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Territórios Contemporâneos do Documentário: O Cinema Documental em Portugal de 1996 à ... PDF

294 Pages·2010·7.98 MB·Portuguese
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“Territórios Contemporâneos do Documentário: O Cinema Documental em Portugal de 1996 à Actualidade” ∗ João António de Oliveira Gonçalves Rapazote Universidade Nova de Lisboa Índice 1 AANTROPOLOGIAEODOCUMENTÁRIO . . . . . . . 13 1.1 OLugaremAntropologia . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.1.1 OLugardoOutroeOutrosLugares . . . . . . . . . . . . 15 1.1.2 DosCativosdoLugaraosMulti-situados . . . . . . . . 28 1.2 DaEscritaaoCinema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 1.2.1 DoConsumoàProduçãodeImagens–AImagem-Objecto eaImagem-Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 1.2.2 OCinemanaEtnografiaeoDocumentário . . . . . . . . 51 2 MOMENTOSDEDERIVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . 66 2.1 OTempoeosModosdeRepresentação . . . . . . . . . . 66 2.1.1 APropósitodeFlahertyeVertov–AImagem-Documento eaImagem-Instrumento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 2.1.2 MecanismosdaRealidadeedaFicção . . . . . . . . . . 83 2.2 TerramotoseNaufrágios: ActosdeUmaHistória . . . . . 87 2.2.1 ORegistodasPrimeirasDécadas . . . . . . . . . . . . . 88 2.2.2 PicoseAbismosdeumDocumentárioaMetro . . . . . . 91 2.2.3 ADécadadoSubgéneroouumSubgénerodeDécada . . 98 ∗Dissertação de Mestrado de Antropologia – Antropologia do Espaço. Universi- dade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Departamento de Antropologia. 2 JoãoAntóniodeOliveiraGonçalvesRapazote 2.2.4 O“NovoCinema”Etnográfico . . . . . . . . . . . . . . 103 2.2.5 EDepoisdeAbril . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 3 CONSTRUÇÃO DE UM TERRENO: DE 1996 À ACTUA- LIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 3.1 OLugareoApelodoReal: UmaPropostadeClassificação 117 3.1.1 LugaresPróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 3.1.2 TerritóriosCulturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 3.1.3 EntreTerritórios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 3.1.4 Etnográfico-Folclóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 3.1.5 SituaçõesArtísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 3.1.6 CasosParticulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 3.1.7 Histórico-Biográficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 3.1.8 Científico-Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 3.2 AproximaçãoàsPráticasActuais . . . . . . . . . . . . . . 136 3.2.1 CronologiaeTemáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 3.2.2 FontesdeFinanciamento . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 3.2.3 ADuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160 4 LUGARAUMNOVOMOMENTO . . . . . . . . . . . . . 166 4.1 APerspectivaTécnica: ActuaisProtagonistas . . . . . . . 166 4.1.1 TerritóriosdaProdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 4.1.2 TerritóriosdaMontagem . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 4.1.3 TerritóriosdaFotografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 4.1.4 TerritóriosdoSom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 4.2 APerspectivaConceptual: OsRealizadores . . . . . . . . 183 4.2.1 CasosIsolados–TerritóriosdeEclosão . . . . . . . . . . 184 4.2.2 AquelesquePersistem–TerritóriosdeAfirmação . . . . 201 4.2.3 UmaSelecção–TerritóriosdeConsolidação . . . . . . . 223 5 CONCLUSÃO:Lugar(es)doDocumentárioemPortugal . . 239 6 BIBLIOGRAFIA/WEBSITES . . . . . . . . . . . . . . . . . 255 7 ANEXO–QUADROSDEAPOIOAOTEXTO . . . . . . . 