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Transformações da política na era da comunicação de massa PDF

291 Pages·2014·1.971 MB·Portuguese
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2 Sumário PREFÁCIO INTRODUÇÃO O QUE HÁ DE COMUNICAÇÃO NA COMUNICAÇÃO POLÍTICA? 1. Meios de comunicação e política: apenas meios? 2. Comunicação: relevos e ambientes 2.1. A comunicação em dois campos 2.2. A profissionalização da comunicação política NEGOCIAÇÃO POLÍTICA E COMUNICAÇÃO DE MASSA 1. Formas e agentes da luta política 2. A negociação política 2.1. As alianças sistemáticas 2.2. A barganha 3. Fatores que incidem sobre a política de negociação 3.1. A eleição interminável e a esfera de visibilidade pública 3.2. Os “fatores publicidade” 3.2.1. Palcos políticos e cotas de visibilidade 3.2.2. Risco de exposição negativa 3.2.3. Apoio popular 3.2.4. Imagem A POLÍTICA EM CENA E OS INTERESSES FORA DE CENA 1. A insuficiência da idéia de duplo domínio e a perspectiva do “terceiro convidado” 2. Três domínios, um sistema 3. De como cada domínio obtém ou tenta obter o que quer dos outros 3.1. Negócios e política 3.2. Comunicação e negócios 3.3. Comunicação e política O CONTROLE POLÍTICO DA COMUNICAÇÃO 1. Do controle da comunicação política 2. Do controle examinado de um ponto de vista normativo A PROPAGANDA POLÍTICA: ÉTICA E ESTRATÉGIA 1. A propaganda na comunicação política 2. A propaganda política e a lógica da comunicação: três cenas e algumas questões 2.1. Primeira cena: da propaganda à telepropaganda 2.2. Segunda cena: crítica da propaganda eleitoral midiática 3 2.3. Terceira cena: o espaço legal e a manutenção da lógica midiática 3. Ética política e propaganda midiática 3.1. Pressupostos de uma ética da dimensão pública 3.2. Problemas éticos da nova propaganda política 3.2.1. Primeira questão: esfera da situação interativa ideal (a desigualdade das pré-condições argumentativas) 3.2.2. Segunda questão: esfera das pré-condições ético- pragmáticas da interação (estratégia persuasiva vs. pretenção de verdade) A POLÍTICA DE IMAGEM 1. A disputa política e a disputa por imagem 2. Elementos para uma teoria da imagem pública política 2.1. A imagem pública: visual ou conceitual? 2.2. O fenômeno e a sua classe 2.3. Da dificuldade de identificação das imagens públicas 2.4. O fenômeno da imagem pública e a arte da política 2.5. Construindo a imagem pública política 2.6. Imagem pública e pesquisa de opinião 2.7. Imagens, perfis ideais e expectativas 3. Política de imagem THEATRUM POLITICUM 1. A política e a arte de compor representações 2. Premissas sobre a dramatização da comunicação política contemporânea 2.1. A comunicação de massa e a lógica publicitária 2.2. A lógica midiática no sistema informativo 2.3. A demanda cognitiva da política e o sistema informativo da comunicação de massa 3. A dramaturgia política 3.1. A encenação da política: as astúcias teatrais da esfera política 3.2. O jornalismo-espetáculo: quando os jornalistas produzem o drama político A TRANSFORMAÇÃO DA POLÍTICA 1. Política de aparências 1.1. Formulando o problema 1.2. A fabricação da glória de Luís XIV 1.3. Maquiavel e a prescrição do controle das aparências 2. A política-espetáculo 2.1. A política em cena 4 2.2. A dramaturgia política 2.3. A espetacularização da política 2.4. O simulacro político 2.5. As referências básicas 2.6. A política-espetáculo: continuidade ou descontinuidade? 2.6.1. As cerimônias do poder político 2.6.2. O manejo social das impressões 3. A transformação da política REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 PREFÁCIO JOSÉ LUIZ BRAGA E stou convencido de que este livro será obra de referência fundamental para pesquisa e estudos sobre as relações entre comunicação e política – quaisquer que sejam os objetivos do leitor, acadêmicos ou políticos, teóricos ou práti- cos, de ação política ou de ação comunicacional. Juntamente com esta convicção, decorrente da leitura que fiz dos originais, surgiu também a questão de como expressar esse movimento genuíno de valoração. Para sublinhar o rigor da tarefa, faço referência ao sentimento de enorme satisfação que senti quando o prof. Wilson Gomes, por telefone, convidou-me a escrever a apresen- tação de seu livro – sentimento imediatamente confrontado pela responsabilidade aca- dêmica e pessoal dessa incumbência. Um dos riscos presentes seria o de fazer apenas elogios genéricos, de apreciação subjetiva. Ou então, ao tentar fugir dos adjetivos de apreciação em direção