UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA TESE DE DOUTORADO SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA PERSPECTIVA GLOBAL Christian Kieling Orientador: Prof. Dr. Luis Augusto Rohde Porto Alegre, abril de 2012. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PSIQUIATRIA TESE DE DOUTORADO SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA PERSPECTIVA GLOBAL Christian Kieling Orientador: Prof. Dr. Luis Augusto Rohde Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Médicas: Psiquiatria, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor. Porto Alegre, Brasil. 2012 ! 2 ! 3 When it comes to global health, there is no ‘them’... only ‘us’. Global Health Council If you think research is expensive, try disease. Mary Lasker You can’t connect the dots looking forward; you can only connect them looking backwards. So you have to trust that the dots will somehow connect in your future. Steve Jobs ! 4 Para Renata. ! 5 AGRADECIMENTOS Ao professor Luis Augusto Rohde, que com inovação, excelência e generosidade tem me mostrado como é possível ser global sem deixar de ser local. Aos professores Jair Mari, Helen Herrman e Vikram Patel, pelo incentivo e pelas oportunidades abertas no campo da saúde mental global. Aos coautores do artigo #1, em especial aos professores Atif Rahman e Myron Belfer, que em intermináveis trocas de emails e conversas via skype ampliaram minha visão acerca da saúde mental de crianças e adolescentes. Aos coautores do artigo #3, em especial aos professores Guilherme Polanczyk, Luciana Anselmi, Júlia Genro e Mara Hutz, que com espírito de grupo tornaram o estudo da saúde mental e de genes e ambientes possível em uma coorte brasileira. Aos organizadores e participantes das coortes de nascimentos de Pelotas, cujo trabalho e envolvimento tem permitido tantos avanços na compreensão da saúde nos panoramas brasileiro e mundial. À secretária Clarissa Paim, pelo apoio e dedicação ao longo dos últimos anos. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de estudos. Aos colegas e professores do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em especial à turma de residentes 2011/2012, Thiago Rocha, Marta Lucion, Maria Helena Oliveira, Mariana Walcher e Joana Pargendler, pela amizade e pelo companheirismo. À toda minha família, em especial aos meus pais ambientais Silviane e Philippe; Sílvia e Ademir. Aos meus irmãos Eric, Sofia e Miguel, pela alegria e pelo carinho. Aos meus pais, pelo amor e incentivo sempre renovados. ! 6 SUMÁRIO Abreviaturas e siglas 8 Resumo 9 Abstract 11 1. Apresentação 13 2. Bases conceituais 2.1 Saúde global e saúde mental global 16 2.2 Genes e ambientes nas origens dos transtornos mentais 28 3. Referências bibliográficas 41 4. Objetivos 46 5. Artigo #1 47 6. Artigo #2 88 7. Artigo #3 95 8. Considerações finais 122 9. Anexos 127 ! 7 ABREVIATURAS E SIGLAS ! ! ! ADHD attention deficit hyperactivity disorder bp base pairs CD conduct disorder DALY disability-adjusted life year DAT1 gene para o transportador de dopamina DCNC doenças crônicas não-comunicáveis DNA deoxyribonucleic acid DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders GNI gross national income GxE interação gene-ambiente HIC países de alta renda HIV vírus da imunodeficiência humana LMIC países de baixa e média renda MAOA gene para a enzima monoamino oxidase A MGMH Movement for Global Mental Health MNS doenças mentais, neurológicas e por uso de substâncias NIMH National Institutes of Mental Health ODD oppositional defiant disorder OMS Organização Mundial da Saúde ONU Organização das Nações Unidas PCR polymerase chain reaction rGE correlação gene-ambiente ROC receiver operating characteristic SDQ Strengths and Difficulties Questionnaire TDAH transtorno de déficit de atenção hiperatividade UTR untranslated region VNTR variable number of tandem repeats WPA World Psychiatric Association ! ! 8 RESUMO Ao longo da última década, houve um crescente interesse nas questões de saúde global e, particularmente, de saúde mental global. Problemas de saúde mental começam precocemente e estima-se que afetem de 10% a 20% das crianças e adolescentes em todo o mundo, estando entre as principais cargas de doença na população. Isto é especialmente relevante no contexto de países de baixa e média renda, onde 90% da população mundial jovem vive. Este estudo tem como objetivo apresentar e discutir o estado atual da pesquisa em saúde mental na infância e adolescência, baseando-se em uma perspectiva global, a partir de três abordagens complementares. Primeiro, apresentamos uma revisão da literatura atual sobre a saúde mental de crianças e adolescentes enfocando aspectos relacionados à epidemiologia, intervenções preventivas e terapêuticas, bem como seus aspectos econômicos e políticos, com foco em países de baixa e média renda (artigo #1). Em seguida, mapeamos a produção científica mundial no campo da saúde mental na infância e adolescência (artigo #2). Por fim, demonstramos a viabilidade de um estudo de interação gene-ambiente em uma coorte de adolescentes em um país em desenvolvimento, enfocando o surgimento de problemas externalizantes (artigo #3). Nossos resultados indicam que, embora a prevalência de problemas de saúde mental em crianças em países de baixa e média renda seja semelhante a de países de alta renda, países com poucos recursos enfrentam grandes lacunas na investigação e implementação de estratégias eficazes de prevenção e tratamento de problemas de saúde mental. Esta dificuldade se reflete e é acompanhada por uma escassa produção científica em periódicos indexados, nos quais pesquisadores originários de países de baixa e média renda respondem por menos de 10% das autorias. É possível mudar este cenário através da realização de pesquisas de alta qualidade em países de baixa e ! 9 média renda. No maior estudo avaliando o impacto da interação de alguns genes com determinados fatores ambientais de risco sobre problemas externalizantes em adolescentes realizado em um países em desenvolvimento, identificamos efeitos principais para os fatores de risco ambientais, mas não observamos impacto de interações gene-ambiente, tal como descrito em alguns estudos prévios conduzidos em países de alta renda. Apesar de haver uma clara associação entre tabagismo materno e escores de hiperatividade na adolescência (p<0.001), nenhum efeito principal do gene do transportador de dopamina ou da interação gene-ambiente foi detectado. De modo similar, maus tratos na infância se mostraram associados a problemas de conduta entre meninos (p<0.001), porém efeitos principais do gene da monoamino oxidase A ou da interação não foram observados. A promoção da saúde mental na infância e na adolescência é um desafio mundial, mas também representa uma janela de oportunidade, na medida em que muitos dos países de média e baixa renda estão passando por uma transição demográfica, de forma que a intervenção hoje pode resultar em uma diminuição significativa da carga de doença no futuro. ! 10
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