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Sistema reprodutivo e polinização de Senna multijuga (Fabaceae) em Mata Atlântica Montana / Breeding system and pollination of Senna multijuga (Fabaceae) in a montane Atlantic Forest PDF

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Rodríguésia 61(2}: 167-179.2010 httpV/rodriguesia.jbij.gov.br Sistema reprodutivo e polinização de Senna multijuga (Fabaceae) em Mata Atlântica Montana1 Breedingsystemandpollinationof Sennamultijuga (Fabaceae) inamontaneAtlantícForest Marina Wolowski2 &LeandroFreitas3 Resumo Oconhecimentodabiologiareprodutivaepolinizaçãodeárvoresneotropicaisvêmaumentandonasúltimas décadas.Noentanto,aindaéincipienteparaaMataAtlânticaemuitasquestõespersistem,porexemplo,sobre a prevalência de autoincompatibilidade. A biologia floral, o sistema reprodutivo e os visitantes florais de Sennamultijugaforamestudados,comoobjetivodeverificaraocorrênciadeautoincompatibilidadeedeterminar seuspolinizadores.Aespécieapresentacaracterísticasfloraistípicasdogênero,comofloresassimétricas,enantiostilia, heteranteria e deiscência poricida. A antese é diurna e a viabilidade do pólen não diferiu entre os morfos de anteras.OspolinizadoresforamabelhasdosgênerosBombus,Epicharis, CentriseXylocopaeabelhasmenores atuaramcomopilhadoresdepólen.AreproduçãosexualemS.multijugadependedatransferênciadepólenpelos polinizadores,poisnãoforam formadosfrutosporapomixiaouautopolinização.Esteúltimoresultadopodeser devidoàdepressãoporendogamiaouaummecanismodeautoincompatibilidadedeaçãotardia,umavezque houveabortouniformedepistilosepenetraçãodetubospolínicosnosóvulosapósautopolinização.Diferençana fecundidadeapóspolinizaçãomanual eemcondiçõesnaturais indicaque a limitação polinicaafeta o sucesso reprodutivofeminino,assimcomoadisponibilidadederecursos. Palavras-chave: autoincompatibilidadedeaçãotardia,depressãoporendogamia,flordepólen,polinização. Abstract KnowledgeofreproduetivebiologyandpollinationofNeotropicaltreespecieshasbeenincreasinginrccent decades.However,thisisstillincipientintheAtlanticForest,andmanyquestíonsremain,forinstance,about the prevalenceofself-incompatibility. We studiedthe floral biology, breedingsystemand floral visitorsof Sennamultijugainordertoverifytheoccurrenceofself-incompatibilityanddetermineitspollinators.Thisspecies bearsthetypicalfloraltraitsofthegenus,suchasasymmetry,enantiostily,heterantheryandporicidanthers. Anthesisisdiumalandpollenviabilitydidnotdifferamongthemorphsofanthers.Pollinatorswerebeesofthe generaBombus,Epicharis,CentrisandXylocopaandsmallerbeesactedaspollenthieves.Sexualreproduction ofSennamultijugadependsonthetransferofpollenbypollinators,asnofruitwasforrnedbyeitherapomixis orself-pollination.Thelatterresultmaybeduetoinbreedingdepressionorbyamechanismoflate-actingself- incompatibility, as we observed after self-pollination both penctration ofpollen tubes in the ovules and uniform abortion ofpistils. Differences on fertility after manual crossings and under natural conditions indicatethatfemalefítnessisaffectcdbypollenlimitation,aswellasbytheavailabilityofresources. Keywords: inbreedingdepression, late-actingself-incompatibility,pollenflower,pollination. Introdução espéciesnaAméricaCentraledoSul(Bawa 1974; Oconhecimentoacercadabiologiareprodutiva Zapata&Arroyo 1978;Bawaetal. 1985a,b)epelo edapolinizaçãodeespéciesarbóreasneotropicais acúmulodeinformaçõesdediversosestudospontuais vêmaumentandoaolongodasúltimastrêsdécadas, (e.g.Gibbs&Sassaki 1998;Gribeletal. 1999;Dick a partir dos estudos pioneiros para conjunto de 2001;Freitas&Oliveira2002;Carvalho&Oliveira 'PartedadissertaçãodeMestradodaprimeiraautora. ‘ProgramadePós-GraduaçãoemBotânica,EscolaNacionaldeBotânicaTropical,R.PachecoLeão2040,22460-030,RiodeJaneiro,RJ,Brasil,[email protected] InstitutodePesquisasJardimBotânicodoRiodeJaneiro,R.PachecoLeão915,22460-030,RiodeJaneiro,RJ,Brasil,[email protected] SciELO/ JBRJ cm 13 14 ; 168 Wolowski, M. &Freitas,L t 2003;Quesadaetal. 2004). Paraespéciesarbóreas depressão por endogamia e não a mecanismos de de Mata Atlântica, os dados ainda são incipientes, autoincompatibilidade(Gibbs&Sassaki1998;Hufford emboraaquantidadedeestudossejacrescente (e.g. &Hamrick2003). Sazimaetal. 1985;Goldenberg &Varassin2001 No gênero Senna há registros de & Borgesetal.2008;Pires Freitas2008). autocompatibiüdadeeautoincompatibilidadedeação Asquestõesquemotivaramosprimeirosestudos tardia(Silvaetal. 2002;Carvalho&Oliveira2003; reprodutivosnasflorestastropicaissurgiramemtomo Laporta2005).EspecificamenteparaSennamultijuga daaltariquezadeespéciesdeárvoresesuasbaixas (Rich.) Irwin & Bameby não foi realizado estudo densidades populacionais, da capacidade dos sobre sistema reprodutivo, porém em populações polinizadoressemovimentarementreasplantasedos em áreas de pastagem e vegetação secundária, na níveisdeautopolinizaçãoepolinizaçãocruzadanas bordadoParqueEstadualdoRioDoce,MinasGerais, espécies(Fedorov 1966;Ashton 1969;Janzen 1971). foram observadas taxas de cruzamentos variáveis Nessesestudospioneiros,aautoincompatibilidade através de marcadores moleculares, o que sugere foiregistradaparaamaioria(ca. 80%)dasespécies ausência de autoincompatibilidade para a espécie hermafroditasestudadas (Bawa 1974;Bawaetal. (Ribeiro&Lovato2004). 