ebook img

TDA/ TDAH: Sintomas, diagnósticos e tratamento - crianças e adultos PDF

133 Pages·2004·8.509 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview TDA/ TDAH: Sintomas, diagnósticos e tratamento - crianças e adultos

/ Sintomas, Diagnósticos eTratamento Crianças e Adultos OOKS M.Booksdo Brasil Editora Ltda. Av. Brigadeiro Faria Lima, 1993 - 5o andar - Cj. 51 ( I 01452-001 - São Paulo - SP - Telefones: (11) 3168 8242 / 3168 9420 Fax: <11) 3079 3147 - E-majf: vendas#mbooks.com.br J Dados de Catalogação na Publicação Phelan, ThomasW. TDA/TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 2005 - São Paulo - M. Books do Brasil Editora Ltda. 1, Psicologia 2. Pais e Filhos 3. Parenting ISBN: 85-89384-48-9 Sumário Do original: AH About Attention Déficit Disorder © 1996, 2000 by Child Management, Inc. © 2005 by M. Books do Brasil Editora Ltda. Original em inglês publicado por Child Management, Inc. Todos os direitos reservados. Introdução ...................................................................................................................« Editor: Milton Mira de Assumpção Filho PARTE I: O QUE É TDA? Produção Editorial Salete Del Guerra 1. Impacto.................................................................................................... 3 Tradução Mãe................................................................................................... 4 Tatiana Kassner Pai................................................................................................................5 Irmãos.................................................. 5 Revisão de Texto O Casal Feliz..............................................................................................6 Myrthes Suplicy A Adorável Lunática..................................................................................7 Ivone Aparecida Andrade Lucrécia Barros de Freitas A Professora de Sorte...............................................................................7 O Personagem Principal............................................................................8 Capa . O Personagem Principal: 20 Anos Depois...........................................10 Design: Douglas Lucas Foto: Andersen Ross - Photodisc 2. Sintomas........................................................................................................13 Ilustrações A. Os Critérios do DSM-iV.....................................................................14. Margaret Mayer B. Outra Perspectiva: Convivendo com o TDA.....................................17 C. TDA e Autocontrole.............................................................................31 Editoração e Fotolitos J.A.G Editoração e Artes Gráficas Ltda. 3. Escola, Casa e Amigos............................................................................35 Escola: Tipo Combinado (TDA com Hiperatividade)...........................35 Escola: Tipo Desatento (TDA sem Hiperatividade)..............................38 2005 Lar: Tipo Combinado (TDA com Hiperatividade).................................38 14 edição Lar: Tipo Desatento (TDA sem Hiperatividade)...................................39 Proibida a reprodução total ou parcial. Colegas: Tipo Combinado (TDA com Hiperatividade)........................40 Os infratores serão punidos na forma da lei. Colegas: Tipo Desatento (TDA sem Hiperatividade)..........................42 Direitos exclusivos cedidos à M. Books do Brasil Editora Ltda. v vi Sumário Sumário vii 4. Crescendo com oTDA.............................................................................43 11. Administração do Comportamento: 2-12 Anos........................... 141 Curso de Desenvolvimento: Tipo Combinado Pensando TDA: As Crianças com TDA Não São (TDA com Hiperatividade)...................................................................44 Adultos em Miniatura......................................................................142 Curso de Desenvolvimento: Tipo Desatento As Regras do Método “Sem Conversa, Sem Emoção” ..................144 (TDA sem Hiperatividade)...................................................................50 As Duas Categorias de Comportamento: Conclusões?............................................................................................55 ' O “Comece” e 0 “Pare”....................................................................145 O Método 1-2-3 para Comportamentos Irritantes...........................146 5. Causas...........................................................................................................57 Táticas para os Comportamentos “Comece”...................................148 Hereditariedade versus Aprendizado....................................................57 Medicação.............................................................................................151 O TDA e o Cérebro..................................................................................60 O TDA e a Má-criação dos Filhos.........................................................62 12. Administração de Comportamentos: Adolescentes.................... 