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Tupã Tenondé: a Criação do Universo, da Terra e do Homem segundo a Tradição Oral Guarani PDF

96 Pages·2001·7.118 MB·Portuguese
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~.( """' 39(7/8-082) J441 , • Au1or: Jcc11pc, Kaka Wcr6 l'itulo: Tup~ Tenonde : a cno,ao do u II IIIIII IIIII IIIII IIIII IIIII IIII IIIII IIIIII IIII III 10015022 Ac 921118 Unlvereldade de Brasilia !>~l "1/f - f.t) 5' "'.,.. ' Co11n.(l1t Cl 1001 by< ar/01 A/1,,r,o do, S111110, Edir111•11 rl'1p1m.Jd11~/ Rc11:.1u, F,lrh1.u Borttts C.omdt'1111rlw ,,lluu•it1/ Rol-,tni.t Mauuchdli f),v,p11rnrRn ,/~ orlgi1111iJ r ",,is/Jo Minco T:akiuanu ,1,, '""'"'"f"fH' Futo Eghcrw Nogudn1 f'rojrro grJf,ro farddi1., Cria.tuna Fotofitos Al' Ediior.i lmpl't'IS/lo G,~r.e.a JR lhdo, lnuirr1..1clonal, de Cat.tlog-'~O na 1•11blk.t~o (Cit•) (O.r11Ar>l Ur.uildr-.. do Li.,.ru, SP. Oratil) Jn:upl. Kilb Wtrd hipl 'IC"norul~: A ,n~o do VniYf;'J,;o, Ja ltrra " Jo llomcm IC!jl\llldo • trudi~u or.I t;,u,,uu I K.lk.:i Wc-1;1 Jccur,C :,;;110 l'"uln I l"cir611oli~. lOlll, 8ibll<,arafl1 I. Co,nmgom:;i 2. Honmn • 011gt'nt J, fnclloi (ltUUf,111 4. 'li:1n -origcm ~ fold•~Jn ()rtl I, T(wl<>, II . Thul<>: A u1~\c, ll(J llnwtr\O, J11 Ti:rra cJo Homcm ~csundu ;1; u~Jl~!lti 01111 (;uiNt1L 00 107S Cl )L).)9S.20?8 fodko IW1l uu4toft0 si,1~m~1ico: J, (n111~m: fndlo, i (A»m~1gon111: lnad1(~0 ou.l ,j98.2098 06 0~ U.f OJ Ol UI ' ' lQ!ll. Todo) vs diri:i10) l't'"c:rvad<I'\ ~ l:.di1orJ. hmda,ao l'e1r6po1i( I .,di. Rua Gira.ss.ol~ 12:H Vil.1 Mi;ul:alc:1111 05433,000 -~~o Paulo SP lcl.: (11) 3816,0699 < l·ax, (11) .3816-671K t-1111ttl: cdlrot11~al1cor.ap~:impolh.wm.br www.cJi1or;1pciropoli&.cum.br Am kaliy rire, am pyau ramove chee, yvym'ikiigli nmofie'ery jevy va'erii amopr5 jevy va'erii iie'eng, ii Jvande R11 Ttmondi. A'e mmo katu, yvypo ambo,ze kuery t11pii ramo oo va'erii; ekovia, jeg11aka11a tenonde yvy rupa Jave i re opu'a va'erii. Dcpois de fundir-sc o cspa~ c a.man.hecer um novo rempo, cu hei de faz.er quc circule a palavra-alma novamenre pelos ossos de quern se poe de pe, e q ue vol tern a encarnar-se as al mas, dissc nosso Pai Primciro. Quando isso aconceccr fupa renasccra no corac;ao do esrrangeiro; cos primeiros adornados novamente ~e crgueriio na morada terrena por roda a sua excensao. (Prvft,i11 d11 IU/(11/J G11,m111i do rill J,g1111km111. n11m1da por l~1blo \\rm/ no infrio do t/(11/o XX) SUMA.RIO Para tornar~se paje Prrfdd• 13 AP""''"''''• 11 A.s nossas palavras formosas '·•P'"''" "'" Maino {r eko ypt k.u.e z, o, PRIM el RO> cos rUMPS DO <.X)LIBRI c..,p1,,,1. aoi, Ayvu rapyta 39 0S PUNDAMENTOS DO Sl'R eap1,,,,. ,,;, Yvy tenond.e 59 A t•tUMHRA l~RRA ea,,,,,,.,,,,,,,,. s Of\.em.boapyka pota Jeayu. porangue i I rembi rerovy'a ra l F,s1,(-SJ· A DAR AS~F.NTO A UM ~FR PARA AU!(:I\IA t)OS lll'.M-AMADOS Para haver seculo XX.I Posfd"° 95 Co111,111driu1 fi,11,it 99 Qµetn Sic OS (:ruaran{l -S{bltografla 10s Prefacio Para torna.r~se paje Nao nasci Guarani, tornei-me. Minha fumflia vcio de um cla Tapuia de aum-estima cultural destro~ada c valores fragmencados. Nasci em Sao Paulo, na borda das ultimas ma~s da zonasul, ao lado de uma aldeia Guarani. Meus pais queriam que cu sobrevivcsse, c naquela almra isso significava comer da cullllra "branca" correndo o risco de sacrificar a '"vcrmelha". 