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uma análise comparativa das narrativas de Thomas Bernhard PDF

183 Pages·2009·1.08 MB·Portuguese
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS Departamento de Letras Modernas Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã Patricia Miranda Dávalos Ficção e autobiografia: Uma análise comparativa das narrativas de Thomas Bernhard São Paulo 2009 Patricia Miranda Dávalos Ficção e autobiografia: Uma análise comparativa das narrativas de Thomas Bernhard Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Língua e Literatura Alemã, do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Letras Orientador: Prof. Dr. Helmut Paul Erich Galle São Paulo 2009 1 Agradecimentos Ao Prof. Dr. Helmut Galle, além de estímulo dado desde a graduação, pela orientação competente e por ter sido durante todo esse período um interlocutor agradável e interessado; Aos professores Marcus Mazzari e Jorge de Almeida, pela participação na qualificação e pelos conselhos dados na ocasião; À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela concessão da bolsa de mestrado que permitiu a realização desta pesquisa; Aos amigos pelo companheirismo e paciência em ouvir longas queixas e divagações sobre autobiografia e Thomas Bernhard; À minha mãe, Hildete, que constantemente me incentivou e apoiou. 2 SUMÁRIO Índice..........................................................................................................................................4 Resumo.......................................................................................................................................5 Abstract......................................................................................................................................5 Introdução..................................................................................................................................7 Capítulo I.................................................................................................................................21 Capítulo II................................................................................................................................72 Capítulo III............................................................................................................................124 Considerações Finais.............................................................................................................170 Referências Bibliográficas....................................................................................................175 3 ÍNDICE Introdução..................................................................................................................................5 Capítulo I.................................................................................................................................19 Estratégias de persuasão do leitor: estudo da autobiografia de Thomas Bernhard Análise de Die Ursache. Eine Andeutung..............................................................................19 Vítimas da Áustria católico-nacional-socialista........................................................................21 Forma como mediação da cisão eu – mundo............................................................................43 Capítulo II................................................................................................................................70 Estratégias de desmascaramento do narrador: estudo da antiautobiografia de Murau Análise de Auslöschung. Ein Zerfall......................................................................................70 Construção de uma (anti) autobiografia ficcional: unidade e tensão........................................71 Antiautobiografia como tentativa de extinção..........................................................................87 A morte do narrador.................................................................................................................91 Forma como denúncia e o projeto extinção..............................................................................99 Capítulo III............................................................................................................................122 Memória coletiva austríaca entre fato e ficção O conceito de memória coletiva..............................................................................................122 Autobiografia de Bernhard: “Também eu era uma vítima da guerra”....................................128 A antiautobiografia de Murau: “Esse Estado é igual a minha família”..................................147 Memória coletiva e as diferentes gerações.............................................................................163 Considerações finais..............................................................................................................168 Bibliografia............................................................................................................................173 4 Resumo A partir da comparação do primeiro volume autobiográfico do escritor austríaco Thomas Bernhard, Die Ursache. Eine Andeutung (1975), com o romance