155 O Que Não Causa o TDA?.....................................................................64 Você Vem Primeiro................................................................................156 Que Tipo de Adolescente Você Tem?...............................................157 6. Prevendo o Futuro......................................................................................67 Como É Seu Relacionamento com Seu Adolescente com TDA?.....................................................................158 Qual é a Gravidade do Problema?....................................................159 PARTE II: DIAGNÓSTICO Os Quatro Pecados Cardeais.................................................. 160 Os Quatro Papéis dos Pais..................................................................161 7. Coleta de Informações..............................................................................79 Como Não Discutir.............................................................................. 165 O Processo de Diagnóstico....................................................................80 13. Treinamentos de Autocontrole e Habilidades Sociais.................. 169 Perguntas a Respeito do Diagnóstico...................................................91 Treinamento de Habilidades Sociais...................................................172 8. Juntando os Dados....................................................................................97 O Futuro....................................................................................... 174 Integração dos Dados.............................................................................97 14. Trabalhando com a Escola...................................................................181 Co-morbidade e Distúrbios Correlatos ao TDA..................................101 Padrões Idiossincráticos.......................................................................107 Diretrizes para uma Parceria Eficaz Casa—Escola........................182 A. Entrevista Pós-Diagnóstico.............................. 109 Quando Seu Filho Estiver Sendo Avaliado para o Diagnóstico de TDA...............................................................185 Uma Vez Que o Diagnóstico É Feito.................................................185 PARTE III: TRATAMENTO Transições de um Ano Escolar para Outro......................................186 Enfatize os Pontos Fortes! ...................................................................1S8 9. A Educação Acerca do TDA................................................................ 113 15. Gerenciamento da Sala de Aula........................................ 189 Teste de Múltipla Escolha sobre o TDA (20 Perguntas)................. 114 Gerenciando Seus Próprios Pensamentos e Sentimentos................190 As Respostas!....................................................................................... 118 Pensando 0 TDA............................................ 191 Mitos e Concepções Errôneas sobre o TDA................................... 123 Gerencie seus Sentimentos em Relação à Terapias Controversas e idiossincráticas.......................................... 124 Criança com TDA..............................................................................193 Princípios Gerais de Intervenção........................................................196 10. Aconselhamento Psicológico............................................................ 131 Gerenciamento de Comportamentos.................................................198 Aconselhamento para Crianças com TDA....................................... 131 Prevenção de Problemas...................................................... 201 Aconselhamento para os Pais............................................................ 133 Aconselhamento Conjugal ................................................................. 