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uma aplicação da intertextualidade como categoria analítica* Memes on YouTube PDF

29 Pages·2014·0.88 MB·Portuguese
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Angela Maria Meili Os memes no YouTube: uma Graduada em Letras pela Fundação Universidade aplicação da intertextualidade Federal do Rio Grande como categoria analítica* do Sul, doutoranda do programa de pós-graduação em Comunicação Social da Memes on YouTube: using Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande intertextuality as do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Email: meili.prof@ an analytic tool gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq. Memes en YouTube: una br/7504822950838713. aplicación de la intertextualidad como una categoría de análisis * Este artigo é o desenvolvimento de um trabalho apresentado no GP Cibercultura do XI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 353 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 AngelA MAriA Meilii RESUmo o meme é visto um elemento de relação intertextual na análise de 31 vídeos- -resposta para o viral “oração” (A Banda mais Bonita da Cidade), publicado no YouTube em 2011. A intertextualidade do meme cria conexões semânticas e o seu valor agregado de visibilidade facilita a disseminação de conteúdos originais. Demonstramos que os vídeos virais, quando transformados em meme, desenca- deiam processos de identificação e diferenciação coletiva a partir das replicações, releituras e paródias criadas pelo público. Palavras-chave: YouTube. meme. viral. Audiovisual. intertextualidade. identidade. Ciberespaço. Cultura. ABSTRACT We clarify, in this paper, that memes are elements of intertextual relation, from the analysis of 31 videos response for a Brazilian viral called “oração” (A Banda mais Bonita da Cidade), popular on YouTube in 2011. meme’s intertextuality makes semantic connections and its aggregated value of visibility helps to disseminate original content. We demonstrate that viral videos, when become memes, trigger process of identification and differentiation from versions and parodies created by the audience. Keywords: YouTube. meme. intertextuality. viral. Audiovisual. identity. Cyberspace. Culture. RESUmEn Un meme es entendido, en este trabajo, como un elemento de la intertextualidad, o que se discute en el análisis de 31 de videos de respuesta para el viral brasileño “oração” (A Banda mais Bonita da Cidade), que fue muy popular en YouTube, en 2011. El meme es como una voz que impregna otras voces (como un intertexto) en el espacio de la red semántica de la internet. El valor agregado de un meme ayuda en la difusión de contenido original que lo utiliza como un elemento de significado, conectividad y visibilidad. Se demuestra que los vídeos virales, cuando se convierten en memes, son elementos de significado dentro de procesos de identificación colectiva y diferenciación. Palabras clave: YouTube. meme. intertextualidad. viral. Audiovisual. identidad. Ciberespacio. Cultura. Submissão: 22/03/2013 Decisão editorial: 18/11/2013 354 C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 Introdução O compartilhamento de vídeos virais é um modo de troca cultural e discussão digital espontânea (AGUAYO, 2011, p. 364), eles têm disseminação rápi- da e podem se tornar memes, quando aspectos de sua estrutura textual (frases de efeito, forma estética, elementos narrativos, recursos visuais) são reaprovei- tados em outras formas textuais derivadas. Assim, não consideramos somente o compartilhamento do vídeo, mas a produção de novos vídeos a partir do inicial, especialmente mediante paródias. A transformação em meme é um segundo estágio do viral, o qual, após ser amplamente visto e compartilhado, passa a ser incorporado a novos conteúdos, que são con- tribuição direta e manifesta do público, resultando em um processo dialógico de redação hipertextual colaborativa (PRIMO & RECUERO, 2003). Os memes são compreendidos com base na ca- tegoria analítica do intertexto pois, na prática, perpas- sam inúmeros textos (multimídias), constituindo paródias e outras formas de referência. Eles são “ativadores cul- turais” no ambiente da internet (JENKINS, 2006), fun- cionando como