UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA SILVANA PARISI Separação amorosa e individuação feminina: uma abordagem em grupo de mulheres no enfoque da Psicologia Analítica Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Psicologia. Área de concentração: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Orientadora: Maria Julia Kovács São Paulo 2009 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Parisi, Silvana. Separação amorosa e individuação feminina: uma abordagem em grupo de mulheres no enfoque da psicologia analítica / Silvana Parisi; orientadora Maria Júlia Kovács. -- São Paulo, 2009. 272 p. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 1. Mulheres 2. Individuação (Psicologia) 3. Separação conjugal 4. Grupos 5. Psicologia junguiana I. Título. HQ1206-1216 Silvana Parisi Separação amorosa e individuação feminina: uma abordagem em grupo de mulheres no enfoque da Psicologia Analítica Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Aprovado em: ___/___/ ___. Banca Examinadora Prof. Dr. ____________________________________________________________________ Instituição:_________________________Assinatura_________________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________________ Instituição:_________________________Assinatura_________________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________________ Instituição:_________________________Assinatura_________________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________________ Instituição:_________________________Assinatura_________________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________________ Instituição:_________________________Assinatura_________________________________ Prof. Dr. ____________________________________________________________________ Instituição:_________________________Assinatura_________________________________ Às pessoas que me ensinaram a amar: Diana e Felipe, meus filhos Luiz, meu companheiro AGRADECIMENTOS Muitas mãos participaram da “confecção” desta tese. As minhas digitaram e deram forma, mas teriam feito muito menos se outras tantas não estivessem por perto, apoiando, dando um empurrãozinho, apertando forte quando eu precisava ou simplesmente acenando de longe para me incentivar. Em primeiro lugar quero agradecer à querida orientadora, Maria Júlia Kovács pelo estímulo e confiança. Paciente e atenciosa, sempre me acolheu e guiou com mão suave e segura desde a época do mestrado. Agradeço a ajuda das mãos da banca de qualificação: Laura Villares de Freitas e Durval Faria, caros amigos que souberam me dar os “toques” que eu precisava. Às mulheres participantes desta pesquisa, mais do que mãos que teceram junto comigo este trabalho, devo a confiança e a disponibilidade para partilharem seus segredos e dores, esperanças e desesperanças nos encontros do grupo. Agradeço o carinho e a paciência de meus filhos Diana e Felipe que principalmente nos últimos meses da tese suportaram minhas ausências em espírito, mesmo que de corpo presente. Agradeço à minha mãe de mãos tão habilidosas e agora enrugadas que me afagaram tanto nesta vida e à meu pai (in memoriam) que sempre incentivou e possibilitou meus estudos. Também agradeço à minha irmã Eliana que na fase final me desobrigou de encargos familiares para estar totalmente centrada na tese. Minha gratidão imensa vai para Luiz Pitombo, “Lú”, querido e amado companheiro, pelo apoio, compreensão, carinho, estímulo e a oferta de um refugio sossegado para escrever. Uma presença essencial nos bastidores deste trabalho que me deu aconchego e força para enfrentar os desafios da criação. Devo minha gratidão especial a Eliana Magalhães, amiga de longa data desde os tempos da faculdade que leu, acolheu, opinou e discutiu minhas idéias em incontáveis papos regados a cafezinhos, sempre atenta, carinhosa, interessada e prestativa numa interlocução inspiradora. Seguramente sem suas “mãos” esta tese seria diferente. Agradeço também colegas e amigas que deram alguns toques preciosos e muito bem vindos na elaboração da tese: Bia Vidigal com sua precisão teórica e cuidado delicado e Ligia Miranda Azevedo, amiga antiga que além do carinho, contribuiu com valiosas idéias. Em especial agradeço a Vanda Di Yorio (ou Vanda Benedito) que com sua experiência e conhecimento na área de terapia de casais, avalizou e incentivou minhas idéias. Ao João Meyer, amigo e conselheiro, agradeço pelos longos papos e cervejas nos momentos mais difíceis dos últimos anos e pelo “empurrão” para que eu fizesse pós- graduação. À Irene e Lidia Aguilar, primas queridas, devo a compreensão pelas minhas ausências em momentos que gostaria de estar presente. Agradeço especialmente a ajuda providencial da querida amiga Vera Maluf por sua disponibilidade para fazer a versão para o inglês e de Maria Carolina Scoz, que generosamente fez mais do que a revisão da tese, ofereceu suporte, acompanhou os momentos finais da escrita e deu sugestões preciosas: uma descoberta inesperada e frutífera. À Jette Bonaventure agradeço pela acolhida amorosa e pelo carinho de tantos anos me acompanhando. Ao Victor Pierre Stirnimann que com mão firme e atenta esteve na retaguarda durante o último ano acompanhando minhas instabilidades, agradeço o apoio, a torcida e as idéias inspiradas e instigantes. Outras mãos foram essenciais na produção da tese: agradeço à Patrícia Costa, colaboradora do grupo piloto e à Fernanda Balthazar, colaboradora do grupo de pesquisa, pela disponibilidade, atenção e ajuda nas gravações, fotos e anotações. Também agradeço