1 (cid:2) Câmpus de São José do Rio Preto CRISTIANE VANESSA MIORIN BORGES O PERCURSO EVOLUTIVO DO NARCISISMO LITERÁRIO EM UMA VIDA, A CONSCIÊNCIA DE ZENO E CAPÍTULOS ESPARSOS, DE ITALO SVEVO São José do Rio Preto (cid:2) 2013 2 (cid:2) CRISTIANE VANESSA MIORIN BORGES O PERCURSO EVOLUTIVO DO NARCISISMO LITERÁRIO EM UMA VIDA, A CONSCIÊNCIA DE ZENO E CAPÍTULOS ESPARSOS, DE ITALO SVEVO Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, Área de Concentração – Teoria da Literatura, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto. Orientadora: Profa. Dra. Maria Celeste Tommasello Ramos São José do Rio Preto 2013 3 (cid:2) CRISTIANE VANESSA MIORIN BORGES O PERCURSO EVOLUTIVO DO NARCISISMO LITERÁRIO EM UMA VIDA, A CONSCIÊNCIA DE ZENO E CAPÍTULOS ESPARSOS, DE ITALO SVEVO Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, Área de Concentração – Teoria da Literatura, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de São José do Rio Preto. Orientadora: Profa. Dra. Maria Celeste Tommasello Ramos Banca Examinadora Profa. Dra. Maria Celeste Tommasello Ramos UNESP – São José do Rio Preto Prof. Dr. Álvaro Luiz Hattnher UNESP – São José do Rio Preto Profa. Dra. Maria Cláudia Rodrigues Alves UNESP – São José do Rio Preto Profa. Dra. Elza Kioko Nakayama Nenoki do Couto UFG – Goiânia Profa. Dra. Cláudia Fernanda Campos Mauro UNESP – Araraquara São José do Rio Preto 14 de Fevereiro de 2013 4 (cid:2) DEDICATÓRIA O tempo trouxe o amor, um amor sem fim, que pode ser medido somente na intensidade do abraço de Luisa, Luisa cantada em tantas canções, em tantos amores, tantas luas, e sonhos de crepom. Luisa dos sonhos que eu roubei para mim, dos sonhos de novelo vindos do outro lado do mar, de todas as coisas que quero ensinar ainda enquanto aprendo. Queria também eu um antídoto que te fizesse grande de repente e te fizesse voar sobre as trincheiras e sobre os gigantes de chifres monstruosos, mas te amo, não posso fazer isso, tua vida se fará de todas as cores e de pequenos sons de espanto, de passarinhos e aviões, de flores que nascem sem motivo. A você, Luisa, dedico. 5 (cid:2) AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os que de alguma forma contribuíram para a concretização deste estudo, facilitando de várias maneiras minha longa vivência com Svevo. Dentre esses cito: (cid:129) Meu amor-marido-companheiro André que, com sua tranquilidade e amor, sempre apazigou meu espírito; (cid:129) Minha filha Luisa, pelos grandes ensinamentos do viver, pela renovação e força, por um amor que não tem fim; (cid:129) Meu pai e minha mãe, que me ensinaram a ter respeito, fé, responsabilidade, perseverança, paciência e acima de tudo amor; (cid:129) Meus sogros, pela parceria e pelos fins de semana animados; (cid:129) Meus irmãos, cunhadas e cunhados, pelas conversas, pelos dilemas e crescimento, mas acima de tudo pelos meus sobrinhos lindos: Renan, Amanda, Gabriel, Amanda e Pedro; (cid:129) Meus amigos, refúgios de tranquilidade e bons momentos; (cid:129) Minha querida comadre orientadora Profa. Dra. Maria Celeste Tommasello Ramos que me acompanhou, aconselhou e orientou dentro e fora dos limites da universidade; (cid:129) Meus queridos amigos do Nearp, pelo apoio fraternal e espiritual; (cid:129) Meu querido tradutor e amigo Reginaldo Francisco, pela parceria inigualável e pelas conversas ao léu; (cid:129) Todos os professores da Pós-Graduação em Letras do Ibilce, sempre tão atenciosos e prestativos; (cid:129) Todos os funcionários da Seção de Pós-Graduação, sempre prontos a auxiliar; (cid:129) CNPq, pela concessão da bolsa de estudos que proporcionou total dedicação à minha pesquisa. 6 (cid:2) RESUMO Esta tese apresenta um estudo sobre os romances Uma vida e A consciência de Zeno e sobre os capítulos esparsos “Un contratto”, “Le confessioni del vegliardo”, “Umbertino”, “Il mio ozio” e “Il vecchione” do autor italiano Italo Svevo. A partir da análise dos textos, o trabalho mostra como essas narrativas são exemplos do narcisismo literário, em que o artifício utilizado para fazer Literatura se torna a própria matéria narrada. Além disso, o estudo mostra a evidente evolução do trabalho de Svevo no que diz respeito ao artefato crítico e à consciência do trabalho criativo, uma vez que a presente tese analisa três momentos distintos de sua obra e demonstra um inegável amadurecimento dessas questões. A ênfase da análise empreendida está nos elementos referentes às autobiografias ficcionais e à metaficção, que dão ensejo também ao estudo sobre o foco narrativo e o tempo. Palavras-chave: Italo Svevo, Literatura italiana, Narcisismo literário, metaficção, autobiografia ficcional. 7 (cid:2) ABSTRACT This thesis presents a study about the novels A life and Zeno’s conscience and some sparse chapters, i.e. “Un contratto”, “Le confessioni del vegliardo”, “Umbertino”, “Il mio ozio” and “Il vecchione” from the Italian author Italo Svevo. Based on the analysis of the texts, the work shows how these narratives are examples of literary narcissism, in which the employed artifice to do Literature becomes the narrated theme itself. Furthermore, the study shows a clear evolution of Svevo's work in relation to the critic artifact and the consciousness of the creative work, since this thesis examines three different moments of his work and demonstrates an undeniable maturity of these issues. The emphasis of the undertaken analysis relies on the constituents relating to the fictional autobiographies and to the metafiction, giving rise also to the study of narrative focus and time. Key-words: Italo Svevo, Italian Literature, Literary Narcissism, Metafiction, Fictional Autobiography 8 (cid:2) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO: UMA MONTANHA QUE VIROU VULCÃO.10 2 O QUE É CONSCIÊNCIA DA OBRA? .......................................25 2.1 Percorrendo os caminhos da invenção........................................25 2.2 O narcisismo literário como estratégia para a consciência.........38 1.2.1 Modos e formas do narcisismo literário....................................47 3 UMA VIDA: O PRIMEIRO OLHAR PARA DENTRO.............50 3.1 Marcas efetivas de autonomia da escrita......................................50 3.2 As cartas.......................................................................................56 3.3 O romance ficcional e o real........................................................66 4 SOB A LUZ DA CONSCIÊNCIA..............................................90 4.1 A palavra consciência...................................................................90 4.2 “Prefácio”: verossimilhança e pacto autobiográfico.....................93 4.3 O contato com a escrita e a tomada de consciência....................103 5 FUOR DELLA PENNA NON C’È SALVEZZA ………....……124 5.1 Premissas: nem quarto romance nem contos autônomos............124 5.2 “Un contratto”, “Umbertino” e “Il mio ozio”: escrita referencial e reflexiva..........................................................................................134 9 (cid:2) 5.2.1 “Un Contratto”: reescritas comerciais e ironia........................147 5.2.2 “Umbertino”: reprodução do avô.............................................160 5.2.3 “Il mio ozio”: escrever e rejuvenescer ....................................184 5.3 “Le confessioni del vegliardo” e “Il vecchione”: voglio scrivere ancora..................................................................................198 5.3.1“Le confessione del vegliardo”: o ato da escrita .....................206 5.3.2“Il vecchione”: fim? .................................................................227 6 CONCLUSÃO: A AVENTURA DE UMA ESCRITURA......241 7 BIBLIOGRAFIA..........................................................................249 10 (cid:2) 1 INTRODUÇÃO: UMA MONTANHA QUE VIROU VULCÃO Ao estudar a vida e a obra de Italo Svevo, não podemos ignorar o fato de que ele viveu sempre em áreas limítrofes, que perpassaram constantes mudanças, o que também era verificado com relação às épocas e movimentos literários vigentes. Nasceu e viveu em uma zona que passou pelo domínio austro-húngaro e depois pelo italiano. Absorveu a cultura latina em sua maior expressão por estar intimamente ligado à tradição italiana, mas também recebeu influência fortíssima do judaísmo herdado da família. Estudou tanto o italiano quanto o alemão. Era literato e funcionário de banco, posteriormente tornou-se comerciante. Sua figura nunca esteve vinculada somente a uma única imagem, conhecimento, experiência ou profissão. Desses fragmentos de culturas e de vivências surgiu um novo modo de escrever, novo demais para a época e por isso mesmo, renegado. Italo Svevo foi o pseudônimo de Ettore Schmitz, que nasceu em 19 de dezembro de 1861 na cidade de Trieste (cidade italiana que, na época, pertencia ao Império Austro-Húngaro) e morreu em 1928, vítima de um acidente automobilístico em Motta di Livenza. Teve uma infância feliz na casa de seus pais Franz Schmitz (1829-1892), comerciante alemão, e Allegra Moravia (1832-1895), dona de casa italiana. Pertencia a uma família de posses. Em 1874 foi mandado, com os irmãos Adolfo e Elio, ao colégio Segnitz, na Baviera, onde estudou alemão e matérias úteis a sua futura profissão: a atividade comercial. Sua formação veio, portanto, de um ambiente linguístico de prevalência alemã (mesmo falando o dialeto triestino1 (cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2)(cid:2) 1 Na época em que Svevo viveu, a Itália ainda era fortemente marcada pela questão linguística dos dialetos. Falava-se preponderantemente a língua regional, embora o italiano standard (baseado no dialeto florentino) já tivesse sido estabelecido como língua oficial. Costamagna (1995, p. 260-261) afirma que logo depois da unificação italiana, o italiano standard era praticamente uma língua
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