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Uma breve história do infinito - dos paradoxos de Zenão ao universo quântico. PDF

198 Pages·1998·1.65 MB·Portuguese
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Uma breve historia do infinito Richard Morris UMA BREVE HISTÓRIA DO INFINITO Dos paradoxos de Zenão ao universo quântico Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges Revisão técnica: Henrique Lins de Barros Doutor em física e diretor do Museu de Astronomia e de Ciências Afins, MAST/CNPq Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro Título original: Achilles in the Quantum Universe: The Definitive History of Infinity Tradução autorizada da primeira edição norte-americana publicada em 1997 por Henry Holt and Company de Nova York, Estados Unidos Copyright © 1997, Richard Morris Copyright © 1998 da edição em língua portuguesa: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2240-0226 / fax: (21) 2262-5123 e-mail: [email protected] site: www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Capa: Carol Sá Ilustração: Marcelo Torrico CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Morris, Richard M858b Uma breve história do infinito: dos paradoxos de Zenão ao universo quântico / Richard Morris; tradução Maria Luiza X. de A. Borges; revisão técnica Henrique Lins de Barros. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998 (Coleção Ciência & cultura) ISBN 85-7110-477-8 1. Infinito. 2. Física quântica. I. Título. II. Série. CDD 500 500 98-1636 CDU 5 SUMÁRIO Apresentação Prefácio A natureza paradoxal da infinidade Tempo infinito Mundos infinitos O infinitamente pequeno Catástrofe atômica Os elétrons têm massa infinita Era uma vez uma garota esperta Singularidades O universo é finito, infinito ou imaginário? Mundos infinitos ∞ APRESENTAÇÃO O céu que vemos hoje não é muito diferente daquele visto pelos babilônios há mais de quatro mil anos. Uma variação da posição de algumas estrelas causaram mudanças nas formas de constelações — certamente uma mudança de visibilidade devido ao dramático aumento de poluição atmosférica verificado no último século, mas, para um leigo, a alteração da localização de objetos celestes não despertaria muita atenção. Enfim, são as mesmas estrelas, salvo uma ou outra que desapareceu ou que surgiu durante esse extenso período, os mesmos planetas visíveis a olho nu, o mesmo movimento lento e cadenciado a que já estamos habituados e a mesma sequência de fenômenos: todos os dias o Sol aparece a leste e se põe a oeste; a Lua apresenta uma variação de período próximo a um mês: ora a vemos brilhante no céu noturno, ora não a vemos; suas fases repetem a mesma sequência. Mas o homem de hoje entenderá esse mesmo céu de forma totalmente diversa. Se antes a abóbada celeste era o símbolo da permanência, hoje ela representa o locus das maiores transformações que podemos imaginar. Se antes o céu podia até transmitir uma certa imagem de segurança — pois sua imutabilidade era certeza de constância somente alterada pelo surgimento de estranhos fenômenos, como o aparecimento de um cometa ou de uma nova estrela —, hoje esse mesmo céu é objeto das mais avançadas pesquisas e, em menos de dez anos, a visão e as interpretações dos fenômenos menos observados mudaram completamente. O céu é atualmente entendido como uma espécie de laboratório natural onde os fenômenos que envolvem a maior quantidade de energia conhecida ocorrem com frequência. Enfim, aquele céu envolvente e imutável que caracterizou a visão do mundo desde tempos imemoriais até o início de nosso século não tem mais lugar no pensamento científico. E interessante notar que é no espaço que encontraremos a junção das várias correntes da ciência contemporânea: as dimensões colossais, as distâncias indescritíveis, os tempos mais longínquos estão nesse espaço, do qual o homem só pode ver uma pequena fração. A vida é um tema que passa a ser tratado de forma recorrente pelo pesquisador que se preocupa com a evolução de objetos celestes: ela deixa de ser um tema terrestre — da biologia, que cresceu rapidamente após os trabalhos de Darwin — para se tornar uma questão cosmológica, pois, afinal, será que só a Terra foi agraciada com ela? Por outro lado, as menores entidades conhecidas ou concebidas — como os elétrons, os quarks e todas as famílias de partículas elementares — são as protagonistas dessa história que não sabemos se teve um começo ou terá um fim. Só poderemos ter a certeza de que ao Homo sapiens não será dada a possibilidade de presenciar o desenrolar do drama, pois a ele ficou atribuída a tarefa de desvendar esse mistério a partir de um conhecimento por ele mesmo inventado. E aqui talvez resida a questão essencial: para compreender esse universo que conhecemos muito mal, o homem inventou não só uma linguagem, mas, ao mesmo tempo, entidades que passaram a ser tratadas como reais. Essa construção teórica que norteia o experimento introduz conceitos e com eles trabalha. E, nesse jogo em que a lógica matemática tem um papel importante, a noção de infinito parece