Uma Religião Chamada Brasil Oneide Bobsin Rogério Sávio Link Nivia Ivette Núñez de la Paz Iuri Andréas Reblin (Orgs.) Uma Religião Chamada Brasil Estudos sobre Religião e Contexto Brasileiro Oneide Bobsin Rogério Sávio Link Nivia Ivette Núñez de la Paz Iuri Andréas Reblin (Orgs.) OI OS EDITORA 2012 © Faculdades EST/PPG-NEPP Rua Amadeo Rossi, 467 93030-220 São Leopoldo/RS Tel.: (51) 2111.1400 Fax: (51) 2111.1411 [email protected] www.est.edu.br Tradução Resumos: Nivia Ivette Núñez de la Paz (Espanhol) Tatiana Antonia Selva Pereira (Inglês) Revisão: Rogério Sávio Link, Iuri Andréas Reblin, Carlos A. Dreher e Erny Mugge Capa: Marcelo Ricardo Zeni Arte-final: Jair de Oliveira Carlos Instituição promotora: Faculdades EST – Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo Financiadores: CAPES, Faculdades EST, NEPP O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos. Editora Oikos Ltda. Rua Paraná, 240 – B. Scharlau Caixa Postal 1081 93121-970 – São Leopoldo/RS Tel.: (51) 3568.2848 / Fax: (51) 3568.7965 www.oikoseditora.com.br [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R382b Uma religião chamada Brasil [recurso eletrônico] estudos so- bre religião e contexto brasileiro / Oneide Bobsin, ... [et al.], orgs. – [2. ed.] – São Leopoldo: Oikos; Faculdades EST, 2012. 258 p.; 22 cm. E-book, PDF. ISNB 978-85-7843-226-3. 1. Religiosidade. 2. Protestantismo – Brasil. 3. Luteranos – Brasil. 4. Brasil – Religião. 5. Brasil – Usos e costumes religiosos. I. Bobsin, Oneide. CDU 200.981 Ficha elaborada pela Biblioteca da EST Sumário Prefácio à segunda edição................................................................. 5 Apresentação..................................................................................... 7 1ª Parte: Análises de Fenômenos Religiosos na Interface com os Protestantismos............................................................................. 15 Subjetividade Contemporânea e a Pesquisa em Teologia Mary Rute Gomes Esperandio ................................................. 17 Estrutura Teológica do Imaginário Religioso Brasileiro Adilson Schultz ........................................................................ 29 Comunidade Canção Nova: Um Novo Jeito de Ser Igreja a partir do Entrecruzamento Evangelização-Comunicação Nivia Ivette Núñez de la Paz.................................................... 63 A Teologia do Cotidiano Iuri Andréas Reblin.................................................................. 84 2ª Parte: Questões Sociológicas e Históricas do Luteranismo Brasileiro ........................................................................................... 99 Colonização Recente da Amazônia: Sobre Migrações e Luteranos Rogério Sávio Link ................................................................... 101 Memória, Identidade e um Espaço de Conflito: A Comunidade de Nova Teutônia no Contexto de Disputa por Terra com uma Comunidade Indígena Lori Altmann............................................................................ 121 Protestantismo à Brasileira: Vale Três Forquilhas Oneide Bobsin.......................................................................... 138 Culto Cristão e Sociedade: Procura por uma Análise Teológico- Sociológica Felipe Gustavo Koch Buttelli .................................................... 155 Recepção da Sociologia do Protestantismo na Obra Raízes do Brasil Alessandro Bartz...................................................................... 172 Peregrinação no Mundo: A Romaria de Nossa Senhora de Salette e as outras Romarias Adriana Weege......................................................................... 188 3ª Parte: Interfaces Teóricas na Perspectiva entre Religião e Contemporaneidade.......................................................................... 205 O Público, o Privado e a Religião: Momentos de Continuidade e Descontinuidade do Processo de Secularização Kathlen Luana de Oliveira....................................................... 206 Problematizações a partir da Experiência Religiosa Masculina Ezequiel de Souza.................................................................... 221 O Uso de Imagens no Trabalho de Campo junto a Grupos Religiosos: Dilemas de Ética e Possibilidades de Metodologia de Pesquisa Adriane Luisa Rodolpho .......................................................... 231 Resumos dos Textos em Português................................................... 244 Resúmenes de los Textos en Español ............................................... 249 Abstracts of the Texts in English...................................................... 254 4 Prefácio à Segunda Edição Uma Religião Chamada Brasil Num contexto de forte diversidade de religiões e igrejas, conver- gentes, divergentes e interfecundantes, republicar uma coletânea com o título Uma Religião Chamada Brasil pode representar uma artimanha mercadológica e/ou uma expressão que revele um esforço teórico de contextualização de nossas manifestações religiosas e eclesiais. Assim como há uma diversidade de igrejas e religiões em nosso país, da mesma forma Brasil precisa ser conjugado no plural. Há muitos brasis no Brasil. Como temos a marca da diversidade, uma coletânea não pode ser unívoca. Em Uma Religião Chamada Brasil há uma variedade de te- mas e de enfoques teóricos, que se deslocam sinuosamente e, ao mes- mo tempo, se entrecruzam. Há textos teológicos, sociológicos, antropo- lógicos e históricos que acenam para a singularidade de um enfoque, mas há textos imbuídos de interdisciplinaridade. Ao colocarmos a primeira parte da coletânea sob o título de Aná- lises de Fenômenos Religiosos na Interface com os Protestantismos, não faríamos injustiças com a maioria dos textos compreendidos numa pers- pectiva sociológica e histórica do protestantismo. Como, porém, o Nú- cleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo – NEPP, acolheu o deba- te sobre outros temas de seus integrantes, a terceira parte compreende textos que se referenciam nas Interfaces Teóricas na Perspectiva entre Religião e Contemporaneidade. Assim como não há uma religião pura, também os textos que es- tamos reapresentando não se fecham em si, por serem frutos de deba- tes, talhados em projetos de pesquisas que se transformaram em teses e dissertações, antes de se tornarem artigos. Em outras palavras, passa- ram pelo Feuerbach – arroio de fogo – do debate e de bancas de mestra- do e doutorado. Por fim, de forma alguma estamos insinuando que há uma marca comum do que denominamos Brasil nas religiões; o que reafirmamos é a possibilidade de usar as lentes dos discursos e práticas das igrejas e religiões para entender nosso país com um Estado laico, às vezes acua- do por tendências religiosas, e, simultaneamente, religioso. Prof. Dr. Oneide Bobsin 5 6 Apresentação A proposta de constituição de Núcleos de Pesquisa por parte de órgãos públicos responsáveis pela Pós-Graduação em nosso país foi um alento a mais para que organizássemos o Núcleo de Estudos e Pesquisa do Protestantismo – NEPP – no PPG da Escola Superior de Teologia, hoje Faculdades EST. Na virada do milênio, estudantes da graduação e da pós-graduação, que se dedicavam ao estudo do Protestantismo, com as suas múltiplas, complexas, afins e contraditórias manifestações, se organizaram para dis- cutir seus projetos de monografias, dissertações e teses. Mais tarde, ou- tros/as estudantes vieram a se somar a essa reflexão, como pesquisadores da História das Igrejas Protestantes. Assim, a inter e a transdisciplinari- dade foram criando um espaço oportuno para a qualificação grupal dos projetos de estudantes. A reflexão teológica foi sendo enriquecida pelos estudos temáticos semestrais do NEPP, que promoveram a interface das Ciências da Religião com a Teologia Prática, História da Igreja e outras disciplinas como a Psicologia da Religião e a Antropologia. Com a produção de textos de seus participantes e as dificuldades de socialização destes exercícios em revistas ocorreu-nos a ideia de criar- mos uma revista online. Dessa forma, nasceu Protestantismo em Revista (www.est.edu.br/nepp) que publica os estudos do NEPP e os trabalhos dos/as participantes que preparam monografias para as suas dissertações e teses. Quadrimestralmente, publicamos um número contendo, basica- mente, a produção teórica de pessoas que estão em processo de formação como pesquisadoras. Também pesquisadores e pesquisadoras que se ocu- pam da mesma temática são convidados a publicar seus trabalhos acadê- micos em nossa revista. Evitamos, assim, uma produção teórica teológica “incestuosa”. Exemplos marcantes dessa dinâmica foram os Seminários de Estu- dos do NEPP. Em novembro de 2002, ocorreu o Ciclo de debates sobre o Movimento Mucker. Com a presença de pesquisadores do Movimento Mucker da Grande Porto Alegre e do escritor Luiz Antônio de Assis Bra- sil, autor de Videiras de Cristal. Realizamos um significativo Seminário, 7 que contemplou, entre outras atividades, uma visita ao Morro Ferrabraz e a apresentação de filmes sobre o assunto. Protestantismo em Revista fez um número especial sobre aquele Ciclo de debates. Mais tarde, com recursos das tecnologias da comunicação, realiza- mos um Seminário Internacional sobre o tema Religião numa Era de Glo- balização. Membros do NEPP, professores da