Trabalho e Proletariado no capitalismo contemporâneo Conselho Editorial da área de Serviço Social Ademir Alves da Silva Dilséa Adeodata Bonetti Elaine Rossetti Behring Maria Lúcia Carvalho da Silva Maria Lúcia Silva Barroco Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lessa, Sérgio Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo / Sérgio Lessa. — São Paulo : Cortez, 2007. Bibliografia. ISBN 978‑85‑249‑1338‑9 1. Capitalismo 2. Marxismo 3. Proletariado 4. Trabalho e classes trabalhadoras I. Título. 07‑7956 CDD‑331.011 Índices para catálogo sistemático: 1. Trabalho, proletariado e capitalismo : Economia do trabalho 331.011 Sergio Lessa Trabalho e Proletariado no capitalismo contemporâneo 2a edição TRABALHO E PROLETARIADO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO Sergio Lessa Capa: aeroestúdio Preparação de originais: Silvana Cobucci Leite Revisão: Marta Almeida de Sá Composição: Linea Editora Ltda. Assessoria editorial: Elisabete Borgianni Assistente bilíngue: Priscila F. Augusto Coordenação editorial: Danilo A. Q. Morales Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e do editor. © 2007 by Autor Direitos para esta edição CORTEZ EDITORA Rua Monte Alegre, 1074 — Perdizes 05014‑001 — São Paulo‑SP Tel.: (11) 3864‑0111 Fax: (11) 3864‑4290 E‑mail: [email protected] www.cortezeditora.com.br Impresso no Brasil — abril de 2011 A meu pai (in memoriam) 7 Sumário Prefácio ............................................................................................................ 9 I — Ortodoxia e leitura imanente ............................................................. 10 II — Leitura imanente de O Capital ......................................................... 21 Parte I O primeiro e o segundo Adeus ao proletariado ................ 31 Capítulo I — O primeiro Adeus ao proletariado — de Mallet a Gorz ... 37 Capítulo II — O segundo Adeus ao proletariado — de Piore e Sabel a Lojkine e Schaff .............................................................................. 56 Capítulo III — O Adeus ao proletariado no Brasil — Antunes, Iamamoto Saviani .......................................................................................................... 80 1. Antunes e a classe‑que‑vive‑do‑trabalho ........................................... 80 2. Iamamoto: Serviço Social como trabalho ........................................... 89 2.1. O produto do Serviço Social ......................................................... 96 2.2. Serviço Social e trabalhador coletivo .......................................... 100 3. Saviani: educação como trabalho ........................................................ 105 Parte II Trabalho e trabalho abstrato, trabalhadores e proletariado ............ 127 Capítulo IV — O trabalho em O capital ...................................................... 131 1. Trabalho: categoria fundante do ser social ........................................ 139 2. Prévia ideação e objetivação ................................................................ 142 8 S. LESSA Capítulo V — Trabalho e trabalho abstrato ................................................ 147 1. Trabalhodor coletivo e assalariados .................................................... 155 2. Assalariados e proletários .................................................................... 163 2.1. O “conteúdo material da riqueza social” ................................... 164 2.2. As práxis do proletariado e do mestre‑escola ............................ 173 2.3. O produto final do trabalho produtivo do proletariado e do mestre‑escola ............................................................................. 175 2.4. As diferenças de classe entre o proletariado e o mestre‑ ‑escola .............................................................................................. 177 2.5. Trabalho coletivo e trabalho intelectual ...................................... 184 3. Trabalho e trabalho abstrato ................................................................ 195 Capítulo VI — Poulantzas, Nagel e Lojkine ............................................... 202 1. Poulantzas .............................................................................................. 202 2. Jacques Nagel ......................................................................................... 216 3. Lojkine ..................................................................................................... 233 Capítulo VII — Trabalho e trabalho abstrato: observações finais ........... 242 Parte III A atualidade de Marx ..................................... 249 Capítulo VIII — Equívocos que se mantêm ............................................... 252 1. Fetichismo da técnica ............................................................................ 