UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA REVISTA ACADÉMICA LUCERE OUTUBRO DE 2012 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE Índice APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................. 5 IDENTIDADE E PERFIL DO INSTITUTO SUPERIOR CATÓLICO DE BENGUELA ............................... 12 3. Universidade Católica: natureza e missão .......................................................................... 13 A) Natureza.............................................................................................................................. 13 Renewable Energy in Angola: A New Paradigm .......................................................................... 17 Economic and Sectoral Context .................................................................................................. 17 Meeting the Challenge of an Energy Crisis.................................................................................. 18 Taking Advantage of Solar Resources ......................................................................................... 22 Attracting Private Sector Participation ....................................................................................... 23 Conclusion ................................................................................................................................... 24 References ................................................................................................................................... 26 Critical gaps in maternal and newbornhealth services in the provinces of Luanda and Uíge in Angola ......................................................................................................................................... 27 A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ........................................................................... 44 Algumas questões para repensar o futuro de Angola................................................................. 60 Analysis of Interest Rates and Inflation in South Africa .............................................................. 66 Output Estimation ....................................................................................................................... 67 Interest Rate Model ............................................................................................................... 67 The model of interest rate with 2 lags ................................................................................ 69 Regression of residuals of the model number (2) ................................................................ 70 Inflation Model ........................................................................................................................ 72 The model of inflation l with 2 lags ..................................................................................... 74 Regression of residuals of the model number (6) ................................................................ 74 Cointegration Model ............................................................................................................. 76 2 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE Regression of residuals of cointegrated model ................................................................... 78 Conclusion ................................................................................................................................... 79 References and Data ................................................................................................................... 80 OS GRANDES DESAFIOS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO DE ANGOLA ATÉ 2017 ...................... 81 Les limites du capitalisme ......................................................................................................... 102 Penser la crise du néolibéralisme et les failles de la pensée économique avec Karl Polanyi - . 102 Autarquias em Angola: Qual o problema do “gradualismo”? ................................................... 114 Introdução: Teorizando o gradualismo no contexto da descentralização ............................ 114 Devolução, desconcentração, gradualismo e a bifurcação do Estado .................................. 118 As autarquias e o gradualismo na Constituição de 2010 ...................................................... 121 Autoridades tradicionais e o gradualismo ............................................................................ 123 Moçambique e a bifurcação do Estado ................................................................................. 125 Gradualismo alternativo: Um modelo para Angola? ............................................................ 130 Eficiência e limites da autoformação profissional e autoemprego No bairro da Sanzala em Viana .......................................................................................................................................... 