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Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos PDF

493 Pages·2015·21.007 MB·Portuguese
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FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP CENTRO DE ESTUDOS DA METROPOLE (CEM) Presidente do Conselho Curador Mário Sérgio Vasconcelos Diretora Marta Arretche Diretor-Presidente José Castilho Marques Neto Vice-diretor Eduardo Marques Editor-Executivo Jézio Hemani Bomfim Gulierre Conselho diretor Adrián Gurzo Lavalle Superintendente Administrativo e Antônio Sérgio Guimarães Financeiro Celi Scalon William de Souza Agostinho Charles Kirschbaum Assessores Editoriais Eduardo Morques João Luís Ceccantini Elisa Reis Maria Candida Soares Del Masso Fernando Limongi Conselho Editorial Acadêmico Gabriel Feltran Áureo Busetto José Marcos Pinto da Cunha Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza Marta Arretche Elisabete Maniglia Nadya Araújo Guimarães Henrique Nunes de Oliveira Paula Montero João Francisco Galera Monico Renoia Bichir José Leonardo do Noscimento Vera Schottan Coelho Lourenço Chacon Jurado Filho Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan Paula da Cruz Landim Rogério Rosenfeld Editores-Assistentes Anderson Nobara Jorge Pereira Filho Leandro Rodrigues Marta Arretche (org.) Trajetórias das desigualdades Como.o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos o NPD E ' Ç ' editora centro de estudos da metrópole unesp O 2015 Editora Unesp Fundação Editora da Unesp (FEU) Centro de Estudos da Metrópole (CEM) Praça da Sé, 10B Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 (USP) 01001-900 — São Paulo - SP Salas 116B (1º andar) e 2 (2ºandar) Tel.: (Oxoc11) 3242-7171 05508-900 — São Paulo — SP Fax: (0x1 1) 3242-7172 R. Morgado de Mateus, 615 (Cebrap) www.ediloraunesp.com.br 04015-902 - São Paulo — SP www.livrariaunesp.com.br Fone (Cebrap): (0x1 1) 5574-0399 feuDeditora.unesp.br Fone (USP): (Oxox1 1) 3091-2097 contato&centrodametropole.org.br www.centrodametropole.org.br CIP — Brasil. Catalogação na fonte Sindicalo Nacional dos Editores de Livros, RJ T688 Trajetórios das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta onos / organização Maria Arretche. — 1. ed. — São Paulo: Edilora Unesp; CEM, 2015. ISBN 978-85-393-0566-7 1. Desigualdade social. 2. Ciências sociais. 3. Ciêncios políticas. 4. Economia. |. Arretche, Marta. 15-20605 CDD: 330.122 CDU: 330.342.14 O Centro de Estudos da Metrópole (CEM) é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp e um dos Instilulos Nacionais de Ciência e Tecnologia do CNPq, com sede na Universidade de São Paulo e no Cebrap. Fundado em 2001, reúne pesquisadores de diferentes áreas das ciências sociais voliados ao estudo das desigualdades sociais e espociois em contextos urbanos e melropolitanos. Editora afiliada: Asociacion de Editoriales Univeraitarias Assoclaição Brasileira de de América Launa y e! Caribe Ediioras Unhemitárias Sumário Apresentação 1 Marta Arretche PARTE I - PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 1 Participação política no Brasil! !—" 23 Fernando Limongi, José Antonio Cheibub e Argelina Cheibub Figueiredo Conselhos, associações e desigualdade — 51 Adrian Gurza Lavalle e Leonardo Sangali Barone PARTE II- EDUCAÇÃO E RENDA 3 Estratificação educacional entre jovens no Brasil: 196022010 — 79 Carlos Costa Ribeiro, Ricardo Cenevivae Murillo Marschner Alves de Brito Educação e desigualdade no Brasil. 