137 viii Sumário Incentivando a Criança a Dar o Melhor de Si....................................203 Lidando com os Pais............................................................................204 Noções Básicas sobre a Medicação...................................................206 PARTE IV: ADULTOS PORTADORES DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO 16. Uma Proposta para a Vida Toda........................................................211 Características doTDA em Adultos....................................................212 17. Diagnóstico em Adultos............................. 221 1. Auto-relato do Adulto........................................................................223 2. Entrevistas Estruturadas, Questionários e introdução Escalas de Classificação.................................................... 225 3. Comportamento no Consultório......................................................227 4. Cadê a Mamãe?! Entrevistas com Cônjuges, Pais e Outros...................................................................228 5. Outras Informações..........................................................................229 No curto período de dez anos o Transtorno de Déficit de Aten­ O Choque do Diagnóstico....................................................................230 ção* saiu da obscuridade para ocupar o centro do palco. No 18. Tratamento em Adultos.........................................................................233 começo dos anos 80, nós, que éramos pais de crianças com TDA e também profissionais da saúde mental, ouvíamos falar o tempo todo Educação acerca do TDA...................... 234 sobre o assunto, tanto em casa quanto no trabalho. Ninguém mais, Medicação.............................................................................................234 ao que parecia, havia ouvido falar do problema, muito embora — Aconselhamento....................................................................................235 aliás como ocorre agora — o TDA fosse o principal distúrbio psico­ No Trabalho............................................................................................238 lógico em crianças. A Grande Questão............................ 240 Hoje tudo é diferente. Com o crescimento exponencial dos nos­ sos grupos de apoio ao TDA e com sua expressiva exposição na mídia, índice Remissivo....................................................................................................243 o TDA passou a fazer parte do nosso vocabulário. Hoje, as pessoas já ouviram falar do TOA e têm uma opinião — ou mais — a respeito. Certamente essa rápida propagação sobre o assunto foi posi­ tiva. Mais crianças com TDA estão sendo diagnosticadas e trata­ das corretamente. Mais professores em salas de aula estão sendo treinados para entender e administrar o Transtorno de Déficit de Atenção, trazendo benefícios às crianças portadoras de TDA, aos seus colegas de classe e aos próprios professores. Hoje em dia, * No Brasil, é mais conhecido como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), porém, o autor defende que há os dois tipos de TDA, com ou sem Hiperatividade. Veja os detalhes no Capítulo 2, Sintomas, página 13. (N. do E.) IX t x Introdução os pais não se sentem tão culpados por entenderem que, de algu­ ma forma, não causaram o TDA em seus filhos em razão de uma criação errada, e cada vez mais diminui o número de casais que discutem “qual de nós dois bagunçou a cabeça dessa criança”. 0 reconhecimento de que a maioria das crianças com TDA não supera seus sintomas traz benefícios, pois isso proporciona diag­ nósticos e tratamentos eficazes para muitos adultos com TDA, bem como adaptações úteis para estudantes universitários e para os profissionais em suas funções. Entretanto, o aumento da conscientização a respeito do TDA traz também um lado negativo. Muitas pessoas se preocupam com o excesso de diagnósticos para o distúrbio, embora dados recen­ tes sugiram que isso não é um problema. Outras não conseguem Parte I compreender o aparente paradoxo envolvido em prescrever medi­ camentos estimulantes para crianças “hiperativas”. E há ainda ou­ tros que defendem que o TDA está sendo usado como desculpa para todos os tipos de comportamento prejudiciais e negligentes, desde perturbação em salas de aula até atividades criminosas. O Que É TDA? Nos últimos anos surgiram novos, excitantes e promissores desdobramentos nesse campo. Passamos a reconhecer que mui­ tas — ou talvez a maioria — das crianças e os adultos com o Déficit de Atenção não são do tipo “puro”; isto é, muitas vezes eles são portadores de um ou mais distúrbios psicológicos, tais como ansiedade, variações de humor, problemas de aprendizado ou abuso de substâncias. Estudos