148 Julien David Zanzala (PhD) ........................................................................................................ 148 Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / UniPiaget ............................................................. 148 Resumo ..................................................................................................................................... 148 1. Introdução......................................................................................................................... 148 O Balcão Único do Empreendedor e o Microempreendedorismo em Angola ......................... 155 Breve historial do ISPOCAB ....................................................................................................... 166 RECENSÃO CRÍTICA .................................................................................................................... 171 KICOLA: ESTUDOS SOBRE A LITERATURA ANGOLANA DO SÉCULO XIX .................................... 171 3 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE ARTIGOS IDENTIDADE E PERFIL DO INSTITUTO SUPERIOR CATÓLICO DE BENGUELA – Eugénio Dal Corso, Bispo de Benguela RENEWABLE ENERGY IN ANGOLA: A NEW PARADIGM – Carlos Leite, Managing Director of Solarize Energy CRITICAL GAPS IN MATERNAL AND NEWBORNHEALTH SERVICES IN THE PROVINCES OF LUANDA AND UÍGE IN ANGOLA – Ingrid Hoem Sjursen, Chr. Michelsen Institute A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS – Alves da Rocha, UCAN/CEIC ALGUMAS QUESTÕES PARA REPENSAR O FUTURO DE ANGOLA – Adelino Torres, Jubilado do ISEG ANALYSIS OF INTEREST RATES AND INFLATION IN SOUTH AFRICA – Albertina Delgado, UCAN OS GRANDES DESAFIOS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO DE ANGOLA ATÉ 2017 – Alves da Rocha, CEIC/UCAN LES LIMITES DU CAPITALISME – PENSER LA CRISE DU NEOLIBERALISME ET LES FAILLES DE LA PENSÉE ECONOMIQUE AVEC KARL POLANYI, - Jérôme Maucourant, Université de Lyon AUTARQUIAS EM ANGOLA: QUAL O PROBLEMA DO GRADUALISMO? – Aslak Orre, Chr. Michelsen Institute CEIC – 10 ANOS DE REALIZAÇÕES, - Regina Santos, CEIC/UCAN EFICIÊNCIA E LIMITES DA AUTOFORMAÇÃO PROFISSIONAL E AUTOEMPREGO NO BAIRRO DA SANZALA EM VIANA – Julien David Zanzala, Universidade Piaget O BALCÃO ÚNICO DO EMPREENDEDOR E O MICROEMPREENDEDORISMO EM ANGOLA – Francisco Miguel Paulo e Precioso Domingos, CEIC/UCAN DOCUMENTOS BREVE HISTORIAL DO INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CATÓLICO DE BENGUELA – Pe. Amadeu Ngula RECENSÃO CRÍTICA KICOLA: ESTUDOS SOBRE A LITERATURA ANGOLANA DO SÉCULO XIX DE FRANCISCO SOARES – Nelson Pestana, CEIC/UCAN 4 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE APRESENTAÇÃO Os temas tratados neste número da Revista Académica LUCERE, da Universidade Católica de Angola, são variados, embora apresentem como denominador comum a preocupação pela existência de sociedades justas, equilibradas, livres, participativas e democráticas. O ponto de vista político é essencial para o desenvolvimento. Sociedades abertas, democráticas, participativas, liberais e responsáveis são um ingrediente fundamental para a felicidade das pessoas. Cidadãos felizes são trabalhadores, empresários, professores, investigadores, governantes, escritores e artistas mais produtivos. Do ponto de vista político, a situação parece ser crítica em Angola. Como se sabe, as opiniões internas são muitas e divergentes sobre este item e, por isso, para ilustrar um ponto de vista independente utilizou-se o Democracy Index de 2010 e 2011 construído pelo The Economist, a mais prestigiada revista de economia do mundo1. O seu estudo sobre as condições de exercício da democracia no mundo já vai na quarta edição e para os seus autores a situação política no mundo em 2011 apresentou alguns retrocessos. São investigados 167 países, agrupados em “democracias completas”, “democracias incompletas”, “regimes híbridos” e “regimes autoritários”. Cabo Verde, em 2011, conseguiu ser a primeira das democracias incompletas, à frente de alguns países europeus. Ainda dentro desta categoria aparecem, no contexto da SADC, países como a África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia, Zâmbia e Malawi. As Maurícias foram consideradas como um país de democracia plena. Angola está classificada em 133º lugar, dentro do grupo dos regimes autoritários. E a situação piorou de 2010 (131º lugar), para 2011. Mas também as condições e os modelos económicos. Igualmente as doutrinas económicas e sociais são relevantes para a construção de sociedades justas. Adelino Torres (ISEG, UTL) e Jérome Muancourant (Universidade de Lyon) apresentam-se como críticos de sistemas em que o excesso de liberalismo económico conduz necessariamente a desigualdades sociais inaceitáveis num mundo onde os progressos científicos e tecnológicos são constantes, sistemáticos e virados para a melhoria das condições de vida das populações. Também nesta perspectiva se coloca a Doutrina Social da Igreja enquanto conjunto de textos definidores duma linha de comportamento cristão baseado em três 1 Democracy Index 2011 – Democracy Under Stress, A Report From The Economist Intelligence Unit, 2011. 