1985a).Algunsautoressugeremqueaprevalênciada Floresassimétricas,enantiostilia,heteranteriae autoincompatibilidade,queimplicananecessidade deiscência poricida são características comuns às defecundaçãocruzada,provavelmenteestárelacionada espécies da subtribo Cassiinac (Fabaceae) & A àpressõesseletivasparaamanutençãodavariabilidade (Gottsberger Silberbauer-Gottsberger 1988). genética(Bawa1974;Zapata&Arroyo 1978;Seavey enantiostilia evoluiu independentemente em pelo & Bawa 1986). Contudo, a autocompatibilidade menosdezfamíliasdeangiospermasenormalmente ocorrenteemespéciesarbóreas(Sazimaetal. 1985; está associada a outras características incluindo a Goldenberg&Varassin2001 Pires&Freitas2008) heteranteria,acoletadepólenporvibraçãorealizada ; podetambémservantajosacomoformadeaumentar porabelhas,ausênciadenectárioseaassimetriafloral achancede sucessoreprodutivoemespéciescujas (Barrettetal. 2000; Jesson etal. 2003). Apresença populações têm baixa densidade ou em ambientes dessescaracteresemgruposnão-relacionadossugere comescassezdepolinizadores. a convergência evolutiva para a qual a posição do Em Fabaceae, há uma tendência para maior polinizador durante a visita é importante para a frequênciade sistemas de autoincompatibilidade em dispersão do pólen e, consequentemente, para o grupos de arbóreas que em grupos de herbáceas, e sucessoreprodutivomasculino(Barrettetal. 2000). para sistemas de autoincompatibilidade gametofítica Adeiscênciaporicidaécomumemespéciesemque (Arroyo1981).Maisrecentementetemsidoregistrada opólenéoúnicorecursofloraleacoletadepólené autoincompatibilidadedeaçãotardia(LSI)emvárias ativa, realizada por fêmeas de abelhas capazes de alle.g1u9m9i9n;oLseawsitsr&opiGciabibss(S1e99a9v;eCya&rvBalahwoa&1O9l8i6v;eiGriab2b0s03e;t p&roSmiolvbeerrbaviuberra-çGõoetstsnbaesrgpeerça1s98f8l)or.aiCso(nGtoutdtos,benrgeemr BLoSrIgeems qetueal.nã2o00s8e)i.deCnotnitfuidcoa,mbnaorsresiruapsosptroé-szicgaóstoiscadse, ctoodmasoapsoleisnpiézcaideosrqeuseevaisrietlaamçãfolodreestdaemapnólheoneanttrueamo não é fácil distinguir sua ocorrência dos efeitos de visitante e o gineceu e os estames longos é uma característica importante para a polinização das depressãoporendogamia,istoé,aexpressãodealelos espécies do gênero (Gottsberger & Silberbauer- recessivosdeletériosqueimpedemodesenvolvimento & embrionário(Seavey&Bawa 1986;Sageetal. 1994; Gottsberger1988;Pinheiro Sazima2007). Husband & Schemske 1996). Por exemplo, em Nesteestudosãodescritosaspectosdabiologia floraledosistemareprodutivoeregistradaacomposição Epilobium obcordatum A.Gray (Onagraceae) foi devisitantesfloraisdeSennamultijugaemumaárea proposta a ocorrência de LSI pós-zigótica, dada a de Mata Atlântica, com o objetivo de verificar a esterilidadedealgumasplantaseabortodeembriões emestágioinicialdedesenvolvimento(Seavey&Bawa existênciade mecanismode autoincompatibilidadee determinarospolinizadoresdaespécie. 1986).Posterionnente,foidemonstradoqueavariação entre a produção de sementes de autopolinização e Material e Métodos polinização cruzada nessa espécie era decorrente de depressãoporendogamia(Seavey&Cárter1994).Em O estudo foi desenvolvido nos anos 2007 e algumasespéciesdeFabaceae,aformaçãodeprogénie 2008emáreadeflorestaombrófiladensamontana m predominante alógama também foi associada à (sensu Velosoetal. 1991),entre500e 1000 de Rodríguésia 61(2): 167-179.2010 SciELO/JBRjl cm 13 14 15 16 17 18 .. Sistema reprodutivo de Senna multijuga 169 altitude, no Parque Nacional do Itatiaia (PN1) bolso. A viabilidade polínica foi estimada em 200 (22°27’S;44°36’\V).Oclimanessafaixaaltitudinalé grãosdepólenporanteraemtrêsanterasdetamanho do tipo Cwa e Cfb (classificação de Kõeppen) e distintos,coradoscomcarmimacético,comauxílio apresentaduasestaçõesbemmarcadas:umperíodo de microscópio óptico (Dafni 1992). O teste Qui- quente coincidindo com abundantes chuvas e um quadrado (A2 foi utilizado para analisar possíveis ) período frio associado à baixa pluviosidade diferenças na viabilidade entre os grãos de pólen (Segadas-Vianna & Dau 1965). Observações e provenientes desta anteras. O número de grãos de experimentoscomplementaresforamrealizadosna pólen foi estimado em três anteras por tamanho, Área de Proteção Ambiental da Serrinha do utilizando a câmara de Neubauer, com auxílio de Alambari (APASA) (22°23’S; 44°32’W) que é microscópio óptico. A razão pólen/óvulo foi contígua ao PNI e localiza-se na sua zona de determinadadeacordocomCruden(1977).Outros amortecimento. Na área de estudo na APASA, a aspectos da biologia floral como coloração, odor, variação altitudinal é semelhante à do PNI e a horáriodaanteseeduraçãodaflorforamregistrados vegetação se encontra em diferentes estágios de emobservaçõesdiretasnocampo(Dafni 1992). sucessão ecológica. O sistema reprodutivo foi determinado Senna multijuga (Rich.) Irwin & Bameby é através de testes de polinização controlados em umaespécie de hábito arbóreo, com 10a 15 m de flores de inflorescências isoladas em sacos de