109 Naercio Menezes Filho e Charles Kirschbaum Estratificação horizontal da educação superior no Brasil (19a6 20010 ) 133 Carlos Antonio Costa Ribeiro e Rogerio Schlegel Marta Arretche (org.) 6 Desigualdades raciais no Brasil: um desafio persistente — 163 Márcia Lima e Ian Prates PARTE II - POLÍTICAS PÚBLICAS 7 Trazendoo conceito de cidadania de volta: a propósito das desigualdades territoriais — 193 Marta Arretche 8 Condições habitacionais e urbanas no Brasil — 223 Eduardo Marques 9 Saúdeedesigualdade no Brasil — 249 Vera Schattan P. Coelho e Marcelo F. Dias PARTE IV - DEMOGRAFIA 10 A migração interna no Brasil nos últimos cinquenta anos: (des)continuidades e rupturas — 279 José Marcos Pinto da Cunha 11 Cinquenta anos de relações de gênero e geração no Brasil: mudanças e permanências— 309 Maria Coleta Oliveira, Joice Melo Vieira e Glaucia dos Santos Marcondes 12 Transição religiosa no Brasil — 335 Ronaldo de Almeida e Rogério Jerônimo Barbosa PARTE V - MERCADO DE TRABALHO 13 Desenvolvimento econômico e desigualdades no Brasil: 1960-2010 — 367 AlvaroA . Comin 14 Mercado e mercantilização do trabalho no Brasil (1960-2010) — 395 Nadya Araujo Guimarães, Leonardo Sangali Barone e Murillo Marschner Alves de Brito Conclusões 423 Marta Arretche Referências bibliográficas — 457 VI Apresentação Marta Arretche As democracias do mundo desenvolvido testemunharam substancial e inesperada escalada da desigualdade nas últimas décadas. Os dados do The World Top Income Database indicam que a participação do 1% mais rico na renda nacional (excluídos os ganhos de capital) nos Estados Uni- dos cresceu de 12,2% para 19,3% entre 1991 e 2012. Na Europa, onde a construção de generosos Estados de bem-estar marcou o pós-Segunda Guerra, a parcela da renda nacional destinada aos mais ricos apresentou trajetória igualmente ascendente. Para os mesmos anos, o indicador pas- sou de 10% para 15,4% no Reino Unido e de 5% para 7,1% na meca da social-democracia, a Suécia.! No mesmo período, o Brasil caminhou na direção oposta. A desigual- dade de renda caiu sistematicamente. O pico da desigualdade de renda ocorreu em 1989, final do governo Sarney, quando o piso da renda dos 5% mais ricos correspondia a 79 vezes o teto da renda dos 5% mais pobres. Desde então, essa razão vem apresentando queda sistemática. Em 2012, ano em que a série atingiu seu patamar mais baixo, essa razão ainda era 1 Dados obtidos em: <http://topincomes,.parisschoolofeconomics.eu>. Marta Arreiche de 36.º A despeito dessa trajetória, não resta dúvida de que o patamar é ainda muito alto. A América Latina apresenta os mais elevados Índices de desigualdade do mundo (Ravallion, 2014), e o Brasil ainda está entre os países mais desiguais da região.? Ambas as trajetórias — dos países desenvolvidos e do Brasil — subver- teram teorias solidamente estabelecidas. Colocaram questões importan- tes para a teoria democrática. Na história das ideias políticas, liberais e conservadores teriam — aparenternente com razão — o sufrágio universal, em vista do risco de politização das lutas por redistribuição e seus efeitos prováveis sobre a ordem social e a propriedade. A trajetória das democra- cias no pós-Segunda Guerra parecia confirmar a proposição de que, no longo prazo, à universalização do sufrágio levaria à redução das desigualdades econômicas e sociais (Marshall, 1967). Seu principal mecanismo também parecia conhecido. Dado que na esmagadora maioria das democracias a renda do eleitor mediano é inferior à renda média, este votaria por redistri- buição; sob a regra majoritária, a preferência do eleitor mediano levaria ao crescimento do papel redistributivo do Estado (Meltzer; Richard, 1981). Contrariando essas expectativas, as evidências têm revelado que a sociedade de classe média que emergiu no pós-Segunda Guerra pode não ser duradoura. Contrariando trabalhos clássicos, como os de Eric Hobs- bawm (1994) e Gósta Esping-Andersen (1985a; 1985b; 1990; 1999), a era dourada parece ter sido antes uma pausa na trajetória da concentração da riqueza do que expressão de transformações nos sistemas de estratificação econômica. Ainda que os EUA sejam muito mais desiguais do que os paí- ses europeus, o formato de U descreve a trajetória geral da desigualdade de renda, com tendência ascendente a partir