UMA NOVA E ÚNICA ABÓBODA CELESTE PARA OS TEMPLOS MAÇÔNICOS Ailton Elisiário de Sousa* SUMÁRIO Os rituais maçônicos ensinam que a loja representa o mundo, por isto a presença do firmamento no teto do templo. Estudiosos da Maçonaria verificaram que os tetos dos templos das lojas maçônicas não são padronizados. Cada rito descreve um teto e mais das vezes, rituais do mesmo rito descrevem tetos diferentes. Esses mesmos estudiosos não se acham em sintonia e cada qual defende uma particular imagem para cada teto. Castellani diz que não há obrigatoriedade de que os tetos dos templos sejam estrelados. Pike elaborou um teto para o Rito Escocês Antigo e Aceito, sendo este utilizado com modificação pelos rituais. Zoccoli propôs o estabelecimento de duas abóbadas, uma para os rituais das lojas do hemisfério norte e outra para do hemisfério sul. Modena é terminantemente contrário a qualquer modificação no plano do teto. O autor entende que a abóbada celeste deve ser uma só, contendo elementos estelares de ambos os hemisférios para simbolizar a universalidade da Ordem. Palavras Chave: Abóbada. Teto do templo. Loja Maçônica. ABSTRACT Masonic rituals teach that the store represents the world, hence the presence of the firmament on the roof of the temple. Scholars of Freemasonry have found that the ceilings of the temples of Masonic lodges are not standardized. Each rite describes a ceiling and more often than not, rituals of the same rite describe different ceilings. These same scholars are not in tune and each one defends a particular image for each ceiling. Castellani says that there is no obligation for the temple ceilings to be starry. Pike elaborated a ceiling for the Old and Accepted Scottish Rite, being used with modification by the rituals. Zoccoli proposed the establishment of two vaults, one for the rituals of the lodges of the northern hemisphere and one for the southern hemisphere. Modena is strictly contrary to any modification in the plane of the ceiling. The author understands that the celestial vault must be one, containing stellar elements of both hemispheres to symbolize the universality of the Order. Key words: Ceiling. Roof of the temple. Masonic Lodge. Perguntar-me-eis: então por que se modificam as coisas? ... Eu a respondo dizendo que qualquer transformação tende, não para outro ser, mas para outro modo de ser. Giordano Bruno. INTRODUÇÃO Os templos das lojas maçônicas têm em seus tetos uma representação do Universo. É a figura da abóbada celeste, na qual estão inseridos vários planetas e constelações de estrelas, cada um deles com seus significados simbólicos. Os rituais maçônicos ensinam que a loja representa o mundo, por isto a presença do firmamento no teto do templo. DESCRIÇÃO DA ABÓBADA No Rito Escocês Antigo e Aceito, o rito mais difundido no Brasil, os rituais apresentam a abóbada celeste mantendo os mesmos astros e estrelas, sendo a disposição tradicional dos nossos templos. Um Ritual de Aprendiz de 1904 diz que “o teto figura uma abóbada azulada, com estrelas formando um grande número de constelações”. O Ritual do Grau de Aprendiz de 1928, da Grande Loja da Paraíba, fornecido pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, às páginas 13 e 14 assim dispõe sobre o teto da Loja Simbólica: O tecto do Templo representa o céo. Do lado do Oriente, um pouco à frente do throno, o Sol; por sobre os Altares dos 1° e 2° Vigilantes, respectivamente, a Lua e uma Estrella de cinco pontas. Estes emblemas poderão ser pintados ou em relevo, ou então, pendentes do tecto. No centro do tecto, tres estrellas da constellação de Orion. Entre estas e o nordeste, ficam as Pleiades, Hyadas e Aldebaran; a meio caminho, entre Orion e o noroeste, Regulus, do Leão; ao Norte, a Ursa