"Nada jamais me acontece." Escrevi pausadamente essas palavras, olhei para elas um momento com um leve suspiro, descansei a caneta esferográfica na mesa do café e procurei um cigarro na bolsa. Depois de aspirar o fumo, olhei em torno de mim. Ocorreu-me então, ao pensar naquela última frase desanimada de minha carta a Elizabeth, que bastantes coisas estavam acontecendo naquele momento para satisfazer até as pessoas mais famintas de aventuras. Pelo menos, era essa a impressão que Atenas me dava. Todo o mundo andava, falava, gesticulava — falava principalmente. Quando se pensa em Atenas, o que se lembra não é o clamor do tráfego perpetuamente congestionado, nem o constante crepitar das brocas pneumáticas e nem mesmo o velho barulho dos cinzéis que desbastam o mármore pentélico, afinal de contas ainda o material de construção mais barato... O que se lembra de Atenas é o rumor das conversas. Sobe até as altas janelas do hotel, acima do cheiro do pó e do burburinho do trânsito — murmurante como o mar abaixo do templo em Súnio — o som das vozes atenienses que discutem, riem e falam como outrora falaram para dar forma às coisas do mundo entre as colunas da Agora, não muito longe do lugar onde estou.