de ressonância magnética es­ tão sugerindo possíveis diferenças na estrutura de partes do cé­ rebro de pessoas com TDA. Pesquisadores na área da genética estão empenhados em examinar cromossomos e genes na espe­ rança de encontrar elos identificáveis com o problema. Sabe-se mais sobre os efeitos das medicações estimulantes na transmis­ são da dopamina, e — surpresa — novos medicamentos estão sendo desenvolvidos, os quais, segundo alguns autores, farão com que um dia nossos atuais medicamentos pareçam “calhambeques”! Este livro — escrito do ponto de vista de alguém que é ao mes­ mo tempo pai de uma criança com TDA e um psicólogo clínico espe­ cializado no tratamento dessas crianças — se propõe a explicar a situação atual do TDA em linguagem simples. 0 TDA terá sempre uma conotação pessoal e familiar, assim como um lado clínico e científico. Para compreender verdadeira­ mente o problema e lidar de maneira eficaz com ele, é preciso en­ tender essas duas facetas. í ( Impacto O Transtorno de Déficit de Atenção altera drasticamente a vida familiar. As famílias com uma ou mais crianças com TDA ex­ perimentam diferenças fundamentais em sua vida cotidiana, com as quais outras famílias não têm de lidar. Há mais tensão e mais discussão. A competição entre irmãos é terrível e interminável. O barulho é constante. A hora do jantar nem sempre é divertida, e comer fora pode se tornar algo impraticável. Em vez de despreocu­ padas e alegres, as férias tornam-se experiências infelizes. Parece que o que se fez foi trocar tuna prisão (o carro) por outra (o quarto de hotel). Conflitos matrimoniais são seriamente exacerbados; o di­ vórcio e a separação são comuns. Os pais sentem-se desencorajados t e algumas vezes deprimidos; os irmãos sentem-se constrangidos, negligenciados e enraivecidos. Isso não é jeito de criança alguma crescer. Isso também não é jeito de uma família viver, mas há milhões de famílias com crianças portadoras de TDA que vivem dessa forma — dia após dia. E todos os membros da família são afetados. Muitas vezes esquecemos que a primeira pessoa a ser seria­ mente ferida pela entrada de uma criança com TDA na família não é 3 ') 4 O Que E TDA Impacto 5 a própria criança, Ela é pequena demais para saber o que está acon­ Pai tecendo. Normalmcnte também não é o pai, pois está trabalhando A estrada estende-se até onde a vista alcança, atravessando a fora de casa com pessoas que são — ao menos se espera — sãs. A zona rural da cidade. A casa ainda está a 140 quilômetros de dis­ primeira pessoa a ser seriamente afetada é a mãe. tância, e Jim sente que sua sanidade não vai durar tanto tempo. As crianças estão se preparando para outra briga no banco de trás do Mãe carro. Marcos, de 4 anos, que sempre foi uma criança difícil, está “Doutor Eric, o senhor precisa me ajudar com meu filho. Ele prestes a provocar sua irmã, Maria, pela milionésima vez durante a tem apenas 4 anos, mas já foi expulso de duas pré-escolas — e isso viagem. Dez minutos atrás, Jim quase perdeu o controle do carro ao não é nem metade do problema. Dizem que ele é agressivo demais virar-se para bater no filho. com as outras crianças. Ele as empurra e às vezes bate nelas. Afir­ A previsível briga começa. Maria grita e chora; parece que ela mam que Edu faz muito barulho e sempre quer que as coisas sejam tem uma mancha de sangue na bochecha. Já chega! Em um movi­ do jeito dele. Ele não segue as regras. mento brusco, Jim joga o carro para o acostamento. A mulher, as­ Eu odeio dizer isso, mas eles estão certos. Ele é do mesmo jeito sustada, grita com ele pela imprudência. Ele não se importa: nesse em casa. Tortura a irmãzinha o tempo todo. Às vezes, chega a ser momento tudo o que ele quer é matar a criança. Jim sai do carro e malvado! Fazer com que vá para a cama é o mesmo que começar a abre a porta de trás com tudo. Marcos agora está quieto — aterrori­ Terceira Guerra Mundial. zado pela expressão insana que vê nos olhos do pai. A mãe grita: Tudo — eu realmente quero dizer tudo — é uma dificuldade. “Jim, pelo amor de Deus, não faça isso!” Ele não aceita um não como resposta. Quando quer algo, tem de ser O garoto é puxado para fora do carro. Ele bate a cabeça na AGORA! Isso é normal? Não pode ser normal. O que estou fazendo porta ao sair e começa a chorar. Carros e caminhões passam a toda. de errado? Jim arrasta o pequeno monstrinho pelo gramado abaixo, batendo Eduardo sempre foi bonito como um anjinho, mas era um bebê nele com toda a força e berrando a plenos pulmões quanto ele está difícil. Dormia e comia aos trancos e barrancos. Nunca parecia con­ cansado