269 www.bocc.ubi.pt TerritóriosContemporâneosdoDocumentário 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas e entidades que, de alguma forma, con- tribuíram para a recolha da informação indispensável sobre os filmes, nomeadamente a AporDoc (muito especialmente a Nina Ramos) e o ICAM(naspessoasdeRosíliaCoelhodoCentrodeApoioàProduçãoe aPatríciaSeverino,MariaJoséNuneseSílviaMorgadinhodoCentrode Documentação). MastambémaMaria JorgeBranquinho(CâmaraMu- nicipal de Seia/Festival CineEco), à “Mitó” (Biblioteca da Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema), a Sara Martins (Clube Português de ArteseIdeias/FestivaldeVídeodeLisboa),aIsabeldeCarvalhoeJoão Alves(RádioTelevisãoPortuguesa)eaLurdesLopeseAlexandraMar- tins(VideotecadeLisboa/MostradeVídeoPortuguês). Um agradecimento especial é devido às seguintes pessoas ou enti- dades produtoras que se prestaram a responder atempadamente a ques- tões específicas sobre os respectivos filmes, assim ajudando a colmatar algumas lacunas de informação existentes nas fontes previamente con- sultadas ou permitindo compreender um ou outro contexto de trabalho: Ana Torres (UAL), André Dias (LabCC/UNL), Catarina Mourão (La- ranja Azul), Elsa Barão (SubFilmes), Fernando Gustavo de Carvalho, Ivan Dias, João Nisa, Laura Domingues (Museu Nacional de Etnolo- gia), Leonor Areal (Videamus), Luís Alves de Matos (Amatar Filmes), Manuela Penafria (UBI), Marília Maria Mira, Pedro Duarte, Pedro Efe (Acetato/PE Produções), Rui Blanes (ISCTE), Susana Durão, Victor Candeias e ainda Akademya Lusoh-Galaktyka, ContinentalFilmes, Lx- FilmeseValentimdeCarvalhoTelevisão. Por fim, o meu apreço aos professores das disciplinas do Mestrado, que souberam entender a necessidade de adaptação das temáticas das mesmas ao objectivo específico desta dissertação: Maria Cardeira da Silva(LeiturasePesquisaemAntropologiaContemporâneaeAntropo- logia do Turismo), Maria Lucília Marcos (Alteridades) e Paulo Filipe Monteiro (Modos da Ficção). Apreço que se estende ao Departamento deAntropologiadaUniversidadeNovadeLisboa,emparticularaFilo- menaSilvanoe,muitoespecificamente,aCatarinaAlvesCosta. Dirijoumaúltimapalavradegratidão,distintaepessoal,àFernanda Madeira (temível e atenta primeira leitora), ao Arne Kaiser, à Luísa www.bocc.ubi.pt 4 JoãoAntóniodeOliveiraGonçalvesRapazote Yokochi e, sempre presente, ao Jürgen Bock. A memória, essa vai para meupai,quesempremeincentivouacontinuarosestudosmasnãoteve tempoparalerestadissertação. www.bocc.ubi.pt TerritóriosContemporâneosdoDocumentário 5 RESUMO Nesta dissertação estabelecem-se as relações entre a Antropologia e o CinemaatravésdoquestionamentodoconceitodeLugarquando,como espaçodeproduçãoeprodutodaquelequeohabita,esteserevelaoutro lugar ou mesmo o lugar do outro, e quando, como cenário “real” do documentário,étratadoerepresentadoatéà“ficção”. Aborda-seaproblemáticadavalidadedaproduçãodeconhecimento antropológico com base na imagem, contrapondo o seu paradigma rea- lista ao paradigma reflexivo e analisando, por essa via, as transfor- mações verificadas naquilo que se entende por Filme Etnográfico e as suasinteracçõescomodocumentário. Reflecte-se sobre a origem do movimento internacional do docu- mentárioeassucessivasdicotomiasqueseforaminstalandonoseuper- curso,dosmodosderepresentaçãoexpositivosaosreflexivos,incluindo oinevitávelconfrontocomaficção. Percorre-se a história breve e turbulenta do documentário em Por- tugal, das suas lacunas, dos seus altos e baixos, das suas contingências e ironias decorrentes de um posicionamento periférico em relação ao movimentointernacionaldogénero. Constrói-se uma “Base de Dados dos Filmes Realizados entre 1996 e 2002”, suporte desta dissertação, com o levantamento de 423 filmes finalizados nesse período, bem como das suas principais características técnicas. Expõe-se um possível retrato das práticas do documentário regis- tadas nesse período, com especial incidência nas características temáti- cas,definanciamentoedaduraçãodosfilmes. Escrutina-seumnovomomentonodocumentáriofeitoemPortugal, partindodosseusprotagonistas(produtores,editores,operadoresdecâ- mara, técnicos de som e realizadores), dos relacionamentos que esta- belecem entre si, bem como das particularidades e contextos das obras que o constituem, assim delineando os territórios contemporâneos que dão origem e sedimentam a concretização de um Documentário Cria- tivo. www.bocc.ubi.pt 6 