altura,queapresentadistribuiçãoamplanaAmérica “voile” aindaembotõesflorais. Foramutilizados CentraledoSul,mascomvariedadesdedistribuição trêsindivíduosempicodefloraçãoemfevereiroe geográficamaisrestrita(Irwin&Bameby 1982).Na março no PNI e dois indivíduos na APASA em área de estudo ocorre S. multijuga subsp. abril de2008. O acesso às floresfoi feitoapartir imdleyana(Gardner)H.S.Irwin&Bameby(Morim deescadaemontagemdeandaimesdeconstrução &Barroso2007),aqualsedistribuidosuldaBahia civil (c/. Pires & Freitas 2008). As flores foram ao nordeste de Santa Catarina, nas cristas e submetidasaosseguintestratamentos:i.apomixia declivesdaMataAtlântica(Irwin&Bameby 1982). - flores em pré-antese foram emasculadas e Senna multijuga é comum entre 50 e 950 m de mantidas ensacadas na inflorescência; ii. altitude, em clareiras, bordas de floresta, matas autopolinizaçãoespontânea-floresempré-antese ciliares e emáreas perturbadase em regeneração, não manipuladas foram mantidas ensacadas na assim como pode ser preservada em pastagens e inflorescência;iii.autopolinizaçãomanual-flores plantaçõesparasombrio(Irwin & Bameby 1982). em antese em que o conteúdo de pólen de uma Também é indicada para restauração de áreas anteradaprópriaflor(autogamia)oudeoutraflor degradadas, como espécie secundária inicial domesmo indivíduo(geitonogamia)foidepositado (Moraes etai. 2006),eécultivadae utilizadapara noestigma;iv.polinizaçãocruzadamanual-floresem arborização urbana em alguns estados brasileiros anteseemqueoconteúdodepólendeumaanterade (Irwin&Bameby 1982;Rodriguesetal. 2005).No outroindivíduofoidepositadonoestigma.Onúmero PNI. asubespécieé frequente nafaixaentre600e de flores por tratamento consta na tabela 1. Os 900mdealtitude,emlocaispróximosaorioCampo tratamentos foram distribuídos entre os indivíduos Belo, no interiordamatae emáreasde vegetação analisados.Aautopolinizaçãomanualfoiaplicadaem alterada(Morim2006;Morim&Barroso2007).Na cincoindivíduoseosdemaistratamentos,emquatro. APASA, indivíduos foram observados em bordas Nostratamentosautopolinizaçãomanualepolinização de mata, áreas em regeneração e pastagens, bem cruzada,aanterafoidissecadasobrelâminalimpaeo como nos arredores de residências (Torres 2009). conteúdodepositadonoestigma.Nessestratamentos A floração dos indivíduos acompanhados no PNI foramrealizadoscruzamentosparaostrêsdiferentes e na APASA ocorreu entre janeiro e maio e a tamanhos de anteras citados acima. frutificaçãoentremarçoedezembro(Torres2009). O crescimento dos tubos polínicos foi A dispersão das sementes é pelo vento. verificadoutilizandoatécnicadefluorescênciade Abiologiafloralfoiestudadaapartirdematerial Martin (1959) em pistilos provenientes de fresco ou estocado em FAA 70%. A presença de tratamentos de autopolinização manual e de osmósforos foi verificada por meio de teste com polinizaçãocruzadamanualfixadosemFAA70%a vermelhoneutro (Dafni 1992). A receptividade do intervalosde 12,24,48e72horasapósotratamento. estigma foi determinada utilizando peróxido de Ainda, alguns pistilos autopolinizados foram hidrogênio (Zeisler 1938), com auxílio de lupa de fixados 24 horas após o tratamento e, então. Rodríguésia 61(2): 167-179.2010 SciELO/JBRJ L2 13 14 15 16 17 8 170 Wolowski, M. &Freitas, L desidratadosemsérieetílicaascendenteatéetanol de óvulos. Sementes íntegras, com testa bem absoluto e incluídos em hidroxietilmetacrilato formada, foram consideradas desenvolvidas. (Gerrits&Smid 1983).Apósinclusãoemontagem Sementescomdesenvolvimentointerrompidoe/ou dosblocos,estesforamseccionadoslongitudinalmente deformadasforamconsideradasabortadas.Oteste comauxíliodemicrótomoderotaçãocom3 pmde Kruskal-Wallis (H) foi utilizado para analisar espessura.Assecçõesforamaderidasalâminasde possíveis diferençasentreo número de óvulos, de vidroecoradascomazuldetoluidina0,05%(CTBrien sementes desenvolvidas, de sementes abortadas, etal. 1965) e observadas em microscópio óptico a fecundidade eataxa de aborto dos cruzamentos decampoclaro. comanterasdediferentestamanhosdotratamento A fim de estimar a produção de frutos em polinização cruzada manual. O teste Mann- condiçõesnaturais,floresemanteseforammarcadas Whitnney(U) foi utilizadoparaanalisarpossíveis emantidasexpostas. OtesteQui-quadrado(A2)foi diferenças no número de óvulos, de sementes utilizado para avaliar possíveis diferenças na desenvolvidas, de sementes abortadas, na produçãodefrutosformadosnostratamentos(entre fecundidadeenataxadeabortoentreostratamentos cruzamentoscomanterasdediferentestamanhos)c polinizaçãocruzadaecondiçõesnaturais.Ostestes entreostratamentospolinizaçãocruzadaecondições estatísticos foram realizados no software pnartouvreaniise.ntOess ddeaduoms diendicvoíndduioçõdeosPnNaIt.urOaisoustãroo STATIOSsTvIisCiAtan6t.e0s(fSltoartaSiosffto2r0a0m1c)o.letadoscompuçá indivíduoque seria utilizado como controle sofreu eocomportamentodeforrageio foi registrado. As forte florivoria por formigas do gêneroAtta e não observaçõesforamrealizadasemdiascomcéulimpo pode ser utilizado para este fim. As flores desse ou parcialmente encoberto totalizando 12 horas indivíduo que estavam ensacadas não foram distribuídasentre8:00e 17:00hemtrêsindivíduos danificadaseosdadosdosoutrostratamentosforam emlevereirode2008noPNI.Asespéciescoletadas utilizadosnascomparações. foram classificadas como polinizadores ou Foi feita a contagem de óvulos, sementes pilhadores com base na observação de contato do desenvolvidas e sementes abortadas de frutos corpo da abelha com o estigma, o que se deve ao provenientesdotratamentopolinizaçãocruzada(1 seutamanho(Frankieetal. 