da década de 1970 (Piketty; Saez, 2014). Por consequência, os níveis de pobreza aumentaram subs- tancialmente nas democracias avançadas. Como isso foi possível se “uma característica-chave da democracia é a contínua responsividade do governo 2 Cálculos realizados com base nos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio, do IBGE. 3 O inequality-adjusted income index, calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para 2012, indica que apenas Colômbia, Paraguai, Venezuela e Equador apresentam pior distribuição de renda que o Brasil, na América Latina. Dados obtidos em: <https://data.undp.org/dataset/Inequaliry-adjusted-income-index/kgcz-Bb4v>. Apresentação às preferências de seus cidadãos, considerados como politicamente iguais” (Dahl, 1997 [1972], p.25)? | Para a teoria econômica, esses fatos não parecem ser menos desafia- dores. Ainda que Simon Kuzners tenha sido muito mais cauteloso que seus comentadores, suas “especulações preliminares” (1955, p.7) deram origem a uma agenda de investigação que buscou evidências e razões para um U invertido na trajetória secular da desigualdade da renda: o cresci- mento da desigualdade ocorreria apenas nas fases iniciais do processo de industrialização; estágios mais avançados de desenvolvimento seriam acompanhados por redução das desigualdades (Kuznets, 1955, p.18). A trajetória recente do Brasil apresenta iguais desafios para as pro- jeções sobre o desempenho do regime democrático contemporâneo. Na introdução a um clássico das ciências sociais brasileiras, Cidadania no Brasil, José Murilo de Carvalho (2001) sintetizou interpretação com- partilhada à época por diversos cientistas sociais (Barros et al., 2000; Lamounier, 1992; Reis; Cheibub, 1993; Stepan, 1999). Segundo Carva- lho, o entusiasmo com a dernocracia revelara-se ingênuo. As conquistas no plano político — eleição direta em todos os níveis, liberdade de reunião e de expressão, sufrágio universal - não haviam se traduzido em resolu- ção de problemas centrais de nossa sociedade. As grandes desigualdades econômicas e sociais continuavam sem solução, ou até mesmo haviam se agravado; na melhor das hipóteses, melhoras eram marcadas por ritmo muito lento. O resultado de longo prazo era a “inaceitável estabilidade” da desigualdade (Barros et al., 2000). Em conjunto, esses episódios de (aparente) subversão dos fatos em relação à teoria revelam que o conhecimento das ciências sociais sobre os fatores que levam à redução das desigualdades ainda repousa em bases bastante especulativas. Para tal estado da arte, tem contribuído a limi- tada disponibilidade de evidências firmemente estabelecidas (Piketty; Saez, 2014). Na verdade, impressiona o leitor o notável esforço dedutivo empreendido por trabalhos que se tornaram clássicos, esforço em parte induzido pela limitação de informações. Este livro pretende ser uma contribuição ao conhecimento sobre a trajetória das desigualdades no Brasil. Reunidos no Centro de Estudos da Metrópole (CEM), os autores deste volume foram animados pela Marta Arreiche disponibilidade de seis edições dos Censos Demográficos, produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1960 a 2010. À oportunidade nos estimulou a fazer um esforço coletivo de análise das mudanças ocorridas ao longo de um período da história brasileira que compreendeu contextos econômicos e políticos muito distintos: tran- sição rural-urbana, industrialização, crescimento econômico acelerado e retração econômica, inflação e estabilidade monetária, autoritarismo e democracia. Ainda que essas transições tenham sido extensivamente registradas pela literatura, uma avaliação sistemática da trajetória das desigualdades ao longo desse período ainda estava por ser feita. O Brasil de 1960 era um país rural, no qual as desigualdades de renda e de oferta de serviços de infraestrutura no vasto território nacional eram