UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA FERNANDO FIOROTTI POLTRONIERI O FARDO DO PASSADO CONTRA A EMANCIPAÇÃO: UMA ANÁLISE DA ALTERNATIVA PÓS-MARXISTA NITERÓI 2012 FERNANDO FIOROTTI POLTRONIERI O FARDO DO PASSADO CONTRA A EMANCIPAÇÃO: UMA ANÁLISE DA ALTERNATIVA PÓS-MARXISTA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense- UFF, como requisito para obtenção do grau parcial de Mestre em História. Orientador: Prof. Dr. Bernardo Kocher. NITERÓI 2012 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá P779 Poltronieri, Fernando Fiorotti. O fardo do passado contra a emancipação: uma análise da alternativa pós-marxista / Fernando Fiorotti Poltronieri. – 2012. 176 f. Orientador: Bernardo Kocher. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2012. Bibliografia: f. xxx-xxx 1. Marxismo; aspecto histórico. 2. Pós-modernidade. 3. Teoria da história. 4. Historiografia. 5. Nova esquerda (Ciência Política). I. Kocher, Bernardo. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. III. Título. CDD 335.409 FERNANDO FIOROTTI POLTRONIERI O FARDO DO PASSADO CONTRA A EMANCIPAÇÃO: UMA ANÁLISE DA ALTERNATIVA PÓS-MARXISTA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense- UFF, como requisito para obtenção do grau parcial de Mestre em História. Setor: História Contemporânea III Aprovada em: ___/___/_____ Banca Examinadora __________________________________________ Prof. Dr Bernardo Kocher Universidade Federal Fluminense- UFF- (orientador) __________________________________________ Profª. Drª. Virgínia Maria Gomes de Mattos Fontes Universidade Federal Fluminense - UFF- (arguidor) __________________________________________ Prof. Dr. Eurelino Teixeira Coelho Neto Universidade Estadual de Feira de Santana- UEFS- (arguidor) Niterói 2012 AGRADECIMENTOS Uma pesquisa de mestrado pode ser um empreendimento muito solitário, especialmente quando a tela do computador passa a ser a sua primeira visão pela manhã ou as fotocópias e livros empilham-se pelo seu quarto. Contudo, estaria mentindo se afirmasse que este processo não tem os seus diminutos prazeres, as vitórias que advêm de uma frase bem construída ou da visão de conjunto do texto que cresce com o passar dos meses. Do mesmo modo, o processo de escrita não se resume a este ―mundo interior‖. Ele é alimentado por um sem número de vivências, experiências e colaborações que permitiram o término deste trabalho. Primeiramente, gostaria de agradecer a minha família, Zé, Iracema e Felipe, que não deixaram de me apoiar financeira e emocionalmente, tanto no período que morei em Niterói ou, posteriormente, no momento ―intelectual desempregado‖ no Espírito Santo. Não me esquecerei das caronas de domingo à noite para a rodoviária, nem do afeto no retorno após algumas semanas em Niterói. Sem eles esta dissertação não existiria. Não posso me esquecer das boas discussões e debates que tive nas disciplinas de professores como Guilherme Pereira das Neves, Virgínia Fontes e Sônia Mendonça. Nas aulas conheci pessoas de todo o Brasil com quem não só discuti os textos propostos, mas troquei informações e vivências que melhoraram o modo como compreendia a minha própria pesquisa. Devo mencionar a ajuda do colega Guilherme do Ceará que me passou os arquivos da New Left Review que foram muito úteis neste trabalho. No período como ―niteroiense‖, devo mencionar a grande ajuda dos colegas da república Green House, Pedrão, Pietro, Lucas, Rafael, entre outros, que tornaram mais fácil a estadia e as idas e vindas do Bandejão. Agradeço também a familiares, amigos e colegas que nestes dois anos torceram e me incentivaram a terminar a minha pesquisa. Seria injusto mencionar o nome de alguns como forma de ilustração, já que, nesta questão, tive o apoio de muitas pessoas que fizeram a vida deste pesquisador menos maçante e mais alegre. Agradeço à orientação do professor Bernardo Kocher que aceitou a tarefa sobre um tema incomum e me deu liberdade e apoio na produção desta pesquisa. Aos professores Marcelo Badaró e Virgínia Fontes pela enriquecedora qualificação, assim como o aceite para continuar na banca de defesa. Da mesma forma, aos professores Eurelino Coelho e André Laino por terem concordado em participar da