Maior; a Noroeste, Arcturus (em vermelho); a Leste, a Spica, da Virgem; a Oeste, Antares; ao Sul, Fomalhaut. No Oriente, Jupiter; no Ocidente, Venus; Mercurio, junto ao Sol e Saturno, com seus satéllites, próximo a Orion. As estrellas principaes são: 3 de Orion; 5 Hyadas e 7 das Pleiades, Regulus, Antares e Formalhaut. O Ritual de Aprendiz de 1985 da mesma Grande Loja da Paraíba tem a seguinte redação, às páginas 16: O teto do Templo representa a Abóbada Celeste, cuja tonalidade azul-clara, no oriente, vai, gradativamente, escurecendo em direção ao ocidente, entremeada de nuvens. No oriente, um pouco à frente do dossel, o Sol, com raios dourados; sobre o Altar do Primeiro Vigilante, a Lua em quarto crescente, e, sobre o Altar do Segundo Vigilante, uma estrela, prateada, de cinco pontas. No oriente, à direita e um pouco à frente do Sol, Mercúrio, sob a forma de um disco vermelho-escuro, e, à esquerda e um pouco mais à frente do Sol, Júpiter, que tem a forma de um disco alaranjado com estrias amarelas. No ocidente, ao centro, três estrelas da constelação de Órion, alinhadas de norte a sul; entre estas e o nordeste, Aldebaran, as sete Plêiades e as cinco Híades, dispostas em esquadro; a meio caminho entre Órion e o noroeste, Régulus, da constelação do Leão; ao norte, seis estrelas da constelação da Ursa Maior; a nordeste, Arturus, da constelação do Cocheiro; a leste, Spica, da constelação da Virgem; a oeste, Antares, da constelação do Escorpião, e, ao sul, Formalhault, da constelação do Peixe Austral. As estrelas são amarelas, exceto Arturus, que é vermelha. Aldebaran, Arturus, Régulus, Antares e Formalhault são maiores que as demais por serem consideradas estrelas reais. No ocidente, entre a Lua e Antares, Vênus, em forma de pequena lua prateada, e, entre Órion e Antares, Saturno, sob a forma de um disco amarelo-limão com seus anéis concêntricos e seus satélites. Tal redação é repetida no Ritual de Aprendiz de 1992, às páginas 25 e 26. Com pequenas alterações o texto é reproduzido no Ritual de 2005, às páginas 27 e 28 e no Ritual de 2012, às páginas 39 e 40. O teto do Templo, com sua decoração estelar entremeada de nuvens com os matizes de cor – do vermelho ao alaranjado, ao amarelo, ao azul e ao negro – mostrando a transição do dia, ou da Luz (Oriente), para a noite, ou para as trevas (Ocidente), representa a Abóbada Celeste de uma noite de 24 de junho no hemisfério norte. No Oriente, um pouco à frente do dossel, o Sol, com raios dourados; sobre o Altar do Primeiro Vigilante, a Lua, e, sobre o Altar do Segundo Vigilante, pendente do teto ou pintada, uma estrela prateada de cinco pontas cercada por flamas ígneas – a ESTRELA FLAMEJANTE – ostentando ao centro a letra “G”. À direita e um pouco à frente do Sol, Mercúrio, sob a forma de um disco vermelho-escuro, e, à esquerda e um pouco mais à frente do Sol, Júpiter, que tem a forma de um disco alaranjado com estrias amarelas. No Ocidente, ao centro, três estrelas da constelação de Órion, alinhadas de Norte a Sul; entre estas e o nordeste, Aldebaran, as sete Plêiades e as cinco Híades, dispostas em esquadria; a meio caminho entre Órion e o noroeste, Régulus, da constelação do Leão; ao Norte, sete estrelas da constelação da Ursa Maior; a nordeste, Arturus, da constelação do Cocheiro; a leste, Spica, da constelação de Virgem; a oeste, Antares, da constelação de Escorpião; ao sul, Formalhault, da constelação do Peixe Austral; e, entre a Lua e Antares, Vênus, em forma de pequena lua prateada, e, entre Órion e Antares, Saturno, sob a forma de um disco amarelo-limão com seus anéis concêntricos e seus satélites. As estrelas são amarelas, exceto Arturus, que é vermelha. As estrelas principais são as de Órion, as Híades, as da Ursa Maior