EDIÇÕES BESTBOLSO Uma história íntima da humanidade Nascido em 1933, o historiador inglês Theodore Zeldin foi considerado pela revista francesa Magazine Littéraire um dos cem mais importantes pensadores vivos da atualidade. Zeldin é catedrático do St. Anthony^ College, em Oxford, membro da Academia Européia e professor visitante em Harvard e na University of Southern Califórnia. Em 1994 o autor se consagrou internacionalmente ao publicar Uma história íntima da humanidade. Theodore Zeldin também é autor dos livros Os franceses e Conversação. THEODORE ZELDIN UMA HISTÓRIA ÍNTIMA DA HUMANIDADE Tradução de HÉLIO PÓLVORA EDIÇÕES BestBolso CIP-Brasil. Cataiogaç3o-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Ri. Zeldin, Theodore, 1933- Z51 h Uma história íntima da humanidade / Theodore Zeldin; tradução Hélio Pólvora. - Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. Tradução de: An Intimate Histoiy of Humanity ISBN 978-85-7799-057-3 1. Antropologia filosófica. I. Título. CDD-128 08-0160 CDU-128 Uma história íntima da humanidade, de autoria de Theodore Zeldin. Título número 054 das Edições BestBolso. Título original norte-americano: AN INTIMATE HISTORY OF HUMANITY Copyright © 1994 by Theodore Zeldin. Publicado mediante acordo com o autor a/c Andrew Numberg Associates, Ltd., Londres. Copyright da tradução © by Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A. Direitos de reprodução da tradução cedidos para Edições BestBolso, um selo da Editora Best Seller Ltda. Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A. e Editora Best Seller Ltda. são empresas do Grupo Editorial Record. www.edicoesbestbolso.com.br Ilustração e design de capa: Rafael Nobre Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito da editora, sejam quais forem os meios empregados. Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil em formato bolso adquiridos pelas Edições BestBolso um selo da Editora Best Seller Ltda. Rua Argentina 171 — 20921-380 - Rio de Janeiro, RJ — Tel.: 2585-2000 que se reserva a propriedade literária desta tradução. Impresso no Brasil ISBN 978-85-7799-057-3 Sumário Prefácio 7 1. Como os seres humanos continuam a perder as esperanças, e como novos encontros, e um bom par de óculos, as renovam 9 2. Como homens e mulheres aprenderam lentamente a ter conversas interessantes 34 3. Como as pessoas em busca de suas raízes estão começando a enxergar longe e com profundidade 60 4. Como algumas pessoas adquiriram imunidade à solidão 72 5. Como novas formas de amor foram inventadas 92 6. Por que houve mais progresso na culinária do que no sexo 109 7. Como o desejo dos homens pelas mulheres, e por outros homens, mudou ao longo dos séculos 132 8. Como o respeito se tomou mais desejável que o poder 160 9. Como aqueles que não querem dar ordens nem recebê-las podem se tornar intermediários 179 10. Como as pessoas se libertam do medo ao conhecer medos novos 200 11. Como a curiosidade se tornou a chave da liberdade 220 12. Por que está cada vez mais difícil destruir os inimigos 246 13. Como a arte de fugir dos problemas se desenvolveu, mas não a arte de saber para onde fugir 266 14. Por que a compaixão floresceu mesmo em chão de pedra 284 15. Por que a tolerância nunca foi suficiente 308 16. Por que até os privilegiados são muitas vezes sombrios acerca da vida, mesmo quando podem ter tudo o que a sociedade de consumo lhes oferece e mesmo depois da liberação sexual 331 17. Como os viajantes estão se tornando a maior nação do mundo, e como aprenderam a não ver apenas aquilo que procuram 362 18. Por que a amizade entre homens e mulheres ficou tão frágil 380 19. Como até mesmo os astrólogos resistem ao destino 406 20. Por que as pessoas são incapazes de encontrar tempo para viver várias vidas 419 21. Por que pais e filhos estão mudando de opinião acerca do que esperam uns dos outros 433 22. Por que a crise familiar é apenas um estágio na evolução da generosidade 453 23. Como as pessoas escolhem um estilo de vida, e como este não as satisfaz plenamente 478 24. Como os seres humanos se tornaram hospitaleiros 514 25. O que se torna possível quando almas gêmeas se encontram 560 Agradecimentos 571 Prefácio Nossa imaginação é habitada por fantasmas. Aqui estão os resultados de minhas pesquisas sobre os fantasmas familia res, que nos acalmam, os preguiçosos, que nos tornam obstinados e, acima de tudo, os assustadores, que nos deses- timulam. O passado nos assombra, mas de quando em quando é possível mudar de opinião. Quero mostrar como, hoje em dia, as pessoas podem formar uma nova opinião de sua própria história pessoal e de todo o registro da cruel dade humana, seus equívocos e