banca de defesa. Por fim, mas não menos importante, agradeço à Luiza. Uma mineirinha que apareceu cinco anos atrás na minha vida e me apoiou plenamente. Seu amor e carinho foram fundamentais neste processo. Com ela ao meu lado, espero enfrentar outras ―batalhas‖. RESUMO O objetivo desta pesquisa é refletir sobre a teoria da história subjacente ao pós-marxismo de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe. Este fenômeno teórico nasce de uma junção entre o marxismo, de autores como Antonio Gramsci e Louis Althusser, e do pós-modernismo, de pensadores como Jacques Derrida e Richard Rorty. Desta união, entre matrizes teóricas tão distintas, emergem perspectivas que se amparam em um novo conjunto de categorias e conceitos para defender uma discursivização do real e o aprofundamento do discurso democrático como estratégia para a emancipação. O jogo que se estabeleceria na contemporaneidade seria o da hegemonia, onde um processo de eterna rearticulação dos discursos ocorreria sob uma condição contingente e fugidia. No bojo da hegemonia, o nexo temporal passado-presente-futuro é representado de forma a valorizar a dimensão do presente, já que este é o lócus de rearticulação do discurso, e ainda porque o passado não deteria nenhuma positividade sobre o mesmo. Esta rejeição objetivaria libertar o jogo político da contemporaneidade das constrições da história sem, no entanto, abrir mão de uma agenda voltada para a emancipação social. O pós-marxismo é investigado como produtor implícito de uma teoria historiográfica que mantém estreitos laços com uma teoria da história pós-moderna. Este trabalho não se furta a tecer considerações críticas ao pós-marxismo, o contrapondo a um fazer historiográfico que, inspirado no materialismo histórico, não cai nos becos sem saída que a teoria pós-marxista apresenta. Palavras-chave: História do Marxismo, Pós-marxismo, Pós-modernidade, Teoria da História, Historiografia, Esquerda contemporânea. ABSTRACT The purpose of this research is to discuss the theory of history subjacent to the post-marxism positions of Ernesto Laclau and Chantal Mouffe. This phenomenon arises from a theoretical link between Marxism, by authors such as Antonio Gramsci and Louis Althusser, and post-modern thinkers, especially the work of Jacques Derrida and Richard Rorty. From this union of distinct theoretical frameworks some perspectives emerge, founded on a new set of categories and concepts, to defend a discursivization of the real and the deepening of the democratic discourse as a strategy for emancipation The game that would be established in the contemporaneity would be hegemony, where an eternal process of rearticulation of discourses would occur under a condition of contingency and transitoriness. In the midst of hegemony the temporal link past-present-future is represented in order to appreciate the present scale since this is the locus of rearticulation of discourse and also because the past will not see it in a positive way. This rejection would aim to release the contemporary political game from the constrictions of history, without giving up an agenda toward social emancipation. The post-Marxism is investigated as a producer of an implicit theory of historiography that has close ties with a postmodern theory of history. This work does not avoid being critical about post-marxism, contrasting it with a historiography which, inspired by historical materialism, does not falls into the blind alleys that the post- marxist theory presents. Keywords: History of Marxism, Post-Marxism, Post-modernity, Theory of History, Historiography, Contemporary Left. Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1- LUTA DE CLASSE, PÓS-MODERNISMO E CRISE DO MARXISMO (1945-1990) ............................................................................................................... 15 1.1 O MARXISMO: PROBLEMAS DE UMA PESQUISA HISTÓRICA ................... 18 1.2 O ―MARXISMO OCIDENTAL‖ .......................................................................... 24 1.3 CAPITALISMO E LUTA DE CLASSES CONTEMPORÂNEAS (1945-1991) .... 34 1.3.1 A ―era dourada‖ do capitalismo (1945-1973) ................................................ 