5 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE princípios essenciais: solidariedade, caridade e subsidiariedade. Tendo como centro a pessoa de Jesus Cristo, a Doutrina Social da Igreja está expressa nos Evangelhos e nas diferentes Encíclicas Papais que foram sendo escritas ao longo dos tempos. A colecção de vários textos do magistério da Igreja, para alguns representa a Doutrina Social da Igreja, ou seja, a manifestação actual de um esforço milenar de anunciar e viver o Evangelho. A abordagem do cristão aos problemas da economia pode ser resumida num pensamento muito simples: a economia dirige-se para o homem e o homem dirige-se para Deus. Desta ideia simples pode extrair-se que a função utilidade dos cristãos é a de se orientar para todos os homens e o homem todo. São 12 artigos inseridos neste número da LUCERE: 3 em inglês, um em francês e 8 em português. Claramente está-se numa via de internacionalização da Revista Académica da UCAN. D. Eugénio Dal Corso, Bispo de Benguela, colabora neste número da Revista Académica da Universidade Católica de Angola com o texto da sua conferência em Benguela por ocasião da comemoração do reconhecimento oficial da criação do Instituto Superior Politécnico Católico de Benguela, cuja qualidade suscitou um pedido de cedência do mesmo para publicação na LUCERE. Uma intervenção de enorme relevância, em diferentes vertentes: o pequeno historial das Universidades no mundo e a contribuição da Igreja Católica para o seu aparecimento enquanto centros de saber universal, o papel das Universidades Católicas na sua função de agregar e transmitir conhecimento e de educação ética e moral dos cidadãos, dentro de valores universalmente aceites como enquadradores do comportamento cívico das pessoas, as dificuldades que rodeiam o exercício e a prática do ensino superior no nosso país e outros igualmente aliciantes. O radical comum a todas as Universidades Católicas existentes em todo o mundo foi a Universidade Católica de Bolonha criada em 1088 e à qual se seguiram a de Pádua (1204), de Paris (1215), de Salamanca (1218), de Nápoles (1224), de Oxford (1284) e de Coimbra (1290). O século XIII pode, portanto, ser considerado o das Universidades Católicas na Europa, às quais se foram seguindo outras de natureza não religiosa. Mas a intervenção de D. Eugénio Dal Corso abarca, igualmente, a posição, o papel e a função social das Universidades Católicas. A Grande Federação Internacional das Universidades Católicas, congregando 192 instituições de ensino superior espalhadas por 52 países é uma estrutura que, porventura, mais nenhumas outras Universidades dispõem e que confere às Católicas uma verdadeira vantagem comparativa. É clara a abordagem que D. Eugénio apresenta sobre a natureza e a missão de serviço das Universidades Católicas. É particularmente feliz o pensamento do Bispo de Benguela sobre o trabalho de investigação das Universidades Católicas: diálogo entre a fé e a razão, integração do conhecimento, preocupação ética 6 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE e a perspectiva teológica. Ficaram para trás os tempos em que a religião era a única fonte de conhecimento, reconhecendo-se, agora, a valia da ciência, da razão e da sua interligação com a fé. Carlos Leite – um dos fundadores do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola – dá-nos uma sinopse, logo no início do seu interessante artigo, sobre as expectativas pós-guerra civil em Angola, referindo as penosas desigualdades na distribuição do rendimento facilitadas e potenciadas pelo actual modelo de exercício da política e pela natureza das políticas económicas, amplamente favoráveis à acumulação de riqueza e à concentração do rendimento. De resto, uma evidência no quotidiano dos angolanos, mas que teima em se manter e ampliar, fazendo de Angola um dos países mais desiguais e injustos do mundo. Mas o foco de Carlos Leite é o das infra-estruturas que continuam em falta no país, com ênfase para o domínio da electricidade. Não se pode industrializar e diversificar a economia – um casamento agricultura/indústria/serviços – com geradores, nem se pode difundir o progresso junto das comunidades rurais sem acesso à electricidade. A análise de Carlos Leite sobre a problemática energética – renovável e não renovável – é serena, mas acutilante, valendo a pena interpretar as suas observações e consequentes propostas. Identifica as mais salientes deficiências do sistema de electricidade de Angola, o que lhe permite, na base desta reflexão inteligente, apresentar uma visão sobre a mais adequada estratégia, que combine renovável e não renovável. Esta rota poderá permitir um crescimento económico