catalisadores e desencadeando pro- cessos de construção compartilhada de significados. O vídeo viral aqui analisado chama-se “Oração” (6’04’’), um videoclipe musical do grupo paranaense C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 355 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 AngelA MAriA Meilii de MPB e Indie Rock, A Banda Mais Bonita da Cida- de. Ele é filmado com a técnica de plano-sequência e já é uma releitura do vídeo da banda americana Beirut, para a canção “Nantes”, lançado em 2007. O vídeo “Oração” mostra a banda com amigos can- tando e celebrando a música, em uma antiga casa, na cidade de Rio Negro (PR), sugerindo uma aura de alegria, coletividade e juventude. Não tivemos acesso à análise técnica (Analytics) da sua performance no YouTube (pois o recurso é restrito para o usuário), mas, segundo informações do Portal G11, o vídeo recebeu quase 5 milhões de visitas no YouTube, em apenas dez dias do seu lançamento (13/05/2011). Certamen- te, não se pode garantir a precisão desses números, mas há significativa quantidade de notas na imprensa referindo-se ao seu rápido espalhamento2. Até a últi- ma consulta (novembro de 2013), eram mais de 12,7 milhões de visualizações e mais de 38 mil comentários. Além do vídeo original (informação geradora do meme), selecionamos para análise cerca de 31 víde- os, que foram publicados desde o lançamento até a data de 24/06/20113. O grande número de covers da canção foi ignorado e foram observadas apenas 1 “Banda Mais Bonita da Cidade volta ao casarão do clipe fenômeno da web” (g1.globo.com, 29/05/2011). 2 “Nunca foi tão fácil produzir um bom viral” (Rolling Stone, Ed. 58, jul, 2011); “O viral mais rápido da Internet” (IG São Paulo, 24/05/2011), “A Banda Mais Bonita da Cidade aposta na fofura e nos descolados da rede” (O Estadão, 20/05/2011), entre outras. 3 No momento da revisão do artigo para publicação nesta Revista (novembro de 2013), encontramos uma quantidade muito maior e mais variada de vídeos-resposta. Entretanto, devido à extensão do trabalho, resolvemos não mencioná-los aqui, restringindo-nos apenas aos dados coletados em 2011. 356 C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 Os memes nO YOuTube: uma aplicaçãO da inTerTexTualidade cOmO caTegOria analíTica paródias, mashups e outras combinações. A grande predominância é de paródias, que podem ser somen- te da música ou da música e do vídeo. O YouTube oferece o ambiente virtual onde os vídeos aparecem e exerce uma influência contextual importante. O site, como plataforma de comunica- ção e compartilhamento de material audiovisual, foi determinante para a força de viralidade que o vídeo adquiriu. Certamente a viralidade não é privilégio do site, mas tanto a sua estrutura (interativa) quanto a extensa base de usuários (popularidade) constitui um fator condicionante para a ocorrência do fenômeno. O YouTube não é somente uma tecnologia me- diadora da comunicação, mas um fenômeno cultu- ral, no qual agenciamentos discursivos e interações sociais adquirem consequências amplas e atingem a sociedade em escala global. O site, criado em 2005 com o objetivo de contemplar os conteúdos produzi- dos pelos usuários, permite o broadcasting gratuito de vídeos, de forma aberta e tecnologicamente pioneira (Flash Video para Browser). O sucesso foi enorme e, em 2006, a empresa foi adquirida pelo Google por 1,6 bilhão de dólares, quando já agregava quase a metade do mercado de vídeos online. Há, no site, a promoção de um senso de co- munidade e valorização do usuário como produtor. Snickars e Vonderau (2009) afirmam que ele é um dos mais importantes intermediários culturais dos últimos anos, devido ao fato de possuir uma estrutura que proporciona infinitas possibilidades de publicização e criação de conteúdo por múltiplos atores (os usuá- rios), conseguindo transitar entre o senso de comuni- dade e os interesses de mercado (heterogeneidade/ normalização). A navegabilidade do site torna pos- C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 357 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 AngelA MAriA Meilii sível o aproveitamento das estatísticas dos usuários para promover vídeos que estão em maior evidência, relacionando-os a outros com conteúdo semelhante. Isso