alegrias. Para se ter uma visão nova do futuro, é necessário adquirir uma nova visão do passado. Cada um dos capítulos deste livro começa com o retra to de uma pessoa viva, que tem desejos e decepções, nos quais você talvez se reconheça, mas que também está limita da por atitudes herdadas de origens há muito tempo esque cidas. A mente é um refugio de idéias que datam de muitos séculos diferentes, tal como as células do corpo têm idades diferentes, renovando-se ou enfraquecendo em ritmos va riáveis. Em vez de explicar as peculiaridades dos indivíduos em relação à sua família ou infância, eu olho mais longe: mostro de que maneira eles consideram - ou ignoram - a experiência das gerações anteriores ou até mais distantes, e como dão prosseguimento às lutas de muitas outras comu nidades espalhadas pelo mundo, ativas ou extintas, dos astecas e babilônios aos iorubas e zoroastrianos, entre os quais há mais afinidades do que poderiam supor. Vocês não encontrarão aqui a história catalogada como nos museus, com cada império e período cuidadosamente destacados. Escrevi sobre o que ainda não se sedimentou, sobre o passado que permanece vivo na mente das pessoas. No entanto, antes de explicar o que pretendo fazer com es ses fantasmas, gostaria de apresentar-lhes alguns deles. 8 1 Como os seres humanos continuam a perder as esperanças, e como novos encontros, e um bom par de óculos, as renovam jN/í inha vida é um fracasso.” Eis o veredicto de Juliette a seu respeito, embora muito raramente o divulgue. Sua vida poderia ter sido diferente? Sim, da mesma forma que a his tória da humanidade poderia ter sido outra. Ela se porta com dignidade, observando tudo que acon tece ao seu redor, mas guardando suas reações. Somente em raros instantes, e de forma hesitante, revelará um pouco do que pensa - o que faz aos cochichos, como se a verdade fosse frágil demais para sair da embalagem. Um brilho nos seus olhos diz: talvez você me ache estúpida, mas sei que não sou, Juliette tem 51 anos e é empregada doméstica desde os 16. Dominou a tal ponto a arte de tomar conta de uma casa, de preparar e servir refeições, que todas as mães sobrecar regadas que batem os olhos nela, e podem pagar seus servi ços, têm o mesmo pensamento: como posso convencer essa maravilha a trabalhar para mim? Será que Juliette dispõe de algumas horas de folga? Mas, embora seja o ideal de qual quer família, ela tem sido incapaz de administrar sua pró pria casa. No trabalho, é totalmente confiante, tomando cuidados infindáveis com um simples pormenor; mas em seu próprio lar essas qualidades nunca foram suficientes. A mãe de Juliette também era empregada doméstica. “Não tenho do que me queixar”, diz Juliette. “Ela nos criou muito bem, mesmo quando nos espancava.” Tendo enviu vado quando Juliette tinha apenas 7 anos, a mãe saía cedo para o trabalho e voltava tarde. “Nós a víamos pouco.” Por isso, Juliette brincava mais do que estudava: “Eu não me dava conta da importância da escola.” Não encontrou um aliado que lhe devotasse cuidados especiais, nem um mentor, fora do seu pequeno mundo, capaz de ajudá-la - e ficou sem diploma, sem acesso às oportunidades. Aos 16 anos, “fiz uma tolice”. Casou-se com o pai de seu bebê e teve mais oito crianças. Os filhos eram uma fonte de alegria; gostava de acariciá-los, mas somente quando eram bebês. Uma vez crescidos, “tornavam-se difíceis”. Seu mari do era um carpinteiro bonitão que prestava serviço militar - e no início era agradável: “Eu estava apaixonada pra valer.” Mas logo as coisas começaram a dar errado. Quando sua primeira filha tinha 6 meses, Juliette soube, pelos vizinhos, que o marido tinha uma amante. Daí por diante não houve mais confiança entre eles. O marido saía com freqüência para ver a amante, segundo Juliette suspeitava; depois, co meçou a beber e trabalhava cada vez menos, alegando que o trabalho o fatigava muito. Começou a espancá-la: “Tenho cicatrizes no corpo inteiro.” No entanto, ela não contou a ninguém; estava envergonhada. “Quando via que ele estava chegando em casa, entrava em pânico.” Por que não o aban donou? “Eu estava muito assustada. Estava sozinha na cida de dele, onde não conhecia ninguém. Fui afastada da minha família depois do casamento. Fiquei sem ver minhas irmãs durante 14 anos; ele me proibiu de passear, e eram as crian ças que faziam as compras. Fui proibida até mesmo de ir ao enterro do meu irmão. Perdi todas as minhas amigas. Saía apenas para trabalhar.” E isso, naturalmente, significava que ela não podia cuidar dos filhos, que foram recolhidos por 10 pais adotivos através de serviços sociais. A humilhação
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