Faculdades EST e pesquisa- dores da área de Teologia da Universidade de Oslo debateram, por meio de Vídeo-Conferências, temas relativos à Religião e Globalização. Tam- bém este Seminário rendeu um número para Protestantismo em Revista. Em grupo ou individualmente, os e as integrantes do NEPP têm apresentado trabalhos através da participação em Simpósios, Congressos ou outros eventos científicos nacionais e internacionais. As reuniões de estudos do NEPP servem como lugar de qualificação dos textos apresentados em tais eventos. Dessa forma, antes de vir a público, grande parte dos textos é submetida à reflexão grupal, criando nos pesquisadores/as a necessidade de superação da produção de textos como uma tarefa individual, ou muitas vezes, extremamente individualista. Também a falta de recursos para as revisões dos textos é superada por meio do compartilhar dos mesmos entre os seus integrantes. Nesse sentido, a pesquisa, a preparação para as bancas e a publicação criam um mutirão que faz o NEPP ser coeso. Na medida em que o NEPP foi se constituindo numa referência de estudo e pesquisa do Protestantismo na sua interface com outros fenômenos religiosos, novos estudantes do PPG em Teologia foram a ele se agregando como um espaço grupal de reflexão acadêmica. Os textos que estamos publi- cando sob o título Uma Religião Chamada Brasil revelam o esforço dos estudos oportunizados pelo NEPP e as pesquisas para dissertações e teses defendidas nos últimos anos no PPG em Teologia e outras que estão em andamento. Contemplando a diversidade das pesquisas, a coletânea que estamos tornando pública pode ser apresentada em três partes. A primeira intitulamos “análises de fenômenos religiosos na interface com os protes- tantismos”; a segunda, “questões sociológicas e históricas do luteranismo brasileiro”; a terceira e última parte, por sua vez, recebeu o nome de “inter- faces teóricas na perspectiva entre religião e contemporaneidade”. Um dos temas candentes da pesquisa sobre religião no Brasil repercutiu fortemente no nosso núcleo de pesquisa. Poderíamos dizer que a Teologia da Prosperidade, como coluna dorsal da Igreja Univer- 8 sal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, entre outras, foi um tema transversal que desafiou os e as participantes do NEPP. A psicóloga Mary Ruth fez das práticas religi- osas dessas instituições um lugar para a pesquisa da subjetividade contemporânea capitalística e globalizada. Subjetividade Contempo- rânea e Pesquisa em Teologia é um desdobramento de sua tese de dou- torado que promoveu um diálogo entre Psicologia da Religião e Teolo- gia Prática. Percebe-se que o texto da professora Mary Ruth Gomes Esperandio traz novas referências teóricas, se o compararmos com a sua tese de doutorado. Esse fato confirma a sua capacidade criativa de superar a si mesma como pesquisadora. Em sua tese de doutorado, defendida no programa de pós-gradua- ção da então Escola Superior de Teologia, Adilson Schultz se ocupou com o que ele denominou de “a espessa névoa católica-espírita-candom- blecista” que pervade e dá contorno para a forma de crer no Brasil. A contemporaneidade de suas pesquisas em nosso PPG permitiu um diálo- go constante entre Mary Rute Gomes Esperandio e Adilson Schultz. Nes- te sentido, o tema do neo ou pós-pentecostalismo faz parte das pesquisas de Adilson. Dessa forma, Estrutura Teológica do Imaginário Brasileiro é um exercício ousado – por ser abrangente – de análise teológica dos ele- mentos constitutivos do que vem sendo denominada de “matriz religiosa brasileira”, ou, como nomeou André Droogers, ex-professor da Escola Superior de Teologia e, hoje, pesquisador da Universidade Livre de Amster- dã, “religiosidade mínima brasileira”. Certamente, a ideia de “estrutura” de uma névoa fica por conta de uma determinada reflexão teológica instruída pela Teologia Sistemática, em diálogo com a Teologia Prática e flexibiliza- da pela transgressão criativa de fronteiras das Ciências da Religião. Os temas instigantes destes trabalhos recém apresentados voltam de outra forma na reflexão acadêmica da doutoranda cubana Nivia Ivette Núñez de la Paz. O texto que tem por título Comunidade Canção Nova: Um Novo Jeito de Ser Igreja... católica, apostólica, romana e brasileira tematiza o nexo do fenômeno carismático com a mídia. Pesquisando o cotidiano das pessoas que aderem à Canção Nova, de cunho carismático católico, a autora problematiza a ideia de Comunidade vinculada à variedade de identidades. Nessa perspectiva teórica, Nivia vai descobrindo que a comunidade Canção Nova é um fenômeno religioso carismático, que, ao usar os meios modernos da mídia, possibilita a “comunhão” de 9