1983)ecomportamento frutos) econdições naturais (75 frutos) do PNI. A deforrageio(Pinheiro&Sazima2007). fecundidade foi medida pela razão do número sementesdesenvolvidas/númerodeóvulos.Ataxa Resultados deabortofoimedidapelarazãosementesabortadas/ As flores de Senna multijuga, dispostas em óvulos.Osfrutosforamabertoscompinçaeestilete panículas terminais, são assimétricas e em prato, e os óvulos e sementes contados com auxílio da com36,81 ±2,56mm(média±desvio-padrão,em lupa.Onúmerodecâmerasseminíferasecicatrizes todo o texto) (n = 10) de diâmetro. As sépalas deóvulos foramutilizadosparaestimaronúmero amarelas, em número de cinco, são livres. As pétalas,tambémdecoloraçãoamarelaeemmesma Tabela1-Produçãodefrutos(porcentagemdonúmero qcounasnttiitduaíddeo,psoãroddoeissigeusatiasm(eFsigg.ralna)d.esO, uanmdreoscteaumeé de frutos/número de flores) após tratamentos de médio,quatroestamespequenosetrêsestaminóides polinizaçãocontroladosdeSennamultijuganoParque (Fig. la). Os estames grandes apresentam anteras NacionaldeItatiaiaenaÁreade Proteção Ambiental curvas (7,50± 0,74mm, n = 10) efilete alongado daScrrinhadoAlambari. (6,28±0,94mm,n= 10).Oestamemédioapresenta Tnaubmbleer1)-afFtrcuriptoplrloindautcitoinontr(epaetrmceennttsaogefSoefnfnhiaitmunlutmibjeurg/aflinowtehre anteracurva(6,40± 1,51 mm,n= 10)efiletecurto ItatiaiaNational Park and the Environmental ProtectionArea (2,08 ± 0,45 mm, n = 10). Os estames pequenos ofthe Serrinha Alambari. apresentamanterasretas(4,56±0,65nfm,n= 10)e n°de n°de filetescurtos(1,98±0,20mm,n= 10). Asanteras flores frutos(%) apresentamdeiscênciaporicidaeop^fenéoúnico Apomixia 15 0(0) recursofloral.Asanterasreagiramaotestejinnvermelho Autopolinização espontânea 15 0(0) neutro e a presença dos osmóforos fql 'crificada da baseaoápicedaanteraemestruturasÍÈInidascomo Autopolinizaçãomanual 137 0(0) frisos longitudinais,osquais sãoconsflj$ídosporum Polinizaçãocruzada 104 55(53) maciço de células de origem epidér^JlHa e natureza Rodríguésia 61(2): 167-179.2010 ; í» l 1 SciELO/JBRJ 2 13 14 15 16 17 Sistema reprodutivo de Senna multijuga 171 secretora(sensuGuimarãesetal. 1984).Opistilo,com manualcompólenprovenientedostrêstama^nho0sde e1s3t,i9g3ma±)0,,4a4prmesmen(tna=o1v0á)ridoecsuopmeprroiemeunntilooc(udlaarb,asceoamo “52‘)er(aTa(bn.,„«1.),.!=A1f3o7rimnaane,e,maPf=oi3c9e’dospistilo4s6a’bortado=s 45,07±6,14(n=75)óvulosdeplacentaçãosuturai.O foi a mesma da observada nas flores em antese, estigmaécircular,emformadecâmaraeaaberturaestá independentementedomomentodoaborto.Ospistilos voltadaparaaparteinternadaflor. depolinizaçãocruzadaapóscincodiasjáadquiriram Aviabilidadedosgrãosdepólenfoide96,33 formaereta.Oacompanhamentododesenvolvimento ±0,02%(n=3)nasanteraspequenas,98,17±0,003% de66pistilosautopolinizadosporatédezdiasapóso (n=3)paraasanterasmédiase97,33±0,02%(n=3) cruzamentomostrouque91%destesabortaramentre para as anteras grandes. Não houve diferençapara cinco a nove dias após o autocruzamento. No viabilidade polínica do pólen proveniente dos três tratamento de polinização cruzada, não houve diferentestamanhosdeantera{X2=3,82,p=0,15). diferença entre a produção de frutos (F) dos Anteraspequenaspossuíam11.789±3.206grãosde cruzamentoscompólendostrêstamanhosdeantera pólen, anteras médias 12.300 ± 2.909 e anteras [^2=0>94;p=0,62 F =F =0,53(55/104);F = grandes20.178±'3.384.Destaforma,onúmerototal 0,59(23/39),F_m=0,pc50(1t4ot/al28),FmQ=0,49(18a/n3te7r)aP]. médiodegrãosdepólenemumaflorfoiestimadoem Desta forma, esses dados foram agrupados (Tab. 1). 99.811earazãopólen/óvuloem2.218. Tubos polínicos provenientes de tratamentos de Durante o desenvolvimento do botão floral, autopolinização manual e de polinização cruzada opistilodesloca-sedaposiçãocentralparaposição manual foram observados penetrando no ovário ou lateral, à esquerda ou à direita, caracterizando a nosóvulosemfloresfixadas12horase24horas após enantiostilia. Flores de morfos opostos foram a polinização (Fig. lc-e). Não foram observadas encontradasnamesmainflorescência(Fig. lb).Os diferençasaparentesnataxadecrescimentodetubos estames de anteras grandes acompanham o polínicos provenientes de autopolinização e deslocamento do pistilo no sentido oposto, se polinizaçãocruzadamanual,nemdetratamentoscom aproximandodapétalamaioreaaberturadoporoé pólen proveniente dos três diferentes tamanhos de direcionadanosentidodacurvaturadapétalamaior. anteras. Não foi observado, através microscopiade Oestamemédioacompanhaomovimentodopistilo fluorescência, desenvolvimento dos óvulos eficaemposiçãoopostaàpétalamaioreoporoda autopolinizadosedepolinizaçãocruzadanospistilos anteraéextrorso(Fig. 1a).Osestamespequenosse fixadosnosintervalosdetempode24,48e72h. dispõem no centro da flor e a