REVISTA DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE VOLUME 41, NÚMERO ESPECIAL RIO DE JANEIRO, JUN 2017 ISSN 0103-1104 Saúde, Trabalho e Ambiente CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE (CEBES) SAÚDE EM DEBATE A revista Saúde em Debate é uma publicação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde DIREÇÃO NACIONAL (GESTÃO 2015–2017) NATIONAL BOARD OF DIRECTORS (YEARS 2015–2017) EDITORES CIENTÍFICOS | SCIENTIFIC EDITORS Presidente: Cornelis Johannes van Stralen Maria Lucia Frizon Rizzotto – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel (PR), Brasil Vice–Presidente: Carmen Fontes de Souza Teixeira Maria Helena Barros de Oliveira - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro (RJ), Diretora Administrativa: Ana Tereza da Silva Pereira Camargo Brasil. Diretora de Política Editorial: Maria Lucia Frizon Rizzotto Aldo Pacheco Ferreira - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Diretores Executivos: Ana Maria Costa Telma Abdalla de Oliveira Cardoso - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro (RJ), Isabela Soares Santos Brasil. Liz Duque Magno Simone Cynamon Cohen - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Lucia Regina Fiorentino Souto Débora Cynamom Kligerman - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Thiago Henrique dos Santos Silva Katia Reis de Souza - Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Diretores Ad–hoc: Ary Carvalho de Miranda José Carvalho de Noronha EDITORES ASSOCIADOS | ASSOCIATE EDITORS Amélia Cohn – Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil CONSELHO FISCAL | FISCAL COUNCIL Ana Maria Costa – Escola Superior de Ciências da Saúde, Brasília (DF), Brasil Greice Maria de Souza Menezes – Universidade Federal da Bahia, Salvador (BA), Brasil Carlos Leonardo Figueiredo Cunha Heleno Rodrigues Corrêa Filho – Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil Claudimar Amaro de Andrade Rodrigues Lenaura de Vasconcelos Costa Lobato – Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ), Brasil David Soeiro Barbosa Paulo Duarte de Carvalho Amarante – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro (RJ), Brasil Luisa Regina Pessôa Maria Gabriela Monteiro Nilton Pereira Júnior CONSELHO EDITORIAL | PUBLISHING COUNCIL Alicia Stolkiner – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina CONSELHO CONSULTIVO | ADVISORY COUNCIL Angel Martinez Hernaez – Universidad Rovira i Virgili, Tarragona, Espanha Breno Augusto Souto Maior Fonte – Universidade Federal de Pernambuco, Cristiane Lopes Simão Lemos Recife (PE), Brasil Grazielle Custódio David Carlos Botazzo – Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil Heleno Rodrigues Corrêa Filho Catalina Eibenschutz – Universidad Autónoma Metropolitana, Jairnilson Silva Paim Xochimilco, México José Carvalho de Noronha Cornelis Johannes van Stralen – Unversidade Federal de Minas Gerais, José Ruben de Alcântara Bonfim Belo Horizonte (MG), Brasil Lenaura de Vasconcelos Costa Lobato Diana Mauri – Università degli Studi di Milano, Milão, Itália Ligia Giovanella Eduardo Luis Menéndez Spina – Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Nelson Rodrigues dos Santos Antropologia Social, Mexico (DF), México Paulo Duarte de Carvalho Amarante Elias Kondilis - Queen Mary University of London, Londres, Inglaterra Paulo Henrique de Almeida Rodrigues Eduardo Maia Freese de Carvalho – Fundação Oswaldo Cruz, Recife (PE), Brasil Roberto Passos Nogueira Hugo Spinelli – Universidad Nacional de Lanús, Lanús, Argentina Sarah Maria Escorel de Moraes Jean Pierre Unger - Institut de Médicine Tropicale, Antuérpia, Bélgica Sonia Maria Fleury Teixeira José Carlos Braga – Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brasil José da Rocha Carvalheiro – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro (RJ), Brasil SECRETARIA EXECUTIVA | EXECUTIVE SECRETARY Luiz Augusto Facchini – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas (RS), Brasil Luiz Odorico Monteiro de Andrade – Universidade Federal do Ceará, Cristina Santos Fortaleza (CE), Brasil Maria Salete Bessa Jorge – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza (CE), Brasil ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Paulo Marchiori Buss – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro (RJ), Brasil Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira – Universidade Federal do Pará, Belém (PA), Brasil Avenida Brasil, 4036 – sala 802 – Manguinhos Rubens de Camargo Ferreira Adorno – Universidade de São Paulo, 21040–361 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil São Paulo (SP), Brasil Tel.: (21) 3882–9140 | 3882–9141 Fax.: (21) 2260-3782 Sonia Maria Fleury Teixeira – Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro (RJ), Brasil Sulamis Dain – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), Brasil