JoãoAntóniodeOliveiraGonçalvesRapazote INTRODUÇÃO: Cinema-Espaço – O Cinema do Lugar e do ‘Outro’ que o Habita «Youwon’tknowwhatyouwillfinduntilyougetthere» Vindo de uma área do conhecimento, a Geografia, onde o espaço (a superfície terrestre) está presente na etimologia da ciência e na própria definiçãodadisciplina,cujaespecificidadesempresefundamentounum olhar atento sobre o território, foi para mim claro desde o início que o chamamento para o Mestrado de Antropologia do Espaço provinha da afinidadevislumbradanessapalavraabstracta: Espaço. Afrequentead- jectivação deste vocábulo criou a expectativa de encontrar outras abor- dagens, o que rapidamente foi concretizado num outro termo, o Lugar, cujaimportânciaemAntropologiaserevelouencantatória. Em Geografia é imperativo o conhecimento da inter-relação entre o espaçoeasociedadequeohabita/constrói,assimcomoénotóriaacons- ciência da dificuldade em delimitar e estabelecer fronteiras físicas ou conceptuais entre, por exemplo, espaço natural/espaço geográfico, es- paço rural/espaço urbano, para ficar por duas dicotomias clássicas. Em Antropologia, vê-se isso no 1o capítulo, é o Lugar, definido como iden- titário,relacionalehistórico,quesemostrarelevantenasuaconstrução comociência,comociênciadoOutro–detodososOutros,comorefere Augé, numa ironia talvez impossível à descrição sistemática de Fou- cault(1984)–queohabita,sendoaindaessemesmoLugarquesetorna difícildecircunscrevereproblemáticodeconceptualizar. Na história da Antropologia, coube à crítica pós-moderna a “des- construção” da concepção do Lugar e da disciplina, ao demonstrar a existência de uma metodologia assente na dupla ilusão da neutralidade do observador e do fenómeno social observável, ou ainda, numa di- mensão histórica mais profunda, ao desmontar a preocupação da cul- tura moderna ocidental com o sentido do tempo reflectida no fascínio pelo primitivo e na busca das origens, patentes nos conhecimentos de- senvolvidos por Darwin (a evolução biológica), Nietzsche (a genealo- gia) ou Freud (o inconsciente) e organizada em volta da arqueologia da histórianaturalehumana. O Lugar, contudo, não perdeu a sua relevância. Instalada a descon- fiança sobre a questão das origens, as narrativas fundadas em sequên- www.bocc.ubi.pt TerritóriosContemporâneosdoDocumentário 7 cias de desenvolvimento no tempo são substituídas por sequências de relações espaciais. É então que o Espaço se revela na sua extensão, se consubstancia na forma de relações de colocação (Foucault, 1984) e se desdobra numa constelação de conhecimentos, assim rememorando a infinidade da(s) realidade(s) e a impossibilidade de a(s) explicar na sua totalidade – modéstia introduzida nas Ciências Sociais por Max Weber – ou, por outro lado, assim apontando para a utopia da unificação da leis fundamentais da natureza ou de qualquer outro projecto de conhe- cimentouniversal. Essasrealidades,esseslugares,inapreciáveisnasuatotalidade,des- cobrem-se assim como que ausentes, como “imagens” reflectidas num espelho (pensamento, linguagem...), sendo este um lugar sem lugar à vez utópico e heterotópico onde elas se vêem sem estarem lá, mas pontovirtualdepassagemobrigatóriaparaserempercebidas. Nahiper- realidade assim criada, multiplicada nos diferentes media ou artefactos humanos (Baudrillard, 1991), os lugares e as realidades não têm um estatuto ontológico independente do discurso ou da imagem aí repre- sentada. Ainda no 1o capítulo deste estudo observar-se-á como esta abor- dagem aos modos de representação acaba por permitir a ascensão de um novo ramo da Antropologia onde a Imagem – aqui, em particular, a “imagem mecânica” de ressonância benjaminiana – é um suporte pro- dutor de conhecimento antropológico tão válido como o texto escrito. Mais, na Antropologia Visual, assim se designa esse ramo, a Imagem, que é reflexo, também é metáfora e estabelece a ponte entre o visível e o invisível, mesmo quando, numa perspectiva consumidora, se trata de artefactos, pois estes são desmaterializados e tornados conceitos in- seridos em sistemas de conhecimento e acção capazes de possibilitar o acesso a uma dimensão, de outra forma inalcançável, da cultura que os produziu. Éprecisamentenaaproximaçãoaessepoderdeevocaçãodomundo interiordasculturas,antesapresentadasapenascomoobjectodeestudo, que se vislumbra o lugar do Cinema (etnográfico) na abertura de novos caminhosàAntropologia. Assimcomoénessapossibilidadedeencarar as descrições e representações etnográficas como actos imaginativos que procuram aproximar-se da vida de estranhos, reflectida na capaci- dade do cinema permitir partilhar experiências, mesmo que fragmen- www.bocc.ubi.pt 8 JoãoAntóniodeOliveiraGonçalvesRapazote tárias e transitórias, de comunicar e ultrapassar fronteiras intersubjec- tivas e culturais – quanto mais não seja por recurso àquele mecanismo cerebralquefacultaareproduçãovirtualdeumgesto(umaemoção)no simples acto de o ver ser executado (sentido) por outro –, que se divisa olugardaAntropologianospercursosdoCinema(documentário). A Antropologia e o Cinema, dois objectos que pelas matrizes disci- plinares convencionais se encontrariam em áreas de estudo diferentes, cruzam-seaquinaAntropologiaVisual,assimsequebrandoalgunsefei- tosperversosprovocadospelaexcessivaespecializaçãoacadémica. Mas enquantotal,ambosparticiparamnoprojectomodernodedarexpressão a uma nova e alargada concepção da humanidade, fazendo-o, inclu- sive, de forma simetricamente elegante. O paralelismo, como realça Grimshaw (1997), é manifesto no facto das datas simbólicas do nasci- mento do cinema, com os Lumière em 1895, e da Antropologia mo- derna, com a expedição de Haddon em 1898, distarem apenas de três anos. Aesteparinauguraljuntam-seainda,nosanos1920,osprojectos de Malinowsky e Flaherty e, já nos anos 1930, os de Radcliffe-Brown e Grierson, instituindo muito “modernamente”, uns a etnografia cientí- fica,osoutrosofilmedocumentárioclássico. Quadros, Panorâmicas, Actualidades, Travelogues, em todos estes legítimos antecessores dos filmes etnográficos e dos documentários se reconhece o “apelo do real” e o seu “tratamento” (Winston, 1995) atra- vés da imagem (em movimento), mesmo se apenas alguns o sublimam criativamente. Todos podem reivindicar o apego ao Lugar – e a im- portância das filmagens in loco é só um pormenor –, assim se distan- ciandodoCinemadeficção. Imagem e Lugar, imagens (em movimento) dos lugares. É destes “lugares comuns” que se fazem as malhas que tecem as reflexões cen- trais desta dissertação, o cimento que liga a Antropologia ao Cinema, a Antropologia do Espaço à Antropologia Visual, ao Filme Etnográfico e aoDocumentário. Éentãono2o capítuloqueseprocuradeslindaraes- pecificidade e a história deste género cinematográfico. Seja através dos momentos fundadores e de derivação mais significativos, cujas obras analisadas–pertencentesaFlahertyeaVertov–nãoseencontrampre- sas ao seu contexto de origem, antes transportam consigo a inscrição de um passado capaz de adquirir significação no “aqui e agora” da re- cepção(Benjamin,1992)–obrascristalinasquereflectemasdiferentes www.bocc.ubi.pt TerritóriosContemporâneosdoDocumentário 9 facetastemáticaseformaisqueogéneroexplorouposteriormente. Seja, igualmente, através de uma análise diacrónica das suas práticas num contexto local – em Portugal –, cujo afastamento dos centros onde o documentário mais se desenvolveu está patente nas fragilidades e con- tingênciasencontradas. Se, por analogia à linguagem cinematográfica, os capítulos iniciais, de fundamentação mais teórica, correspondem a “panorâmicas” ou “planos gerais”, o 3o capítulo, aquele de aproximação ao objecto con- creto desta dissertação – o documentário contemporâneo feito em Por- tugal – equivale aos primeiros “planos americanos”e travellings. Nele seafirmamosfundamentosdaconstituiçãodeumabasededadosdedo- cumentários realizados entre 1996 e 2002, que inclui 423 filmes suma- riamente descritos numa ficha técnica normalizada. Nele também se perscruta o possível sistema de sustentação da produção documental através das suas estruturas mais significativas, do organismo institu- cionaleestataldeapoioaoCinemaaoseventosefémerosdedivulgação deste género tão afastado do circuito comercial de distribuição, cons- tatando muito pragmaticamente o papel fundamental de ambos no re- gistoe“arquivo”(conhecimento)dosdocumentáriosquesevãofazendo por esse país fora, qual rede ou teia que vai captando e fixando aqueles presosnassuasmalhaseassimevitandoasuaquedanoolvido. Éaindaneste3o capítuloqueseavançacomumasistematizaçãodas realidadeseperspectivasquemaisatraemosdocumentaristasemPortu- gal,umaanálisedosdocumentáriosessencialmentetemáticaederivada de uma proposta de classificação alicerçada nos “lugares” e naqueles que os habitam, por eles tornados visíveis. Assim como é aqui que setrataainformaçãoacumulada,estabelecendoumprovávelpanorama do documentário produzido em Portugal (quando, o quê, como), tendo principalmente em consideração o cruzamento alternado de algumas das variáveis de caracterização dos filmes, como o ano de conclusão, aclassificação,afontedefinanciamentoeaduraçãodosfilmes. Este é, portanto, um capítulo intrinsecamente metodológico, onde se definem as metodologias, as abordagens e os conceitos aplicados ao estudo do documentário realizado em Portugal aqui concretizado e, no fundo,ondesedefineeconstróiumterrenoqueservedefontefidedigna aotrabalhosubsequente. Recorra-se novamente à metáfora dos enquadramentos cinemato- www.bocc.ubi.pt 10 JoãoAntóniodeOliveiraGonçalvesRapazote gráficosparaconcluir,no4o capítulo,comaentradanoszoomse“gran- des planos”, nas “imagens-atracção” (Deleuze, 1983) apropriadas ao retratoeaodesvendardosrostosquedãolugaraumnovomomentono documentáriofeitoemPortugal. Em termos de percepção imediata, o documentário é muitas vezes visto como um cinema menor. Envolvido que está numa realidade e nos lugares em que esta se anuncia, é comum o olhar sobre um docu- mentário ter como ponto de partida mais o seu conteúdo, o tema que aborda, do que as suas qualidades estéticas e de aplicação rigorosa ou inovadoradagramáticacinematográfica. Issorepercute-se,aocontrário do que é aplicado na Ficção por teóricos e críticos, mesmo pelos es- pectadores mais cinéfilos, na pouca atenção e relevância dada aos rea- lizadores ou aos profissionais de uma ou outra especialidade técnica. Todavia, a forma, o estilo e a linguagem cinematográfica utilizados na feituradeumdocumentáriosão,talvezmaissubtilmente,fundamentais para as qualidades do mesmo, e o modo como isso se concretiza de- pende forçosamente das pessoas nele envolvidas. Aliás, tendo em con- sideraçãoocaráctermais“artesanal”dogénerodocumental,nosentido de quase sempre dispensar as características industriais que a Ficção exige, nomeadamente o recurso a grandes equipas e meios técnicos, há mesmo uma maior vinculação e certeza do controlo do produto final pelos seus autores, a qual acentua a singularidade das temáticas e dos estilosadoptados. Num gesto que também pretende contribuir para a apreensão desta realidade, o 4o capítulo revela os profissionais das diferentes especia- lidadestécnicasenvolvidosnasobrasanalisadas,constatando-seopeso ou significado de cada indivíduo nos documentários efectuados entre 1996 e 2002. Desse tratamento inerentemente quantitativo resulta não sóoapuramentodosprotagonistasmaisrelevantesdessenovomomento do documentário, como também, associando uma análise das redes de relacionamento estabelecidas com os respectivos realizadores, a iden- tificação do que assim se designa por “territórios” da Produção, da Montagem, da Fotografia e do Som. Territórios estes que são espaços de colocação onde, para cada característica técnica, se detectam vizi- nhançaseproximidadesou,pelocontrário,distanciamentoseondetam- bémsevislumbramesugerematracçõesepoderes. Ainda que de outra forma, também no capítulo 4o se ensaia a apli- www.bocc.ubi.pt

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pio ao fim. Projectos como o da Enciclopédia Cinematográfica do Insti- 197685; e a “basista”, apologética de um cinema mais ou menos radical.
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