abertura dos poros A produção de frutos após polinização tambémédirecionadaaocentrodaflor.Duranteo cruzada foi significativamente maior que em deslocamentodopistiloe estames, acorolavai se condições naturais (Tab. 2). No tratamento abrindo.Nobotãoempré-antese,acorolajáestava polinização cruzada, não houve diferença entre o totalmente aberta. O início da antese ocorreu no númerodeóvulos(H=0,43,p=0,81),desementes início da manhã (por volta das 7:00h), quando o desenvolvidas (H = 0,10, p = 0,95), de sementes estigmaestavareceptivoeasanterasapresentavam abortadas(H=1,69,p=0,43),fecundidade(H=0,18, coloração amarelo-esverdeada e os frisos p =0,92) e taxade aborto (H = 1,45, p =0,49) dos longitudinais alaranjados. Aolqngoda manhã, os cruzamentoscompólendostrêstamanhosdeantera. frisoslongitudinaisdasanterasliberaramodor,os Esses dados foram agrupados e comparados às poros se abriam e o pólen se tomava disponível, condições naturais (Tab. 2). A fecundidade no sendo liberado apenas por vibração. O estigma tratamentopolinizaçãocruzadafoisignificativamente permanecia receptivo por todo-Q dia. Ao final da maiorem relaçãoàs condiçõesnaturais eataxade tarde, o odor não era mais perceptível e os frisos abortonãoapresentoudiferença(Tab. 2). adquiriam coloração amarronzada. A antese teve Osvisitantesfloraisobservadosforamfêmeas duração de ca. 12 horas. Na manhã do segundo deabelhas(Hymenoptera: Apoidea),quecoletaram A dia,amaioriadasfloresjáhaviapçjdidoosestames pólen. coleta teve início por volta das 8:00h, ou elesestavamamarronzadosesenescentese, em permaneceuintensaatéoiníciodatardeediminuiu seguida,aspétalascomeçavamacair.Namanhãdo apartirdas 14:00h.Foramconsideradaspilhadoras terceirodia,opistiloeocálicepersistiam,podendo abelhas pequenas (< 12 mm) que durante a visita terpersistidotambémapétalademaiortamanho. não contatavam o estigma e polinizadoras as Quantoaosistemareprodutivoaespécienãoé abelhasdetamanhomédioegrande(> 12mm)que apomítica(Tab. 1).Nãohouveformaçãode frutosa contatavam o estigma, como Euglossa iopoecila. partirdostratamentosautopolinizaçãoespontâneae Das quatorze espécies coletadas, 64% foram Rodriguésia 61(2): 167-179.2010 SciELO/JBRJ .2 13 14 15 16 17 172 Wolowski. M. &Freitas. L. Figura1-FlordeSenmmultijugaecrescimentodetubospolínicos-a.disposiçãodaspeçasflorais:pétalamaior(Pm)eanteras grandes(G)opostasaopistilo(Pi)eaoestamemédio(M).Estamespequenosnocentrodaflor(P);b.inflorescênciacomfloresdos doismorfos.c.penetraçãodetubosnoovárioapósautopolinizaçãomanualcompólenprovenientedeanterapequena;d.tubopolínico penetrandoemóvuloapósautopolinizaçãomanualcompólenprovenientedeanteragrande;e.cortelongitudinaldeóvuloapós autopolinizaçãomanualmostrandotubopolínicoatravessandootegumentoeonucelo(setas).Barras:a-b=1cm,c-e=100pm. Figure 1 -FlowerofServiamultijugaandpollentubegrowth-a.arrangementoffloralparts: Majorpetal(pm)andlargeanthers(G)in oppositiontothepistil(Pi)andthemédiumstamen(M).Smallstamensinthecenteroftheflower(P);b.inflorescencewithflowersofboth morphs; c.penetration oftubes into the ovary 12 hours aftermanual self-pollination with pollen from a small anther; d.pollen tubes penetratingtheovary 12hoursaftermanualself-pollinationwithpollenfromamajoranther;e.longitudinalsectionofanovule24hours aftermanualself-pollinationshowingpollentubeCrossingthetegumentandthenucellus(arrows). Bars:a-b= lcm,c-e= 100pm. Rodríguésia 61(2): 167-179.2010 .SciELO/ JBRJ cm 1 12 13 14 15 16 17 6 Sistema reprodutivo de Senna multijuga 173 Tabela2-Produçãodefrutos(porcentagemdonúmerodefrutos/númerodeilores),númerodesementesdesenvolvidas, desementesabortadasedeóvulos,fecundidade(sementesdesenvolvidas/óvulos)etaxadeaborto(sementesabortadas/ óvulos) de Senna multijuga, após polinização cruzada e em condições naturais. Dados são média± desvio padrão (excetoproduçãodefrutosem%). Tablc 2-Productionoffruits (perccntage offruitnumber/flowernumber), mimberofseeds developed, seeds abortedandovules, fecundity (seeds developed/ovules), and abortion rate (seeds aborted/ovules) ofSenna multijuga altercross-pollinationand natural condilions.Data aremean±standarddeviation (except forfruitproduction in %). Polinização cruzada Controle Estatística P Produção de frutos(%) 53(55/104) 14(13/90) A*=31,32 <0,0001 Sementes desenvolvidas 31,44±6,57 27,29±7,20 U=27,0 0,18 Sementes abortadas 3,61±3,52 6,47±2,68 U=22,0 0,09 Óvulos 39,28±2,59 45,07±5,09 U=11,0 0,01 Fecundidade 0,80±0,1 0,60±0,09 cIIpoO 0,01 Taxadeaborto 0,09±0,09 0,15±0,07 U=25,0 0,14 classificadascomopolinizadores,pois foipossível emrelaçãoàpolinizaçãoporvibração(Marazziet observarocontato docorponaregiãoestigmática al. 2007).Adiversidadeemaiorespecializaçãodas durante a visita (Tab. 3). Essas abelhas se anterasabaxiaisemrelaçãoaosestamesmedianos aproximavamdafloreseprendiampelamandíbula podem estar relacionadas à divisão funcional das e pernas dianteiras. A vibração produzida pelas anteras, em alimentação e polinização, e ao abelhas durante o vôo era transmitida às anteras comportamento de coleta de pólen pelas abelhas & promovendo a liberação do pólen (cf Buchman (Gottsberger Silberbauer-Gottsberger1988;Silva 1983). As partes ventrais do tórax e do abdômen etal. 2002;Marazzietal. 2007).Contudo,nãoestá ficavam sobre as anteras de tamanho pequeno e a claro se esta divisão implica em restrições lateraldotóraxedoabdômenficavampróximasàs reprodutivas ao pólen proveniente de cada morfo outras anteras. As espécies de polinizadores mais (Marazzietal. 2007). Dadossobreaviabilidadee freqüentesdiferiramemrelaçãoaocomportamento fertilidadedopólenprovenientedecadamorfode detransferênciade pólen entre asvisitas. Bombus antera mostram que S. multijuga não apresentou morio permanecia pairado e transferia o pólen do restrição para a reprodução, semelhante a S. tórax edo abdômen para a corbícula, comauxílio australis(Vell.)H.S. Irwin&Barneby(Silvaetal. das pernas dianteiras e medianas, enquanto as 2002), porém, outras espécies do gênero a espécies de Centridini se prendiam com as apresentaram,taiscomoS. corymbosa(Lam.)H.S. mandíbulas nas estruturas florais e transferiam o Irwin&BarnebyeS.sylvestris(Vell.)H.S.Irwin& & pólen do tórax e do abdômen para as escopas das Barneby(Carvalho Oliveira2003;Laporta2005). A pernastraseirascomauxíliodaspernasdianteirase orientação dos poros afeta diretamente a medianas.Demaneirageral,asvisitasduravamaté direção de liberação do pólen e a assimetria da trêssegundos.Asabelhasvisitaramdiversasflores corola tem um papel importante durante a numa mesma inflorescência e diversas polinização(Marazzietal. 2007,2008).Naflorde5. dinefilxoarreescmêancáiravsordee.um mesmo indivíduo antes de mouvlatdiajuegcaô,nacapvéata(lGauimmaairoãreséeatsasli.mé19t8r4i)c.a,Afpaolsciaçdão-o e a concavidade da pétala maior de S. multijuga parece ser uma característica importante para Discussão direcionaropólenliberadodasanterasgrandespara Sennamultijugaapresentamorfologia floral apartelateraledorsaldocorpodasabelhasereduzir semelhante à de outras espécies do gênero, por a perda de pólen, enquanto o pólen das anteras exemplo, pela assimetria da corola e androceu pequenasé liberadodiretamentenaregiãoventral (Marazzietai2006,2007,2008).Aspeculiaridades do corpo das abelhas. A enantiostilia é outro das estruturas florais em Senna, como diferentes aspecto da assimetria floral de S. multijuga que tamanhos de estames e diferenças de orientação associado aheteranteria contribui na polinização. dos poros das anteras, provavelmente evoluíram JessoneBarrett(2005)sugeremqueadeflexãodas Rodriguésia61(2): 167-179.2010 SciELO/JBRJ L2 13 14 15 16 17 1 1 0 174 Wolowski, M. &Freitas, L Tabela 3-Espécies de abelhas (Hymenoptera: Apoidea) visitantes das flores de Sennamultijuga. Legenda: Po = polinizadorePi=pilhador. Table3-Bcesspecies(Hymenoptera: Apoidea)visitorsofflowersofSennamultijuga.Captions: Po=pollinatorandPi=theft. Família Espécie Função Tribo Apidae Euglossini Euglossa iopoecilaDressler, 1982 Pi Bombini Bombus(Fervidobombus)brasiliensisLepeletier, 1836 Po BombusmorioSwederus, 1787 Po Centridini EpicharisflavaFriese, 1900 Po EpicharisdejeaniiLepeletier, 1841 Po CentrissimilisFabricius, 1804 Po Centris(Melacentris) cf.discolorSmith,1874 Po Centris (Melacentris) cf. conspersaMocsáry, 1899 Po CentrisvariaErichson, 1848 Po Meliponini Meliponarufiventris Lepeletier, 1836 Pi Melipona sp. Pi Xylocopini XylocopafrontalisOlivier, 1789 Po XylocopasubcyaneaPérez, 190 Pi Halictidae Augochlorini PseudaugochloracallainaAlmeida,2008 Pi anteras grandes opostas ao pistilo pode aumentar planta e dos polinizadores, como diferenças nas a precisão de transferência de pólen cruzado e escolhas de forrageamento dos polinizadores, em reduzir a interferência do estigma e das anteras resposta à composição e à fenologia das espécies dentroouentrefloresdamesmaplanta.Destaforma, de cada área. a distinção dos visitantes florais de S. multijuga Sentia multijuga não formou frutos por em pilhadores e polinizadores é determinadapela autopolmização,oqueemgeralétidocomoindicativo combinação das características florais e arelação dapresençade sistemadeautoincompatibilidade. O detamanhocomocorpodasabelhas.Ospolinizadores crescimento de tubos polínicos no ovário e a de S. multijuga na área de estudo pertencem aos penetração nos óvulos de pistilos autopolinizados mesmos gêneros Xylocopa Centris, Bombus e indicam que não se trata de sistema de ( , Epicharis) dos polinizadores de outras espécies autoincompatibilidade gametofltico clássico (Gibbs dogênero(Gottsberger&Silberbauer-Gottsberger 1990). Assim, o desenvolvimento de frutos após 1988;Silvaetal. 