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Um piano nas barricadas_ Autonomia operária (1973-1979) PDF

332 Pages·2013·4.219 MB·Portuguese
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1 Título original: Il Ghiaccio era Sottile (Deriveapprodi 2012) Autor: Marcello Tarì Tradução, revisão e paginação: Edições Antipáticas Capa: Edições Antipáticas Barcelona Impressão: Guide - Artes Gráficas Lda. Depósito Legal: Tiragem: 200 exemplares Primeira edição: Maio de 2013 edicoesantipaticas.tumblr.com [email protected] 2 MARCELLO TARÌ UM PIANO NAS BARRICADAS AUTONOMIA OPERÁRIA (1973-1979) Lisboa EDIÇÕES ANTIPÁTICAS 2013 3 4 ÍNDICE INTRODUÇÃO A revolução que vem 7 CAPÍTULO I Corte: O Partido Mirafiori, o declínio dos grupos, as jornadas de Abril (1973-1975) 17 CAPÍTULO II Separ/acção, dessubjectivização e a “ditadura dos desejos”: o operário social, o feminismo, a homossexualidade, o proletariado juvenil e outras transversalidades (1975-76) 99 CAPÍTULO III Um piano nas barricadas: o Movimento, a insurreição, os grupos, a dispersão (1977) 213 ANEXO Viver com a guerrilha (Lúcio Castellano) 315 5 6 A Revolução que Vem A aventura de quem busca outro caminho para a Índia e, por isso mesmo, descobre outros continentes, está muito próxima da nossa actual maneira de proceder. Mario Tronti, Operários e Capital Este texto explica-se a si próprio e praticamente dispensa introduções. Em condições normais as Edições Antipáticas limitar-se-iam a fazer-lhe preceder dois ou três parágrafos de circunstância sobre o desejo de estimular o debate de ideias e o pensamento crítico, mas as particularidades do contexto nacional tornam oportunas algumas linhas sobre a história narrada por Marcello Tarì e aproveitámos o ba- lanço para lhes juntar algumas considerações próprias. Para o público português, o «autonomismo» é sobretudo um conjunto de ideias e enunciados, de neologismos e hipóteses vagamente «pós-modernistas» sobre a globalização, o neoliberalismo, o trabalho imaterial e os novos movimentos sociais, sintetizado nas obras de António Negri e Michael Hardt: Império, Multitude e Commonwealth. Demasiado social-democrata para os anarquistas, demasiado anarquista para os marxistas-leninistas e demasiado ambas as coisas para a Nova Esquerda, esta corrente teórica usufrui de um considerável prestígio académico e sucesso mediático, mas tem tido menos sucesso no que à intervenção política diz respeito. A relação entre as posições 7 actualmente defendidas pelo colectivo agrupado em torno da revista Multitudes e a experiência da autonomia operária em Itália nos anos Setenta extravasa largamente o âmbito deste livro. Importa no entanto assinalar que na recepção e divulgação da obra de Toni Negri, a sua participação nessa experiência assume um carácter duplamente problemático, que a apresenta alternada ou combinadamente de duas formas: a autonomia operária enquanto nota de rodapé do seu curriculum, um momento formativo do seu percurso que lhe confere um pedigree radical, mas que não merece mais do que uma ou duas referências à sua passagem pela prisão e exílio na sequência do rapto de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas; a autonomia operária enquanto a pré-história de um «autonomismo» agora amadurecido, capaz de fazer substituir o maximalismo insurrecional e intransigente de outrora por uma respeitabilidade académica e um pragmatismo programático utilizável quer por movimentos sociais «alterglobalizadores» europeus quer por governos soberanos latino-americanos, que vai da valorização do êxodo migrante à proposta de um rendimento universal de cidadania. Este texto traça deliberadamente uma linha de fuga face a essa arrumação do problema, devolvendo a teoria ao seu lugar específico, de interpretação e descodificação de uma multiplicidade de práticas de conflito, sociabilidade e ques- tionamento que caracterizaram os acontecimentos históri- cos ocorridos em Itália na década de Setenta. Não se trata certamente de desprezar ou secundarizar a teoria, mas de a reconduzir a um contexto de crítica da vida quotidiana, experimentação radical de novas formas de vida e empenho estratégico na elaboração de um «comunismo mais forte do que a metrópole», assente na recusa do trabalho e da socie- dade nele fundada, historicamente situado num período de 8 crise e reconversão capitalista, de luta contra e na austeri- dade, de cooptação das instituições do movimento operá- rio para o espaço da governamentalidade, de dura repres- são e áspero confronto militar com os diversos aparatos do Estado. A teoria, portanto, como uma prática entre outras (e não necessariamente a mais interessante), num contexto histórico demasiado carregado de complexidade e demasia- do relevante para a compreensão do nosso tempo para po- der ser resumido a meia-dúzia de generalidades sobre o ter- rorismo e o Estado. E a teoria, também, como uma prática contaminada, atravessada, desafiada pela irrupção de com- portamentos, imaginários e desejos tradicionalmente exila- dos para as margens da política, pela multiplicação de sujei- tos em conflito e pelo desafio estratégico de reflectir sobre os problemas colocados por (mas também colocados a) um movimento emancipatório de enorme amplitude e profun- didade. Este livro sobre a autonomia operária é por isso um livro contra o «autonomismo», aqui entendido como um discurso emitido por vozes devidamente autorizadas, a par- tir de um centro definido, uma etiqueta ideológica para um processo de cristalização teórica, uma identidade militante paralela às outras, do anarquismo ao trotskismo, do maoís- mo ao marxismo-leninismo. Mas a autonomia tem também uma outra história nas estantes das livrarias portuguesas, bastante distante da no- toriedade do «autonomismo», mas familiar para quem se move nos meios anticapitalistas e antiautoritários. Duas edições do romance Queremos tudo, de Nanni Ballestrini, fo- ram lançadas pela Fenda e ainda circulam apesar de quase esgotadas, contando a história das lutas na FIAT em 1969, narrando na primeira pessoa, numa torrente discursiva re- pleta de marcas de oralidade, o processo pelo qual os operá- rios da linha de montagem fizeram do seu ódio ao trabalho 9 uma estratégia imparável contra os patrões e a burocracia sindical, explorando a vulnerabilidade da grande fábrica integrada e da produção em série face à sabotagem difu- sa e à greve selvagem. E os leitores bem informados não desconhecerão certamente o volume Apelos da prisão de Segóvia, editado pela Antígona e dedicado aos membros dos Comandos autónomos encarcerados na sequência de diver- sos exproprios e atentados levados a cabo no contexto das lutas operárias em Barcelona, na década de Setenta, com um prefácio escrito (mas não assinado) por Guy Debord e uma polémica com a CNT sobre o uso da violência no âmbito da luta de classes. Muito menos conhecido é o li- vro de Mario Tronti, Operários e capital, editado pela Regra do Jogo em 1976 e praticamente ignorado em Portugal, apesar de ter sido um dos filões teóricos constitutivos da autonomia operária, com a sua proposta de revalorização da subjectividade do trabalho vivo e o seu ênfase na centra- lidade das lutas operárias no funcionamento do modo de produção capitalista. Não sendo esta uma lista bibliográfica extensíssima e com pretensões de exaustividade, serve en- quanto medida para um diagnóstico relativamente fácil: em comparação com outras correntes políticas e constelações teóricas, a experiência e os textos da autonomia operária são bastante pouco conhecidos pelo público português. A edição deste livro é um modesto contributo para que isso não seja tanto assim. Nas últimas décadas, em certos contextos políticos, procedeu-se à escrita informal de uma história popular dos anos 60 e 70 que permitisse à esquerda reconstruir uma memória colectiva que não partisse das experiências brutais do socialismo real, capaz de identificar uma linha- gem de parentesco distinta quer das paradas militares quer do eurocomunismo. Esse processo teve um sucesso tão 10

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