Auslöschung. Ein Zerfall (1986), o qual simula, de certo modo, o gênero autobiográfico, procura-se observar como os mesmos complexos temáticos são configurados nos dois casos e como as diferenças encontradas se relacionam com as diferentes intenções ligadas aos textos, bem como aos diferentes momentos de escrita. É possível notar como a ficção possibilita ao autor mais liberdade para experimentar formalmente, bem como para intensificar o ataque desenvolvido contra suas origens, ao passo que na autobiografia, apesar de também apresentar um viés crítico acentuado, o fazer de forma mais sóbria, ocupando-se com questões de verossimilhança e autenticidade próprias do gênero. Além disso, este trabalho tenta mostrar como a ficção, surgida na mesma época da autobiografia, pode ser lida como uma espécie de comentário a esta. Palavras-chave: Thomas Bernhard; literatura austríaca; autobiografia; ficção; memória coletiva. Abstract This work deals with the comparison of the first autobiographical volume of the Austrian writer Thomas Bernhard, Die Ursache. Eine Andeutung (1975), with his novel Auslöschung. Ein Zerfall (1986), which has some characteristics of the autobiographical genre. The comparison intends to show how the same themes are configured in both cases and how the differences can be related to the different intentions and different moments of writing. Being noted as fiction allows the author more freedom to experiment formally and to intensify the attack he developed against his origins, while in the autobiography, although it also has a strong critical aspect, he puts his arguments in a restrained way, dealing with issues of verisimilitude and authenticity, which are typical for this genre. Furthermore, this text will try to analyse how the novel, written in the same context as the autobiography, completes it and functions like a kind of remark to the autobiographical work. Key words: Thomas Bernhard; Austrian literature; Autobiography; Fiction; Collective Memory. 5 Diese Beobachtung machen Sie an allen bedeutenden Künstlern sie schaffen immer nur ein einziges Werk und verändern es immer in sich ununterbrochen unmerklich. (Thomas Bernhard, Die Berühmten) 6 INTRODUÇÃO Na década de 70 houve uma forte tendência de escritos autobiográficos na literatura de língua alemã: diversos autores, já conhecidos por sua produção ficcional, publicam relatos autobiográficos. Os estilos adotados são diversos, contudo, é fato inquestionável que muitos desses escritos privilegiam a narrativa da infância determinada pelas guerras e crises decorrentes na primeira metade do século XX, as quais constituem, especialmente no caso da Segunda Guerra, fato central em torno do qual forma-se a identidade e imagem individual para os mais diversos textos surgidos na segunda metade do século passado (cf. WAGNER- EGELHAAF 2000: 186). Tal tendência inicia-se já em 1961 com Abschied von den Eltern de Peter Weiss e pode ser conferida, por exemplo, em Zwettl de Peter Härtling (1973), Jugend de Wolfgang Koeppen (1976), Kindheitsmuster de Christa Wolf (1976), Die gerettete Zunge de Canetti (1977), etc. Um ponto em comum para a maioria desses textos, bem como para outros surgidos posteriormente, por exemplo, a autobiografia da vítima judia Ruth Klüger weiter leben (1997) ou os livros dos alemães Günter de Bruyn (Zwischenbilanz. Eine Jugend in Berlin, 1992, e Vierzig Jahre. Ein Lebensbericht, 1996) e Ludwig Harig (Weh dem, der aus der Reihe tanzt, 1990), é que tais textos colocam-se de forma muito clara no contexto da memória coletiva do grupo, a autobiografia no pós-guerra mostrando a tendência de tentar esclarecer a relação do autobiógrafo com a catástrofe central da história recente européia, posicionando-se na discussão pública a cerca da responsabilidade, culpa e vergonha, no âmbito individual e coletivo, em relação às tragédias ocorridas devido à guerra, à ditadura e ao holocausto. Outro fato é que poucos desses relatos têm, ao menos formalmente, características em comum com o modelo clássico em língua alemã representado por Aus meinem Leben. Dichtung und Wahrheit de Goethe: não há mais o equilíbrio classicista postulado pelo autor entre sujeito e sociedade, o velho a observar sereno seu desenvolvimento – visão, aliás, partilhada inicialmente pela crítica e que transformou o livro em clássico do gênero –, trata-se antes de relatos de indivíduos cuja juventude é determinada por crises e para os quais a sociedade é vista com desconfiança, sujeitos que constroem sua personalidade, em geral, pela oposição ao meio externo. Tais relatos divergiriam do que se espera normalmente de uma autobiografia (cf. SCHEITLER 2001: 149), ainda pensando no modelo clássico, pois muitas vezes não mostram um autor que lança um tranqüilo olhar retrospectivo de sua vida, que apresenta a sabedoria adquirida com a idade ou busca empreender um grande panorama de 7 suas vivências: são antes autores relativamente jovens, os quais tentam resgatar de forma literária uma fase de suas vidas além do alcance da memória em sua realidade passada, mas extremamente representativa para a constituição do ser atual e para o papel ocupado pelo adulto na vida pública e na já referida questão da culpa debatida no contexto do nacional- socialismo. A