e as Plêiades. Aldebaran, Arturus, Régulus, Antares e Fomalhault são maiores que as demais por serem consideradas estrelas reais. O Ritual do Grau de Aprendiz do Rito Adonhiramita de 1995 editado pelo Grande Oriente do Brasil, diz nas páginas 6 e 7: O teto deve simbolizar uma abóboda azulada, em que figuram: do lado do Oriente, um pouco à frente do Trono do Venerável – o Sol; por cima do Altar do 1° Vigilante – uma Estrela de cinco pontas; acima do Altar do 2° Vigilante – a Lua; no centro do teto, três estrelas da Constelação de Orion; entre estas últimas e o nordeste, as estrelas da Constelação das Plêiades, Hiades e Aldebarã; a meio caminho entre Orion e o Nordeste, Regulus; ao Norte, a Ursa Maior; a Nordeste, uma estrela vermelha, representando Arturus; a Leste, a Spica, da Constelação da Virgem; a Oeste, Antares; ao Sul, Formalhaut. No teto devem ainda figurar os seguintes planetas: Júpiter, no Oriente; Vênus, no Ocidente; Mercúrio, nas proximidades do Sol; Saturno e seus satélites, próximo a Orion. (Abóbada Celeste – Arte de Carlos Sousa) CHARLIER (1964: 87) expressa-se dizendo que “se o Templo representa o Universo, seu teto figura o Firmamento. Por isso, o teto do Templo tem uma forma de abóbada pintada de azul celeste e semeada de estrelas. A abóbada estrelada não é exclusiva dos Templos Maçônicos. Decorados da mesma maneira eram os Templos da Antiguidade assim como numerosas igrejas antigas”. Afirma CASTELLANI (s/d, 32/33; 1988, 170/172) que o hábito de estrelar o teto dos templos tem sua origem no Egito antigo, citando como exemplo o Templo de Karnak, hoje Luxor. Ramsés II, faraó egípcio, fundador das primitivas bibliotecas egípcias, foi quem construiu a sala do templo de Amon em Karnak, de acordo com os pontos fixos da esfera celeste. Diz ainda que muitos templos maçônicos têm seus tetos estrelados a esmo, sendo certo, porém, que eles devem conter os planetas e estrelas mencionados. Ele esclarece “que essa decoração não é obrigatória”, valendo apenas a presença do Sol e da Lua e as nuances de cor para mostrar a transição do dia para a noite, ou seja, da Luz do Oriente para o Ocidente. Já RAGON (1993: 30) diz que “tanto quanto possível, o teto deve ser um céu semeado de estrelas”. BREVE DESCRIÇÃO MITOLÓGICA DOS ASTROS NA ABÓBADA DO TEMPLO Os astros que se fazem presentes na abóbada dos templos maçônicos são palco da mitologia, que a Maçonaria se apropria para seus ensinamentos. Assim, o Sol é o símbolo da Luz. Representava o deus Hélios, que percorria o céu numa carruagem de fogo puxada por quatro cavalos que simbolizavam as quatro estações do ano. A Lua não tem luz própria, mas reflete a luz do Sol. Também chamada Selene era filha de Hyperion e de Teia e irmã de Hélios. Nas antigas Escolas de Mistérios sempre estava representada. No Egito era a deusa Isis, na Síria era a deusa Astaroth, na Grécia, Heate. Mercúrio, chamado de Hermes pelos gregos, era o mensageiro dos deuses, que possuía asas nos pés. Júpiter, o maior dos planetas do Sistema Solar, era Zeus para os gregos, o Deus Supremo do Universo, pai dos outros deuses e dos homens. Na mitologia romana Júpiter é o pai do deus Marte. Assim, Júpiter é o avô de Rômulo e Remo, os lendários fundadores de Roma. Sirius é a estrela mais brilhante da noite, visível de qualquer parte da Terra. As Escolas de Mistério a consideravam como “o sol por trás do sol” e, portanto, a verdadeira fonte de potência do nosso Sol. Spica ou Espiga é a estrela mais brilhante da constelação de Virgem. Aldebaran é uma estrela gigante, vermelha. Regulus é a estrela mais brilhante da Constelação de Leão. Arturus é uma estrela gigante, vermelha. Seu nome significa: “guarda da Ursa Maior”. Antares é uma estrela supergigante, vermelha. Seu nome