Walter Ferreira de Oliveira – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis (SC), Brasil EDITORA EXECUTIVA | EXECUTIVE EDITOR Mariana Chastinet A revista Saúde em Debate é associada à Associação Brasileira SECRETARIA EDITORIAL | EDITORIAL SECRETARY de Editores Científicos Luiza Nunes Mariana Acorse INDEXAÇÃO | INDEXATION Directory of Open Access Journals (Doaj) História da Saúde Pública na América Latina e Caribe (Hisa) Apoio Literatura Latino–Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal (Redalyc) Scientific Electronic Library Online (SciELO) Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal (Latindex) Sumários de Revistas Brasileiras (Sumários) REVISTA DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE VOLUME 41, NÚMERO ESPECIAL RIO DE JANEIRO, JUN 2017 ÓRGÃO OFICIAL DO CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde ISSN 0103-1104 REVISTA DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE VOLUME 41, NÚMERO ESPECIAL RIO DE JANEIRO, JUN 2017 5 EDITORIAL | EDITORIAL 80 O processo de institucionalização das práticas de saúde em uma unidade de 9 APRESENTAÇÃO | PRESENTATION produção da Fiocruz The process of institutionalization of health ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE practices in a production unit of Fiocruz M aria Cristina Jorge de Carvalho, Maria Helena 13 Violência doméstica e trabalho: Barros de Oliveira, Renato José Bonfatti percepções de mulheres assistidas em um Centro de Atendimento à Mulher 92 Trajetórias educacionais e ocupacionais Domestic violence and work: perceptions of de trabalhadores do Sistema Único de women attended at a Women’s Care Center Saúde, e suas expectativas profissionais Educational and occupational trajectories of J asmin Gladys Melcher Echeverria, Maria workers of the Unified Health System and Helena Barros de Oliveira, Regina Maria de their professional expectations Carvalho Erthal M onica Vieira, Filippina Chinelli, Luciana 25 Infância, trabalho e saúde: reflexões Souza d’Ávila, Denise Rodrigues Fortes, Nancí sobre o discurso oficial de proibição do Aparecida da Silva David trabalho infantil Childhood, work and health: reflections on the 104 R eorganização do trabalho em official discourse of prohibition of child labor uma agência da Previdência Social: resistência à mudança ou preservação V aldinei Santos de Aguiar Junior, Luiz Carlos da saúde? Fadel de Vasconcellos Reorganization of work in an agency of 39 Possíveis contribuições da integração Social Security: resistance to change or das políticas públicas brasileiras à preservation of health? redução de desastres C irlene de Souza Christo, Maria Elisa Siqueira Possible contributions of the integration of Borges Brazilian public policies for disaster reduction 115 P rocessos protetores e destrutivos da R afaela Facchetti Assumpção, Elida Séguin, Débora saúde dos(as) trabalhadores(as) da Cynamon Kligerman, Simone Cynamon Cohen sericicultura 50 Convenção de Minamata: análise dos Protective and destructive processes of the impactos socioambientais de uma health of the sericulture’s workers solução em longo prazo N anci Ferreira Pinto, Neide Tiemi Murofuse Minamata Convention: analysis of the socio- environmental impacts of a long-term solution 130 A dinâmica do reconhecimento: estratégias dos Bombeiros Militares do Rafaela Rodrigues da Silva, Jeffer Castelo Branco, Estado Rio de Janeiro Silvia Maria Tagé Thomaz, Augusto Cesar The dynamics of acknowledgement: 63 Produção de vulnerabilidades em saúde: strategies of the Military Firefighters of the o trabalho das mulheres em empresas State of Rio de Janeiro agrícolas da Chapada do Apodi, Ceará K átia Maria Oliveira de Souza, Creuza da Silva Production of health vulnerabilities: women’s Azevedo, Simone Santos Oliveira work in agricultural companies of Chapada do Apodi, Ceará M ayara Melo Rocha, Raquel Maria Rigotto SUMÁRIO | CONTENTS 140 A satisfação no trabalho da equipe 200 A valiação do burnout em trabalhadores multiprofissional que atua na Atenção de um hospital universitário do Primária à Saúde município de Belém (PA) Satisfaction in the work of the Evaluation of burnout in workers of a multidisciplinary team which operates in university hospital in the city of Belém (PA) Primary Health Care F ábio Gian Braga Pantoja, Marcos Valério L etícia de Paula Tambasco, Henrique Salmazo Santos da Silva, Marcieni Ataide de Andrade, da Silva, Karina Moraes Kiso Pinheiro, Beatriz Alex de Assis Santos dos Santos Aparecida Ozello Gutierrez 215 A s repercussões da Doença de Chagas 152 A valiação do trabalho na Atenção no contexto de vida e trabalho de Primária à Saúde do município do Rio de usuários de instituto de pesquisa Janeiro: uma abordagem em saúde do The repercussions of Chagas Disease in trabalhador the context of life and work of users from Assessement of labor in Primary Health research institute Care in the municipality of Rio de Janeiro: an A manda Almentero Marques, Élida Azevedo approach on worker’s health Hennington M ariana Monteiro de Castro, Simone Santos Estudo espacial de riscos à leptospirose Oliveira 225 no município do Rio de Janeiro (RJ) 165 D esafios da comunicação em Unidade Spatial study of risks to leptospirosis in the de Terapia Intensiva Neonatal para municipality of Rio de Janeiro (RJ) profissionais e usuários J uliana Valentim Chaiblich, Maria Luciene da Challenges of communication in Neonatal Silva Lima, Raiane Fontes de Oliveira, Maurício Intensive Care Unit for professionals and users Monken, Maria Lucia Fernandes Penna C arla Andréa Costa Alves de Campos, Luciano 241 Associação entre malformações Bairros da Silva, Jefferson de Souza Bernardes, congênitas e a utilização de agrotóxicos Andressa Laiany Cavalcante Soares, Sonia em monoculturas no Paraná, Brasil Maria Soares Ferreira Association between birth defects and the 175 A valiação dos riscos ambientais na sala use of agrochemicals in monocultures in the de abate de um matadouro de bovinos state of Paraná, Brazil Environmental risk assessment in the killing L idiane Silva Dutra, Aldo Pacheco Ferreira floor of a bovine abattoir ENSAIO | ESSAY G abriela Chaves Marra, Simone Cynamon Cohen, Francisco de Paula Bueno de Azevedo 254 A categoria saúde na perspectiva da Neto, Telma Abdalla de Oliveira Cardoso saúde do trabalhador: ensaio sobre 188 F atores de riscos ocupacionais e interações, resistências e práxis implicações à saúde do trabalhador em The health category in the perspective of biotérios worker’s health: an essay about interaction, Occupational risk factors and implications resistances and praxis for vivarium workers’ health K atia Reis de Souza, Andréa Maria dos Santos G abriele Fatima de Souza, Aldo Pacheco Rodrigues, Verônica Silva Fernandez, Renato Ferreira, Maria de Fátima Ramos Moreira, José Bonfatti Luciana Fernandes Portela SUMÁRIO | CONTENTS REVISTA DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE VOLUME 37, NÚMERO 98 RIO DE JANEIRO, JAN-FEV 2014 264 El territorio como categoría fundamental RELATO DE EXPERIÊNCIA | CASE STUDY para el campo de la salud pública Territory as an essential category in public 327 A brigos temporários em desastres: a health sciences experiência de São José do Rio Preto, Brasil E lis Borde, Mauricio Torres-Tovar Temporary shelters in disasters: the 276 Interfaces entre a saúde coletiva e a experience of São José do Rio Preto, Brazil ecologia política: vulnerabilização, F ernando Guilherme da Costa, Regina território e metabolismo social Fernandes Flauzino, Marli Brito Moreira de Interfaces between collective health and the Albuquerque Navarro, Telma Abdalla de Oliveira political ecology: vulnerability, territory and Cardoso social metabolism 338 O ficina Mapa Vivo na atenção básica: I sabelle Maria Mendes de Araújo, Ângelo estratégia de planejamento local ao Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira combate ao Aedes aegypti 287 Análise das políticas de saúde do Workshop Live Map in primary care: local trabalhador e saúde mental: uma planning strategy to fight Aedes aegypti proposta de articulação M arcos Aguiar Ribeiro, Izabelle Mont’Alverne Analysis of occupation health and mental Napoleão Albuquerque, Jamylle Lucas Diniz, health policies: a proposal of articulation Ana Karoline Barros Bezerra, Ismael Brioso K arine Vanessa Perez, Carla Garcia Bottega, Bastos Álvaro Roberto Crespo Merlo 347 R evitalização da Bacia do Ribeirão do Izidora: educação ambiental como REVISÃO | REVIEW estratégia Revitalization of the Ribeirão do Izidora 299 Saúde, trabalho e imigração: revisão da Basin: environmental education as a strategy literatura científica latino-americana D aniela Santos Serpa Siqueira, Daniela Health, work and immigration: Latin de Almeida Ochoa Cruz, Marcos Vinícius American scientific literature review Polignano, Lenice de Castro Mendes Villela, L eonardo Dresch Eberhardt, Ary Carvalho de Vanessa de Almeida Guerra Miranda 313 Exposição ocupacional a substâncias químicas, fatores socioeconômicos e Saúde do Trabalhador: uma visão integrada Occupational exposure to chemicals, socioeconomic factors and Occupational Health: an integrated vision L eandro Vargas Barreto de Carvalho, Isabele Campos Costa-Amaral, Rita de Cássia Oliveira da Costa Mattos, Ariane Leites Larentis EDITORIAL | EDITORIAL 5 Editorial A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR (ST) significa um enorme avanço no que se refere aos estudos voltados para a relação saúde/doença/trabalho. Para além das abordagens biologizantes e tecnicistas da medicina ocupacional e da engenharia de segurança, a incorporação das ciências