Nos anos 1980, em uma pequena cidade no México, onde há “mais vacas que pessoas e mais padres que vacas”, uma família pobre tenta sobreviver às intempéries do cotidiano. O pai é um professor de educação cívica, apaixonado pelo período helênico e mestre em propagar todo tipo de insulto. A mãe, uma mulher de inigualável tendência cênica, mais afeita ao melodrama, que se encarrega de preparar, todo santo dia, a mesma refeição à base de quesadillas. É essa comida típica mexicana, aliás, que desperta na prole — sete filhos no total — certos pensamentos impróprios: cada um deseja que o outro desapareça, para que sobre um pouco mais de comida na mesa. Na iminência de ver a pequena casa em que moram ser demolida pela chegada de um empreendimento imobiliário de alto padrão, cada membro da família cria subterfúgios, muitas vezes delirantes, para lidar com uma realidade cada vez mais opressiva. É nesse cenário que se dá a saga de Orestes, um dos filhos do casal, e protagonista deste romance que conta, sob um ponto de vista que oscila entre o adolescente entediado e o adulto raivoso, a sua percepção da luta de classes e do papel insignificante que sua família ocupa no mundo.