0 cempo ea Mae Terra me nomearam Guarani - fiquei sendo Wcr:t Jecupc - por meio do cacique Guyr:1 Pep6 da aldeia Morro da Saudadc. Ali aprendi as "nossas palavras formosas" com o meu padrinho, AJcebfades Wera, paje cencen:lrio. Em meados <la decada de 80, :tinda na aldda Morro da Saudade, quando rrabalhava num projcro de resgacc culrural Guarani do professor Karaf Mirim c do cacique Guyd Pep6, vi chegarem alguns exemplares de um livro chamado Aspectos fo11d11- memais da cult11rn guarani, de Egon Schaden, e rrechos xcrografados de Ayv11 rapytt1 ("Os tuodamcmos <la linguagem humana"), de Lc6n Cadogan. Logo procurci meu padrinho Wern, pois aqueles fragmenros me chamaram a atent;ao, ja que cram parecidos com os ensinamen tos quc havia aprcndido cm tomo das fogueiras c sob as noires esrrc ladas. A partir dali, o vclho Wcra me iluminou muiras ourras panes dessc.~ ensin:uncn ros. Os depoimcncos contidos naqueles cscritos cambcm eram da linhagem das palavras-almas de Tupa Ru Etc, pois vinham dos anti gos Pablo Wera, cacique Che'fro e Kachiriro, segundo seu relaror, Le6n Cadogan, quc havia sido nomeado Tup5 Kuchuvi. Ao reparar essa qualidade dos relaros, passei a escudar profundamente a sabedo ria vinda de Tupa Tcnonde. E. como um beija-flor, busquei o necrar das Aorcs ancias de sabedoria em muiras aldcias de suJ a norre. Dez anos mais rardc, depois de muitas percgrina)ocs, fui convidado para fozcr uma palesrra na Univcrsidad Car61ica, no Paraguai, sobre "A Terra sem Mal" e la enconrrei uma pessoa cha mada Sara, cujo marido, Guillermo, eswdioso de musica emica, conhecia, cscudava c ajudava periodicamenrc a aldeia Guarani do Guaira. Por meio desse casal conheci oucras panes do manuscrico deixado por Lc6n Cadogan e aprofundci-me nos regisrros deixados pelos t'.,lrimos grandcs sabios Guarani do infcio do scculo XX. Cada vcz mais crescia minha admira<;i'io pclo csp(riro da cultura Guarani. Neste infcio de milenio, l'ecebi um convire do Muscu do Universe do Rio de Janeiro para apl'escnrar a visao indlgena brasileira do cosmos. Logo tive um son ho com os anccsrrais Trovoes c imcdiaramcnre veio-mc a ccrceza de para Id levar essas palavras formosas que concam o Universo, Term e o Homem de modo pro :1 fundo c original. Scntia rambcm quc era o momento de revclar uma profccia segundo a qua! quando o cspa90 abra9ar o drculo do novo • • • lup; f<noncU I~ • • • tempo Tupa renasccd no corac;iio do escrangeiro e os ensinamencos • ,agrados deverao ser divulgados. • • Convivo com essas palavras formosas em minhas reflex6es ha • mais de quinze :mos - alcm das iniciac;ocs que os ancescrais me pro· • porcionaram - e grac;as a clas cenho certeza de que me cornci um • pouco mai.s humano. Sej que t:las oforecem mais do quc a narradva • • do Universo de maneira pocdca; elas podcm, como dizem os anti· • gos, abrir caminho para quem deseja rornar•sc paje, ou seja, aquele • quc convcrsa com os vcnros. o fogo, a rerra, as aguas. Mas, se elas • servirem pelo mcnos para o homem buscar nao somence a cons· • • ciencia do cerebro, mas tambcm a do cora~'io, a rarefu dos ultimos • Weds, mensagciros de Tupa Tcnonde, nao tera sido em vao. • Essas palavras formosas sao narradas em abnfieenga, a Hngua • ancesrral Tupi. Porcm, dessc: idioma original ace os fins dcscc seculo ha varios dialeto, dcsmembrados, cncre eles o Chiripa, o Kaiowa co Mbya - alern do Guarani paraguaio, que tern gerado muitos esm dos e gram:iticas difcrenciadas. Neste Jivro, optamos por seguir o caminho de Lc6n Cadogan, que fez os primeiros rcgistros e que e chama a arcn¢o para o faro de quc um idioma "secrcro" encre os pr6prios pajes e de que rnuicas vei.es nao ha correspondencia enrre a fula Guarani dos ensinamenros ea fula cotidiana. Basicamcnte, Cadogan seguiu o dialcco Mbya urilizando como referencia a gramatica Guarani paraguaia. ApresentnfiiO A.s nossa.s palavra.s formosa.s Durance o escio de um certo dia, um