pequenas. Esta era, contudo, uma relativa igualdade na pobreza, na medida em que a baixa renda e a ausência de serviços públicos essenciais estavam mais ou menos homogeneamente distribuídas no território. O mercado de trabalho era predominantemente masculino. Em 1970, em um país esmagadoramente católico, as mulheres tinham em média seis filhos, mas as mais escolarizadas apresentavam uma taxa de fertilidade de dois filhos por mulher. Em qualquer dos extremos de renda e escola- ridade, o arranjo predominante era a família tradicional, restringindo o mundo feminino ao trabalho doméstico. Mais de três quartos da população brasileira era funcionalmente analfabeta, isto é, tinha somente até três anos de estudo. Apenas 20% dos jovens entre 12 e 15 anos completavam quatro anos de estudo. À universidade era um ambiente restrito aos homens brancos oriundos dos estratos superiores. A desigualdade entre brancos e não brancos já começava no acesso aos bancos do ensino fundamental. A escassa oferta de profissionais qualificados garantia principalmente aos provedores masculinos grandes vantagens no mercado de trabalho e no sistema de proteção social, posto que o direito à previdência e à saúde produzia marcadas distinções de status aos detentores de uma carteira de trabalho assinada. Em 2010, o Brasil era um país altamente urbanizado: 85% da popula- ção brasileira viviam em cidades. Os níveis de escolaridade haviam mudado radicalmente. O analfabetismo funcional havia caído para menos de 20% Apresentaçõo da população economicamente ativa, concentrada na população idosa. Entre os jovens, a conclusão do ensino básico era praticamente universal — quase 70% dos jovens completavam oito anos de estudo. Logo, completar o ensino fundamental tornou-se cada vez menos dependente da origem familiar. Na outra ponta do sistema escolar, a população de mais de 18 anos que chegou ao ensino médio pulou de 6,2 milhões em 1980 para 39,7 milhões em 2010; a que chegou ao ensino superior passou de 3,4 milhões para 21,5 milhões. Ambas haviam aumentado mais de seis vezes. No mesmo período, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu de 69 para 16 por mil nascidos vivos, e a esperança de vida passou de 62 para 73 anos. Protagonistas do movimento ferninista e do movimento pelos direi- tos civis na década de 1960, mulheres e pretos não tiveram, contudo, o mesmo sucesso em suas respectivas pautas de emancipação. A partir de 1970, as mulheres passaram a frequentar maciçamente os bancos univer- sitários, a ponto de serem maioria na população universitária em 2010, reduzindo substancialmente as diferenças entre profissões tipicamente masculinas e femininas. A taxa de fecundidade feminina caiu de modo acelerado, pois o conjunto das mulheres adotou cada vez mais o compor- tamento reprodutivo das mulheres altamente escolarizadas. Ter filhos passou a ser uma escolha. Acompanhou essas mudanças no comportamento das mulheres a emergência de uma multiplicidade de arranjos familiares: a família tra- dicional deixou de ser o arranjo predominante. Do mesmo modo, um declínio (nada moderado) do catolicismo, longe de assinalar o fim da religião, instalou o pluralismo religioso. Ainda que pretos e pardos tenham paulatinamente ingressado na universidade nas últimas décadas, o fato é que, em 2010, os brancos ainda eram 75% da população universitária. Mais que isso, quando os não brancos entram no sistema de ensino superior, tendem a ingressar nas profissões de menor prestígio. Por consequência, a redução das desigual- dades em relação aos não brancos dentro do sistema escolar permaneceu restrita ao nível de ensino em que o acesso tornou-se universal, isto é, no ensino fundamental. A entrada massiva das mulheres nos mundos escolar e do trabalho, contudo, não se traduziu em salários iguais. Em 2010, mulheres e pretos

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