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Semiótica e filosofia da linguagem PDF

174 Pages·1991·1.422 MB·Portuguese
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Série Fundamentos 64 Umberto Eco SEMIOTICA E FILOSOFIA DA LINGUAGEM Tradução de: Mariarosaria Fabris e José Luíz Fiorin Revisão de lzidoro Blikstein Direção Nelson dos Reis Preparação de texto lvany Picasso Batista Arte Edição de arte (miolo) Milton Takeda Coordenação gráfica Jorge Okura Composição/Paginação em vídeo Eliana Aparecida Fernandes Santos Marco Antonio Fernandes CAPA Ary Almeida Normanha ©1984 Gjulio Eínaudi editore s.p.a., Torino ISBN 85 08 03814 3 1991 Todos os direitos reservados Editora Ática S.A. Rua Barão de lguape, 110 - CEP 01507 Tel.: (PABX) 278-9322 - Caixa Postal 8656 End. Telegráfico "Bomiivro" - São Paulo - SP Sumário Introdução 7 1. Signo e inferência 15 1 Morte do signo? 15 2 Os signos de uma obstinação 17 2.1 Inferências naturais 17 2.2 Equivalências arbitrárias 18 2.3 Diagramas 19 2.4 Desenhos 20 2.5 Emblemas 20 2.6 Alvos 21 3 Intensão e extensão 21 4 As soluções elusivas 22 5 As desconstruções do signo lingüístico 24 5.1 Signo x figura 25 5.2 Signo x enunciado 26 5.3 0 signo como diferença 28 5.4 0 predomínio do significante 29 5.5 Signo x texto 31 5.6 0 signo como identidade 32 6 Signos x palavras 33 7 Os estóicos 37 8 Unificação das teorias e predomínio da linguística 42 9 0 modelo 'instrucional' 44 10 Códigos fortes e códigos fracos 47 11 Abdução e invenção de código so 12 Os modos de produção sígnica 52 12.1Vestígios 55 12.2Sintomas 55 12.3Indícios 55 12.4Exemplos, amostras e amostras fictícias 56 12.5Vetores 57 12.6Estilizações 57 12.7Unidades combinatórias 58 12.8Unidades pseudocombinatórias 58 12.9Estímulos programados 59 12.10 Invenções 59 12.11 Conclusões 59 13 O critério de interpretância 60 14 Signo e sujeito 62 II Dicionário Versus Enciclopédia 63 1 Os significados do significado 63 1.1 O Remetido 63 1.2 Referência e significado 64 1.3 Intenso e Extensão 66 1.4 O equívoco da Beteutung 68 1.5 Significação e comunicação 68 1.6 Significado lexical e significação textual 71 1.7 Significado convencional e significado situacional 72 1.8 Semântica e pragmática 75 1.9 Cooperação textual e enciclopédia 77 2 O conteúdo 79 2.1 Significado e sinonímia 79 2.2 Significado como conteúdo 79 2.3 As figuras do conteúdo 80 3 Pseudicionário de câmara para uma língua de câmara 91 4 A árvore do Porfírio 96 4.1 definição, géneros e espécies 96 4.2 Uma árvore não é uma árvore 101 4.3 Uma árvore apenas de diferença 103 4.4 As diferenças como acidentes e como signos 107 5 As semânticas como enciclopédia 110 5.1 O princípio de interpretação 110 5.2 Estrutura da enciclopédia 113 5.3 Representações enciclopédicas “locais” 116 5.4 Alguns exemplos de representações enciclopédicas 120 5.5 Utilidade do dicionário 131 6 Significado e designação rígida 135 III METÁFORA E SEMIOSE 141 1 O nó pragmático 141 2 Pragmática da metáfora 144 3 As definições tradicionais 147 4 Aristóteles: a sinédoque e a árvore de Porfírio 149 5 Aristóteles: a metáfora de três termos 152 6 Aristóteles: o esquema proporcional 154 7 Proporção e codensação 156 8 Dicionário e enciclopédia 157 9 A função cognoscitiva 160 10 O fundo semiótico: o sistema do conteúdo 164 10.1 A enciclopédia mediaval e a analogia entis 164 10.2 O índice categórico de Tesauro 167 10.3 Vico e as condições culturais da invenção 168 11 Os limites da formalização 170 12 Representação componencional e pragamática do texto 174 12.1 Um modelo por “casos” 174 12.2 Metonímia 176 12.3 Topic, frames, isotopias 180 Cinco regras 187 Da metáfora à interpretação simbólica 188 Conclusões 191 IV. O modo simbólico 195 1 A floresta simbólica e o jângal lexical 195 2 Aproximações e exclusões 201 2.1 O simbólico como semiótico 201 2.2 Osímbolo como convencional-arbitrário 205 2.3 O simbólico como signo regido pela ratio difficilis206 2.4 O simbólico como sentido indireto e 'figurado' 207 2.5 O símbolo romântico 214 3 O modo simbólico 219 3.1 Os arquétipos e o Sagrado 219 3.2 Hermenêutica, desconstrução, deriva 223 4 O modo simbólico 'teologal' (e suas reincarnações)228 5 O modo simbólico na arte 235 6 Símbolo, metáfora, alegoria 242 7 Conclusões 244 V. A família dos códigos 247 1 Um termo fetiche? 247 1.1 Código ou enciclopédia? 247 1.2 Instituição ou correlação? 