pesquisador de lendas ouviu a seguince exprcssao: 'Jtrsy rny ojo1111hei hinn" ("A lua nova renova a nossa face"), mencionada por camponeses paraguaios do Guaira, para reforir as chuvas rorrcnciais quc as vezes coincidcm com a d1egada da lua nova. Tai foi a atenyiio que lhe despercou essa frasc, que ele iniciou uma busca da origcm desse prcceiro, ou dicado. Descobriu ser de origem Guarani e que esse povo desmem brava-se em muicas fam!lias, que os antrop6logos consideravam como emias difercnccs. Como escudava micos c lcndas, acredicou haver muicas c ricas expressocs espalhadas cnuc o povo. pois aquela frase era caodcntemence poerica. Ap6s v:irios levanramcntos c invcs tigayoes, foi levado ~ aldeia dos Jcguaka Tenondc, de um lugarcjo chamado Yro'ysa. Depois dos primeiros contacos, passou a visica-los e procurou obcer depoimencos de le11das, fabulas e dirados. No encanro, anos se 18 Kaka Wtr:1 lccupt passaram e nenhuma informai;:ao havia conscguido, nem mesmo acerca daquela frase: "A lua nova rcnova a nossa fuce". c 0 povo Guarani calado, scu cotidiano rem um rinno rao silencioso que se mescla com os sons dos campos ou das maras que nor e a malmeme habira; o silencio s6 1·ompido noire, quando se recolhem ao opy - a casa de pora-hei (cantos-orayiies) - e pocm-sc a cantar. Muiras vC'teS, quando um forasreiro chega durance o dia a um aldea menro Guarani, tem a impressao de escar numa vila abandonada. Mesmo assim, colhendo apenas olhares silenciosos c um rrara menco formal do c.1ciquc Pablo Wcra, clc continuou suas visicas. Algo daquele povo o encantava. Duranre muicos anos, o pesquisador havia arendido a diversas solicirai;:ocs da comunidade em relai;:ao a questoes da cidade. Assim, cerra veto cacique aproveirou uma visira dclc para pedir um fuvor: um membro da aldeia havia sido preso como mendicanrc nas ruas de Asunci6n, simplesmcnre porque usava trajes rudes e por causa de sua ecnia. 0 buscador de lendas, valcndo-se de suas rclai;:oes com a uni versidadc e os 6rgaos oflciais de educac;:ao, logo se promiflcou a ajuda lo. Tempos depois conseguiu libertar o cidadao da aldeia de Yro'ysa. Como retribui9ao, Pablo Wed pediu ao seu povo que sem a pre que esse forasceiro fosse ald<:ia lhe concasscm codas as fabulas quc conheciam. lu1>1 TcnonM 19 mo E o pesquisador nunca ouviu tanca hisc6ria ap6s esse incidence! A amizade enrre elel. estreicou-se. Em muicos momcntos de tao relas:oes conAitances en ere Indios e nao-fndios, Le6n Cadogan - era esst • nor- o nome do pesquisador - havia-se cornado porca-voz da comunidade . Um dia, Pablo Wera aproximou-sc delc e disse: anr.2r. 4Ainda queres saber o sentido da lua nova?" .aklci- Lc6n Cadogan cinha ace se esquecido da frase que o havia levado ace la: "A lua nova renova a nossa face". rr.11:,a- "Como?!", disse ele, meio surpreso. "Queres conhecer as 'fie'e porii tenonde'. as nossas primeiras palavras formosas?" "Claro, sem a menor dt\vida!" ,,m, "Para isso, deves acordar o cora~o. Para acordar teu cora~o. precisamos nomear-te - celcbrar tua palavra-alma - e canrar!" de LS Foi assim que Le6n Cadogan tornou-se Tupa Kuchuvi Veve, ap6s e sua cer parcicipado do nimong11mi, uma das cerim6nias mais imporrances dos Uni• Guarani, momento cm quc o sere nomeado e o espfrito acorda por meio uJ.i do coras:ao. E someme o sere capaz de comprcendcr dcrerminados mis ysa. rc!rios da vida, principalmence a sabedoria dos ancesrrais. iCffi· Ap6s tornar-se Tupa Kuchuvi, cle aprendcu as "ne'e porll ulas renonde" - as paJavras formosas primeiras, os ensinamenros sagrados da cradi~o Guarani.

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