos que, pela sua ligação ao mundo real, possibilitam a mobilização de saber cultural, científico e tecnológico para a compreensão da realidade e da ciência; ii) existe um desfasamento entre o que é sugerido na literatura e o que foi observado nas visitas escolares, nomeadamente pela ausência de controlo por parte dos alunos da sua agenda de aprendizagem, e pela postura passiva assumida pelo professor; iii) a participação numa formação na qual foi discutida de forma crítica a exploração das exposições, ajudou os professores a capitalizar sobre as oportunidades oferecidas por estas instituições. Neste trabalho é proposta uma visão da colaboração escola/museu como um projeto educacional, no qual o professor, como profissional da educação, deverá assumir um papel preponderante como mediador das aprendizagens, e o educador do museu, como especialista das exposições, assume um papel de facilitador da sua exploração, com o objetivo de se criarem situações de aprendizagem capazes de promover uma experiência facilitadora da construção de um significado pessoal acerca da ciência. Palavras-chave: Relação Museu-Escola; Museus de Ciência; Centros de Ciência, Educação em Ciência. __________________________________________________________________________________ ABSTRACT This study aimed at further understanding the relationship between schools and museums, enhancing the reflection concerning the role that each educational actor should play within this complex educational relationship and contributing for the improvement of science education. With this aim in mind, four empirical studies were developed. The first two contributed for enlarging our knowledge concerning school visits’ to the museums. The third one aimed at knowing the impact that a workshop boosted by a Science Center had on teachers’ organization of school visits to museums. Finally, the fourth study consisted on the development, implementation and evaluation of an activity aimed at exploring the history of science and at establishing a bridge between the school and the museum. All the studies mainly used observational methods for collecting data, which were complemented with interviews and questionnaires and document analysis. Three main results were: 1) science museums do present unique resources connected to the real world. This resources facilitate the mobilization of cultural, scientific and technological knowledge which contributes for a deeper understanding about the real world and science; ii) school visits are not aligned with theoretical suggestions. Indeed, students lacked a learning agenda when experiencing the visit and teachers adopted a passive role in organizing and managing the visit; iii) teachers’ participation in workshops where they have the opportunity for critically discuss and explore museum exhibitions is an important means for helping them organizing and managing visits that enlarges its learning potentials. From these results, we propose that the collaboration between school and museums should be seen as an educational project. According to this view, teacher, as an educational actor, has to assume a key mediating role between the school and the museums; the museum educator, as an exhibition expert, has to adopt a facilitating role aimed at enacting learning situations and at facilitating learning experiences which will impact on students’ personal understanding of science. Key-words: Museum and School Interactions; Science Museums; Science Centres; Science Education.
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