de baixo custo energético e de maior difusão da electricidade junto das famílias e das comunidades. São relevantes as sugestões que Carlos Leite apresenta sobre uma estratégia para o sector energético de Angola, ligando-as aos mais recentes desenvolvimentos no mundo sobre esta matéria. Leite sublinha que nas economias mais desenvolvidas as estratégias e as políticas energéticas procuram combinar, por uma questão de redução de custos e maximização de proveitos e utilidades, as fontes renováveis com as fontes não-renováveis, dando como exemplos a Alemanha, o Canadá e os Estados Unidos. Mas informa-nos também das experiências da China e de outros países asiáticos. Para os interessados e estudiosos das matérias energéticas, este artigo é de leitura recomendada. O artigo de Ingrid Hoem Sjursen, investigadora do CMI (Christian Michelsen Institute de Bergen) é baseado nos resultados de um vasto inquérito realizado em Luanda e no Uíge sobre o fornecimento de serviços de saúde à população. Além de se explicar que são de fraca qualidade – e também em reduzida quantidade, ficando uma margem considerável da população sem acesso aos mesmos – em qualquer das províncias, a autora retira ilações importantes sobre as desigualdades existentes entre 7 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE as mesmas. O défice no fornecimento de serviços de saúde tem implicações sobre o estado de saúde das pessoas, agravando-se a sua pobreza e minando-se a sua produtividade. As populações de Luanda estão muito mais bem servidas do que as do Uíge, sendo mais uma das assimetrias na distribuição do rendimento tão características de Angola. Ingrid, neste bem arquitectado artigo, mostra todos os aspectos relacionados com a saúde das populações destas duas regiões do país, apresentando razões para a baixa qualidade dos serviços prestados e para as desigualdades detectadas. Alves da Rocha trata da responsabilidade social das empresas, enquanto tema da actualidade e das novas estratégias de inserção social das unidades económicas. Mas sempre na perspectiva da maximização dos seus lucros e não inteiramente na da inserção das comunidades na partilha dos seus resultados financeiros. Ainda vão ser necessários muitos anos para que as propostas para um novo paradigma do capitalismo de Sua Santidade Bento XVI se concretizar. São algumas, embora tímidas, as tentativas relativamente bem-sucedidas de responsabilidade social das empresas em Angola. Adelino Torres é um pensador de reconhecidos méritos e com contribuições determinantes para o pensamento económico e social em África. É francamente um afro-optimista e um defensor do papel activo do Estado na economia, regulando e regulamentando mercados, criando externalidades, promovendo a justiça social e encarregando-se das infra-estruturas económicas e sociais. Nunca perde oportunidade de defender o continente africano e de mostrar as suas enormes potencialidades. Adelino Torres – e a sua vasta obra – é um autor de leitura obrigatória. Neste artigo, apesar de se basear numa comunicação apresentada num Colóquio da Casa de Angola em Lisboa em 1999, Adelino Torres reflecte sobre muitas questões de actualidade inquestionável, porque ainda não resolvidas: democracia, liberdade, boa governação, transparência, corrupção, melhoria das condições de vida, distribuição do rendimento, modelos de industrialização e de diversificação da produção e assimetrias várias. O artigo da Albertina Delgado é eminentemente econométrico e mostra o domínio que tem sobre estas técnicas matemáticas aplicadas à economia. A sua preferência foi para o estudo econométrico das taxas de inflação na África do Sul que pode perfeitamente ser aplicado ao fenómeno inflacionista em Angola. No segundo artigo que Alves da Rocha apresenta neste número da Revista Académica da UCAN questionam-se os desafios do crescimento económico em Angola 8 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE até 2017, baseados nas projecções do Fundo Monetário Internacional sobre o comportamento futuro da economia nacional. Saúda-se o artigo do Professor Jérôme Maucourant da Universidade de Lyon (Université Jean Monet) que pode indiciar o início de uma colaboração com a UCAN e o CEIC em domínios relacionados com estudos do desenvolvimento económico. O título é sugestivo, num contexto internacional em que as políticas liberais e néo- liberais aparentemente entraram em crise ao serem incompetentes para conciliar reformas estruturais e crescimento económico: “les limites du capitalisme – penser la crise du neoliberalisme et les failles de la pensée économique avec Karl Polanyi”. A base do seu artigo é o pensamento de Karl Polanyi um dos maiores historiadores económicos e da sua grande obra “La Grande Transformation”, onde se analisam os efeitos perversos do capitalismo liberal ao longo do tempo e se avança com a eventualidade de se engendrarem regimes fascistas se esta máquina não for contida em limites