significa “rival de Marte”. Formalhaut é a estrela mais brilhante da Constelação de Peixe Austral. Seu nome significa “a boca do peixe”. Vênus é o mais brilhante objeto do céu depois do Sol e da Lua. Tem inúmeros nomes populares: Estrela Matutina, Estrela Vespertina, Estrela Dalva, Estrela do Pastor e muitos outros. É a deusa do Amor e da Beleza. Saturno é o segundo maior planeta do Sistema Solar. Saturno é um deus romano do tempo equivalente ao grego Cronos. É um dos titãs, filho do Céu e da Terra. Orion é a constelação equatorial mais brilhante do céu de verão. Fácil de ser localizada por suas famosas Três Marias. A constelação representa o herói Orion, grande caçador e amado por Artemis, grande caçadora. Apolo, irmão de Artemis, por não aprovar o romance entre os dois envia um escorpião para mata-lo. Apolo desafia a pontaria de Artemis, que atinge Orion quando este fugia do escorpião. Em meio às lágrimas, Artemis pede a Zeus para colocar Orion e o Escorpião entre as estrelas. Uma variante do mito diz que o escorpião nunca chegou a matar o gigante caçador. A constelação do Escorpião foi identificada pelos gregos como pelos egípcios e persas. As Plêiades é um grupo de sete estrelas visíveis na constelação de Touro, que se denominam Electra, Maia, Taigete, Alcíone, Celeno, Asterope e Mérope. Elas foram caçadas por Orion, que sem êxito as perseguiu por toda a eternidade. As Híades formam a constelação de Touro. As híades eram ninfas, filhas de Atlas e de Etra ou Plêione. Seus nomes eram Ambrosia, Eudora, Ésile (ou Fésile), Corônis, Dione, Pólixo e Féio. A Ursa Maior é a constelação circumpolar norte. Sua designação provém do fato de representar a Ursa em que transformou a princesa Calisto, por ação de Hera, esposa ciumenta de Zeus (Júpiter). QUESTIONAMENTOS O estudo da abóbada celeste nos templos maçônicos tem levado a questionamentos, que aqui alguns são colocados. Os tetos das lojas devem conter a imagem do firmamento ou não? Se sim, qual o espaço do firmamento que deverão apresentar? Do hemisfério Norte da Terra ou do hemisfério Sul? Nessa apresentação, quais os astros e estrelas que deverão ser expostos? Tal figura deve ser a mesma para todas as lojas maçônicas em todo o mundo? Qual o formato do teto? A disposição dos corpos celestes na abóboda deve corresponder a uma única data para uma única carta celeste? Ou a carta celeste poderá diferir em ambos os hemisférios? Que critério deve ser utilizado para a disposição dos astros no teto? Um critério científico, mitológico, simbólico ou meramente decorativo? Procurarei discutir estas questões, que as considero suficientes aos propósitos deste trabalho. OBRIGATORIEDADE OU NÃO DA ABÓBADA E SUA FORMA A Ordem tem sua disciplina firmada em dois corpos de leis: o corpo jurídico e o corpo litúrgico. O corpo jurídico rege as normas legais enfeixadas nas leis civis e maçônicas: a constituição (estatutos), o regulamento geral, as resoluções, os decretos, os atos das autoridades maçônicas e as leis do país. O corpo litúrgico rege as sessões econômicas, as iniciações, os diversos cerimoniais da instituição. Ambos os ordenamentos obrigam os maçons e lojas e os subordinam. Assim, os rituais que são manuais litúrgicos, ao preverem a abóbada celeste no teto dos templos, obrigam as lojas em expressá-la seguindo suas disposições. Se plena em quantidade e detalhes das figuras ou se simples pela redução aos principais elementos da imagem celeste. Não vejo contradição, pois, nas colocações de Castellani e Ragon que não falam da obrigatoriedade de um determinado conjunto de figuras celestes, mas sim da obrigatoriedade de pelo menos da presença dos principais astros, ou seja, do Sol e da Lua. O Rito Escocês Antigo e Aceito, mais difundido no