e como isso agora vai acabar de uma vez por todas. tente ou feliz. Ele ainda é bonito como um anjo. Quero dizer, quem. Ouve-se um ruído súbito de freada atrás deles e um carro pára. vê se engana, porque ele é uma criança terrível. Ele nunca pára de se Um homem bravo sai do carro, gritando: “Mas que diabo você está mexer. Nunca pára de fazer barulho. fazendo com essa criança?” O Bom Samaritano chegou. Jim diz ao O que fiz de errado? Acho que eu nunca soube segurá-lo direi­ recém-chegado onde ele pode enfiar suas boas intenções. No carro, to ou algo assim. Acho que eu estava muito nervosa quando ele veio a mãe e Maria soluçam. da maternidade para casa. Eu não tenho dúvidas de que isso é o que minha mãe — e provavelmente meu marido — acha. Quero dizer, Irmãos , ele foi meu primeiro filho e tudo para mim, mas não acho que fui “Meu irmão mais novo, Eduardo, me deixa tão nervoso que dá tão ruim. Eu não sou burra. Não sou uma pessoa limitada, mas devo vontade de gritar. Ele nunca cala a boca e, quando não está falando ter feito algo errado. Isso não está certo. Meu marido não tem tanto ou gritando, está fazendo barulho de qualquer jeito. Ele deixa meus problema com ele. Nenhum dos primos dele é desse jeito — pelo pais loucos metade do tempo, e ninguém sabe o que fazer com ele. menos que eu saiba. Tive uma boa gravidez e, honestamente, que­ O Eduardo normalmente consegue fazer as coisas do jeito dele por­ ria muito tê-lo, mas nunca sonhei que seria dessa maneira. que atormenta meus pais até que façam o que ele quer. Eu não faço Não dá para continuar desse jeito. É por isso que vim vê-lo. Nós isso, porque me sinto mal — principalmente por causa da minha estamos ficando malucos.” mãe —, e isso não é justo. ( 6 O Que E TDA Impacto 7 0 Eduardo mexe nas minhas coisas o tempo todo. Eu conto com vocês?”, “Por que não conseguem controlar essa criança?” e para meus pais, mas eles não fazem nada. Eu quero um cadeado na “Por que não vão comer em outro lugar?” Sem dizer nada, Bob pega porta de meu armário. Por que não posso ter a porcaria do cadeado Janie no colo de maneira rude e vai para o carro. Sandra continua e guardar a chave comigo? Minha mãe e meu pai podem ter uma sentada ali — já sem fome —, tentando decidir se deve ou não can­ chave reserva se quiserem. Isso não é justo também. celar o pedido. Meu irmão é divertido, mas não sempre. Ele tem mais energia do que todos nós juntos. Se um amigo vem me visitar, ele não o A Adorável Lunática deixa quieto. Minha mãe me disse uma vez: ‘Por que não o deixa “Sra. Collins, a Sara está indo tão bem quanto no ano passado. brincar com vocês?’ Tive vontade de matá-la por dizer isso. Está Ela é uma gracinha! Ela não causa nenhum problema, sabe, e é tão brincando?! Então, eu não convido mais meus amigos para vir me meiga. É como se ela não estivesse nem aí boa parte do tempo. A visitar tanto quanto antes. O Edu se comporta de uma maneira tão senhora sabe, é como se ela vivesse no mundo da lua. Algumas vezes estúpida que fico constrangido por ele ser meu irmão. estamos fazendo um projeto de classe e ela não está conosco. Fica Eu gostaria de poder sair de férias, em uma viagem bem longa, olhando pela janela ou mexendo com algo em sua mesa. Não quero só com minha mãe e meu pai, sem o Eduardo. Ia ser tão divertido! deixá-la constrangida fazendo uma pergunta, porque realmente acho Na verdade, acho que poder passar um tempo com meus pais à que ela não seria capaz de responder. noite já bastaria. No entanto, essa é a hora do dever de casa — três Acredito que ela deva ser um pouquinho lenta para aprender, horas inteiras de guerra. Eu coloco meus tampões de ouvido, calo a mas que seja apenas por causa de sua imaturidade. Ela tenta, em­ boca e faço minha lição. Por que ele não faz a dele? Minha mãe bora eu não possa dizer que ela se esforce para valer. Sara parece tentou me dizer que ele tem um problema chamado Déficit de Aten­ ser capaz de fazer isso com afinco por períodos curtos, e então sai ção ou algo do tipo. Por que ela fica dando desculpas? Eu sei qual é pela tangente de novo. Como a senhora sabe, muitas lições dela o problema dele — o Edu é preguiçoso e é um pirralho! Algumas não são completadas. Procuro não ser muito dura com a Sara. Quero vezes me sinto mal de não gostar do meu próprio irmão.” dizer, não há como deixar de gostar dessa garota nem um pouco. Ela não é petulante nem briguenta. Sempre tenta fazer o que peço, O Casal Feliz embora tenha a tendência de ficar tagarelando com as colegui- Bob e Sandra entram nervosos no restaurante com a filha de 4 nhas. Isso é normal. anos, Janie. Ela é bonita e se mostra curiosa, falante e charmosa para Ela não é nem um pouco como o Eduardo quando ele foi meu a jovem garçonete, que também é agradável e atenciosa. Seus pais aluno. Sem ofensa, mas, como a senhora sabe, o Edu era uma começam a relaxar um pouco, pensando: “Talvez dessa vez tudo cor­ criança bem mais difícil. Às vezes acho que deveria ter feito uma ava­ ra bem”. Mesmo assim, eles pedem, como sempre, um prato que pos­ liação com o irmão mais velho dela, mas não com a Sara. Ela é uma sa sair bem rápido. Janie quer um cachorro-quente, mas o restauran­ criança adorável. te só temo tamanho-familia. Sandra sabe que a filha não vai conseguir Ela vai conseguir se acertar, espero. Só precisa de mais tempo comer tudo e sugere um hambúrguer. para amadurecer.” Janie tem um ataque histérico. Ela grita “CACHORRO-QUEN­ TE!” seis vezes a plenos pulmões. Então ela dá um puxão na toalha, A Professora de Sorte derramando a água e fazendo com que os talheres caiam no clrão. Meados do verão, mais de 30 graus e são apenas 2h45. A aula Outras pessoas começam a lançar olhares críticos, que são familia­ não acaba até 3hl5. Hoje a Sra. Simpson vai ter de chamar de novo res para esses pais. Os olhares parecem dizer: “Qual é o problema os pais de Eduardo porque ele praticamente não fez nenhuma lição. 8 O Que E TDA Impacto 9 Ficou sem fazer nada quase o dia todo, e o fato de o ar-condiciona­ meus pais não estão olhando. Eu a odeio. Espera até ela descobrir o do estar quebrado tornou as coisas consideravelmente piores. To­ que coloquei na sua cama antes de vir para a escola hoje de manhã das as crianças estavam mais inquietas, e Eduardo queria observar — aquilo vai dar um jeito nela para sempre! Então, é claro, ela vai cada movimento que cada uma delas fazia. contar para minha mãe, vai chorar e ter um ataque e contar para meu pai quando ele chegar em casa, e ele provavelmente vai me Uma tarefa impossível, mas ele tentou. No entanto, não tentou bater antes mesmo de seu primeiro drinque. Mas mesmo assim... fazer sua lição de matemática nem de gramática. E pela enésima vez neste ano ele simplesmente não conseguiu trabalhar em peque­ acho que vai valer a pena. nos grupos sem irritar todos os colegas; então, a Sra. Simpson teve Não é nem hora do almoço ainda. Vamos lá, Birmânia, cultivo de tirá-lo do lugar. O psicólogo disse á ela que o colocasse na frente agrícola. Pense, seu bobo! Quem inventou essa porcaria?! Além des­ da sala, sozinho, o que então o deixou isolado — a única criança na sa droga ser chata, a Sra. Simpson não deixa a gente nem se mexer. sala que não estava em um grupo de quatro. Em que isso pode con­ Uma vez ela colocou um barbante em volta de mim e da minha ca­ tribuir para sua auto-estima? deira e me disse que eu pegaria urna suspensão se saísse dali. En­ tão, é claro, eu tive de sair — ninguém faz isso cópnigo... Tive de ir A Sra. Simpson pensava que os alunos da quarta série eram para a sala do diretor; mas o velho até que é bem legal — pelo me­ mais fáceis de lidar. Ela tentou tudo o que achava que poderia fun­ cionar: conversar com Edu a sós, dar mais reforço positivo, avalia­ nos foi na maioria das vezes em que o vi. ções diárias, reuniões com os pais. Algumas coisas ajudaram por Birmânia... Será que consigo terminar essa lição idiota antes do um tempo — por uns poucos dias talvez, mas então... almoço, para não ter de levá-la para casa e ficar sentado na mesa da cozinha por horas com minha mãe me irritando e a Dona Perfeição O diretor, Sr. Pedro, está sempre pressionando-a para chamar os pais. Que bem isso fará? Além disso, a atitude deles na última podendo assistir à televisão e rir da minha cara? reunião de pais e mestres foi sem dúvida hostil, e a Sra. Simpson Estou com fome. O almoço vai ser ótimo c depois disso tem o re­ sentiu-se como se estivesse sendo acusada de ser a responsável pela creio, em que nenhuma autoridade proíbe você de ficar andando para atitude, pelo mau desempenho e pelo mau comportamento de Edu. lá e para cá. Incrível, são todos tão bonzinhos. Posso acabar topando O garoto é bastante agradável quando se está a sós com ele, mas na com aquele garoto que sempre coloca as outras crianças atrás de mim. classe é um verdadeiro monstrinho. A Sra. Simpson sente pena da Eu bati nele a semana passada, mas não ajudou muito... professora de quinta série que pegar o Eduardo no ano que vem. Ao Esta cadeira tem uma lasca aqui... Ops, a Sra. Simpson está olhan­ menos não há nenhuma chance de que ele vá repetir de ano! do para mim. Ela sabe que eu não estou prestando atenção de novo na minha lição, assim como todos os outros bons garotos e garotas. O Personagem Principal 'Você está conosco hoje, Eduardo?’ 