ao mais substantivo, seria fácil cair no resumo dos achados – usurpando do livro e do leitor a tarefa de oferecê-los no melhor momento e a de encontrá-los no prazer da própria descoberta. Apresentar um livro faz, portanto, parte dos gêneros que, mais do que serem exerci- dos, precisam ser desarmadilhados. É preciso então sustentar aquela convicção inicial em outras bases, que não apenas a admiração pessoal e acadêmica que tenho pelo autor. Creio que isto pode ser feito pela observação do que se aprende com a leitura deste livro. O autor nos fala sobre a transformação da política por sua entrada em processos de comunicação midiatizada (ou pela entrada, nela, desses processos). Lastreado em extensiva referência a pesquisas da área, no Brasil e no exterior, o autor as utiliza a serviço de um eixo composto de proposições ordenadoras e esclarecedoras que são de sua própria oferta e contribuição. Esse olhar, vigoroso e crítico, ultrapassa o conheci- mento estabelecido. Não cabendo antecipar, deixa-se ao livro e a seu leitor os ensina- mentos e a aprendizagem dessa contribuição – apenas enfatizamos que todos os pon- tos tratados nos capítulos efetivamente convergem para o que o título da obra e o de seu capítulo final enfocam – as transformações da política. Ao lado desta parte substantiva aprende-se, ainda, com o que o prof. Wilson faz sobre seu objeto específico; e ao fazê-lo, o que traz como aportes para a interface e para o campo da comunicação. Na construção de suas proposições sobre o objeto (os processos ocorrentes na interface entre a comunicação e a política e as transforma- ções conseqüentes, no espaço de uma sociedade midiatizada) o texto, bem mais do que dizer suas perspectivas, desenvolve operações por meio de seu próprio material, resultando em um fazer com o qual o leitor pode produtivamente interagir. Uma atividade relevante (expressamente pretendida e que, como leitor, posso asse- gurar muito bem realizada) é a de expor o estado da questão. A abrangência de pon- 6 tos em que a interface se põe como questão concreta, como problema no espaço polí- tico-social ou como desafio para a reflexão em busca de conhecimento é tal que o livro adquire a dimensão de um quase-tratado. Ainda que haja (e certamente há) muito a desbravar nos territórios da interface, o trabalho topográfico realizado mostra o desbravamento feito até aqui por pesquisadores, mostrando, bem, os terrenos con- quistados e os espaços que ainda pedem o investimento de pesquisas. A segunda oferta, diretamente relacionada com esta, corresponde a sublinhar o pro- cesso “em construção” dos estudos da interface – traduzindo-se em hipóteses estimu- ladoras de continuação das pesquisas. O texto se mantém assim em aberto, implici- tando, por seu esforço de abrangência, novos espaços nos quais a pesquisa se renova- rá. Uma terceira operação do livro é de ordem processual. O modo de apresentação das opções feitas pelo uso dos dados e conhecimentos disponíveis, da proposição inter- pretativa das questões em pauta, e sobretudo, o encaminhamento da reflexão e do argumento, tudo isso resulta em indicações metodológicas “ao vivo”, produzidas no próprio desenvolvimento das idéias, observações e tratamento do material. Isto é, não se reduz a propor “explicações” caracterizadoras do fenômeno em observação, mas constantemente produz questões e modos de abordagem que podem, por sua vez, ser utilizados para novas pesquisas e interpretações. Trata-se de uma contribuição meto- dológica importante para os pesquisadores desse espaço específico, em que a política e a comunicação se relacionam em incidência mútua. Decorre daí ainda outra contribuição, bem mais ampla em abrangência, embora menos expressa nas intenções do autor – entretanto plenamente realizada. Trata-se da oferta, também de ordem metodológica, para o estudo de interfaces que a comunica- ção observa e entretém com múltiplas áreas outras do fazer humano, social, institu- cional. É sobretudo através da compreensão e da formalização teórica do conheci- mento sobre como estas interfaces se dão (em cooperação e conflito) que, acima das diferenças entre os diversos espaços de articulação, o campo de estudo se constrói na sua complexidade e consistência. Essa construção do campo solicita que se esteja constantemente atento para o que é propriamente “comunicacional” nos objetos específicos em pesquisa, por contraste ao que é próprio dos objetivos e processos da área de articulação. A pergunta-título