2002;Carvalho&Oliveira2003; autopolinizaçâo pode estar sendo impedido por Laporta2005;Pinheiro&Sazima2007).Entretanto, mecanismodeautoincompatibilidadedeaçãotardia dasnoveespéciesdepolinizadoresdeS. multijuga (LSI). O termo LSI é utilizado para classificar no Itatiaia, apenastrês (Bombus morio, Epicharis mecanismos de rejeição diferentes e com origem flavaeXylocopafrontalis)atuaramtambémcomo independente, que essencialmente partilham a polinizadores desta espécie em área costeira em característicadenãoseenquadraremnosmecanismos Ubatuba, São Paulo (Pinheiro & Sazima 2007), a deautoincompatibilidadetradicionais(Seavey&Bawa qual dista ca. 110 km do PNI. A composição de 1986).Osmecanismosdeaçãotardiasãoidentificados polinizadores de umaplanta pode variarao longo basicamente pela inibição de tubos na camada do desuaáreadeocorrência(Carvalho&Oliveira2003; nucelodoóvuloouainibiçãoda fusãodosgametas Devoto et al. 2006) e isto pode refletir tanto masculinoscomaoosferaenúcleospolaresnoscasos divergências entre a distribuição geográfica da derejeiçãoprezigótica; epeloaborto dosóvulosem Rodriguésia6 (2): 167-179.201 SciELO/ JBRJ cm 1 12 13 14 15 16 17 Sistema reprodutivo de Senna multijuga 175 & estágioinicial de desenvolvimentoou adegeneração abortados,sementesmaduraseplântulas)(Hufford do endosperma nos casos de rejeição pós-zigótica Hamrick 2003). Neste estudo, houve diminuição da (Seavey & Bawa 1986). Apesardisso, nemtodosos progénieautofertilizadaaolongodosestágios(expressa registros de LSI em Fabaceae tem diferenciado os pelo aumento da heterozigosidade observada a cada mecanismos de rejeição em pré- ou pós-zigótica. nível)eamaiorexpressãodadepressãoporendogamia Evidências para a rejeição pós-zigótica podem ser se deu entre o estágio de semente madura e o observadasemváriasespéciesdafamília,assimcomo, estabelecimento da plântula. Nesses casos, análises emespéciesdeBignoniaceae(Bittencourtetal. 2003; de progénies em diferentes estágios de Bittencourt & Sentir 2005, 2006). Em Hymenaea desenvolvimentoseriammaiseficientesdoquetestes stigonocarpaMaitexHayne,issosedeupelaevidência depolinizaçãocontroladospararespondertalquestão. de zigoto sem divisões com núcleos do endosperma As duas populações de S. multijuga estudadas (Gibbsetal. 1999),em CaesalpiniacalycinaBenth., porRibeiro&Lovato(2004),noestadodeMinasGerais, pelaevidênciadepenetraçãodotubopolíniconosaco apresentaramdiferentestaxasdecruzamento(tm=0,84 & embrionário (Lewis Gibbs 1999), além de outras naáreadepastagemforadoParqueetm=0,54naárea evidências para Dalbergia retiisa Hemsl., Dipteryx deborda).Amédiadaspopulações(tm=0,69)eamenor & panamensis(Pittier)Record MelleMyrospermum taxadecruzamentosãoinferioresàstaxasregistradas fhitescensJacq.(Seavey&Bawa1986).Poroutrolado, paraamaioriadasespéciesarbóreasneotropicaiscom existeumaevidênciapararejeiçãoprezigóticaemAcácia predomíniodecruzamentocruzado(Dick200 Quesada 1; retinodesSchlldl.(Kenrick<??«/. 1986). etal. 2004;Mathiasenetal.2007;Borgesetal.2008). A ausência de frutos por autopolinização em Portanto,Ribeiro&Lovato(2004)concluemqueseus espécies descritas com LSI pós-zigótica pode ser resultados sugerem a ocorrência de autofecundação igualmenteatribuídaàdepressãoporendogamia,oque emS.multijuga,oquecomprometeaexistênciadeLSI torna complicado diferenciar a presença de um nesta espécie, sugerida pelos nossos resultados no mecanismo de autoincompatibilidade dos efeitos da Itatiaia depressãoporendogamia(Seavey&Bawa1986;Sage Alémdisso,osresultadosdeRibeiro&Lovato et al. 1994). Segundo Seavey & Bawa (1986), a (2004) apontam que S. multijuga deve apresentar autoincompatibilidade de ação tardia pode ser sistema de cruzamento misto, o que pode refletir distinguida da depressão por endogamia por três depressão endogâmica prematura e não critérios,asaber: 1)arejeiçãoporaçãotardiaocorreria necessariamenteummecanismodeLSIemrelaçãoao emummomentoúnico,causandooabortodosembriões aborto de frutos autopolinizados naespécie. Apenas emumestágiodedesenvolvimentouniformeenquanto pormeiodetestesdepolinizaçãoédifícilconcluirqual na depressão por endogamia, o acúmulo de alelos éoprocesso(endogamiaoumecanismoLSI)queatua deletérios causaria oabortoprogressivo deembriões paraimpediraformaçãodefrutosautopolinizados.De emdiferentesestágiosdedesenvolvimento;2)naação um lado, os níveis variáveis de alogamia entre tardia,amaioriadosindivíduosdapopulaçãodeveser populações mineiras de Senna multijuga sugerem autoestéril; 3) aocorrênciadeautoincompatibilidade existênciadedepressãoporendogamia,masporoutro em espécies relacionadas indicaria a segregação de lado,oabortouniformedepistilosautopolinizadosentre alelosdeincompatibilidadedentrodafamília.Oaborto indivíduosnapopulaçãodoItatiaiasugereLSI. depistilos autopolinizadosapós umcurtoperíodode Em muitas espécies, os mecanismos de tempo, a ausência de desenvolvimento inicial dos autoincompatibilidade não se expressam totalmente, óvulosautopolinizadoseausênciadefrutosnoscinco ouseja,partedosautocruzamentosproduzfrutoscom indivíduosqueforamautopolinizadosemS.multijuga sementes(Bawa1974;Zapata&Arroyo 1978;Sageet sugerem a presença de um sistema de al.2001).Aexpressãodaautoincompatibilidadepode autoincompatibilidadedeaçãotardia. variaremfunçãodacomposiçãodealelos,expressão Todavia, estudos que sugerem LSI em degenesmodificados,composiçãodacargadepólen, leguminosas não descartam a possibilidade de condições ambientais (e.g., temperatura)econdições ocorrênciadedepressãoporendogamia(Gibbs etal. internasdopistilo, tais como idade da flor, épocado 1999;Freitas&Oliveira2002).Outraevidênciaqueos anoepresençadefrutosemdesenvolvimento(revisão efeitosdadepressãoporendogamiapodemimitarum em Stephenson et al. 2000). Gibbs et al. (2004) mecanismodeautoincompatibilidadefoidemonstrada verificaramque aproduçãodesementes de Ceiba em Platypodium elegans Vogei com o uso de chodatii (Hassl.) Ravenna é inferior em frutos de marcadores moleculares utilizando progénies em cruzamentos com carga de pólen mista (auto e diferentes estágios de desenvolvimento (embriões cruzado)emrelaçãoàcargadepólencruzado.Neste Rodriguésia 61(2): 167-179.2010 SciELO/JBRJ 12 13 14 15 16 17 ; . 