tem um impacto importante no aspecto da vira- lidade e dos memes, pois cria uma cultura baseada na interface e na visibilidade que ela gera. As formas de expressão digital Chartier (1998) e Jenkins (2006) dizem que, na evolução dos suportes, as formas textuais persistiram e têm sido transpostas de uma tecnologia a outra, ao mesmo tempo, misturadas com diversas outras formas, resultando no que é denominado convergência(s). Há uma continuidade entre as culturas e não uma ruptura, quando os novos suportes emergem; por isso, pode-se afirmar que a “forma texto” original perma- nece. A figura abaixo (Figura I) representa uma inter- pretação dessa relação entre os formatos textuais e os suportes Figura I: Evolução dos suportes e formas textuais Fonte: Elaboração do autor 358 C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 Os memes nO YOuTube: uma aplicaçãO da inTerTexTualidade cOmO caTegOria analíTica Notamos que o aumento progressivo dos for- matos não significa que os antigos necessariamen- te permanecerão (eles podem tanto sumir, quanto continuar existindo, isso vai depender de um pro- cesso histórico complexo). Hoje e cada vez mais, a “unidade textual” é menos clara, mais instável e difusa. Pode-se delimitar apenas temporariamente a unidade de um texto. Quando observamos YouTube, por exemplo, um vídeo é um texto (tem começo, meio e fim), mas ele está envolto em uma esfera fluida de significação. Dessa maneira, o texto virtual utiliza unidades, códices que o estruturam como um objeto de sentido, sendo as unidades textuais “ana- lógicas” constantemente revisitadas. Os formatos textuais baseiam-se na unidade es- tável ou não, está é responsável pela sua definição como objetos de sentido. Sabemos que, a partir do surgimento da forma livro e mais acentuadamente no período do Romantismo, a ideia de unidade textu- al tem estado ligada à noção de autoria (CHARTIER, 1998, p. 49), que seria equivalente à expressão coe- rente de um sujeito. É uma ideia herdada, sobretudo, do Iluminismo (e da cultura tipográfica), que valorizou a genialidade do indivíduo. Contudo, essa unidade é apenas aparente e é relativa ao registro ou, de modo ainda mais específico, a um direito atribuído; a legislação inglesa, por exemplo, diferencia explicita- mente a ideia da expressão dessa ideia, protegendo a última quanto à propriedade intelectual, mas não a primeira, que é considerada um bem comum (BENTLY, 2010), já que o registro específico pode ser muito mais facilmente atribuído a um nome individual do que a ideia em si mesma, que pode aparecer transmutada e readaptada em inúmeros registros ao longo do tempo. C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 359 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 AngelA MAriA Meilii As ideias atravessam os indivíduos, que são articu- ladores de conhecimentos prévios; assim, cada texto pode ser visto como uma tessitura de ditos anteriores. Existe um relacionamento bastante singular entre o autor e o texto, que aponta para o que está fora e os precede, estando o autor situado entre quebras e descontinuidades que originam novos grupos discur- sivos, que possuem, por sua vez, modos particulares e variados de existência (FOUCAULT, 1984). Assim como Chartier, Johnson (2001) também compara a revolução digital à revolução tipográfica: se Joyce havia escrito um “software” para o “hardwa- re” criado por Gutenberg, fica claro que um suporte implica múltiplas interfaces, que podem gerar, ainda mais, múltiplas textualidades. A relação entre a técnica (suportes e formatos ou “técnicas de representação”) e a cultura é inegável; nos suportes fluidos há uma continuidade de certos modos de produção e recep- ção e também uma contínua alteração. As técnicas de representação, nesse caso, poderiam aproximar-se, relativamente, da noção de tecnologias da inteligên- cia (LÉVY, 1994). Estas são fundos sociotécnicos dos acontecimentos humanos, tecnologias intelectuais nas quais técnica, política e cultura negociam-se, mistu- ram-se, influenciam-se. Muito além de representações, essas tecnologias são agenciamentos, pois participam ativamente da sociedade, ocupando a esfera infor- macional. A diferença entre o computador e os an- tigos suportes está no fato de que este vai além