ebook img

Sofrer e amar PDF

141 Pages·2016·0.64 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Sofrer e amar

SOFRER E AMAR - JOÃO MOHANA LEIA TAMBÉM Céu e Carne no Casamento — de João Mohana Recentemente, a Feira Intercolegial Estudantil do Livro (FIEL), do Paraná, apresentou esse livro de João Mohana como "Livro em Destaque", com sugestivo comentário: "Há escritores "repeteco": basta ler o primeiro, embora ele tenba escrito dezenas. Há escritores do "conto do Tijolo", o primeiro foi um sucesso, e seguem fornadas ininterruptas, como na olaria; mas o primeiro deve arcar com a responsabilidade dos outros. Há escritores que "revivem" nos livros, como acontece em toda a "paternidade responsável". A "gestação" é demorada, e a "responsabilidade" é assumida. João Mobana atinge aspectos "vitais" em sins obras. Aliás, numa unidade surpreendente: a FAMÍLIA. Seus livros não são desgastados pelo tempo: são perenes. São equilibrados, no fundo e na forma: logo, clássicos. Céu e Carne no Casamento é inconfundível: é de Mohana, com aquela simplicidade envolvente, sinceridade "familiar", mensagem cristalina, criatividade de nuances, originalidade surpreendente. E nota-se ainda o seguinte: o próprio Mohana está preocupado com a interiorização da sua vida e dos seus leitores. Capítulo original: o da morte do "casal", numa perspectiva pascoalina, e num colorido de testemunhas tão achegados a nós." O conhecido historiador e ensaísta João Camilo de Oliveira Torres assim se exprimiu a respeito deste livro: "Sofrer e Amar, que vem tendo sucessivas edições na AGIR, é um livro forte, denso e de segura doutrina. Escrito por um homem que fala. ora em nome das dimensões eternas que apresentam as perspectivas que a Fé nos revela, ora de acordo com a experiência que a sua profissão lhe fornecia, traça-nos páginas que, em algum casos, não receio dizer magistrais, muito embora exista vastiss'ma li- teratura sobre esta matéria e se saiba que ninguém jamais esgotará o tema. Evidentemente não se poderá dizer muita coisa de novo e original a respeito do "sentido cristão do sofrimento", esta a verdade. Mas os autores poderão apresentar de modo novo certos aspectos do problema, de modo a permitir que os êxitos das lições sagradas possam ser adaptados à experiência de cada qual. No caso concreto, João Mohana ensina-nos a entender o sentido do sofrimento à luz da doutrina da Comunhão dos Santos, do dogma da solidariedade universal no Corpo Místico de Cristo. Para quem sabe "sentir" (esta a palavra) e viver este dogma, muita coisa aparentemente difícil se esclarece. Acho, aliás, que a missão que nos compete no mundo atual é mostrar aos homens esta verdade fundamental. Permanece de pé uma questão de ordem prática: a do efeito de livros como este. Ou, melhor, como falar a um sofredor concreto a respeito do valor de seu sofrimento? Admito que uma pessoa comum, lendo um livro deste, verifique a pouca importância de seus sofrimentos habituais. Creio mesmo que, a partir da aceitação das doses banais de sofrimento, destas que todos temos todos os dias, leremos forças para enfrentar certas situações mais heróicas. Igualmente, conforme o estado de espírito do sofredor concreto, um livro como este será útil. O essencial, no caso, é a linguagem própria para falar-se a de- terminado sofrimento. Há sofredores diferentes e muitos modos de consolação, alguns, mesmo, contraditórios entre si. Daí a dificul- dade de quem escreve a respeito de tal assunto. De qualquer forma, eis um belo livro." J O Ã O M O H A N A Sofrer e Amar Psicologia e teologia do sofrimento O sofrimento é um sacramento. SANTA CATARINA DE SENA. Í ND I CE Introdução .................................................. Porque sofremos ......................................... Luz na lágrima ............................................ Capítulo sobre ela ....................................... Como sofrer................................................. A cruz de José ............................................. Educação da imaginação ........................... Educação do coração .................................. Mais do que dois prazeres ......................... Só um é o Mestre ........................................ Oração da cruz ............................................ Educação da vontade ................................. O sacramento da cruz ................................ O dogma da cruz ............. ......................... "Já não sofro em sofrer" .............................. Carta ao amigo ............................................ INTRODUÇÃO Um livro é um encontro. Encontro para uma conversa. Este livro é assim. Um encontro com o leitor para uma conversa entre nós dois. Conversa em que falaremos de um assunto importantíssimo por sua natureza, por seu interesse, por suas conseqüências. Conversa sobre a dor, como sofrer. Isto é, como encarar as dores que batem à porta de nossa sensibilidade, na vida; que atitude tomar em face de uma angústia, de uma mágoa, de uma decepção, de um golpe de alma. O livro não é livro de tese. É livro de prática. Não é livro de tema original. É livro de assunto corriqueiro, que toda a gente fala. Através dos tempos, muitos têm escrito sobre o sofrimento. Mulheres, homens, religiosos, leigos, todos têm escrito. Acontece, porém, que o ter falado nem sempre é atestado de ter sabido sofrer. Aqui está um assunto em que a notícia que se tem ou que se dá é bem diferente do encontro com ele. Às vezes lemos páginas maravilhosas sobre a dor, tomamos os mais salutares propósitos, formulamos as mais belas atitudes, e, quando ela chega, surpreende-nos ainda com a presença do homem velho em casa. Assim é e será sempre assim. Neste mundo de contingência e nesta vida comprometida pelo erro de origem, o ato uma vez ou outra decepciona o pensamento que o gerou. Digo estas palavras para imunizar o leitor contra possíveis tristezas neste sentido. Não dar tanta importância ao resultado de nosso esforço, a ponto de expulsá-lo de nossa vontade, mas repetir as tentativas, multiplicar as experiências, porque na verdade ainda é um esforço repetido e bem intencionado o móvel de nossa evolução. Se você fechar a última página e fracassar no primeiro encontro com o sofrimento, não crie complexo, mas continue, com humildade e sinceridade. Saber sofrer, que é uma das mais importantes condições de santificação, não se pode tornar um prazer, uma vaidade, uma satisfação, um orgulho. Não é obra de poucos dias. Saber sofrer implica saber viver. Mais: implica muito sofrer. Por isso é que peço ao leitor toda a sinceridade, toda a simpatia, toda a atenção durante a conversa. Às vezes uma conversa não dá o lucro que se esperou, e quando se fecha o livro tem-se vontade de fazer uma carta furiosa ao autor, outra ao editor e outra ao vendedor. Mas às vezes a conversa da qual esperávamos algum fruto não trouxe esse fruto, porque não tivemos ouvidos de ouvir, ouvidos abertos por uma boa disposição. Conversa só presta, meu amigo, não quando a palavra que fala sai de um coração, entra pelo ouvido e fica aí, ou volta logo após, — mas quando penetra e vai terminar a viagem no outro coração. Conversa só presta, de coração para coração. Você sabe disso e com certeza já deve ter observado. O pintor Holman Hunt, que além de pintor era psicólogo, tem um quadro curioso (O Bom Pastor) que pode ilustrar estas palavras. O quadro mostra Jesus Cristo com uma lanterna na mão esquerda e batendo com a mão direita numa porta fechada. Quando foi descerrada a cortina que o escondia, um dos críticos presentes fez esta observação: — Mas, Mr. Hunt, a obra não está acabada. — Como? — perguntou Holman Hunt. — A porta. Falta pintar a fechadura da porta. — Esta porta é assim mesmo, meu caro, não tem fechadura. É a porta do coração humano. Só se abre por dentro. Pois o coração do leitor é precisamente a porta de Holman Hunt. Só você pode abri-lo. Eu não posso. Infelizmente. Porque, se pudesse, não abriria só o coração do leitor, mas o de todos os homens da terra, e meteria dentro uma infinidade de jóias. Como não posso, peço. Peço ao leitor que entreabra a porta de seu coração e me deixe entrar. Não se preocupe que não farei barulho, não provocarei distúrbio. Faço esse pedido não porque me falte casa. Faço porque quem vem atrás de mim deseja entrar, não tem casa. Tem o mundo, mas não tem casa; quer morar em corações. Quem vem atrás de mim é quem batia na porta de Holman Hunt. Sabe que depois daquela porta há alguém triste, lamentoso, sozinho na madrugada da vida. E é por isso que vem com uma lanterna na mão. Aliás nem havia necessidade dessa lanterna, porque ele é a própria Luz, mas como nossos limitados olhos, míopes de tanto sofrer, não sabem ver outra luz a não ser luz de lâmpada, o Bom Pastor vem com lâmpada. Deixe ele entrar, leitor. Se sua lâmpada tiver pouco óleo, ele lhe dará um pouco do seu. Se sua alma estiver seca, voltará a florir. Se sua casa estiver escura, voltará a brilhar. Se seu coração estiver morto, voltará a viver. Minha entrada, portanto, é a entrada de minha mensagem. Digo mensagem, por hábito apenas. Hoje, quando abrimos nosso coração pafa-nele deixar entrar um livro, ou quando abrimos um livro para nele penetrar nosso coração, fazemos isso com uma pergunta curiosa pulsando dentro de nós: "Qual a mensagem que o autor me trará?" Minha mensagem não é nova, amigo. É velha-Velhíssima. E além disso não é minha. E aléfri de ser velhíssima, é novíssima, porque é sempre atual, pois, se é passada, é futura também, sendo sempre presente. A mensagem de meu livro é a Mensagem. É a mensagem cristã para o homem que sofre. É a mesma mensagem que bateu um dia no coração de Saulo, de Maria Madalena, de Foucauid, de Bundenz, e eles abriram a porta. A mensagem que a Igreja carrega pelo mundo, através dos séculos, fortificando os enfraquecidos e divinizando os heróicos. É a mensagem da coragem amorosa no sofrimento e da aceitação enérgica por união e imitação daquele que, crucificado, atraiu todos a si e ensinou as mais lindas lições que se podem ensinar sobre a dor. Nestas páginas vai o que ele disse. PORQUE SOFREMOS Não tenho nenhuma pretensão de provar que o sofrimento é um castigo justo, uma pena merecida, uma arma necessária para haver progresso, ordem ou fraternidade. Tudo isso quem tem olhos pode ver, querendo. É só se deter alguns minutos diante da vida e observar as próprias ações, os próprios problemas, a própria vida.' Alguma boa conclusão tirará dessa meditação. Por isso não quero empregar este tempo, que basta ser tempo para ser precioso, pois, como o leitor sabe, é de tempo que é feita a vida — não quero empregá-lo em provas filosóficas, metafísicas, provas transcendentais das razões do sofrimento. Seria bonito talvez, talvez muito agradável até, mas seria inteiramente teórico, nada exis- tencial, fugiria ao objetivo e à orientação que pretendo dar à conversa. Importa-me pouco saber as causas ou os motivos do sofrimento humano. O que me interessa saber realmente é que o sofrimento existe e não pode deixar de existir; o que me interessa saber é que o sofrimento é tanto maior quanto menos o compreendemos; o que me interessa saber é que o sofrimento é um condimento necessário ao prato apetitoso da vida; que o sofrimento é a pimenta, que o prazer é o vinagre, e temperam os dois, juntos, a salada da vida; o que me interessa saber é que o sofrimento, quando aproveitado, é como a cachoeira, que pode tragar o homem, mas pode ser útil ao homem, contanto que o homem saiba aproveitá-la; o que me interessa saber é que o sofrimento tem formado muitas vidas grandes, muitos espíritos robustos, inclusive os santos e os gênios; o que me interessa saber é sobretudo que o sofrimento pode, e precisa, e deve ser compreendido, para nos dar essa intimidade com a vida, essa experiência com os homens, essa superioridade sobre o cotidiano, essa espiritualidade no mundo. O que me interessa, portanto, é compreender o sofrimento; compreendê-lo não por meio de dialética e de um jogo mental inteligente, mas compreendê-lo sobretudo na vida prática, na realidade do tempo, no comum da existência diária, na ocasião em que o sofrimento roubar a nossa fortuna, a nossa saúde ou a nossa posição, na ocasião em que o sofrimento fraturar a nossa harmonia conjugal, na ocasião em que o sofrimento ludibriar o nosso melhor amigo e afastá-lo do nosso convívio, na ocasião em que o sofrimento armar ciladas surpreendentes e difíceis de resolver, na ocasião em que o sofrimento nos pegar desarmados e ordenar "mãos ao alto" — nessas ocasiões, sim, é que é importante, se não capital, compreendermos a maneira de agir do sofrimento e sobretudo a sua intenção. O sofrimento é desses problemas que não podem ser discutidos como se discute política, literatura, história, arte ou economia, porque o sofrimento fere, ataca diretamente, e, quando ele marca um encontro conosco, vem pronto para nos laçar, para nos atraiçoar, pois mete-se na roupa bonita do prazer e depois a gente se sur- preende quando descobre que era a dor que estava vestida de homem. Para encontrarmos razão no sofrimento, é necessário que nos coloquemos no ângulo de vista das diversas concepções da vida. Por exemplo, o materialista, o homem que põe todo o motivo da vida aqui na terra, não pode admitir o sofrimento. Se tudo p que temos é esta terra, tudo que ela nos pode oferecer, diz-nos a razão que devemos aceitar, aproveitar ao máximo. Satisfazer a nossa ânsia excessiva de glórias. Saciar a nossa sede inesgotável de prazer, de vaidade, de gozo, de tudo, enfim. E, se o sofrimento vem frear esse nosso desejo infindável, deve ser abolido, porque vem impedir de aproveitar totalmente e intensamente todas as maravilhas da terra. Se o sofrimento vem me ensinar a empregar com inteligência e método tudo de bom que a terra pode oferecer, o materialista odeia o sofrimento, porque metodizar o prazer é restringi-lo, metodizar a vaidade é aboli-la, metodizar o gozo é diminuí-lo. Se o sofrimento vem ensinar ao materialista que ele pode extrair paz da dor, tirar experiência da queda, que pode deduzir o bem do mal, que pode tirar brilhantes de cascalhos, que pode divisar estrelas na escuridão da noite, que pode obter uma vénus de um bloco de mármore sem forma, o materialista odeia ainda o sofrimento, pois não extrai bem nenhum do mal, não precisa de experiência porque o experiente é prudente, pára muitas vezes diante do prazer e fica observando o jeito do prazer, já sabe que o prazer não raro anda bêbedo e nos leva inconscientemente para o prostíbulo da dor. Aquele que considera a vida terrestre como qualquer coisa de definitivo, como porto, e não como ponte, como término, e não como viagem, cairá de decepção em decepção, depois, de revolta em revolta, até se esgotar e sepultar-se num túmulo de negro pessimismo e aí soltar brados ou gemidos contra seu padecer. A culpa não cabe ao sofrimento. Cabe à falsa perspectiva que esse sofredor assumiu diante da dor e diante da própria finalidade da vida terrena. Se o homem se limita apenas a olhar a terra, a seduzir-se só com a terra, e inebriar-se só com as coisas da terra, sufoca-se na terra. Não sobe. Não cresce. Não ascende. Vive na terra, mas não capta a finalidade das coisas da terra. Cada homem tem uma atitude diferente na dor, e essa atitude depende, em grande parte, de sua concepção moral e religiosa da vida. Assim é que podemos imaginar uma verdadeira escala, à qual chamaríamos escala de reação à dor. Os graus dessa escala são os seguintes:

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.