176 Wolowski. M. &Freitas.L estudo,osautoressugeremqueapolinizaçãonatural intensidade da seleção sexual mais do que na é resultante da mistura de pólen (auto e cruzado) disponibilidade de polinizadores e recursos. Nesse quechegaaoestigmaeque em espéciescom LSI, sentido,aseleçãoparaaumentaradispersãodepólen essa carga de pólen mista pode resultar em uma seriaoprincipalfatornaproduçãodefloresexcedentes proporçãodesementesdeautofertilização.Assim, deS. multijuga,enquantoosucessofemininoparece esses autores predizem que espécies com LSI serreguladotantopelalimitaçãopolínicacomopela podem apresentar sistema de cruzamento misto. limitaçãoporrecursos. Outro aspecto relacionado a esta discussão é a Em resumo, embora nossos resultados não variação da expressão da autoincompatibilidade permitamconcluirqueSentiamultijuga apresenta evnetrrteapmobpéumlaBçaõreresldteetuaml.a1e9s8p9éceiPeai(lSlaerge&eTthalo.m2p0s0o1n pmoelcianniizasçmãoodceoanuttrooilnacdoamp(aatuisbêinlcidiaaded,eofsrutetsotsespdoer 1997paraheterostilia),esperadaemparticularpara autODolinização e aumento da frutificação e certas circunstâncias, como em populações com fecundidadeapóssuplementaçãodepólencruzado) tamanhos diferentes e nos limites geográficos de demonstram que sua reprodução é dependente da distribuição daespécie (Fausto etal. 2001; Stone transferência de pólen entre indivíduos realizada etal. 2006). Destaforma, apesardosresultadosde pelospolinizadores. & Ribeiro Lovato (2004) sugerirem sistema de cruzamento misto e efeitode endogamia. istonão Agradecimentos excluiapossibilidadedeexistirummecanismode APauloEugênioA.M. OliveiraeAlexandra incompatibilidadedeaçãotardiacombinado,desde que parcial, em que sua expressão varie tanto por P.Femandezassugestõesem umaversãopréviae diferenças entre a composição da carga de pólen aosdoisrevisoresanônimosascríticasesugestões; transportada pelos polinizadores como por aLeilaNunesMorgadoeMariaCristinaGaglianone diferenças entre populações da espécie. a identificação das abelhas; a Victor Silvestre e Oaumentosignificativodaproduçãodefrutos Leandro Silva o auxílio no trabalho de campo; a eda fecundidade após polinizaçãocruzada manual ElaineZ.Souza,RogérioC.FigueiredoeKarenL.G. emrelaçãoàscondiçõesnaturaispodeindicarlimitação DeTonioauxílionapreparaçãoeanálisedematerial nosníveisdepolinizaçãonatural(Stephenson 1981; anatômico, respectivamente. Este estudo foi Burd 1995).Tallimitaçãopoderiaserpelaescassez financiadopelaPetrobrás(ProgramaMataAtlântica de polinizadores e/ou pelo transporte inadequado - JBRJ). LF agradece ao CNPq a concessão de de pólen compatível, visto que 30% das espécies bolsa,modalidadePQ. visitantes apresentaram comportamento pilhador. Além disso, os visitantes legítimos visitam várias Referências flores nomesmo indivíduo, oquereduz o fluxode Arroyo,M.T.K. 1981.Breedingsystemsandpollination pólen e favorece a geitonogamia. Contudo, a biologyinLeguminosae.In:Polhill,R.M.& Raven, produçãodefrutos(52%)eafecundidade(0,80)em PH.AdvancesinLegumeSystematicsPart2.Royal S.multijugaapósapolinizaçãocruzadamanualforam BotanicalGarden, Kew. Pp. 723-769. inferioresaosseuspotenciaismáximos.Istosereflete Ashton,P.S. 1969.Speciationamongtropicalforesttrees: emumaquantidademuitosuperiordefloresquede somedeductioninthelightofrecentevidence.Biological frutosproduzidoseindicaqueoutrosfatorespodem JournaloftheLinneanSociety 1: 155-196. atuar concomitantemente à limitação polínica, tais Barrett, S.C.H.; Morgan, M.T. & Husband. 1989. The como a limitaçãoporrecursos, queé tidacomo um dissolutionofacomplexgeneticpolymorphism:the evolutionofself-fertilizationintrustylousEichomia dos fatores mais importantes na regulação da produção de frutos e sementes nas plantas Barreptat,niSc.uCl.aHt.a;(PJoenstseodne,riLa.cKea.e)&.EBvaokleurt,ioAn.4M3:.12309080-.14T1h6e. (Stephenson 1981).Nocontextodaseleçãosexual,o evolution and function ofstylar polymorphism in sucesso reprodutivo masculino provavelmente é flowering plants. Annals of Botany 85(Supp.A): limitado pela capacidade dos gamctas masculinos 253-265. garantiremoacessoaosgametasfemininos,enquanto Bawa, K.S. 1974. Breeding systems oftree species of o sucesso feminino é provavelmente limitado pela lowlandtropical community. Evolution28: 85-92. capacidade de prover recursos para os óvulos e Bawa, K.S. & Webb, C.J. 1984. Flower, fruit and seed embriões(Burd 1994).BawaeWebb(1984)sugerem abortionintropical foresttrees: implicationsorthe que variações nas razões fruto/flore semente/óvulo evolution of paternal and maternal reproduetive entreespéciesocorremdeacordocomdiferençasna pattems.AmericanJournalofBotany71: 736-751 Rodriguésia61(2): 167-179.2010 SciELO/JBRJ cm 2 13 14 15 16 17 ..

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