250 1.3 Fortuna do código 251 1.4 Do parentesco à linguagem 252 1.5 A filosofia do código 254 2 O código como sistema 255 2.1 Códigos e informação 255 2.2 Códigos fonológicos 25 2.3 Sistemas semânticos e s-códigos 257 3 Código como correlação 258 3.1 Códigos e cifras 258 3.2 Da correlação à instrução 262 3.3 Da correlação à inferência co-textual 266 4 Os códigos institucionais 271 4.1 S-códigos e significação 271 4.2 As instituições como sistemas deontológicos 273 4.3 As instituições como códigos 275 5 O problema do código genético 277 6 Código é representação 281 7 Código e enciclopédia 283 7.1 Código e processos inferenciais 283 Referências bibliográficas 291 Introdução Este livro reorganiza uma série de cinco verbetes semióticos escritos entre 1976 e 1980 para a Enciclopedia Einaudi. Quase cinco anos se passaram entre a redação do primeiro verbete e a do último, e muitos mais desde 1976 até a data desta introdução. Era inevitável que sobreviessem reconsiderações, aprofundamentos, novos estímulos, motivo pelo qual os capítulos deste livro, embora respeitando a estrutura geral dos verbetes originais, sofreram algumas modificações. o segundo e o quinto, particularmente, mudaram de estruturação; o quarto foi enriquecido com novos parágrafos. O novo parágrafo, porém, frequentemente serve para aprofundar o discurso original, enquanto algumas modificações menores mudam a visão geral. Isto tudo à luz de outros trabalhos que publiquei neste ínterim. Como se pode deduzir do índice, este livro examina cinco conceitos que dominaram todas as discussões semióticas - signo, significado, metáfora, símbolo e código - e reconsidera cada um deles do ponto de vista histórico e em referência ao quadro teórico que esbocei nas obras imediatamente anteriores - Tratado geral de semiótica (1975) e o papel do leitor (1979) -, sem dispensar, creio eu, mudanças de rota. Estes cinco temas são e foram temas centrais SEMIÓTICA E FILOSOFIA DA LINGUAGEM de toda e qualquer discussão sobre filosofia da linguagem. Esta comunhão de temas é suficiente para justificar o título do livro? Antes de mais nada, a escolha é consequência quase natural do projeto de reconstrução historiográfica que caracteriza cada um dos assuntos. Desde o Segundo Congresso Internacional de Semiótica (Viena, 1979), venho insistindo sobre a necessidade de proceder a um reconhecimento e a uma reconstrução do pensamento semiótico (do ocidental, para início de conversa), desde a época clássica. Trabalhei neste sentido nos últimos anos, em cursos, seminários e congressos, na organização de boa parte dos verbetes históricos para o iminente Encyclopedical dictionary of semiotics e ao acompanhar a literatura cada vez mais vasta, que por sorte está surgindo, sobre este tema. Estou cada vez mais convencido de que, para compreender melhor os muitos problemas que ainda nos atormentam, é necessário revisitar o contexto no qual uma determinada categoria apareceu pela primeira vez. Ora, acontece que, ao se refazer o histórico destes conceitos, nos deparamos, na certa, com estudiosos de medicina, matemática, ciências naturais, com retóricos, especialistas em adivinhação, emblematólogos, cabalistas, teóricos de artes plásticas, mas é com os filósofos que nos deparamos mais. Não me refiro apenas aos filósofos da linguagem (do Crátilo aos dias de hoje), mas a todos os filósofos que perceberam a importância fundamental de uma discussão sobre a língua e outros sistemas de signos, a fim de entender muitos outros problemas, da ética à metafisica. Se esta releitura for bem realizada, perceberemos que cada grande filósofo do passado (e do presente) elaborou, de alguma forma, uma semiótica. Não podemos entender Locke se não levarmos em consideração que - como ele diz no último capítulo de Ensaio - a esfera de todo o conhecimento humano se reduz à física, à ética e à semiótica. Não me parece possível entender a filosofia antes de Aristóteles, se não partirmos de sua constatação de que o ser pode ser expresso de muitas maneiras - nem há melhor definição do ser do que aquela que diz que o ser é o que a linguagem expressa de muitas maneiras. E poderíamos continuar com outras referências, por exemplo, à semiótica subjacente (nem por isto não explicitada) de Ser e tempo. Sendo assim, não podemos deixar de ficar impressionados com o fato de os manuais de história da filosofia 'apagarem' estas semióticas, como se a necessidade de reconduzir toda uma filosofia ao problema do signo representasse uma ameaça a ser afastada, para não perturbar os sistemas e a imagem confortante que a tradição deles construiu. Por outro lado, veja-se, no segundo capítulo deste INTRODUÇÃO livro, como a tradição medieval reconheceu, mas ao mesmo tempo ocultou, relegando-os à margem do discurso, os formidáveis problemas semióticos que os comentários às Categorias de Aristóteles faziam surgir inevitavelmente. Mesmo sem tentar reconduzir toda filosofia a uma semiótica, bastaria considerar toda a tradição da filosofia da linguagem. Ela não se reduz (como acontece atualmente) a uma especulação que se situa entre a lógica formal, a lógica das linguagens naturais, a semântica, a sintática * e a pragmática, só do ponto de vista das linguagens verbais. A filosofia da linguagem, dos estóicos a Cassirer, dos medievais a Vico, de Santo Agostinho a Wittgenstein, abordou todos os sistemas de signos e, neste sentido, colocou uma questão radicalmente semiótica. 2 Interrogar-se sobre as relações entre semiótica e filosofia da linguagem requer, antes de mais nada, uma distinção entre semióticas específicas e semiótica geral. Uma semiótica específica é uma gramática de um determinado sistema de signos. Há gramáticas de linguagem gestual dos surdos-mudos americanos, gramáticas do inglês e gramáticas dos sinais de trânsito. Tomo o termo 'gramática' no seu sentido mais lato, a ponto de incluir, ao lado de uma sintática e uma semântica, também uma série de regras pragmáticas. Não pretendo interrogar-me, neste momento, sobre a possibilidade e os limites de uma ciência humana, mas parece-me que as semióticas específicas mais maduras podem aspirar a um estatuto científico, incluindo-se aí a capacidade de prever os comportamentos semióticos 'médios' e a possibilidade de enunciar hipóteses falsificáveis. É óbvio que estamos diante de um campo muito vasto de fenómenos semióticos, e que existem sensíveis diferenças entre um sistema fonológico, que se organizou por sucessivas acomodações estruturais e que é realizado pelos falantes de acordo com uma competência não explicitada, e um sistema de sinais, imposto por convenção explícita, e cujas regras de competência são claras para seus executores. As mesmas diferenças, entre * Em italiano, sintattica (do inglês syntactic) refere-se àquela parte da serniótica que no interior de um determinado sistema linguístico, estuda as relações entre os signos abstraindo de seu significado. (N. do T.) tanto, poderiam ser encontradas no continuum das ciências naturais e todos nós sabemos o quanto a capacidade de predizer da física é diferente daquela da meteorologia, como já dizia Stuart Mill. Estou falando de semióticas específicas e não de semiótica aplicada: a semiótica aplicada representa um campo de limites vagos, e neste caso falaria de práticas interpretativo-descritivas, como acontece com a crítica literária de cunho ou de inspiração semiótica, para a qual, creio eu, é necessário colocar problemas não de caráter científico, mas de persuasão retórica, de utilidade para fins de compreensão de um texto, de capacidade de tornar o discurso sobre um determinado texto intersubjetivamente controlável. De 1978 em diante, havia-se estabelecido um debate cordial entre mim e Emilio Carroni (desde Ricognizione della semiotica, de sua autoria, até sua recente participação no livro de entrevistas organizado por Marin Mincu, La semiotica letteraria in Italia), no qual podia parecer que ambas as posições eram muito rígidas. De um lado, Garroni que, desconfiando das várias aventuras das semióticas específicas, conclamava ao dever de uma fundação filosófica; de outro, eu que convidava aos riscos da exploração empírica, adiando para mais tarde o problema filosófico. Segundo o que estou afirmando, a oposição devia parecer mais nuançada. Estou convencido de que às semióticas específicas devem colocar-se as mesmas questões epistemológicas internas, isto é, reconhecer e denunciar as próprias metafísicas implícitas, visto que, por exemplo, não podemos delinear em qualquer sistema (ou texto) traços 'pertinentes', sem colocarmos o problema epistemológico de uma definição de pertinência. Mas este é um problema comum a toda ciência, e não creio que seja irresponsável afirmar que, às vezes, uma investigação científica pode avançar muito nas próprias explorações sem interrogar-se sobre os próprios fundamentos filosóficos. A interrogação poderá ser colocada justamente pelo filósofo, ou pelo cientista mesmo ao filosofar sobre o próprio procedimento, mas não são raros os casos de investigações filosoficamente ingénuas que, todavia, revelaram fenómenos e projetos de leis que outros depois sistematizaram de forma mais rigorosa. O caso de uma semiótica geral é diferente. A meu ver, ela é de natureza filosófica, porque não estuda um determinado sistema, mas estabelece categorias gerais à luz das quais sistemas diferentes podem ser comparados. E para uma semiótica geral o discurso filosófico não é nem aconselhável nem urgente: é simplesmente constitutivo.

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