sociais nas pesquisas comprometidas com o trabalhador determi- na uma mudança radical no olhar do pesquisador ao dar visibilidade aos sujeitos da pesquisa, por meio da contribuição e integração de disciplinas como a ergologia, a psicologia, a história, entre outras. A formação discursiva da ST reivindicou seu núcleo identitário no papel político e organi- zativo essencial e insubstituível das representações democráticas diretas de sindicalistas nas comissões gestoras de saúde integradas por trabalhadores e pela eleição de membros de con- selhos de saúde identificados com a saúde nos ambientes de trabalho. As representações de trabalhadores passaram a ser constituintes e criadoras de políticas para os trabalhadores na condição de usuários dos sistemas de saúde. Assim, a construção do Sistema Único de Saúde (SUS) abriu espaços políticos e administrativos para técnicos e profissionais de saúde interagirem com trabalhadores investidos de mandatos sindicais, con- selheiros e intelectuais eleitos para formular diretrizes e políticas de saúde, previdência e se- guridade social para os trabalhadores. No período de 1988 a 2017, os conflitos políticos e sindicais encontraram expressão no fluxo e refluxo da participação de representações de trabalhadores nas políticas locais, regionais e nacionais em ST. O SUS recebeu a contribuição militante e, em contrapartida, as pressões para não ceder aos grupos organizados de trabalhadores fosse no campo político, administrativo ou financeiro. As pressões organizativas para desenvolver a ST foram antagonizadas por pressões empre- sariais, corporativas profissionais e de políticos ligados aos setores contrários à participação democrática direta nas políticas de Estado. Nas últimas décadas, diversos autores do campo fizeram o que Raquel Maria Riggotto chamou de movimento (de ponte e potenciação) em direção à questão ambiental. Entendemos que tal movimento emerge da compreensão de que as ameaças à saúde não obedecem aos limites das fábricas, das indústrias, dos campos submetidos aos agrotóxicos. A associação da ST à categoria ‘ambiente’ evidencia uma superposição de riscos à saúde em populações mais vulneráveis: os mesmos sujeitos trabalham em situações de risco, têm menos proteção em seu ambiente de trabalho e moram em locais pouco privilegiados. Como formação discursiva emergente no cenário técnico-científico brasileiro, é importante destacar que a visão da ST não excluiu do cenário as visões conservadoras da medicina ocupa- cional e da saúde ocupacional. Tais visões competem por hegemonia, e o papel das instituições acadêmicas pode ser fundamental na disseminação de um corpo de conhecimentos que des- construa a visão tradicional de culpabilização do indivíduo trabalhador por seu adoecimento. Para termos uma ideia, de acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), em 2014, havia 12.756 médicos do trabalho atuantes no Brasil, fato que coloca a DOI: 10.1590/0103-11042017S200 SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. ESPECIAL, P. 5-8, JUN 2017 6 EDITORIAL | EDITORIAL medicina do trabalho como a sexta especialidade médica à frente de especialidades tradicio- nais como a cardiologia e a ortopedia. Por outro lado, entre os 90 programas de saúde coletiva credenciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), apenas 11 oferecem uma área de concentração de saúde, trabalho e ambiente, e somente 4 são efetivamente programas de ST ou saúde, trabalho e ambiente. Esses dados deixam claro que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que um número expressivo de pesquisadores da área de saúde incorpore as categorias ‘trabalho’ e ‘ambiente’ como necessárias à compreensão dos fenômenos ligados à saúde e ao adoecimento, tanto no âmbito do indivíduo como no âmbito das populações. Por fim, é preciso mencionar o investimento feito pelo grande capital para esvaziar as con- trovérsias públicas no campo ambiental, por meio da intimidação e criminalização de atores sociais ou mesmo do fomento de falsos dilemas entre trabalhadores e ambientalistas. Grandes empresas que degradam, poluem, adoecem e acidentam apostam no temor dos trabalhadores de perderem seus empregos caso se alinhem às lutas ambientais. Propomos, portanto, uma nova palavra de ordem: trabalhadores, ambientalistas, pesquisa- dores, uni-vos! Pelo direito à saúde! Pelo direito ao trabalho! Por um mundo sustentável! Heleno Rodrigues Corrêa Filho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) Maria Cristina Rodrigues Guilam Coordenadora-Geral de Pós-Graduação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. ESPECIAL, P. 5-8, JUN 2017 DOI: 10.1590/0103-11042017S200 EDITORIAL | EDITORIAL 7 Editorial THE CONSTITUTION OF THE WORKER HEALTH (ST) FIELD represents a huge advance regarding the studies related to the health/disease/work