onipresente. Por mais que se evite, ela aparece aqui ou ali — e é fundamental tê-la em mente. Em cada época se fez necessário construir uma interpretação do céu, criar uma história que permitisse compreender o que era observado. O cosmo da Europa medieval, hierarquizado, organizado segundo critério bem aceitos, algo aconchegante pois imutável e fechado, foi uma construção útil para se compreender a realidade. Nele estava escrito, de forma simbólica e que exigia uma cuidadosa decifração, os segredos da natureza. As observações realizadas mostravam a existência de um significado e encontravam um paralelo com a vida cotidiana. O Renascimento, e mesmo antes, trouxe a urgência de uma reformulação dessa interpretação e, com o surgimento da chamada ciência moderna — realizada principalmente a partir das observações e (ver, por exemplo, A revolução científica, de John Henry, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, Coleção Ciência e Cultura, 1998) reflexões de Galileu e do trabalho monumental de Newton — a ideia de um cosmo fechado não teve mais lugar no pensamento. Substituído por um universo aberto, a questão de sua finitude foi logo assunto de debate. A ciência que se inaugurou no século XVII teve um crescimento rápido mas não linear: várias correntes se contrapunham e davam contribuições. Mas a ideia básica de um universo cuja permanência estava garantida persistiu até meados do nosso século, só sendo derrubada, lentamente e com muita relutância, após os trabalhos de Einstein e Lemaître. A década de 1920 viu, dessa forma, não apenas surgir a ideia de um universo em permanente transformação, mas também as primeiras observações de outras galáxias, realizadas por Hubble, e, a partir das contribuições de Louis de Broglie, Heisenberg e Schrodinger, o surgimento da mecânica quântica — uma nova mecânica na época ainda pouco compreendida. Com a nova física, o átomo se apresentou como uma entidade complexa. Mas não foi só isso. Foi também na década de 20 que as primeiras hipóteses bem trabalhadas sobre a origem da vida surgiram, com as contribuições de Haldane e Oparin e a ideia de que a vida, para ter uma persistência, depende de um centro que armazene a informação hereditária contida no interior de cada célula: uma ideia precursora da descoberta do DNA. O que parecia resolvido em fins do século XIX adentra o nosso século mostrando a fragilidade e a força do pensamento científico: a natureza é mais complexa do que se imaginava, e pequenos detalhes mal-explicados — as duas nuvens que obscureciam o céu da física clássica, como diria Lord Kelvin — formaram a base das teorias quântica e relativística. Hoje está aceita a ideia de que nada no universo tem uma permanência temporal. Tudo tem uma história. Seres vivos, estrelas, galáxias estão em constante transformação sem que se conheçam com segurança os caminhos futuros. Os recentes resultados, sejam eles experimentais ou teóricos, apontam para uma nova ciência que guardará, sem dúvida, aspectos comuns com a atual, mas que terá outra proposta. Uma nova ciência, como tem acontecido desde que a ciência moderna se estabeleceu. Em todas as épocas a ideia de um infinito parece ter perseguido e desafiado o poder de compreensão do homem. Embora inevitável, uma vez que se impunha e se impõe, o infinito, seja ele relacionado com o infinitamente grande ou com o infinitamente pequeno, parece criar um problema cuja solução está longe de ser encontrada. Pensar no infinito não como uma figura de linguagem, mas como algo relacionado com a realidade, n|o é simples e nos leva a conclusões muitas vezes inaceitáveis e a outras que nos causam complexidade, pois pensar no infinito é pensar no incomensurável dentro de um corpo de conhecimento que se baseia na capacidade de medir. Matematicamente, o infinito aparece: existe um número infinito de pontos entre dois pontos quaisquer de uma linha, assim como existe uma infinidade de números compreendidos entre dois números inteiros — aliás, o próprio conjunto de números inteiros é infinito. Mas será possível pensar numa realidade infinita? Numa realidade que tenha uma complexidade infinita ou um número infinito de elementos? A história do infinito, ou seja, a história dos conceitos do infinito, não é uma história da matemática. E antes uma história da evolução do pensamento científico e de como é possível se pensar em algo que transcende qualquer possibilidade de compreensão. Por que então pensar no infinito se as dificuldades são tão grandes e a impossibilidade de o medirmos lhe é inerente? Porque o infinito parece se impor na construção do raciocínio. Não há escapatória. Por mais que se evite abordá-lo ele aparece, e é uma exigência imposta a nós aceitá-lo.

Description:
Há aproximadamente 2.500 anos, ao propor seu famoso paradoxo envolvendo Aquiles e a Tartaruga, o filósofo Zenão de Eléia tocou no cerne de um dos mais duradouros e enigmáticos problemas da ciência: como definir o infinito? Desde então nossos maiores filósofos naturais, lógicos, matemáticos
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