de racionalidade económica e viabilidade social. Jérôme Maucourant passeia-se com grande à vontade pelas principais crises da sociedade de mercado, suas causas e suas consequências e observa que uma das razões da actual crise económica europeia e norte americana é a deflação salarial: “une des raisons actuelles qui a contraint à l’inflation de la dette, via des inégalités croissantes, est le libré-échange: celui-ci, notammente aux Étas Unis, este porteur de déflation salariale, ce qui va à l’éncontre de l’ opinio communis des vingt derniéres années”. O Aslak Orre é um excelente investigador e co-coordena o programa conjunto CMI/CEIC de pesquisa económica, social e política. É um observador atento e judicioso da realidade angolana, mormente a de pendor político e tem apresentado muitas intervenções, escritas e em forma de palestras e conferências, em Angola, Moçambique, Portugal, Reino Unido, África do Sul, Namíbia, Estados Unidos e Noruega. O tema do artigo relaciona-se com a importante temática das autarquias em Angola e sobre o processo da sua criação, teorizando sobre se o gradualismo é a melhor forma para se criar a regionalização política em Angola. Mesmo o pensamento oficial e dos seus arautos converge no sentido de se constituírem as autarquias no país, para assim se contemplar, política e economicamente, uma realidade complexa, diferenciada e com valores culturais que reclamam ser defendidos e colocar-se mais próximos das comunidades. O ponto de reflexão de Aslak Orre está na dinâmica da criação das autarquias e na sua efectiva autonomia e independência face ao poder central. Aslak defende uma proximidade política genuína com as comunidades locais, por ser a melhor forma de se expressarem anseios, necessidades, expectativas e a participação nos processos decisórios. O artigo de Aslak Orre apresenta uma excelente fundamentação teórica sobre a descentralização – administrativa, política, financeira e 9 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA REVISTA ACADÉMICA LUCERE mesmo económica – e os benefícios da autonomia. Consegue, mesmo, abstrair-se das excelentes experiências dos países desenvolvidos (em especial a Noruega de onde é natural) e concentrar-se nas complexas realidades africanas, onde as tradições têm de ser bem equacionadas para melhor se articularem os níveis da decisão e da governação. Para Aslak Orre, Angola é o país mais centralizado de África, constatação não muito abonatória para o regime político angolano. Não apenas em matérias revertíveis às tomadas de decisão política com incidência sobre as comunidades locais, mas, igualmente, em termos de receitas fiscais do Estado. Por isso, propõe duas vias: a da autarquização – processo de criação e implementação de autarquias de modo imediato, ainda que, naturalmente, assente em estudos específicos – e a da desconcentração, que para Aslak significa “continuar a administrar os municípios através de representantes da Administração Central”. Este artigo é estimulante e vale a pena lê-lo com muita atenção. A Regina Santos subscreve um artigo relacionado com os 10 anos do CEIC e do Relatório Económico comemorados em Junho 2012. Trata-se de uma resenha bem sistematizada e que expressa bem o que se passou durante este período, em que as dificuldades de funcionamento do Centro foram mais do que evidentes e os apoios, sobretudo financeiros, tiveram sempre uma origem externa. A despeito de se tratar duma estrutura funcional e institucional da UCAN o seu funcionamento depende de ajudas estrangeiras. A Regina retrata bem este percurso sinuoso do CEIC e, da mesma forma, destaca a determinação dos seus trabalhadores em continuarem a fazer investigação em condições muito pouco propícias a isso. Seguramente que este apanhado da Regina Santos pode ser considerado como um documento indispensável para se começar a escrever a história do CEIC. O Professor Julien David Zanzala, da Universidade Jean Piaget, é, normalmente, um reincidente na LUCERE, porque os seus artigos são sempre bem esquematizados, escritos e apresentados. Desta vez apresenta-nos um muito interessante estudo de caso sobre a autoformação profissional e o auto-emprego numa comunidade de Viana. Baseado numa amostra de 200 pessoas que foram questionadas sobre a autoformação e as consequências sobre a criação de emprego, o autor retira uma série de conclusões sobre o funcionamento do mercado de trabalho informal. Evidentemente que se trata do sector informal, mas a sua relevância, enquanto “almofada” social e económica para as falhas da economia formal e do Governo (nas suas políticas de inclusão e de disseminação do crescimento) é enorme e por todos confirmada. As dificuldades de criação de emprego são reconhecidas a nível oficial – estima-se entre 25% e 30% a taxa de desemprego em Angola – e a formação profissional pode ser uma via para se ultrapassarem as barreiras à entrada no mercado de trabalho. Mas a formação é, 10
Description: