Sonhos Sonhei um sonho sonhado Desse tempo já passado Por onde eu nunca passei. Nem nunca mais encontrei, O que perdi pela vida. Nessa busca sem sentido, Por essa noite perdida, Pelo nunca mais ter tido. Passava ruas estreitas, Encruzilhadas sem rumo, Tremendo pelas maleitas, A vida perdendo o prumo. Nesse sonho que sonhava Percebi tantas senzalas Mal percebia, acordava, Voltava pras mesmas salas. Os olhos podres sorriam, Voavam sobre meu rosto, Devoravam, renasciam Formas, paladar e gosto. Nos fraques que eles vestiam, Um sorriso de bom moço, No fundo todos sabiam, Cardápios do mesmo almoço. Nas bandejas, as cabeças, Dos sonhos que tive outrora, No meu sonho que às avessas, No pesadelo d´agora. Voltavam aves rapinas, Tragando tudo de novo, Destruindo essas campinas, Sugando todo esse povo. Forjavam outras correntes, Acorrentando os mais frágeis, Nos cantos, todos dementes, Na carne, as unhas mais ágeis. Expondo vísceras ocas Dos trôpegos caminhantes, Penetravam pelas bocas Destruíam como dantes. Numa dantesca folia, Riam-se, tão delirantes, Decepavam, maestria Como fizeram bem antes. Cuspiam todas as faces, Ladravam nessas orgias, Aproveitando os impasses, Repetiam melodias Cantadas nas tempestades, Criadas sem fantasia, Matavam as liberdades, Anoiteciam o dia. Nesse sonho já vivido, Abandonado num canto Crendo que estava perdido, Renasceu, prá meu espanto, Na noite, na madrugada, Sem luz de lua a brilhar, Sem vida, sem canto, nada Que se possa festejar. Meu Deus, afaste o tormento, Não me deixe mais sonhar. Quero viver o momento, Quero essa vida a brilhar. Não permita o pesadelo, Não deixe mais retornar, Corte o fio, esse novelo, Não pode recomeçar. Essas aves que cantaram, Não deixe de novo, agora, Pelos tantos que mataram, Pelos corpos,que lá fora, Apodrecem no quintal, Esquecidos nas favelas, Nas roças na capital, Já não quero tantas velas. Nem quero mais funeral, Do nosso povo sofrido, No grande canavial, Pelo tanto destruído, Pelo muito que roubado, Esfacelando esse povo, Pobre, sofrido, acoitado. Não permita isso de novo! X PARA QUE A NOITE TRAGA PARA QUE A NOITE TRAGA AOS TEUS SONHOS, A DELÍCIA DE SABER-TE BELA E SERENA. QUE, NO TEU COLO, A CRIANÇA DESCANSE A MACIEZ DE TEUS CABELOS, A DOÇURA DE TEUS LÁBIOS. PARA QUE SAIBAS QUE O AMOR TE FAZ BELA. QUE O BRILHO DAS ESTRELAS ROMPE A AURORA E TRAZ A SENSIBILIDADE MARAVILHOSA DO PODER ESTAR E SER, DO QUERER E TRANSGREDIR. DO NUNCA MAIS ESTAR E SER SÓ. PARA QUE SINTAS O VENTO ROÇANDO TEU ROSTO EXPOSTO AO CALOR DAS CARÍCIAS, DAS DELÍCIAS DE SABER-TE MINHA; E, POR FIM, PARA QUE TENHAS UMA BELA NOITE E UM MELHOR AMANHECER. TE QUERO x MINHA POESIA Falar da noite e do dia, do açoite e de Maria do acoitado sonho perdido, despedaçado falar de nada mais que tudo, nada inundo vaga imundo, cora coração vadio, vai meu fio vagabundo rolando entre astros, entre tantos entretantos e espreitando por trás das portas. Falar do sonho e da fantasia, do medo e da poesia do meu último regalo, meu regato, meu prato e ato insensatamente, a mente remete-me a ti, tímida lânguida e cruel poesia. Nos nossos concertos e conselhos, consertavas os velhos resquícios do início precipício e me lançavas a esmo nesse penhasco íngreme e inerente Prometeu, escuridão. Vi meus olhos nos olhos de outros olhos, infinito espelho num prisma de oculta chama, de verbo e Bramas, de lamas de llamas e de teus sentidos mais confusos, embriaguez. A lucidez devora, a hora de ir embora nunca se aproxima e, por cima de tudo, com ciúmes me observas, me cevas , e conservas tuas mãos postas em mim. Tua boca sussurra meu nome, urra meu erro, trama meus males e minhas angústias. Mina de tantas riquezas falsas, farsas e falhas. Minha mina mais cara, rara e companheira te quero poesia amada, necessito-te tanto esquivo e altivo, mas vivo, mais vivo em ti, sobrevivente. x Seu moço, minha tristeza, Vem desse amor acabado, Perdendo minha Tereza, Tanto sonho desprezado, Me resta somente dor, A saudade desse amor. Nasci nas Minas Gerais, No meio desse sertão, Seu doutor, não posso mais, Me dói a recordação, Daquela moça morena, A minha bela pequena. Foi embora sem deixar, Nada mais do que saudade, Como é que posso ficar, Sem lembrar tanta maldade. Daquela que tant’ amei Prá onde foi? Eu não sei... Minha Tereza era linda, Bonita como uma flor, Eu guardo no peito, ainda. A foto que me restou; Na lembrança, na retina, Daquela doce menina... Foi-se embora prá não mais, Nunca mais saber por que, Tudo deixando prá trás, Levando meu bem querer. Tereza moça maldosa, Espinho num pé de rosa! Meus companheiro acredita Que ela num quer mais voltar, Levando o corte de chita, Que tanto custei pagar. Mas, pior que esse chitão, Me rasgou o coração. Quando, de noite faz lua. Me bate a melancolia, Vou saindo pela rua, Nela amanheço meu dia. Perguntando pra quem passa, Só encontro na cachaça... Seu moço me dê licença, Vou voltar prá minha caça. Talvez tenha a recompensa, Depois, dormindo na praça, Quem sabe, então, toda nua, Ache Tereza na lua... X Nessa curva da saudade, Encontrei meu bem querer, Procurei felicidade A razão para eu viver. Mas, me deixaste sozinho, Coração tão miudinho... Foste buscar n’outros braços, Aquilo que eu quis te dar, Meus olhos ficando baços, Silêncio no meu cantar. Me negaste teu anel, Por que foste tão cruel? Quis te dar minha amizade, Nem isso quiseste ter, Para falar a verdade, Eu preferia morrer, A viver sem teu carinho, Meu coração pobrezinho... A vida segue doendo, Eu, na vida vou tão só, Na vida, sigo morrendo, E ninguém, de mim, tem dó. Quero somente te ver, Não consigo te esquecer... Marcada por essa sina, Minha vida não tem graça. Sem saber, és assassina, Culpada pela desgraça, Que se abate sobre mim, Não sabes que és tão ruim... Meu amor, por caridade, Não me deixe morrer não, Me mande essa novidade, Ajude meu coração. Fale que gosta de mim, Não me deixe, triste assim... X De tanto escrever na areia, O teu nome, minha amada, E, depois, na maré cheia, Não sobrar, dele, mais nada. De tanto sonhar contigo, Buscando teu colo amigo. De tanto querer em vão, Poder ter teu pensamento, Vasculhando todo o chão, Em busca d’um só momento, Podendo estar a teu lado, No final, desesperado... Por acreditar em ti, Por não crer mais, nem em mim, No que fui, tanto perdi, Queimando a dor, tão ruim, Quero viver um segundo, Em ti, o meu novo mundo. São palavras que lamento, São verdades que não digo, Tanto ardor, tanto tormento, Vida correndo perigo. Minha sede, no teu beijo, Matando mais que desejo... Foi embora, mas, fiquei. Esperando te encontrar, Dessas dores, eu bem sei, Não consigo nem lutar. Quero afinal, meu descanso, No mais sagrado remanso. Teimando em nunca temer, Achando, sem valentia, Onde encontrar meu querer, Seja noite ou seja dia, Montado nesse alazão, Que se chama: coração! X Nunca mais saber teu nome, Nem querer te conhecer, Preferia, assim, viver, Sabendo que tudo some, Vivendo amor sem ter fome, Nem escolhendo parada, Devorando a madrugada, Da poeira, companheiro, Seguindo esse mundo inteiro, Sem ter medo, sem ter nada! X No sertão do Ceará Encontrei linda princesa, Carregada de tristeza, De tanta dor prá contar. Beleza igual ao luar, O luar do meu sertão, Que, com toda essa emoção, Não consigo lhe esquecer. Tão bela quanto você, Não fez Deus, na criação. X
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