Você está me lendo na livraria, para decidir se compra este livro? Ou já está em casa, no sofá, na cama, sei lá onde você lê, começando a curtir o livro? Se já está em casa, por que está lendo esta orelha, perdendo seu tempo e retardando o prazer que vai sentir com as histórias curiosas (deliciosas, maravilhosas) que Andréa Pachá testemunhou e, ótima escritora, sabe contar? Deixe-me em paz e vai ler teu livro. Se você está na livraria, em dúvida se leva ou não o livro que abriu por curiosidade, o melhor é ler uma das crônicas que essa juíza da Vara de Família escreveu a partir de histórias reais. Qualquer uma. Está com tempo? Vá no sumário e procura essas três histórias seguidas: Nunca é perda total, O céu que nos protege e Quem manda é ela!. Daí, na primeira, você vai ler sobre a utilidade da vida; depois, na segunda, sobre a inutilidade da vida; e, diante dessa indefinição filosófica, na terceira, vai sorrir.
A meretíssima escritora Andréa Pachá não mudou só os nomes das pessoas para garantir o devido segredo de justiça: ela criou as histórias que viveu. Afinal, o que fazem os escritores se não reinventar a vida? Na verdade, ela não teria tanta idade, nem tantas peles, nomes e sobrenomes para viver essas histórias todas. Digo, para viver todas essas histórias todas. Ela viveu só um instante de cada uma. E que instante! O clímax, o momento em que os outros personagens jogam suas vidas diante dela, em que o conflito chega ao ápice. O que eu estou fazendo aqui? Conheci Andréa Pachá muito jovem, no teatro, como produtora. Estou aqui para recebê-la de volta, como autora. São crônicas, pequenos contos, mas são também, de certo modo, peças de teatro. Um dia, certamente, umas atrizes e uns atores vão entrar nesses personagens e completar a viagem da Andréa do palco ao palco, passando pelos labirintos da vida que, por sua vez, passam pelas salas dos tribunais.
Aderbal Freire-Filho