Brasil, espelha com simplicidade parte do hemisfério norte da Terra. A abóbada do templo deve, porém, representar o firmamento, quer de forma simplificada ou não, não podendo faltar os principais astros do nosso sistema solar. Quanto ao formato o teto pode ser plano ou esférico, devendo em ambos os casos ser estrelado. O ideal é que ele seja côncavo, para guardar relação com a curvatura da Terra, mas não há impedimento de que ela seja plana. Afinal, na atualidade as construções seguem linhas mais retilíneas. A ABÓBADA CELESTE SEGUNDO A DISPOSIÇÃO DOS CARGOS Diversos trabalhos maçônicos indicam uma relação estabelecida entre os planetas e estrelas fixados no teto do templo da loja e os cargos administrativos desta. Dentre tantos, transcrevo a descrição feita por EDILSON ARAÚJO. Diz ele: Em uma Loja Justa, Perfeita e Regular, três a governam, cinco a compõem e sete a completam. As estrelas principais que refulgem simbolicamente no teto do Templo, são três da Constelação de Orion; cinco da Constelação das Híades e sete das Constelações das Plêiades e da Ursa Maior. Assim, em uma Loja Justa, Perfeita e Regular, os três que a governam, o Venerável Mestre, o Irmão 1º Vigilante e o Irmão 2º Vigilante, são representados pelas Constelação de Orion. Os cinco Mestres Maçons que a compõem, os Irmãos Orador, Secretário, Tesoureiro, Chanceler e Mestre de Cerimônias, são representados pelas cinco estrelas da Constelação das Híades; e os sete Mestres Maçons que a completam, os Irmãos Hospitaleiro, 1º Diácono, 2º Diácono, Porta Espada, Porta Estandarte, 1º Experto e 2º Experto, são representados pelas sete estrelas das Constelações das Plêiades e da Ursa Maior. Portanto, teríamos representados na Abóbada, todos os cargos de administração da Loja. Enquanto Araújo menciona a correspondência das constelações de Orion, das Híades, das Plêiades e da Ursa Maior com os cargos administrativos, CARLOS SOUSA (2011: 55/56) já apresenta essa correspondência com os planetas, conforme se segue: Venerável Mestre a Júpiter, 1º Vigilante a Marte, 2º Vigilante a Vênus, Orador e Mestre de Cerimônias a Mercúrio, Secretário e Tesoureiro a Saturno. Castellani (1997) diverge de Araújo em relação ao Orador e Secretário, que respectivamente os assimila ao Sol e a Lua. Contudo, LUÍS CANOTILHO já deriva nessas relações e faz as seguintes associações: o Sol ao Venerável Mestre, a Lua ao 1º Vigilante, a estrela Stella Pitagoris ao 2º Vigilante, Spica ao Secretário, Arturus ao Orador, Aldebaran ao Tesoureiro, Formalhaut ao Chanceler, Regulus ao Mestre de Cerimônias, o planeta Mercúrio ao Hospitaleiro e 1º Diácono, Vênus ao 2º Diácono e ao Experto, Antares ao Guarda Interno (Guarda do Templo) e o planeta Marte ao Guarda Externo (Cobridor). Ainda mais, Júpiter ao Past Venerável Mestre, a constelação da Ursa Maior aos Mestres Instalados, as Plêiades aos Mestres Maçons, as Híades aos Companheiros Maçons, Orion aos Aprendizes Maçons. E Saturno representa a Cadeia de União, reduzindo toda essa representação da seguinte maneira: os 3 anéis representam os Aprendizes, Companheiros e Mestres, os 9 satélites representam as luzes e os oficiais da loja: Venerável Mestre, 1º Vigilante, 2º Vigilante, Orador, Secretário, Tesoureiro, Mestre de Cerimônias, Experto e Guarda do Templo. Muito embora Canotilho faça essas correspondências de astros e cargos, não se vê nele uma preocupação em fazer com que as posições dos astros no teto do templo se correlacionem com as posições dos cargos no piso do templo. Há autores, porém, que discordam dessa relação formulada entre os astros e os cargos maçônicos, a exemplo de HIRAN ZOCCOLI (2009) que diz: “Alguns Irmãos, em peças de arquitetura, afirmam que o planeta Y representa o Orador, que o planeta X simboliza o Secretário e que o Z representa o Diácono. Sempre coloquei-me contra estas exposições, extraídas de não sei onde, por estar criando mais uma "mística" ou "usos e costumes" em maçonaria e auxiliando a perpetuar mais um erro, por falta de estudo profundo e sério”. Veja-se, pois, que não há uma concordância geral entre os estudiosos e cada um formula suas visões e explicações. No entanto, não vendo isto como um devaneio da criação mental, em face de argumentos oriundos de observações astrológicas, entendo que o que deve prevalecer é o simbolismo maçônico para a aprendizagem de seus ensinamentos, o arcabouço doutrinário do rito, haja vista que “a Maçonaria é um sistema de moral velado por alegorias e ilustrado por símbolos”, como assim transmitem os seus rituais. A ABÓBADA CELESTE SEGUNDO UMA DATA ESPECÍFICA Outra vertente é a de estabelecer a abóbada de acordo com a carta celeste de determinado dia. Isto significa que os astros no teto do templo devem estar posicionados de acordo com suas posições reais no espaço, conforme descrição da astronomia. Diz Castellani (1997) que “embora a colocação desses corpos celestes esteja, em alguns casos, errada, do ponto de vista astronômico, o mais provável – já que a origem se perdeu – é que a abóbada estrelada represente o céu do dia 21 de março, quando o Sol, na sua marcha aparente na eclíptica cruza a linha do equador celeste. É o equinócio da primavera no hemisfério Norte. E é, também, onde começa o ano religioso hebraico, que tem início na lua nova que se segue ao equinócio de março, no mês de Nissan; o ano civil começa com o Rosh Hashaná (em hebraico: cabeça do ano), primeiro dia do mês Tishrei, na lua nova que se segue ao equinócio de setembro. E isso tem a sua razão de ser, pois o calendário maçônico mais usado é o equinocial, com base no calendário religioso hebraico, começando o ano no dia 21 de março”. Veja-se que Castellani não menciona de modo afirmativo, mas reconhece que esses astros ocupam posições no templo astronomicamente incorretas. Além disto, a posição astronômica deles provavelmente seria a do dia 21 de março, quando inicia o ano pelo calendário maçônico. O Ritual de Aprendiz de 2005 da Grande Loja da Paraíba já referido registra a figura da abóbada celeste representativa de uma noite de 24 de junho no hemisfério norte, sem se referir ao ano. Por ser essa figura a utilizada comumente nos rituais, deduzo que sua aplicação corresponde à posição dos astros na noite de fundação em Londres da primeira Grande Loja, visto que estando essa cidade situada no hemisfério norte, não poderia ser a noite de 24 de junho de qualquer ano, se não a da criação da Grande Loja de Londres, posteriormente Grande Loja Unida da Inglaterra, autodenominada Grande Loja-Mãe do Mundo. São coordenadas geográficas de Londres: Hemisfério Norte - 51° 30′ 28″ N, 0° 7′ 41″ W. Assim, tem-se na carta celeste de 24 de junho de 1717 no hemisfério norte a base para o firmamento reproduzido nos tetos das lojas simbólicas dos diversos ritos maçônicos por todo o mundo. Ao se tomar a imagem da abóbada celeste contida nos rituais, há que se indagar: a disposição de cada figura estelar corresponde a rigor à posição real ocupada por aqueles astros no firmamento naquela particular noite de 24 de junho de 1717? Evidente que não. ALBERT PIKE (2001: 28), Soberano Grande Comendador do Rito Escocês Antigo e Aceito para a Jurisdição Sul dos Estados Unidos da América do Norte, que foi o organizador dos rituais do Rito, descreveu o teto do templo da loja da seguinte forma: No teto também são pintadas estrelas e constelações. No centro, as três estrelas do Cinturão de Orion; e entre elas e o Nordeste, as Plêiades e as Híades, uma das quais é Aldebaran; a meio caminho entre Orion e o Noroeste, Regulus em Leão; ao Norte, a Ursa Maior; no Noroeste, Arcturus; a Oeste de Regulus, Spica da Constelação de Virginis; no Ocidente, Antares; no Sul, Formalhaut; sobre o Oriente também está Júpiter, e sobre o Ocidente, Vênus; Mercúrio, próximo ao Sol; e Marte e Saturno, próximo ao centro do teto. As estrelas do Cinturão de Orion representam o número Três; as Híades representam o número Cinco; as Plêiades e a Ursa Maior, o Sete. As cinco estrelas reais são Aldebaran, Arcturus, Regulus, Antares e Formalhaut. A posição dos astros no teto do templo da loja seguindo a posição real dos mesmos no espaço sideral tem que corresponder a descrição da carta celeste para uma determinada data. Não é o caso, porém, visto na descrição de Pike, que faz uma representação simbólica do firmamento e não uma representação real. Por outro lado, o fato de que a Maçonaria nasceu no hemisfério norte não é suficiente para obstruir a criatividade de simbolizar o teto dos templos com o firmamento de uma determinada data no hemisfério sul, justo porque a Maçonaria Universal (Simbólica) é única, e “não pode ser considerada diferenciada se praticada nesse ou naquele hemisfério”. Não se trata, pois, de uma questão de imagem, mas de conceito e princípio. Em verdade, não existe uma só Maçonaria, existem muitas maçonarias, que se diferenciam por suas particularidades, mas que permanecem unidas pela essência. Não vejo invenção fantasiosa nem considero tratadistas imaginosos aqueles que pensam poderem os templos maçônicos do hemisfério sul conter em seus tetos a sua própria disposição estelar. As Lojas Simbólicas de cada país poderiam ter em seus templos o céu de cada um deles, com as posições dos astros relativos às datas de suas próprias fundações. Ou da data de fundação de suas respectivas Grandes Lojas. Ou uma representação simbólica à semelhança da representação de Pike, com alguma particularidade própria. Por que não? Teríamos assim céus semeados de estrelas, como afirma Ragon, céus diferentes, é certo, mas todos disseminando os mesmos raios e a mesma luminosidade, numa demonstração da universalidade da Maçonaria. A ABÓBADA DO HEMISFÉRIO NORTE PARA TODOS OS TEMPLOS MAÇÔNICOS Afirma PEDRO JUK em seu blog que “embora muitos templos maçônicos tenham o seu teto estrelado a esmo, fato considerado errado, o mesmo deve ser decorado, além das representações específicas como veremos adiante, obedecendo à posição relativa ao hemisfério norte. Isso pelo simples fato de que a Maçonaria nasceu no referido hemisfério e, portanto, pelo seu aspecto apenas simbólico deve assim obedecer a essa orientação”, ao mesmo tempo em que se põe contrário a qualquer mudança ou alteração no teto dos templos, quando diz que “querem alguns tratadistas imaginosos considerar que para aqueles Templos localizados no hemisfério sul, seja obedecido o mapa estelar do respectivo hemisfério”. Procura justificar sua posição considerando que sendo única a Maçonaria Simbólica Universal, ela não pode ser diferente em ambos os hemisférios em suas práticas, exceto nas particularidades próprias de cada rito. Diz ele: “Ora, em primeiro lugar a Maçonaria Universal (Simbólica) não pode ser considerada diferenciada se praticada nesse ou naquele hemisfério, pois ela é única, exclusivamente simbólica e, sobretudo racional, diferenciando-se apenas pelas particularidades inerentes a cada Rito praticado, porém, igual em essência”. “Dessa forma, não há a necessidade de invenções fantasiosas, místicas e ocultas que buscam amparo em qualquer tipo de influência dos astros ou coisa parecida. Destarte, deve se observar a “liberdade” como princípio basilar da Ordem, que nesse caso, refere- se à crença pessoal de cada Irmão”.
Description: