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Subversão - Teoria, Aplicação e Confissão de um Método PDF

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IOPHH AAEKCAHAPOBHY BE3MEH0B YURI ALEKSANDROVICH BEZMENOV SUBVERSÃO TEORIA, APLICAÇÃO E CONFISSÃO DE UM MÉTODO ANTOLOGIA ESTRATÉGICA 1983 - 1984 Inglês - Português AVDAX SUBVERSÃO: TEORIA, APLICAÇÃO E CONFISSÃO DE UM MÉTODO [SUBVERSION: THEORY, APPLICATION AND CONFESSION OF A METHOD] Editor-chefe: Leonardo de Rezende Comissão Editorial: Natan Medeiros; Luis Alves Transcrição e Tradução: Leonardo de Rezende Coordenação de Revisão: Nathalia Lewis Revisão: Graziela Brindisi; Tiago de Castro; Sylvia Calveira Projeto Gráfico: Henrique Sebastião Capa: Lord Jim - Oficina de Livros, por Caroline Rêgo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bezmenov, Yuri Aleksandrovich (Thomas Schuman) Subversion : theory, application and confession of a method = Subversão : teoria, aplicação e confissão de um método I Yuri Aleksandrovich Bezmenov (Thomas Schuman) ; [tradução Leonardo de Rezende]. — Rio de Janeiro : Editorial Audax, 2020. — (Strategic anthology = Antologia estratégica) Edição bilíngue: inglês/português. ISBN 978-65-992454-0-4 1. Comunismo 2. Guerra 3. Propaganda 4. Relações internacionais 5. Revolução I. Titulo. II. Titulo: Subversão : teoria, aplicação e confissão de um método III 20-45113 Série CCD-320.532 índices para catálogo sistemático: 1. Comunismo : Ciência política 320.532 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427 CEDET Distribuição: Nota Técnica Sobre esta Antologia Este livro é o primeiro volume do compêndio de trabalhos do ex-agente do KGB Yuri Aleksandrovich Bezmenov (1939- 1993), confeccionado em formato bilíngue pelo Editorial Audax sob o título Subversão — Teoria, aplicação e confissão de um método. Trata-se de um manual de Contra-Subversão elaborado a partir da eloquente experiência acumulada de um insider, combinada ao seu senso de verdade irrefreável e ordenada graças à sua capacidade analítica singular. Acompanha este volume um suporte documental composto de fotografias, fluxogramas, tabelas e esquemas do próprio autor, o que justifica o seu arranjo em formato de antologia estratégica. O exame atento desses trabalhos proverá ao leitor o condicionamento intelectual básico para perfurar o ambiente da dolosa confusão que nesta época sitia - em níveis insuportáveis — as populações em praticamente todo o mapa mundial, ao menos nos países que ainda são parte do chamado mundo livre. Num primeiro momento ― é certeza ―, a leitura provocará, em maior ou menor grau, o sentimento de vertigem. Pois não será possível conter a memória de lançar à mente inúmeros eventos vividos ou testemunhados à medida em que se vai adquirindo a compreensão analítica da ação revolucionária por meio das táticas da Subversão. São certas experiências do quotidiano que todo indivíduo dos últimos setenta anos viu ou viveu qual fossem coincidências fortuitas, cujo sentido agora vai se revelando num quadro mais amplo e profundo de referências de um projeto de destruição total. E desse modo que o testemunho e a explanação teórica de Yuri Bezmenov acionarão, no equipamento mental do leitor, os mecanismos de visualização de eventos que passaram sem explicação, e, ao mesmo tempo, de alerta para os acontecimentos do presente e do futuro. A partir disso, o leitor estará habilitado a compreender, basicamente, o que é o programa geral da Subversão Ideológica; por quê e por quem ele é utilizado; como funcionam os seus componentes elementares; quais são os objetivos pretendidos pelos seus sujeitos e como se pode neutralizar, na medida do possível, as suas consequências mais trágicas. O tomo I desta antologia reúne a transcrição da afamada conferência ministrada por Bezmenov na Summit University de Los Angeles, em 1983 (Parte I); a transcrição da sua não menos conhecida entrevista Meu Ofício Era Iludir, concedida a G. Edward Griffin em 1984 (Parte II); e de seu primeiro livro, Carta de Amor à América (Parte III), publicado no mesmo ano. A conferência da Parte I foi didaticamente organizada em títulos e subtítulos, de modo a facilitar a visualização panorâmica do tema exposto, bem como a localização topográfica de cada tópico abordado pelo autor; julgamos pertinente dar-lhe como epígrafe A Tecnologia Marcial da Subversão. As Notas de Tradução [N. T.] e as Notas de Edição [N. E.], fartamente empregadas, procuram prestar auxílio ao leitor na localização dos inúmeros assuntos que estão ligados ao tema e na impulsão do alcance da sua mirada, a fim de que possa ganhar distância e largueza de visão. Na medida em que a apresentação de Bezmenov tem sempre como ponto de partida a sua trajetória de sua vida, a compilação de seus trabalhos adquire, obrigatoriamente, um caráter de espiral ascendente, de modo que os mesmos temas, sempre revisitados, são naturalmente reabastecidos com novos contextos e relatos. Este é o primeiro material desse gênero, e que agora é disponibilizado para o público internacional - especializado e leigo - em caráter de acesso irrestrito. Nota Biográfica Yuri Aleksandrovich Bezmenov (1939- 1993) Yuri Aleksandrovich Bezmenov nasceu em Mytischi, região metropolitana de Moscou, no ano de 1939. Sendo esse, precisamente, o marco inicial da II Grande Guerra, os anos da sua primeira infância se deram sob o céu plúmbeo do maior confronto militar da história, depois do qual o mundo jamais seria o mesmo, e cujos efeitos não cessariam de se impor. Filho de um oficial do alto escalão do Exército Vermelho, Bezmenov frequentou as escolas de elite disponíveis para as famílias dos membros do estamento burocrático da União Soviética, e, aos dezessete anos, ingressou no Instituto de Línguas Orientais da Universidade Estatal de Moscou. Ali, estudou História, Música e variados idiomas, destacando-se o Hindi e o Urdu - competências que mais tarde condicionariam o curso das suas requisições profissionais. Gradua-se em 1963, ano em que também conclui sua formação militar, no posto de tenente, como era praxe para todos os estudantes de ensino superior na URSS. Tão logo completa seus estudos, Bezmenov é recrutado pelo Comitê de Segurança de Estado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (KGB), e enviado para a índia para sua primeira missão, como oficial de relações públicas, intérprete e tradutor junto às construções de refinarias de petróleo coordenadas pelo grupo soviético de ajuda econômica. Consoante determinação de seus superiores, a viagem teve de ser precedida de um casamento com uma também cidadã soviética, sob orientação do departamento de pessoal, encarregado das missões no estrangeiro. Na índia, Bezmenov colhe as suas primeiras impressões sobre a discrepância entre o discurso comunista e as ações locais. Retorna a Moscou dois anos mais tarde, em 1965, divorciando-se imediatamente. Desta vez, Bezmenov é designado para trabalhar no front do KGB especializado em ações de desinformação, coleta de informações e operações de guerra psicológica — travestido de agência de notícias, a RIA Novosti. Fundada em 1961 para substituir o Cominform (Escritório Comunista de Informação), a Novosti fora projetada para atuar diretamente em ações de agitação e propaganda (Agitprop). Bezmenov a definia como a mais poderosa frente de subversão e propagação do comunismo, e como um equivalente do Ministério da Verdade da obra “1984”, de George Orwell. Nesse ínterim, também sob orientação profissional de seus superiores, Bezmenov se casa pela segunda vez, e deste casamento nasce sua primeira filha, Vlada. Despachado novamente à índia, agora como diplomata, Bezmenov é nomeado vice-chefe do secreto Departamento de Pesquisa e Contra-Propaganda, alojado no interior da Embaixada soviética em Nova Delhi. Ali, tem sob sua responsabilidade a classificação e o arquivo das enormes pilhas de relatórios de inteligência com dados pessoais dos mais variados tipos de cidadãos indianos, obtidos pela amplíssima rede de informantes locais gerida pelo serviço de inteligência da URSS. No final do ano de 1969, Yuri Bezmenov está bem colocado profissionalmente, e posicionado em um estado singular de prosperidade para o contexto em que vive o seu país. E, em um dia de expediente normal no escritório da Embaixada, em meio aos seus afazeres ordinários, Bezmenov se depara com alguns relatórios de campo sobre a atuação da guerrilha comunista na Guerra do Vietnã. Ao ler sobre o massacre sistemático de milhares de homens e mulheres vietnamitas, pôde, finalmente, compreender qual era o papel que ele próprio estava cumprindo dentro da sociedade indiana, para a qual Moscou preparava uma revolução. O engulho pelo sistema atingiu o ápice quando identificou os nomes de alguns de seus amigos indianos em listas de assassinatos programados, evento determinante da sua resolução em romper definitivamente todos os laços que o prendiam, desde o nascimento, com o comunismo. Embora bastante confuso e relutante ― sobretudo pelo fato de que teria de deixar sua esposa e sua filha -, dois meses depois, Bezmenov desaparece repentinamente das vistas de todos. Na manhã de 10 de fevereiro de 1970 — poucas horas após sua ausência -, diversos jornais indianos disparam avisos de procura do oficial da Embaixada soviética de trinta anos que estava “desaparecido”. Ao longo de sua vida como “Tomas Schuman”, Bezmenov exerceu tantas atividades quantas foram necessárias à sua subsistência; trabalhou como taxista, segurança particular, professor de Língua e Literatura Russa, e chegou a lecionar na Universidade de Windsor, onde foi lembrado como um “habilidoso linguista”. Em 1993 - vinte e três anos após deixar seu país, mas ainda à altura dos cinquenta e dois anos —, um violento ataque cardíaco fulmina sua vida. Faleceu duas semanas após visitar, no Natal, sua ex-esposa e seus filhos, Jonathan e Tanya, naquela época com dez e quatorze anos. Da leitura do seu obituário ecoam saudosos depoimentos sobre o talentoso e apaixonado homem que jamais descansou do esforço de libertar sua pátria do horror comunista, nem de soar para o mundo o alarme daquilo a que chamou de “guerra total contra a humanidade”. Prólogo Verdade e Resolução “Agitar idéias é mais grave do que mobilizar exércitos. O soldado poderá semear os horrores da força bruta desencadeada e infrene; mas, enfim, o braço cansa e a espada torna à cinta, ou a enferruja e consome o tempo. A ideia, uma vez desembainhada, é arma sempre ativa, que já não volta ao estojo nem se embota com os anos. A lâmina do guerreiro só alcança os corpos, pode mutilá-los, pode trucidá-los, mas não há poder do braço humano que dobre as almas. Pela matéria não se vence o espírito. A ideia do escritor é bem mais penetrante, mais eficazmente conquistadora. Vai direto à cidadela da inteligência (e quantas inteligências desaparelhadas para as lutas do pensamento!), toma-a de assalto, instala-se no seu trono e daí dirige e governa, a seu arbítrio, toda a atividade humana. Pelo espírito subjuga-se a matéria”. Padre Leonel Franca, S. J., 1922 Não tem no mundo deste tempo quem não haja se indagado sobre o estorvo que assumiu a vida humana. Há uma escala de desejos e certezas, de medos e esperanças, uma estranha hierarquia de importância que se impôs gradualmente, embaçando atrás de si a cadeia de eventos que ergueu da escuridão um orbe de liberdade. Se, à revelia do seu consentimento, o quotidiano lança o homem nas solicitações dispersantes da vida prática, agora ele parece condená-lo a um destino irrisório: silencia a criatividade, impede a fruição do espírito e escraviza os sentidos no insuportável fluxo de estímulos que não cessa de correr sobre ele. E, sobretudo, os últimos dez anos viram como nunca a promoção do mau gosto; a diluição do horrendo na comédia; e a dissimulação do que existe de pior - dentro de telas de vidro eletrizado que o homem carrega qual fossem espelhos do mundo. E uma época em que quanto mais se fala, menos se diz. E fala-se muito - e muito alto. A mentira alcançou a condição de regra, e a rebelião contra as leis da existência adquiriu o serviço da lei. O que se tem em mãos não é a opinião privada de um autor. Não é a interpretação proposta de fatos que se foram, nem se resume ao testemunho interessante de uma vida. O valimento de Yuri Bezmenov está na precisão — pois se outrora explanava o que haveria de ocorrer, hoje é evidente o que, de fato, aconteceu: a etapa preparatória da Revolução internacional está concluída com êxito. Inelutavelmente, a sua obra constitui uma cisão — o marco decisivo na consciência hodierna sobre o que está se passando em absolutamente todos os campos vitais do mundo livre. Ela é a exposição integral de um programa de guerra elaborado com ciência e minúcia, pavimentando, por mais de meio século, a via enganosa para o abismo revolucionário. Com rigor didático, o autor russo desmonta o sistema das chamadas Medidas Ativas e explica a função de cada peça elementar, elucidando conceitos teóricos, mecanismos e objetivos da tecnologia marcial da Subversão. Colateralmente, a densidade de Bezmenov expõe o constrangedor estado de vagueza, imprecisão e esterilidade dos debates sem conta que predominaram nas universidades, nos círculos editoriais e nas escolas militares do último quartel de século. Quase trinta anos de sua morte, vê-se os frutos da praga semeada em toda parte, que ele jamais cansou de a plenos pulmões denunciar: o rapto da iniciativa; a deleção da personalidade - atirada à deriva num mundo que não crê em mais nada, e que não pode ver o sentido das coisas nem de si; o malogro da Música, das Letras e das Artes; a ruína das riquezas; a miséria das inteligências. Após sua fuga do regime comunista, esse jovem concentrou esforços para que os países livres atentassem à instrumentalização militar do relativismo e da manipulação da linguagem — expedientes que vinham sendo usados nas aulas e nos campi universitários, na mídia de massas e na versão vulgarizada dos instrumentos de cultura. Estabelecendo-os qual fosse o diapasão da cena pública, conseguiu-se impor a nota de referência necessária para organizar as tensões dos ambientes sob ataque. E foi assim que os atacantes condicionaram, no modelo mental que pretendiam, todas as interpretações dos eventos mundiais das últimas décadas. Lisonjeado, o mundo livre demitiu-se da cautela com o perigo, escancarando seus portões para as hordas revolucionárias. Com talento metodológico, Bezmenov recapitulou sua experiência desde os bancos escolares e esquematizou o itinerário maldito que percorrem as sociedades abertas do nosso tempo rumo ao próprio cativeiro. Mesmo com credenciais robustas e um potente testemunho, enfrentou a vaidade dos acadêmicos e a frívola indiferença dos comunicadores profissionais. E era injusto disputar as atenções com a barulheira das festas, as invenções coloridas da moda e a volúpia das danças, porque o conforto ― é certeza — desacredita as sentinelas. Mas o passar do tempo outorgou-lhe autoridade histórica: como o ponteiro menor do relógio, de que ele fala, agora, nada mais está no mesmo lugar, e ninguém percebeu seu movimento. Depois de Bezmenov, o estudo científico do totalitarismo, das comunicações e das ciências do comportamento jamais será o mesmo; e a sua obra redefine, irreversivelmente, os postulados da Polemologia contemporânea, assinalando quem são, de fato, os primeiros que agem atrás das linhas inimigas nos teatros de operações do presente. Num recente passado, a União Soviética materializava o aquartelamento territorial e simbólico dos recursos da revolução, postos sob um só controle jurisdicional. Hoje, esses ativos estão distribuídos em formas e locais inumeráveis, coesamente manejados por atores não convencionais. A retração da Cortina de Ferro não consignou a adoção dos valores do mundo livre pelos revolucionários; a presunçosa ideia de que aquilo foi a prova de uma rendição desorienta, irremissivelmente, a hermenêutica dos acontecimentos atuais - pois o desmonte de uma base de operações não significa desmobilizar um exército nem abandonar uma campanha: isto é sintoma de movimentação. E o que alguns aspirantes a estrategos não compreendem, ou não querem compreender, é que a disjunção do bloco soviético garantiu a formidável incursão de todas as cadeias de comando da revolução nas estruturas adversárias, agora misturadas nos negócios, nos círculos culturais, nos meios de comunicação e nas instituições de Estado — a ocultação genial da formação inimiga. Com a típica firmeza de quem conhece uma doença até sua fase terminal, Bezmenov adverte que é preciso intervir em certas imposturas, dada a sua lesividade. Ele, recorrentemente, destaca a inconsequência de algumas figuras públicas que facilitam a criação de condições objetivas da Revolução. É a imperdoável contumácia do tolo que dança com o algoz — querendo dar prova de cortesia não se sabe a quem; a indulgência dos que assentam em postos de poder, invigilantes na tarefa que lhes cabe - seja pela paga que os mantêm no ócio, pelo apego com que lustram suas carreiras ou pelo mais banal desinteresse, que, nesta hora grave do mundo, adquire a feição de um delito. A um só tempo, a lição de Bezmenov transborda a complexidade dos esquemas que esclarece, o relato da sua vida sem descanso e os pormenores de uma guerra projetada contra pessoas comuns, sob assalto nos seus lares, ofícios e sonhos. Ela é, antes de tudo, um apelo à consciência - à atenção que deve ser prestada à intuição originária da verdade, que todo homem carrega em sua alma. Ela manifesta um elogio do livre arbítrio, do sagrado direito de escolha que antecede e informa a ação humana. Nada mais eloquente que o apelo de um veterano de tão mendaz ofício ― formado e empregado para servir à imanência comunista: o mundo deve voltar para a casa da fé. Porque diante do divino, o homem está também perante si. E não é fortuito que na sua explanação ele afirme como exemplo vencedor os mártires dos campos de concentração, no seu tão bravo quanto doce estado de santidade. Uma sóbria compreensão desse vórtice não dispensa a certeza de que ele serve a uma instância mais profunda. Rastreie-se as idéias que estão em voga, e se verá que elas atendem a um maléfico intelecto: dedicam-se a obstar o sacramento da esperança, a impedir que os homens façam dele o emblema de sua força. Pois há muito foi reaberto o caminho de retorno até a fonte da vida, e é dela que não para de haurir, para todas as eras, a melodia da virtude que faz novas todas as coisas; que levanta os dons em toda parte e fusiona as valências que estão dispersas, devolvendo tudo ao seu lugar sob o mesmo firmamento. E desse modo que a graça aprimora a natureza, que vem nos homens restaurar a sensatez e os restabelecer em paz com as leis eternas, gravadas nos confins da alma humana e na estrutura do real. Todos os dias, o Sol se levanta e se põe a descansar. O fogo consome a matéria; o vento escreve nos mares as ondas; e tudo está disposto em um ciclo que se gera e decompõe. Nada disso sonda o parecer dos homens, nem carece da sua crença. O universo acontece, e a sua ordem venera quem o criou e que reina sobre ele - quer-se acredite nisto ou não. E, ainda que atravesse o oceano da dúbia, ao indiviso sentir humano é dado compreender os princípios do cosmo - para que, nele se orientando, pelas luzes da fé e da razão, possa o homem consumar sua existência. Só a arrancada do espírito pode libertar esta época do vulto da maldade maquinada - à maneira da vítima que, prostrada e já prestes a sofrer do algoz o derradeiro golpe, inspira pela última vez; e, recobrando nas entranhas a vontade de vencer, põe-se em manobra contra o agressor e muda a sorte do embate. Do meio desse tempo atormentado - nesse mundo confinado no pavor -, desponta no horizonte um facho de virtude, qual fabuloso sagitário que dispara no breu uma seta luminosa para rasgá-lo e tudo clarear. É a potência inconfundível da verdade, que desde as suas alturas soberanas mobiliza os clarões da consciência e infunde no espírito a sua marca. Em todo canto — em todos os povos e países —, famílias agora se reúnem no esforço angustiado de achar saída. De algum lugar do passado ecoa a voz do santo sábio de Hipona: Cuida, primeiro, de andar junto dos bons, e certamente os acharás se tu fores um deles. A fortaleza inabalável da intenção reta abre mesmo as clareiras necessárias. Rufando o peito o sentimento do dever, enfrentar os temores e assumir responsabilidades se converte de um problema em compromisso. O homem pode mais que o posto ― em seu sincero santuário de bondade, a unção irrompe os seus prodígios: advêm novos talentos, engenhos e vigores, e se ergue o baluarte da defesa do que importa. Em círculos crescentes, levanta-se a legítima Contra-Revolução, reconquistando, resoluta, os territórios dominados. Agora, mais firmes e mais graves, não deixarão esses homens cair da sua lembrança quem é que calará as tempestades. E que, do meio da voragem desses dias, possam os corações de boa vontade chegar às regiões mais altas da existência. Que - rumo à luz definitiva - perseverem, altaneiros, pela senda das verdades eternas d’Aquele que é, e que era e que vem. Terra de Santa Cruz, Natal de 2020 anno Domini. O Editor

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