do Capítulo 1 é emblemática dessa preocupação, no livro, e marca a presença desse pro- cedimento de construção do campo de estudos em Comunicação: “O que há de Comunicação na Comunicação Política?” O campo da comunicação (tanto no ambiente social como na produção de conheci- mento acadêmico) é estruturalmente um âmbito de interfaces. Na sociedade, a proces- sualidade comunicacional se realiza por inclusividade, observando e absorvendo, de modo avassalador, toda e qualquer ação ou temática social. Caracteriza-se também por sua penetrabilidade – modificando “na origem” todos os demais processos sociais –, que na sociedade midiatizada vêem seus objetivos, procedimentos e critérios refor- mulados no próprio surgimento, de modo genético (e não apenas por acréscimo pos- terior), em função das necessidades de interação, de “visibilidade”, de inserção mais ampla que a do círculo dos iniciados. 7 No âmbito da produção de conhecimento, o interacional multifacetado segue essa necessidade (estrutural), uma vez que o objeto não aparece nunca “em estado puro” (que seria o “exclusivamente comunicacional”), isolado de motivos e processos - outros, que lhe dão “tonalidades”. Não se trata de abstrair o objeto (por um gesto epistemológico que seria artificial) de suas instâncias pragmáticas de existência. Exige-se, portanto, referência freqüente a teorias sociais, psicológicas, históricas, praxiológicas, lingüísticas, antropológicas – sem entretanto nos circunscrevermos a qualquer delas, para assim nos mantermos “perto do objeto” em sua existência concreta e social, para construir o objeto enquan- to instância teórico-metodológica “de comunicação”. Assim, uma interface complexa, como aquela entre a comunicação e a política, tra- tada com habilidade e rigor, ilumina questões e abordagens para o estudo de outras interfaces. Isso faz deste livro uma referência relevante para todos os pesquisadores em comunicação – mesmo quando estes não estejam particularmente preocupados com as peripécias da interface política que é seu objeto próprio. O que se tem a aprender (para pesquisadores preocupados com outras interfaces, menos “construídas”) não decorrerá, portanto, de assemelhamentos, que justamente - seriam simplificadores. Mas da transferência de abordagens (mutatis mutandis essa é a questão relevante: mudando o que precisa ser mudado, nas percepções, conceitos e perspectivas); da observação das diferenças e das especificidades que, caracteriza- doras variáveis de cada âmbito de interface, podem ajudar a compor em sua comple- xidade (e em constante modificação) um acervo teórico-e-observacional que nos devolva, por sua vez, o que é o “comunicacional” articulador dessas diferenças. Por fim, como mais uma contribuição – e não de menor importância – o texto é claro, marcado pelo sentido mais essencial do valor didático. Se há complexidade no objeto, não se adota, por isso, complicações de texto. Ao contrário, o esforço genero- so é o de tornar acessível, até para o não-especialista, uma compreensão dos proces- sos envolvidos. Isto não significa que o livro seja fácil, mas que o esforço intelectual de seguir sua argumentação é sempre recompensado por um encaminhamento seguro e estimulante. SOBRE WILSON GOMES Finalmente, não posso deixar de fazer referência às competências e características do autor. Para escrever esta obra, muita pesquisa foi feita, e muitas leituras refletidas. Aqueles que conhecem o prof. Wilson Gomes sabem da seriedade com que se dedi- cou a este trabalho. Mas é preciso, talvez, mais que isso. É conveniente que, depois de formado em filosofia (incluindo estudos na Alemanha e doutoramento na Itália), o pesquisador volte ao Brasil para trabalhar no Programa de Pós-Graduação em Comu- nicação da UFBA no momento de sua maior produtividade e efervescência propositi- va. Que tenha contato com pesquisadores já chegados ao campo – e neste, participe ativamente de um ambiente de debate. Que lance um olhar severo e crítico sobre o que aí se faz – mas não se limite a criticar. E, arregaçando as mangas, que trabalhe ativamente na exigência e na superação, aprendendo com isto um olhar de abrangên- cia para nele situar seu objeto. Ainda participa ativamente de um dos Grupos de Tra- 8 balho da Compós, mais aguerrido no debate interno – o de comunicação e política –, justamente para, no trabalho de propostas, pesquisas e objeções, desenvolver em acui- dade sua reflexão. Ter coordenado o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFBA e ter representado a área da comunicação na Capes certamente contribui para essa formação, uma vez que para além das obrigações deliberativas e de gestão ine- rente aos cargos, o autor desenvolveu um conhecimento compreensivo e agonístico (como é necessário para os saberes sólidos) do que a área diz e do que a área faz. O que talvez explique a pertinência da inscrição de sua temática específica nos melhores objetivos de construção do campo da comunicação. O rigor argumentativo e a clareza de idéias de Wilson Gomes têm se manifestado em todas as instâncias nas quais, nos últimos doze anos, desde que o conheci, temos nos encontrado, seja nas conversas de amizade, seja no diálogo – às vezes tenso – da reflexão acadêmica e das políticas da área. Nem sempre concordamos – e sei que o trabalho do desacordo exige do interlocutor uma presteza de raciocínio, uma compe- tência verbal e um rigor argumentativo difíceis de sustentar. Mas sei também que, concordando ou discordando, podemos sempre ter a confiança de encontrar uma forte consistência entre suas idéias e suas ações, e clareza entre o que pensa e o destemor com que expõe seu pensamento. 9 INTRODUÇÃO “A uno principe, adunque, non è necessario avere tutte le soprascritte qualità, ma è bene necessario parere di averle. Anzi, ardirò di dire questo, che avendole et osservandole sempre, sono dannose, e parendo di averle, sono utile: come parere pietoso, fedele, umano, intero, rel- ligioso, et essere; mas stare in modo edificato con l’animo, che, bisognando non essere, tu possa e sappi mutare al contrario.” (Machiavelli, Il Principe, sezione XVIII.) Há basicamente três estágios na literatura sobre comunicação e política1. Primei- ro há a fase dos estudos dispersos sobre aqueles fenômenos singulares da política onde se verifica uma presença importante da comunicação de massa ou sobre aspec- tos da comunicação de massa com incidência na política. As duas perspectivas estão constantemente implicadas, mas podemos identificar, grosso modo, os estudos sobre voto como uma ilustração do primeiro aspecto e os estudos sobre propaganda como um exemplo do segundo. Nesta fase mais remota, os estudos concentram-se nesses aspectos mais pronunciados do reflexo daquilo que então foi chamado de mass media – expressão taquigráfica para rádio, imprensa, cinema e, posteriormente, televisão – em comportamentos típicos da vida política, particularmente a propaganda (pensemos no impacto da propaganda bélica nas duas guerras mundiais), a opinião pública e a decisão de voto (Bernays 1928; Lippman 1922; Tchakotine 1939; Lazarsfeld et al. 1944; Smith, Lasswell e Casey 1946; Lazarsfeld 1954). Nesses anos, que vão da década de 20 à metade dos anos 40, a literatura é escassa e, concentra-se sobretudo, em problemas isolados pela pesquisa, principalmente nos três estágios indicados acima. Nesse momento, e até por pelo menos mais três décadas, o ponto de vista da análise é dado pelas grandes categorias – a política ou a sociedade – enquanto as instituições da comunicação de massa, esses núcleos que são ao mesmo tempo dispositivos técnicos, formações sociais e recursos expressivos, são considera- das numa perspectiva instrumental, isto é, como meras intermediárias, como meios entre os dois pólos que realmente contam. São meios ou instrumentos de que os Esta- dos, a sociedade ou os particulares lançariam mão para produzir um certo efeito ou realizar uma determinada função. A perspectiva instrumental reflete uma concepção que atribui pouca importância às propriedades imanentes da comunicação de massa2 (sua lógica, seus registros, sua gramática, suas propriedades como instituição social), ao mesmo tempo em que tende a exagerar a capacidade dos efeitos que esses novos meios produzem nas pessoas, seja porque eles alcançam ao mesmo tempo uma espantosa quantidade de pessoas (as massas), seja porque parece que os indivíduos não têm defesa em face do seu poder de influenciar decisão, gosto e opinião, como se acreditava até os anos 40, seja, enfim, alternativamente, porque são capazes de con- formar e reproduzir, sistematicamente, a longo ou curto prazo, diretamente ou através de mediações, os sistemas sociais, as representações dominantes, a cultura do capita- lismo, como repetiram as perspectivas críticas até bem pouco tempo atrás. São vis- tos, então, como “meios” que se podem empregar para o bem ou para o mal. Princi- 10

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