amplitude das tentativas inovadoras e a variedade das soluções individuais encontradas mostram uma nova consciência para com a comunicabilidade da experiência vital do autor, bem como da própria ficcionalidade. Juntamente com essa nova postura frente ao relato factual e à ficção surge a necessidade de apreender as modificações sofridas na elaboração da experiência individual, tanto por gêneros factuais, quanto por gêneros ficcionais – no caso autobiografia e romance, considerados pela crítica como gêneros próximos (HOLDENRIED 2000: 28). A obra do austríaco Thomas Bernhard, por sua particular insistência tanto na narrativa autobiográfica, quanto na ficcional, parece especialmente adequada para realizar-se um estudo das relações entre autobiografia e romance nesta fase histórica das literaturas em língua alemã. A produção literária de Bernhard iniciou-se em 1950, com a publicação no jornal Salzburger Volksblatt de seu primeiro texto em prosa, Vor eines Dichters Grab, no qual trabalha de forma literária a morte do avô. A partir de então publica obras nos mais diversos gêneros – poesias, dramas, comédias, romances, contos, etc. –, sendo que por ocasião da publicação do primeiro volume autobiográfico, o autor já gozava de grande prestígio entre o público e a crítica. Os cinco volumes autobiográficos são publicados entre 1975 e 1982, simultaneamente à sua literatura ficcional, de onde surge a questão de como tais escritos se relacionam com a produção factual, como se inserem no vasto conjunto da obra do autor, a qual possui sólida unidade temática e estilística: o que se vê ao longo dos anos são revisões e variações dos mesmos complexos temáticos pessoais, trabalhados em seu estilo característico de longas subordinações, inúmeras variações e repetições de um tema em monólogos extensos. Se semelhanças entre produção autobiográfica e ficcional são constantes em toda sua produção, é preciso notar que tal proximidade acentua-se na década de 80, quando, após o empreendimento autobiográfico, todos os romances seguem o modelo do gênero – são relatos em prosa da vida de um indivíduo, que, de uma perspectiva retrospectiva, analisa seu passado, logo, nos quais narrador e protagonista coincidem – e a diferença entre autor e personagem 8 torna-se cada vez mais tênue, como observa Huntemann (2003: 177). Para a comparação entre obra factual e ficcional proposta aqui, os romances publicados na década de 80 seriam então os mais apropriados, pois tais características não são constantes na produção do autor, o que é perceptível por livros como Frost (1963), Amras (1964) ou Verstörung (1967), os quais se valem de um narrador observador, ou mesmo de inserções de outros gêneros, como o diário e a carta. Sendo assim, optou-se por utilizar como corpus desta análise comparativa o primeiro volume do ciclo autobiográfico, Die Ursache. Eine Andeutung (1975), e o último romance publicado pelo autor Auslöschung. Ein Zerfall (1986), sendo as razões de tal escolha apresentadas a seguir. Embora os livros autobiográficos tenham sido publicados isoladamente, formam uma unidade, apresentando um encadeamento não cronológico, mas antes temático-estrutural: o desfecho de um livro contém os elementos a serem trabalhados no seguinte, de modo que o último deles, Ein Kind, retoma o primeiro, Die Ursache, formando uma composição circular – porém, pode-se começar a leitura da autobiografia por qualquer um dos volumes sem prejuízo da compreensão do volume visto isoladamente, o qual naturalmente se enriquece pela leitura do conjunto. Nesta pesquisa optou-se, no caso da autobiografia, por privilegiar o texto Die Ursache, texto que será analisado no primeiro capítulo da dissertação, embora sempre que pertinente haja referência aos outros títulos, em consonância com a visão da obra autobiográfica de Bernhard como unidade. Tal opção procura o equilíbrio entre a necessidade de ver a autobiografia em seu conjunto e a limitação de uma pesquisa de mestrado, de modo que Die Ursache, volume inaugural, por conter episódios decisivos na trajetória do autor, na consolidação de sua imagem de outsider, parece ser o mais representativo para a análise, além de ser o que contem mais elementos próximos ao romance escolhido para integrar o corpus. Já a escolha de Auslöschung. Ein Zerfall, cuja análise ocupa o segundo capítulo deste trabalho, para representante da vertente narrativa ficcional da última fase, justifica-se pelo fato de, além de ser considerado pela crítica e pelo próprio autor como ponto alto de sua produção1, ser também o último romance publicado e o mais abrangente, no qual Bernhard apresenta uma revisão de suas temáticas mais relevantes na forma de uma autobiografia fictícia – de forma que entre Auslöschung e o ciclo autobiográfico estabelece-se uma espécie de equivalência quantitativa (volume escrito) e qualitativa (conteúdo e forma). Nesse romance, Franz-Josef Murau, ao preparar-se para o funeral dos pais e irmão, repassa sua vida 1 Cf. HUNTEMANN 2003: 126-128. 9

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como tantos sempre se mataram, ou teria perecido no interior de seus aber im medizinischen Sinne immer schädliche, folgerichtig auf Kopf und
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