às mãos habilidosas que auxiliaram na trabalhosa tarefa de transcrição das fitas: Milson dos Santos Evaristo Junior e Mirian Silva. Não posso deixar de citar Edna Mendonça que sempre me incentivou e ajudou na divulgação da pesquisa para montar o grupo. Agradeço ao apoio e estímulo do grupo de orientação e pessoal do LEM, Nancy Vaiciunas, Elaine Alves, Claudia, Clodine, Maria Carolina, Juliana, Ana Paula, Carolina e especialmente Janaina pelas dicas práticas. Agradeço a compreensão de meus pacientes pelas minhas ausências dos últimos tempos e ao grupo de mulheres pela confiança depositada em mim e por tudo que aprendi em nossos encontros por tantos anos. Também devo meus agradecimentos aos grupos da Jette e da Agnes por acompanharem à distancia meus esforços e aos colegas e à coordenação da faculdade Ibirapuera pelo apoio nas etapas finais da tese, em especial à Prof. Kathia Neiva e à Ivelise Fortim. Em especial, minha gratidão ao inesquecível mestre Prof. Sandor (in memorian) que me iniciou em Jung e em tantos outros conhecimentos. Gustav Klimt Ó pedaço de mim, ó metade afastada de mim Leva o teu olhar, que a saudade é o pior tormento É pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar. Ó pedaço de mim, ó metade exilada de mim Leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco Que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais. Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mim Leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu. Ó pedaço de mim, ó metade amputada de mim Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada É assim como uma fisgada no membro que já perdi. Ó pedaço de mim, ó metade adorada de mim Lava os olhos meus, que a saudade é o pior castigo E eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus “Pedaço de mim” (Chico Buarque) RESUMO PARISI, S. Separação amorosa e individuação feminina: uma abordagem em grupo de mulheres no enfoque da Psicologia Analítica. Tese (Doutorado). 2009. 272 f. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009 O presente trabalho teve como objetivo a compreensão da separação amorosa vivenciada pela mulher de meia idade relacionada ao processo de individuação através de um trabalho realizado em grupo vivencial sob o enfoque da Psicologia Analítica. O método utilizado na pesquisa foi qualitativo sob a perspectiva simbólico arquetípica. Foram realizados oito encontros de grupo com sete participantes na faixa etária de quarenta a cinqüenta e cinco anos que estavam vivenciando uma separação amorosa. No grupo foram utilizados recursos expressivos, contos e mitos para favorecer a elaboração simbólica. A partir do material coletado observou-se uma grande diversidade de experiências em relação à perda como sentimentos de tristeza, solidão, desamparo, raiva, desejos de vingança, sensação de vazio e desorganização. Um tema comum manifestado pelas participantes foi a sensação de perda de identidade no relacionamento anterior ou em decorrência da separação. Identificou-se que esta perda estava associada a conteúdos inconscientes projetados no parceiro e na conjugalidade que ainda não haviam sido reintegrados à consciência. Verificou-se que em alguns casos a identidade estava alicerçada no vínculo simbiótico mantido com o parceiro. Reconhecer a raiva que estava na sombra do relacionamento, recolher as projeções depositadas no parceiro e ter que enfrentar a solidão se revelaram como oportunidades de diferenciação necessárias ao processo de individuação. Na compreensão dos dados, foi utilizado o referencial de mitos e contos para estabelecer algumas amplificações e analogias. Alguns padrões arquetípicos femininos mostraram estar ativados ou negligenciados na psique das participantes: a traição acionou uma Hera raivosa e vingativa em algumas mulheres, enquanto Afrodite parecia abandonada pelo desinteresse manifestado por algumas participantes para novos relacionamentos. Por outro lado a separação constelou arquétipos de deusas mais independentes em algumas mulheres que investem em trabalho e estudos. Observou-se que a temática da descida ao mundo inferior expressa nos mitos de Inana e de Core-Perséfone era constelada na vivência depressiva de algumas participantes, uma experiência necessária à elaboração do luto e ao enraizamento no Self feminino simbolizado pelo encontro com a deusa escura reprimida na cultura patriarcal. O grupo vivencial se mostrou eficaz para favorecer a elaboração do luto pela perda amorosa através da criação de um espaço ritual, permitindo a constelação de uma nova coniunctio. Os recursos expressivos e os contos e mitos utilizados facilitaram a expressão simbólica das participantes e mobilizaram as forças curativas da psique para iniciar a cicatrização das feridas ocasionadas pela perda. Constatou- se no grupo uma apropriação da própria trajetória de vida possibilitando assumir a responsabilidade pelo processo de individuação. São sugeridos novos estudos e o desenvolvimento de trabalhos em grupos vivenciais de mulheres e também de homens para lidar com a separação amorosa em consultórios e instituições de saúde, visando contribuir para a área de relações de gênero. Palavras-chave: Mulheres, Individuação (Psicologia), Separação conjugal, Grupos, Psicologia junguiana. ABSTRACT PARISI, S. Separation from love relationships and women’s individuation: an approach into a group of women in the focus of the Analytical Psychology. Thesis (Doctoral). 2009. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. This thesis sought to understand the separation from a love relationship as experienced by middle-aged women related to the individuation process through experiential group work in the focus of Analytical Psychology. The method used in the research was qualitative, under a symbolic archetypal perspective. Eight group meetings were held with seven participants aged from forty to fifty-five who were undergoing separation from love relationships. Expressive resources, tales and myths were used in the group in order to favor the symbolic development. The material gathered showed a large diversity of experiences in relation to the loss, such as feelings of sadness, solitude, distress, anger, wishes of revenge, a feeling of emptiness and derangement. A common matter expressed by the participants was the feeling of loss of identity in the past relationship or as a result of the separation. It was identified that this loss was associated to unconscious contents projected in the partner and in the conjugality that had not yet rejoined their consciousness. It was verified that, in some cases, the identity was grounded on the symbiotic relationship had with the partner. To recognize the anger that was in the shadows of the relationship, to bring in the projections deposited in the partner and have to face solitude revealed to be opportunities of differentiation that are necessary for the individuation process. The referential of myths and tales was used in the understanding of the data, in order to establish some expansions and analogies. Some feminine archetypal standards were shown to be activated or neglected in the psyche of the participants: betrayal turned some women into an angry and vengeful Hera, while Aphrodite looked abandoned by the lack of interest for new relationships expressed by some participants. On the other hand, the separation constellated archetypes of more independent goddesses in some women who invest on their career and education. It was noted that the thematic of the descent to the underworld expressed in the myths of Inanna and Core-Persephone was constellated on the depressive life experience of some participants, a necessary experience for the elaboration of mourning and rooting into their feminine Self, symbolized by the meeting with the dark goddess repressed in the patriarchal culture. The experiential group was shown to be efficient to favor the elaboration of mourning for the loss of their love mate through the creation of a ritual space, allowing the constellation of a new coniunctio. The expressive resources and tales and myths used facilitated the symbolic expression and mobilized the healing forces of the psyche to start the healing of the wounds caused by the loss. The group demonstrated an appropriation of their own trajectories of life, allowing them to take responsibility for the individuation process. New studies are suggested, as well as the development of experiential group work with women and man to handle the separation from love relationships in clinical settings and health institutions, seeking to contribute to the gender relationship area. Key Words: Women, Individuation (Psychology), Marital separation, Groups, Jungian psychology. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Foto 1 - Linha da vida de Dora .........................................................................182 Foto 2 - Linha da vida de Lia ............................................................................183 Foto 3 – Linha da vida de Beth .........................................................................184 Foto 4 – Linha da vida de Miriam .....................................................................185 Foto 5 – Linha da vida de Ione ..........................................................................188 Foto 6 – Linha da vida de Suzana ......................................................................189 Foto 7 – Confecção dos mantos .........................................................................196 Foto 8 – Manto Lia .............................................................................................200 Foto 9 – Manto Miriam .......................................................................................201 Foto 10 – Manto Beth .........................................................................................202 Foto 11 – Manto Clara ........................................................................................203 Foto 12 – Manto Suzana ................................................................................... .204 Foto 13 – Manto Dora .........................................................................................204 Foto 14 – Manto coletivo ....................................................................................208 Foto 15 – Imaginação dirigida Dora ...................................................................217 Foto 16 – Imaginação dirigida Clara ...................................................................217 Foto 17 – Imaginação dirigida Beth ....................................................................218 Foto 18 – Imaginação dirigida Suzana ................................................................218 Foto 19 – Imaginação dirigida Lia .......................................................................219 Foto 20 – Imaginação dirigida Miriam ................................................................220 Foto 21 – O grupo na exploração dos materiais ..................................................232
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