de um espaço de registro simbólico direto e constitui um processo de representação mais complexo. [...] são máquinas representacionais porquanto im- primem palavras em papel ou registram imagens em filme, mas os processos subjacentes são de nature- 360 C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 Os memes nO YOuTube: uma aplicaçãO da inTerTexTualidade cOmO caTegOria analíTica za puramente mecânica. Um computador, por outro lado, é um sistema simbólico sob todos os aspectos... Aqueles pulsos de eletricidade são símbolos que re- presentam zeros e uns, que por sua vez representam simples conjuntos de instrução matemática, que por sua vez representam palavras ou imagens, planilhas e mensagens de email. O enorme poder do computador digital contemporâneo depende dessa capacidade de auto-representação. (JOHNSON, op. cit., p. 25) O ambiente interativo de rápida fluidez depen- de das interfaces (LÉVY, op. cit.), que são dispositivos lógicos, classificatórios e espaciais, formas, modelos que se sustentam sistematicamente e organizam a informação e as conexões. A partir dessa interface é que se forma a textualidade virtual, que são os obje- tos, conteúdos, funções de sentido, o corpo sintático e semântico onde se desenvolvem os significados. Uma textualidade composta de elementos deriva- dos de toda uma história da representação cultural (MANOVICH, 2001), que vem desde a invenção da escrita, passando pela pintura, a música, fotografia, o cinema, entre outras. A intercalação de vários formatos no hipertexto gera o que o Lévy (op. cit.) caracteriza como uma “rede4 de interfaces”. Ambiente no qual uma enorme quantidade de signos e formatos converge, produzin- do um “espaço interativo e reticular de manipulação, associação e de leitura”, em que “a imagem e o 4 O leitor pode encontrar mais detalhes sobre o conceito de rede no trabalho de Manuel Castells, especialmente na obra The Rise of Network Society, The Information Age: Economy, Society and Culture (1996), na qual o tema é amplamente discutido, especialmente o aspecto estrutural da rede como forma de organização social (economia e trabalho). C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 361 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381 AngelA MAriA Meilii som adquirem o estatuto de quase-textos” (ibid., p. 33); quase pois não podem ser apreendidos numa unidade fechada. Intertextualidade Os estudos textuais (KOCH, 2003) definem o texto como uma unidade semântica contextualizada so- cialmente, em um processo interativo. Tal unidade configura-se com base em uma organização estrutural interna, que é a coerência e a coesão: o texto diz algo que possa ser interpretado pelo leitor, funções essenciais para que um elemento de sentido em qual- quer suporte exista. A coerência não está contida no texto, mas acontece a partir da interpretação, que possibilita o arranjo de uma infinidade de sentidos. A noção de intertextualidade surge das interpre- tações de Kristeva (1974) a Bakhtin (1981a). O último desenvolveu teorizações acerca do dialogismo, afir- mando que cada discurso é elaborado em vistas do outro e não pode subsistir sem os outros discursos (e sujeitos). Assim, as vozes interconectam-se e dialogam, tornando-se umas referências às outras. Esse atraves- samento de vozes é entendido como intertextualida- de: percebemos em qualquer unidade de sentido a presença de múltiplas vozes. Referindo-se diretamente ao nosso objeto, consi- deramos que o meme funciona como uma voz (que, em si, também é heterogênea) que perpassa uma infinidade de outras vozes (em forma de intertexto) no espaço da rede semântica da internet. A voz de um enunciado, quando ele se torna um meme não é mais subjetiva, mas histórica e compartilhada, as apropriações do meme são, por sua vez, subjetivas e resultantes de um processo de identificação. 362 C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 2, p. 353-381, jan./jun. 2014 DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2175-7755/cs.v35n2p353-381

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Un meme es entendido, en este trabajo, como un elemento de la intertextualidad, o que se discute FINKELSTEIN, R. A Memetics Compendium.
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