'Você está prestando atenção na nossa tarefa hoje, Eduardo?’ Se a tarefa é nossa, por que ela mesma “A escola é tão chata! O principal cultivo agrícola na Birmânia não faz? Melhor parecer que estou fazendo alguma coisa.. Abaixar a é...? Cara, geografia é horrível! O principal cultivo agrícola na cabeça, olhar para o papel, mexer a mão. Ai, meu Deus, cadê meu Birmânia tem de ser de jujuba. É isso! Não, provavelmente é de alga lápis?... Puxa, como sou idiota! marinha. Quem se importa em saber qual é o idiota do principal Não, não sou, não. Uma vez me disseram que consegui 125 em cultivo agrícola dessa porcaria de Birmânia? um teste de QI. O pior é que mesmo tendo 12 5 de qualquer coisa só Ei! Espera um minuto! Há duas pessoas no mundo que podem consigo tirar zeros. Zero quer dizer Burro, Besta. Nada. Cretino. Meu se importar com essa pergunta incrivelmente importante: minha pai também tirava zeros quando era pequeno. Então por que ele professora, a Sra. Simpson, c minha Irmã Mais Velha Perfeita, que fica gritando comigo o tempo todo? só tira nota 10, sempre faz tudo certo e sempre me provoca quando Impacto 11 IU O Que E TDA esse papo de voltar para a escola, para que ela possa voltar a ter o Ainda faltam dez minutos até a hora da comida. CULTIVOS estilo de vida a que estava acostumada na casa do pai dela. Pelo AGRÍCOLAS NA BIRMÂNIA. Dez longos minutos. Não dá para menos dirigir este táxi é melhor do que ficar naquele apartamento agüentar. Quando ficar mais velho, vou ser motorista de caminhão. Você senta naquele banco bem alto e tem de ficar sempre em movi­ com ela e aquele moleque maluco... mento. É ótimo. E vou levar minha irmã menor comigo. A Sara não é O pai dela é um idiota. Acha que não sou bom o bastante para tão ruim e também não é nenhum prodígio na escola. Ela não arru­ ela. Talvez um diploma de faculdade fizesse ele calar a boca, mas a ma tanta confusão quanto eu, mas a professora a chama de ‘lunáti­ idéia de voltar para a escola me deixa doido. Eu tentei. Um ano e ca’ às vezes. Um menino ouviu isso e começou a chamá-la de ‘Sara meio de puro inferno. Eles fazem de tudo para tornar as coisas o Lunática’ no recreio; então eu o empurrei e o fiz prometer que cala­ mais chatas possível. ria a boca. Os garotos aqui da minha escola são todos uns babacas. Lá vem aquele chato do meu encarregado me chamando pelo Aquela besta atrás de mim está estourando bola de chiclete de rádio de novo. ‘Onde você está, Eduardo?’ ‘Por que está demorando novo. Isso me deixa louco! Parece que alguém está mastigando tanto?’ Por que ele não vem para a rua para ver como é lidar com sucrilho dentro da minha orelha. Daí ela vai começar a tagarelar esses maníacos no trânsito? com a bobona do lado, mas elas nunca se dão mal. É que elas são Mexa-se, vagabundo! Se você não estivesse tão ocupado talan­ garotas. Acharam muito engraçado no outro dia quando a gente do nessa porcaria de telefone e tentando mostrar para todo mundo tinha uma prova de matemática e eu nem sabia. É culpa delas! Se eu quanto é importante, saberia por onde andar! fizesse as coisas que elas fazem, a Sra. Simpson pegaria no meu pé Esse cara é mesmo uma matraca — só sabe dizer isso. Como mais depressa que um relâmpago. um idiota desses conseguiu uma casa como a dele? Vai ver, ganhou Oh, meu Deus, ela está aqui! Esses sapatos do lado da minha na loteria. Ou, quem sabe, foi o papai que comprou para ele. Vou mesa são dela. Eu nem a vi chegando. Encostou em mim e eu nem contar, o que eu preciso fazer é...” percebi — em que eu estava pensando? De novo, não... Estamos irritados, professora? Bem, pessoal, devido a dificuldades técnicas que escapam ao nosso controle, o horário de almoço será adiado indefinidamente... ” O Personagem Principal: 20 Anos Depois “Esse cara não parece tão esnobe quanto a maioria dos meus clientes, mas ele não fala muito. Provavelmente acha que não sou tão bom quanto ele ou algo assim. Alguns deles não dizem uma palavra — e então se fingem de mortos quando você chega ao aero­ porto e eles têm de dar gorjeta. Não dá nem para comprar um maço de cigarros com o que alguns desses convencidos dão. Esses figu­ rões, altos executivos. Os últimos empregos que tive pagavam uma miséria. Não é à toa que meu cartão de crédito estourou. Se nesta porcaria de país eles realmente pagassem o que você vale... mas minha mulher não quer nem ouvir falar disso. Não, não, não. Prefere me encher com

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.