relationship. In addition to the biological and technical approaches of occupational medicine and safety engineering, the incorporation of the social sciences into researches committed to the worker determines a radical change in the researcher’s perspective by giving visibility to the subjects of the research, through the contribution and integration of subjects such as ergology, psychology, history, among others. The ST’s discursive formation has claimed its core identity in the essential and irreplacea- ble political and organizational role of direct democratic representations of trade unionists in workers’ management committees integrated by workers and in the election of health council members identified with health in the workplace. Representations of workers became constituents and creators of policies for workers as health system users. Thus, the construction of the Unified Health System (SUS) has opened political and administrative spaces for health technicians and professionals to interact with workers invested in union mandates, counselors and elected intellectuals to formulate guide- lines and policies for health, welfare and social security for workers. From 1988 to 2017, political and trade union conflicts found expression in the flow and reflux of the participation of workers’ representatives in local, regional and national ST poli- cies. The SUS received the militant contribution and, in contrast, the pressures not to give in to the organized groups of workers whether in the political, administrative or financial field. Organizational pressures to develop ST were antagonized by business pressures, professio- nal corporations and corporations of politicians linked to sectors opposed to the direct demo- cratic participation in State policies. In the last decades, several authors of the field have done what Raquel Maria Riggotto called the movement (of bridge and potentiation) towards the environmental question. We understand that such a movement emerges from the understanding that the threats to health do not obey the limits of factories, industries, and fields subjected to pesticides. The association of ST with the ‘environment’ category shows a superposition of health risks in the most vulnerable populations: the same subjects work in situations of risk, have less protection in their work environment and live in less privileged places. As an emerging discursive formation in the Brazilian technical-scientific scenario, it is im- portant to emphasize that the ST’s perspective did not exclude from the scenario the con- servative perspectives of occupational medicine and occupational health. Such perspectives compete for hegemony, and the role of the academic institutions can be essential in spreading a body of knowledge that deconstructs the traditional perspective of blaming the working individual for their illness. To get an idea, according to the National Association of Occupational Medicine (Anamt), in 2014 there were 12,756 occupational doctors working in Brazil, a fact that places occupational medicine as the sixth medical specialty, ahead of traditional specialties such as cardiology and orthopedics. DOI: 10.1590/0103-11042017S200 SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. ESPECIAL, P. 5-8, JUN 2017 8 EDITORIAL | EDITORIAL On the other hand, among the 90 public health programs accredited by the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (Capes), only 11 of them offer a field concentrated on health, work and environment, and only 4 are actually worker health pro- grams or health, work and environment. These data make it clear that there is still a long way to go until an expressive number of health researchers incorporate the categories ‘work’ and ‘environment’ as necessary to understand the phenomena related to health and illness, both in the field of the individual and within the populations. Finally, it is necessary to mention the investment made by big capital to empty public con- troversies in the environmental field, by intimidating and criminalizing social actors or even by fomenting false dilemmas between workers and environmentalists. Big companies that degrade, pollute, sicken, and cause accidents bet on the fear of workers losing their jobs if they are aligned with environmental struggles. We propose therefore a new watchword: workers, environmentalists, researchers, unite! For the right to health! For the right to work! For a sustainable world! Heleno Rodrigues Corrêa Filho Director of the Brazilian Center for Health Studies (Cebes) Maria Cristina Rodrigues Guilam General Coordinator of the Postgraduation of the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. ESPECIAL, P. 5-8, JUN 2017 DOI: 10.1590/0103-11042017S200
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