253 2. Previsões que não se confirmam ......................................................... 274 3. O Estado de Bem‑Estar ......................................................................... 278 4. A inconsistência das novas teorias ...................................................... 291 Capítulo IX — O trabalho contemporâneo e Marx ................................... 297 1. Fordismo e toyotismo: continuidade ou ruptura? ............................ 297 2. Precisamos de outras categorias além das de Marx? ....................... 311 Conclusão ........................................................................................................ 325 Bibliografia ...................................................................................................... 349 9 Prefácio A categoria trabalho ocupa o centro das atenções das ciências humanas há pelo menos duas décadas. Mas, bem antes, desde meados da década de 1950, as transformações nos processos de trabalho e sua relação com o des‑ tino do proletariado enquanto a classe revolucionária tem sido investigado das perspectivas as mais diversas. Três questões, na verdade, se confundiram no debate e o vocábulo tra‑ balho terminou assumindo acepções muito distintas. A questão política (é o proletariado a classe revolucionária nos dias de hoje?), a questão mais pro‑ priamente ontológica (há uma mutação na essência das classes sociais devi‑ do às mudanças nos processos produtivos?) e uma questão mais tipicamen‑ te sociológica (o emprego algum dia teria sido e, no caso de a resposta ser positiva, continuaria sendo hoje, o definidor das identidades sociais?) foram embaralhadas e o trabalho terminou, por vezes, sendo sinônimo de classe trabalhadora, outras vezes de proletariado, a classe antagônica à burguesia e, ainda, de emprego ou de profissão. Por trabalho entendemos o “eterno” intercâmbio orgânico com a natureza, a classe social antagônica ao capital ou, ainda, o emprego formal fordista? Esta perda de precisão semântica do vocábulo trabalho terminou abrin‑ do espaço para uma expressão, esta, sim, quase misteriosa: “mundo do tra‑ balho”. O que exatamente se quer dizer com ela? O ambiente da fábrica, “o modo de ser” dos explorados, a concepção de mundo peculiar dos trabalha‑ dores assalariados, a relação capital/trabalho no seu sentido o mais amplo, as “novas relações” fabris?1 Não seria preferível, para se manter a precisão 1. Chegamos a uma tal ambiguidade nesta expressão que em 2004 a Editora Scipione publicou uma coleção de livros didáticos de biologia, química, física, inglês, matemática e, claro, história, que têm no título a epígrafe De olho no mundo do trabalho! 10 S. LESSA científica, o emprego da categoria relações de produção, uma categoria clás‑ sica e que não possui as ambiguidades da expressão “mundo do trabalho”? O primeiro objetivo deste texto é distinguir e esclarecer estes três planos do debate. I. Ortodoxia e leitura imanente Há, também, um segundo objetivo, mais imediatamente metodológico, que é a recuperação do significado da ortodoxia e da leitura imanente. Nas últimas décadas, com a avalancha ideológica neoliberal e sua con‑ traparte filosófica, o pós‑modernismo, reivindicar a ortodoxia tornou‑se um pecado mortal a ser afastado recorrendo‑se à água benta mais poderosa: o ecletismo. Esta é uma postura equivocada e que possui repercussões que não se restringem à esquerda2. Mas, no que se refere ao marxismo, tem ao menos aparentemente alguma razão de ser, já que, entre os partidários de Marx, se tornou muito frequentemente um recurso aos textos que possui, para dizer pouco, uma forte analogia com o espírito religioso. Referimo‑nos ao fato de que não raras vezes tenta‑se substituir a realidade pelo texto, como se fosse o texto, e não o desenvolvimento histórico objetivo, o terreno da luta de classes. Quantas vezes nos deparamos com o empobrecido debate no qual “prova‑se” a possibilidade de uma proposta revolucionária através de uma dada interpretação de um texto de um autor qualquer, Lênin, Trotsky, Lukács ou Marx, aqui não importa.3 O dogmatismo no marxismo redundou em uma ideologia hipócrita, autoritária, burocratizada, típica dos apparatchiks que brotaram da degenerescência dos movimentos revolucionários e da social democracia no século XX. Estes elementos contribuíram para, nos tempos pós‑modernos, identi‑ ficar‑se indevidamente dogmatismo e ortodoxia, gerando uma quase histeria coletiva contra a ortodoxia e pelo ecletismo, mesmo na esquerda. Pretende‑se afastar o dogmatismo adotando‑se, não menos dogmaticamente, o ecletismo. 2. Conferir, sobre esta questão, Tonet, 1997. 3. Tratamos destas questões em “Crítica ao Praticismo Revolucionário” (Lessa, 1995).