35 1.3.2 Crises e mutações do capitalismo: (1973-1991) .......................................... 42 1.4 O MARXISMO NA BATALHA DAS IDEIAS ...................................................... 50 1.4.1 Marx e o admirável mundo novo .................................................................. 51 1.4.2 O Marxismo e o pós-moderno ...................................................................... 68 1.5 A ―CRISE DO MARXISMO‖ E O PÓS-MARXISMO ........................................ 80 CAPÍTULO 2- O PÓS-MARXISMO DE ERNESTO LACLAU E CHANTAL MOUFFE .................................................................................................................................. 85 2.1 A DEMOCRACIA RADICAL DE LACLAU E MOUFFE ..................................... 86 2.1.1 O marxismo contra a contingência ............................................................... 87 2.1.2 Hegemonia, Equivalência e Antagonismo .................................................... 94 2.1.3 A democracia radical pós-marxista ............................................................. 104 2.2 OS EMBATES DO PÓS-MARXISMO ............................................................ 110 2.2.1 O Pós-marxismo na ―New Left Review” ..................................................... 114 2.2.2 O Pós-marxismo: outros debates ............................................................... 130 CAPÍTULO 3 - O FARDO DO PASSADO CONTRA A EMANCIPAÇÃO ................ 142 3.1 O ESVANECIMENTO DA HEGEMONIA ........................................................ 143 3.2 A HISTÓRIA ENCONTRA O SEU FIM ........................................................... 154 3.3 A HISTÓRIA CONTRA O PÓS-MARXISMO .................................................. 172 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 187 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 190 9 INTRODUÇÃO O grupo de comédia inglês Monty Phyton lançou, em 1979, o filme A vida de Brian (Life of Brian). Esta obra contava a história de um rapaz, o Brian do título, que na Judeia do século I participou de uma organização ―revolucionária‖, foi confundido com um messias e acabou crucificado. A comédia produzida pelos ingleses do Phyton sempre foram consideradas cortantes e ácidas em sua crítica da situação inglesa e mundial entre as décadas de 70 e 80 do século XX. Em uma das sketchs deste filme, esta capacidade se mostra notável. Nesta, um ―partido de revolucionários‖ hebreus reúne-se para discutir estratégias para a ―esquerda‖ local. Alguns temas inquietavam o grupo, entre eles, a incorporação das mulheres como membros ativos do movimento e a concorrência com as outras organizações da ―esquerda‖. O momento ―cômico‖ ocorre quando um homem do grupo afirma querer ser uma mulher e que, além disto, ele tem direito a gerar um filho. Inicialmente, uma voz mais racional afirma que tal coisa é impossível, só que é vencida por outros companheiros que defendem a legitimidade da causa, pois ele tem o direito de querer gestar um filho, mesmo que isto seja impossível. A causa é simbólica, mais do que real. Um membro atônito com o rumo da conversa a encerra com a seguinte declaração: ―Talvez esta seja um símbolo da luta contra a realidade‖1. Esta pequena encenação poderia ser explorada de algumas maneiras. Como ilustração de um dos eixos a ser aprofundado nesta pesquisa, pode-se destacar o papel que as palavras, o discurso, passaram a ter nos movimentos de esquerda nas últimas décadas do século XX. A ênfase no discurso foi acompanhada por um relativo distanciamento da realidade, das condições concretas de existência dos homens. E, mesmo com todos os problemas que uma palavra como realidade apresenta, ela deve ainda ser um objetivo/limite dos esforços teóricos da esquerda. A discursivização das teorias de esquerda, entre elas o marxismo, popularizou-se junto ao aparecimento de muitas teses que tinham por mote os termos: ―pós‖ ou ―fim‖. Noções como pós-modernismo ou fim da história ficaram conhecidas nas últimas décadas do século XX e tornaram-se a última moda, consumidas com voracidade por intelectuais, jornalistas ou cidadãos bem 1 A vida de Brian (Life of Brian). Terry Jones, Grã Bretanha: Handmade films, 1979. 1 Dvd.
Description: